sábado, 31 de julho de 2010

Antes, durante e depois...



Nada como um happy hour depois de uma semana corrida, cansativa, abilolada.

Sair do trabalho imaginando voltar dali 62 horas é reconfortante.

Em direção ao bar mais próximo ou preferido, o momento da recompensa chega.

Um cervejinha bem gelada, copinho americano, amigos, sexta de sol.

Ai ai.

Tudo parece ser perfeito.

Bom papo, boas risadas e o tempo vai passando.

Futebol, religião, política.

Tudo que não se discute já foi pauta na mesa masninguém se abala.

O happy continua.

A cerveja vai descendo, a animação seguesubindo, petiscos de boteco compõe a mesa dando mais energia aos bravos bebedores.

Entusiasmo puro, alguém sugere uma esticadinha.

Porque não?

Sair pra dançar numa noite gostosa, de repente conhecer alguém interessante.

Parece bom.

Bora pra festinha.

Desce mais uma cerveja, uma dançadinha na pista, alguns olhares, flertes.

Noite muito animada, como aquelas que há tempo não acontecia.

Um drink pra deixar o clima mais inflamado, vai bem.

A música está boa,parece que a energia nunca acaba, uma sensação boa invade a mente e o corponão pára de se movimentar.

O drink termina.

Pit stop no bar para o reabastecimento.

E assim a noite flui, evolui.

Junto com a música, o ritmo acelera até não poder mais.

Chega a hora de ir embora, afinal, desde manhã na rua, o aproveitamento foi total.

Nossa, cansaço. Reto embora pra casa, um banho e cama.

No dia seguinte a bateria de uma escola de samba inteira batuca na sua cabeça.

Abrir os olhos não parece uma tarefa fácil.

A luz incomoda muito mais que se imagina.

Nesse momento, um breve mau-estar.

"Putz, não devia ter misturado."

Levantar da cama e tomar uma água pode ser uma boa atitude no momento.Pois sim, que seja.... a cozinha virada num chapéu velho.

"Que raios aconteceu aqui?".

O furto da memória.

Durante o sono a bebida destilada se transforma num monstrinhoque arranca os detalhes que fazem a história ter sentido.

"Nunca mais."

Rá, tá bom.
Bem, pelo menos é sábado, existe tempo e espaço pra deixar a cabeça parar de girar,o estômago sarar e a vida continuar.

Quem sabe até o fim do dia não dá sede de novo.







Liliana Darolt

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Top de Notícias


NOTÍCIAS QUE NÃO MUDARAM NEM A MINHA, NEM A SUA, NEM A VIDA DE NINGUÉM... Pelo menos eu acho, né! Fuçando esse maravilhoso condensado fervilhante de informações e cultura infinitos chamado Internet - que na minha modesta opinião deveria ser a sigla para Informação Não Testada E Raramente Noticiada Exatamente na sua Totalidade, porque a desinformação e a curiosidade pelo inútil rola mesmo – achei algumas notícias que realmente... olha, realmente... enfim, interpretem por si mesmos e comentem gente. Porque ao contrário do que eu disse semana passada... eu só posso estar merecendo mesmo. Vão 10 só pra ilustrar:
TOP 10 – “Gisele Bundchen foi vista de uma academia com pinta de quem malhou pra valer. Olha só como a bela estava transpirando ao deixar o lugar”
(Será que se eu for no açougue eu acho carne?)

TOP 09 – “Discreto, Ronaldo entra em restaurante pela porta dos fundos”
(Depois da história do travesti não creio que ele tenha muitos problemas com esta prática...)

TOP 08 – “NX0 grava novo clipe em prédio abandonado de SP”
(Concordo com o site: AAAAAAAAAAAAAAAAAAhhhhhhhh !!! Mais um nãooooo)

TOP 07 – “Rafinha, assistente do Gugu, vai pela Disney pela primeira vez”
(E mais milhões de pessoas que já passaram por lá...)

