Eles não se conheciam.
Ele morava a apenas duas quadras da casa dela na grande cidade e precisava se separar da garota com a qual morava. Pegou seu carro e saiu num sábado de garoa. O Monza derrapou na pista de paralelepípedo molhada e bateu no meio-fio, estourando um dos pneus e causando danos cuja gravidade ele não soube identificar. Precisava de um telefone para falar com seu mecânico. O carro ficara quase na esquina da casa dela. Pronta para sair, ela se aproximava do portão para ir a uma amiga. Mas deu meia-volta e resolveu ficar com a mãe. Estava morando há pouco tempo na capital, os pais atravessavam a fase do divórcio e ela queria dar e receber carinho. Precisava de alguém. Sem ninguém na rua para pedir um help, ele foi então para sua casa telefonar. Menos de um mês depois, ele se separava, mudando do sobrado para longe dali.
Anos depois...
Ela foi a um show na Pedreira Leminski. Ele também, agora recém-divorciado de um matrimônio que teve toda a pompa e circunstância. O namorado dela mudara há pouco para outra cidade e acabaram a relação. Quando a banda pisou no palco, a multidão começou a pular eufórica, num sobe e desce ritmado por “Bone Machine”. Ele pegou seu celular para ligar a um amigo e deixá-lo ouvir uma palhinha do show. Ela era levada pela turba para cada vez mais perto dele. Empurrou-o e o celular caiu de suas mãos. Ela quase o pisou. Mas foi outra pessoa quem sentiu o aparelho sob seus pés e se abaixou para devolvê-lo ao dono.
Anos depois...
Ele foi visitar um primo que estava internado em estado grave num hospital à beira da BR. Ela estagiava lá. Com o falecimento do parente, ele procurou ajudar nas burocracias do velório, tendo sido informado de que deveria ir até a sala de protocolo para pegar os prontuários do óbito. Ela estava na sala de arquivo e percebera que iria demorar muito tempo para dar conta de um serviço quase braçal. Ele se aproximava do mesmo recinto, no qual adentraria por engano, pois não era a tal sala de protocolo. Em meio a suas atividades, ela encontrou um enorme rato se entocando entre os documentos. Saiu rápido da sala, pronta a pedir demissão, segundos antes de ele chegar, abrir a porta e constatar que não havia ninguém no local. Nos meses seguintes, ela se envolveu com um homem que deixou marcas físicas e psicológicas em sua vida; e ele com uma mulher desequilibrada que tinha surtos de ciúmes em público.
Anos depois...
Ele e ela foram apresentados um ao outro na festa de um amigo. Simples assim. Trocaram juras de amor eterno e o romance durou dois meses exatos. Não se precisavam mais, passou o tempo em que seriam o bote salva-vidas um do outro. Decepção com o desfecho? O fato é que a pessoa certa é sempre a pessoa certa, e não existe hora errada para ela aparecer. Afinal, se uma hora errada dura 60 minutos, a pessoa certa pode render 60 dias.
Mario Lopes
8 comentários:
É verdade, o final da história foi decepcionante, mas quando o fim acontece, acredito que a melhor coisa a se fazer é aceitar o fato e levar a vida adiante, e viver um dia de cada vez.
E por que digo isso? Porque também vivi uma história semelhante. A diferença é que a minha ainda não teve um desfecho. rs
Beijos!
Pois então, Mila, saiba que desejo a você um desfecho bem diferente deste que eu narrei. :-) Ficarei na torcida.
Beijo e supersemana.
Mario
Não achei o final da história decepcionante, achei tipo "a vida como ela é". Nem tudo tem que durar pra sempre para ser bom ou inesquecível, não é?
Ah e adorei a seleção musical.
Beijo grande.
Legal sua colocação, anônimo. E obrigado pela menção à seleção musical, concordo contigo. Só não concordo em deixar o comentário sem assinar. hehe
Beijo.
Mario
Hahaha, adivinhe quem é o anônimo?
Nem me toquei que não assinei, foi mal.
Bj,
Dedé
rsrs OK, anonimA. rs
Beijo, DDD - Dedé, a Desaforada Designer.
Mario
tem certeza de q o conto deveria ter sido narrado em 3a. pessoa mesmo?hehe
Renata
hahahahaha
Renata, sua sapeca, o que está narrado no post é baseado em fatos reais com pitadas de ficção, ou vice-versa. Ou seja, posso ter este distanciamento porque as coincidências todas dos desencontros (apesar de os aconteceimentos terem sido aqueles mesmos) muito provavelmente não ocorreram da maneira absurdamente "por um triz" como estão narrados - e nunca saberemos, já que seria necessário uma testemunha onisciente para dar depoimento. Sendo assim, fico mais à vontade para escrever na terceira pessoa mesmo, fazendo de conta que o "ele" e o "ela" são seres ficcionais. hehe ;-)
Beijo, Desaforadas potencial.
Mario
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