TOP 06– “Jack Nicholson se empolga na comemoração e exibe barriga saliente”
(Com a fama e o talento que tem, a barriga do ator de 70 anos é o que mais chama a atenção mesmo)

TOP 05 – “Mario Frias vai à praia acompanhado da mulher e do papagaio”
(E ele ainda tá casado?)

TOP 04 – “Tânia Mara alisa cachos para ir ao Fashion Rio”
(Uau, só ela fez isso.)

TOP 03 – “Carro de Marcelo Faria enguiça no Leblon”
(Será que eu caso ou compro uma bicicleta?)

TOP 02 – “Show de rock é cancelado depois de pombo cagar na boca do baixista”
(Em boca fechada não entra m...)

TOP 01 – “Programa de Netinho no SBT chega ao fim”
(Acabou meu sábado)

Conclusão: vida alheia=cultura inútil.
Putz... Acabo de perceber que dei mais uma mídia pra elas... será que isso é bom ou ruim?
Pra quem quer dar umas risadas, recomendo www.kibeloco.com.br

Angelica Carvalho

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quem Nunca...


Pegou um ônibus lotado
Saiu com o vestido mal passado
Teve que limpar o jornal do cachorro
Devido a um atraso, levou um esporro
Aguentou uma palestra chata até o final em respeito ao palestrante
Caiu de bicicleta quando iniciante
Virou a noite fazendo um projeto
Falou demais e resolveu ficar quieto
Parou com o elevador em todos os andares e não entrou ninguém
Sentiu saudades de um certo alguém
Dançou É o Tchan, Spice Girls e Backstreet Boys
De tanto gritar já perdeu a voz
Correu com sede em direção a um bebedouro e não veio uma gota d’ água
Sentiu-se triste, cheio de magoa
Teve que ser simpático com aquela pessoa desagradável
Já cuidou de um amigo bêbado em situação lamentável
Passou por uma vitrine e disse que estava só olhando
Brigou com alguém que ficou te irritando
Saiu sem guarda chuva e se molhou inteiro
Ficou loucamente apurado na fila do banheiro
Teve um amor platônico
Viciou-se em um jogo eletrônico
Esqueceu o dinheiro no bolso da calça que foi lavada
Perdeu um brinco e ficou chateada
Não entendeu o que uma pessoa disse, sorriu, e concordou novamente
Teve uma música chata que não saia da mente
Programou-se para um dia de sol e choveu
Viu seu ex passar e fez que nem percebeu
Foi abrir uma latinha e o anel se soltou
Perdeu o horário e se revoltou
Pensou em começar uma dieta na segunda-feira
Ao invés de comer coisa light acabou comendo besteira
Pagou um mico que todos lembram, ninguém esquece
Ah, tem coisas que ninguém merece!







Bruna Roveda

terça-feira, 27 de julho de 2010

Manual para redigir a vida


A possibilidade de amar, de mudar, de pensar. A capacidade de compreender, de vencer, de inverter. Tantos verbos que movimentam nosso ser. Mas será que realmente exercemos todos eles no dia a dia?
Vivemos aprisionados, querendo ou não, aos substantivos. Isto porque, queremos e almejamos palavras que possam nos representar. Queremos ser considerados e lembrados por algum adjetivo que nos marque. Queremos ser lembrado como alguém bonito, inteligente, eficiente, esforçado, dedicado, interessado. Mas nosso cérebro nos limita tanto as palavras e ao ser alguma coisa, que simplesmente esquecemos-nos de ser. Sim, simplesmente ser o que somos independentes do que irão pensar. E nem todos conseguem isso, porque ser você mesmo às vezes pode ser assustador. Quantos gostariam de simplesmente seguir suas vontades, seus ideais e pensamentos, mas não conseguem ser essa pessoa e preferem ser apenas um substantivo.
A capacidade de nós, humanos, pode e deve ir além do que as palavras: deve ser ação. Deixar palavras como medo, incerteza e desanimo de lado. Consulte o dicionário da vida, e veja quantas palavras tem significado de ação em nossas vidas. Palavras por palavras não possuem sentido quando não damos vida a elas. Por isso, de vida somente àquelas que realmente fazem diferença em sua vida, começando pela mais importante: viva!


Bianca Nascimento

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Semana de Tema Livre

Dia do Amigo


Parabéns aos amigos! Dia 20 de julho passado, foi celebrado no Brasil o dia da Amizade. A origem não se sabe ao certo, pois que, também se comemora a data de 18 de abril, mas, 20 de julho é o mais conhecido. Mas bom mesmo é celebrar estas datas, felizes que nos trazem boas lembranças, mesmo que, por vezes, sejam as menos lembradas.
Ah como é bom ter amigos, ter pessoas em quem podemos confiar, apesar de hoje em dia se tornar cada vez mais difícil fazer amigos, é tanta competitividade é tanta globalização, são tantos amigos virtuais, que acabamos esquecendo de como é boa uma amizade verdadeira, dessas que você tem que cultivar como uma planta, aonde devemos regar a cada dia, tratar bem, amar e respeitar. Acredito que ao longo de nossa vida tenhamos poucos amigos dignos de partilhar deste dia, amigos mesmo, não me refiro aos inúmeros colegas que algumas pessoas possuem, ou dos companheiros de trabalho, me refiro aos amigos, aqueles que partilham conosco das coisas mais singelas, que nos dizem poucas e boas quando colocamos os pés pelas mãos, que fazem palhaçadas para nos animar, que dividem o último tostão no fim do mês, dividem uma bebida na balada, nos dão carona as 03 da manhã com chuva, escutam nossas paixões e depressões mesmo sem estar com a menor vontade, que vibram pela nosso sucesso e choram pelas nossas derrotas. São esses os nossos amigos, é difícil ilustrar todas as atitudes de um ser amigo, porque podem ser tantas e tão variadas, porém, sempre nobres.
É isso, os amigos se reconhecem pela nobreza, de caráter, de alma, são nossos amigos aquelas pessoas que nos fazem sentir melhor, que nos ajudam a evoluir e nos tornar melhor, ou aqueles que aprendem a se tornar melhor conosco, que não medem, não quantificam e principalmente, não se preocupam em te perguntar se você é amigo deles ou não, porque amigo mesmo, faz a sua parte sem esperar retorno, te considera e te ama, mesmo que você não demonstre a reciprocidade.
Sinto-me feliz pelos poucos, nobre e sinceros amigos que possuo, se contar, me cabem numa mão, mas não há coração que abranja o amor, a gratidão, o respeito e principalmente a admiração. A vida nos permite encontrar pessoas maravilhosas, que para sempre seguirão conosco ou nos deixarão seu legado, pessoas que jamais serão esquecidas, e que, mesmo passando os anos e a distância física não permitindo o encontro, sempre estarão conosco, dentro do coração e junto de nossa alma. Afinal, como já disse algum pensador: “amigos são a família que Deus nos permite escolher”. E aproveito para agradecer por cada um dos poucos que me bastam.



Fernanda Bugai

domingo, 25 de julho de 2010

Pó/Da/Dor



será que só terei um pouco de paz

em momentos que estou só?



mas quando estou sozinha para onde é que ela vai?



vira tédio, solidão, dó...



então vou me automedicando

entre doses homeopáticas de paz

e conflitos que são antídotos

para a angústia da falta e do real

pois, sem os mesmos,

não percebo o quanto sinto,

o quanto preciso do meu silêncio

e se me calo é porque o que vejo

supera meu próprio entendimento





Juliana Biancato

sábado, 24 de julho de 2010

Como Anna Chapman Foi Parar Na Cadeia


Muito se falou na mídia sobre a prisão de dez espiões russos que viviam como cidadãos normais nos Estados Unidos. Como todo espião, tiveram seus nomes trocados, suas aparências modificadas, identidades e passaportes novos. Mas, à primeira vista (e segunda, e terceira...), nenhum deles se destaca tanto quanto a bela ruiva de olhos verdes conhecida nas rodas sociais nova-iorquinas como Anna Chapman. Muito inteligente, era usada para seduzir altos funcionários do governo. Um flashback da Guerra Fria? Talvez, mas isso não vem ao caso.
O que vem ao caso é o fato de que Anna parece ter saído de um romance de Nora Roberts. Já me imagino pegando o livro com histórias calientes de Miss Chapman. Nora Roberts escreveria:
“Anna Chapman sempre conseguia o que queria. E talvez nem precisasse usar muitas das estratégias que aprendera em Moscou com a SVR, antes chamada de KGB. O cara gordo ao seu lado não resistiria mais que dois minutos e ele tinha informações importantes. Seu nome aquela noite? Holly Caregan. Era esse o segredo: não deixar pistas.
- Claro, Miss Caregan. Esse elevador sobe até o décimo andar. – disse o gordo, suando. Anna sabia que havia um segundo sentido para essa frase.
O elevador estava chegando ao quinto andar. Anna deu alguns passos a frente e apertou o botão de emergência, que imediatamente parou o elevador. A luz branca se apagou e outra, vermelha, começou a piscar, deixando os intervalos escuros. Foi chegando perto do gordo, que atendi pelo nome de Bobby, até que sussurrou em seu ouvido:
- Vamos ver se realmente sobe. – e começou a abrir com uma rapidez enorme os botões da camisa dele. Se fosse rápida, talvez deixasse de sentir o cheiro de suor nojento que Bobby exalava.
Com um trabalho que não demorou mais do que 5 minutos, Bobby já estava satisfeito. Voltou a vestir a roupa rapidamente, sem espaços para que ele tentasse mais alguma coisa.
- Aquele arquivo deve estar no lugar que minha chefe deixou. – disse Anna, esperando ele terminar de vestir a calça para continuar sua missão daquela noite.
- Aposto que sim Miss Caregan.
- Você me ajuda a pegá-lo? Está em um lugar muito alto e a escada pode escorregar.
- Claro. – exibiu um sorriso que não deixava dúvidas.
Em vinte minutos, Anna tinha em suas mãos a cópia do original documento que autorizava o exército americano a anular o tratado de paz caso a Rússia voltasse a se exibir com suas tecnologias bélicas. ”
E aí você leitora, me pergunta: “Está legal o texto, maaas... Como Anna Chapman foi parar na cadeia?”. Pois aqui está sua resposta, querida leitora: Espere as continuações deste texto e você terá a resposta.



Evelise Muncinelli

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Entrada Proibida


Gabriela sofreu um acidente de carro, quebrou o pescoço e morreu na hora. Um segundo depois, ela via o que todos os vivos passavam a vida a imaginar. Uma imensidão branca, cujos olhos não eram capazes de abraçar por completo, que de tão suave e imponente, fizeram com que Gabriela quase se esquecesse do porque estava ali. Por um instante, lembrou –se daqueles que deixara em vida, mas mal teve tempo de se entristecer. Estava no paraíso, o melhor lugar para se viver, onde a paz reinava e todos os sonhos eram realizados.
Ela imaginava que cheiro teriam as flores do seu novo jardim, que cores teriam seu quarto, que som ouviria de sua casa, como seria a voz de seus vizinhos e o tom do canto dos passáros. Durante seus devaneios, foi interrompida por um arcanjo corpulento e de voz grossa:
- Olá menina, posso ajudá-la?
- Eu quero saber aonde fica a minha casa.
O arcanjo pegou-a pela mão e apontou uma enorme fila de pessoas, bem ao longe, quase fora do alcance de sua visão.
- Pergunte por lá.
Depois de andar exaustivamente, Gabriela finalmente chegou na enorme fila e teve de esperar até ser atendida.
Eram centenas e centenas de pessoas de todos os tipos, várias falando línguas estranhas que pareciam inventadas . Dentre brabos, irritados, impacientes, felizes e serenos, o que mais se notava eram suas feições de surpresa, curiosidade e encantamento com o que viam do paraíso.
Após uma longa espera, Gabriela foi finalmente atendida.
- Oi, é...hum...onde é minha casa?
Sem nem ao menos erguer os olhos da tela de computador que tinha a sua frente, a atendente disse:
- Gabriela, não é? Bem, deixa eu te explicar fofinha. Primeiro, aqui não é o paraíso. Segundo, você não tem uma casa por essas redondezas e terceiro, tem mais alguma dúvida?
- Se isso não é o paraíso, então o que é?
- Não é nada, é só uma ilusão. Se você tentar passear por ai, vai ver que aquela imensidão toda pra aqueles lados de lá, é só uma pintura muito bem feita.
- Como assim não é nada? O que eu tenho que fazer então, pra onde eu vou?
- Aaah, aí são outros quinhentos. Pelo jeito você não leu nenhum manual desde que chegou aqui, disse a atendente, mau humorada.
- Que manual?
- Aaah, esquece. Seguinte, você tem três opções. A primeira, e a mais recomendável, fica por aqui esperando até que o cara lá em cima autorize a passagem. A segun...
Gabriela interrompe assustada:
- Esse cara lá em cima que você ta falando, é Deus? Que historia é essa de autorizar a passagem? Eu tenho direito a ir pro paraíso, SIM SENHOR.
Gabriela olha para cima, como se falasse com o próprio Deus.
- Eu sei minha filha, você e todo o time do Flamengo. Sua segunda opção é voltar para Terra e ficar aterrorizando todo mundo por lá, e a tercei...
- Porque diabos eu ia querer aterrorizar as pessoas, hein?
- ISSO! A terceira opção tem tudo a ver com o diabo. Como eu ia dizendo, sua terceira opção é ir pro inferno e ficar por lá, perto dos capetinhas. Viu que legal?
A atendente bate palmas e fala com Gabriela como se ela tivesse 6 anos de idade.
- Tá, e se eu tenho a opção de ir pro inferno, porque eu não tenho a opção de ir pro paraíso?
-Normas da casa.
A atendente tornou-se novamente seca, e voltou a olhar para a tela do computador.
- Mas porque essas normas? EU nunca fiz nada de mal a ninguém, a minha vida inteirinha... eu já...eu já...dei chocolate pro meu irmão,
- Depois de já ter comido uma barra e meia, até eu daria um mísero pedaço, disse a atendente.
- E..e..eu já...fui no hospital contar historinhas pros velhinhos, e ...e todo ano eu doava roupa e brinquedo pra criança pobre, e...
- Olha Gabriela, o negócio é o seguinte. Isso tudo que você diz ai não importa. O Conselho decidiu que ninguém, absolutamente ninguém, merece entrar e permanecer no paraíso. E ponto final.
- Que? Mas então não seria justo eu ter pelo menos continuado viva? Olha o tipo das minhas opções, ficar aqui, voltar como um fantasma pra Terra ou ser a dama de companhia do diabo.
- Sâo normas da casa, não adianta descontar em mim.
- Ai, e o que eu faço agora?
- Eu já disse o que é mais recomendado... fica por aqui, até que Ele mude de idéia.
- Fico por aqui aonde? Tem aonde eu dormir, tomar banho, ir ao banheiro, comer, e tudo o mais?
- Você não vai ter que se preocupar com isso aqui, Gabriela.
- Tá...então pra onde eu vou?
- Tá vendo aquela fila lá ó, lá longe?
- Lá longe? Bem longe, lá?
- Isso, isso mesmo. Lá.. vai pra lá e aguarda ser atendida.
- Ser atendida de novo? Por quem? Porque se for tipo você, eu to pensando até em ir lá pro inferno cozinhar pro Diabo.
-Que eu o que, quem vai te atender é Ele.
- Deus?
- Isso...Deus. Agora vai logo, que a fila tá grande.
Gabriela sai correndo para garantir logo seu lugar, mas a medida que vai se aproximando e vê o tamanho colossal da fila, ela vai diminuindo o ritmo. Deveriam ter centenas de milhares de pessoas esperando para serem atendidas, e pedindo algo que nem ela mesma sabia o que era.
Gabriela pensou:
- Tudo isso pra só, TALVEZ, conseguir entrar no paraíso?Ah, é demais para mim. E vai que lá nem é tudo isso que dizem? Chega, não vou esperar uma eternidade pra uma incerteza.
Gabriela senta em posição de índio no chão alvo e fofo do falso do paraíso.
- Vou ficar aqui, e ai de alguém que tente me tirar do meu cantinho.
- Ela disse isso mesmo, que ninguém merece entrar no paraíso? Mulher louca, deve ser assistente do diabo. Pô, Deus, nem pra arranjar uns funcionários autênticos, tá ruim hein?
- Que que eu vou ficar fazendo aqui até aquela galera armar uma rebelião, e quebrar os portões do paraíso, hein? Mas será que alguém sabe aonde fica a entrada do paraíso, e se tem portão lá? Porque se tiver, facilita pra caramba...
- Será que alguém aqui já teve essa idéia. Boa, vou tentar armar essa rebelião.
Ela levanta-se, e depois de muito tempo, alcança os últimos da fila. Aproxima-se de uma senhora de idade, pequena e rechonchuda:
- Uma rebelião? Pra que menininha, é só ter paciência. E que maldade é essa, você não acha que Deus não merece ver violência na sua própria casa, hein?
- Rebelião é modo de dizer minha senhora. Eu só acho que nós todos deveríamos nos unir, e falar juntos em uma só voz. Até pra acabar com essa burocracia toda.
Gabriela começa a reunir algumas pessoas, mas a maioria resiste a se juntar a ela.
- Onde já se viu, querer protestar a vontade divina.
- Menina louca, deveria ter ido logo pro inferno.
- Haha, é uma a menos no paraíso, certeza. Sobra mais lugar pra mim.
Os primeiros da fila comentavam entre si:
- Tava demorando alguém vir querer roubar nosso lugar.
- Tava mesmo, uns 5 anos aqui. Ninguém merece, não estamos livre de desonestidade nem na Sua presença.
- Nem...
De repente, Deus surge imponente por detrás das cortinas. Medindo mais que 5 metros de altura, sua luz chegava a arder a vista. Antes de ouvir qualquer pedido de oração, ele diz:
- Meus filhos, o Conselho decidiu que a fila deve mudar de local. Vocês estão vendo lá ó? Lá longe? Perto daquele pontinho preto?
Antes mesmo de apontar, a multidão já saía correndo em direção a tal nova fila.



Letícia Mueller

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Never More



Sentimento que só causa dor
Proibir chocolate, sorvete, chiclete
Sofrer por amor
Acordar levando sermão
Não poder fumar, beber ou correr,
Aturar mau humor
Levar safanão
Pisar em cocô na calçada
Ver o time perder
E agüentar teu amigo te foder?
Não almoçar por causa da pressa
Não viver por causa da hora
Ter que suportar fila, ignorância com “s”,
Não poder ver TV, chefe zangado,
Querer abraçar o mundo
Ser assaltado por vagabundo
Trocar pneu, ir pra cadeia, ao dentista,
Ficar preso em enchente
Ver essa política deprimente
Cair da moto, fazer exame de toque retal,
Ser abordado por marginal
Perder o voo, perder as malas do voo,
Ninguém merece solidão
Poluição, depressão, bateção,
Ver briga, gente morrendo, se matando,
Ter um sonho mutilado
Um dia de sol fechado
Animal em extinção
Estragar o mar, o rio, o ar
Ninguém merece o ser que se pensa humano
Chorar de tristeza, ficar doente, ter dor de cabeça,
Perder uma pessoa querida
Morrer de fome, de sede, morrer em vida,
Vizinho chato, aluguel, menos salário,
Mais mês
Grosseria, estupidez, orgulho demais,
Lembrar demais, esquecer demais,
Guerra, mutilação, exploração,
Distância, pressão, desvalorização,
Palavras rudes, pessoas insanas,
Depravação
Se esqueci algo é bom. Pode ser que ainda haja esperança.



Angelica Carvalho
Ninguém Merece uma Copa Com Vuvuzela, Polvo Vidente e Com Crianças Batizadas de Jabulani


Dona Gegê era uma ex-alcóolatra idosa, que há dois anos tinha se libertado do vício.Então quando a Copa de 2010 aproximou-se ela disse aos seus netos:
- Eu não assistirei aos jogos mundiais. Pois, antigamente, sempre quando eu via as Copas, pela televisão, bebia muito.
- Era assim: se o Brasil ganhava, eu enfiava álcool pela goela. Mas quando o meu país perdia, eu bebia a mesma coisa e, no final, quem ficava bolada era eu. Após a ressaca, eu percebia que não estava com aquela bola toda e minha bolinha ficava murcha igual a minha auto-estima. Só, desta maneira, percebi que precisava parar de beber e baixar a bola.
Quando o mês de junho de 2010 chegou, era comum ver nas ruas as pessoas soprando as suas vuvuzelas. Num dia destes, dona Gegê, estava na janela, quando de repente escutou um barulho deste tipo de corneta:
- Foooom!
Assim ela exclamou:
- Uma Copa do Mundo com vuvuzelas, ninguém merece!
Logo nos primeiros dias dos jogos mundiais, os atletas reclamaram muito, na imprensa, da nova bola inventada pela Fifa chamada Jabulani. Ao ver estes noticiários, dona Gegê comentou:
- Aposto que esta bola Jabulani deve ser coisa do Diabo!
Denise, sua neta, ao escutar esta crítica disse:
- Eu acho que a senhora tem razão, vovó. Pois eu vi nos sites de Lendas Urbanas que a palavra Jabulani significa Ovo do Diabo no dialeto Bantu isiZulu existente na África.
Após estas palavras, a idosa exclamou:
- Uma Copa com Jabulani ninguém merece!
Naquele instante Gegê ligou a televisão e levou um susto ao escutar o Cid Moreira exclamando:
- Jabulaaaaaani!
Deste jeito a anciã reclamou:
- Não acredito que este locutor, que leu tão bem a bíblia, empreste a sua voz para dizer esta palavra diabólica.
- Ninguém merece!
Após esta cena do locutor exclamando o estranho nome da bola, apareceu o técnico Maradona falando:
- Se a Argentina ganhar, prometo que ficarei nu!
Assim Dona Gegê comentou:
- O Maradona pelado, ninguém merece!
Porém nas partidas do Brasil, esta velhinha cumpriu o prometido: desligou a televisão, nestes momentos, e foi passear na praça com seu cachorro de estimação.
Antes do jogo do Brasil com a Holanda, dona Gegê escutou num dos noticiários:
- O músico Mick Jaeger, o maior pé frio da Copa de 2010, torcerá pelo Brasil. Não se esqueçam que todo o time, para que este músico torce, acaba perdendo no final.
Então a idosa comentou:
- Ter o Mick Jaeger na torcida, ninguém merece!
No final das contas não deu outro resultado: o Brasil perdeu para a Holanda.
Alguns dias depois surgiu a história de que um polvo, morador do aquário Sea Life da Alemanha, estava adivinhando o campeão de cada jogo. Deste jeito, a anciã criticou:
- Eu não acredito em Lula, mas creio no polvo. Afinal é como diz aquele ditado: a voz do polvo é a voz de Deus. Aliás, deveriam votar, neste polvo para ser presidente de algum país em desenvolvimento. Poxa, nem acredito que estou falando isto. Justo eu que não acredito em poderes sobrenaturais e que acha os moluscos muito nojentos...
- Na verdade, um polvo vidente ninguém merece!
No dia 11 de julho, bem quando a Espanha venceu a Holanda, o telefone desta senhora tocou:
- Gegê, sua neta mais nova acabou de nascer e foi batizada com o nome de Jabulani.
A idosa logo ralhou:
- Receber o nome de Jabulani, nenhuma criança merece.
- Com este nome, minha neta, quando crescer terá complexo de bola de futebol em Copa do Mundo, pois homens do planeta inteiro correrão atrás dela e assim ela terá o risco de levar muitos pés na bunda.
- Ninguém merece!



Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 20 de julho de 2010

O que fizeram para merecer sofrer?



Merecer não é querer e nem poder: é uma questão de recompensa pelos seus atos. Mas, porque alguns merecem ser tão agraciados e outros tão desgraçados, quando nada fazem para nem um nem outro?
Isso é inevitável. O filho rico não pediu para nascer em berço de ouro. A menina doente não pediu para nascer com leucemia. Então como pensar que merecimento é apenas uma reação diante de suas ações?Certas vezes, pensei nos doentes que estavam no hospital. Pensei nas tantas lágrimas que estariam escorrendo nos olhos daquela mãe, vendo o filho leucêmico definhar aos 10 anos de idade. Ou então o pai vendo o filho perder a juventude, nos seus dezenove anos. A infância, e a juventude, que muitos querem voltar, que muitos julgam passar rápido demais, eles ao menos teriam o prazer de vivê-la da melhor forma, isso se cada um deles fosse vivê-las.
Já ouvi diversas explicações para este tipo de sofrimento: alguns dizem que é os pais que pagam por erros cometidos no passado ou que os doentes foram ruins em outras vidas e até que eles só passam por isso porque podem carregar essa dor. Quanta hipocrisia!Se perguntar para um doente se ele realmente acha isso, você entenderá a hipocrisia que há nessas explicações.
Da mesma forma acontece em muitos outros casos, como com os animais. Não escolheram serem torturados, morrer aos montes diariamente, só para alimentar um ser, o humano, que não come mais por necessidade, e sim por gula. Sim, o sistema mata mais do que o homem precisa. E ouço explicações do tipo “precisamos deles para viver”. Mas para isso, eles sofrem. E tem muita gente hipócrita que diz não gostar de maus tratos aos animais e come carne, por exemplo. Mas a vaca, a galinha e tantos outros tem merecem sofrer desnecessariamente né?
A questão de tudo isso é que na verdade muita gente e seres têm o que aparentemente não mereciam, não fizeram nada para merecer. E por isso, os que tem oportunidade de ter uma vida boa, devem agradecer. Agradecer por não terem algo que os impeça de continuar a vida, de vivê-la bem. E mais que isso: devemos não só agradecer como também nos conscientizar que o mundo é feito por pessoas e seres injustiçados, que sofrem, e que mais do que tudo, precisam de nossa ajuda.




Bianca Nascimento

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Tema da Semana: Ninguém merece

Mediocridade!


Hoje eu cheguei a seguinte conclusão: Fazemos por merecer. Sim, nós merecemos tudo que nos acontece, seja karma de planos anteriores ou resultado de ações imediatamente passadas (maioria), mas é fato, sempre fazemos por merecer.
As pessoas se questionam por que o vizinho trocou de carro, por que o colega de faculdade já passou num concurso, por que a melhor amiga arranjou casamento, e por que elas não saem do lugar? A resposta é simples, todos fizeram por merecer! Se teu vizinho trocou de carro, pode ser que não tenha feito corpo mole e dado duro no trabalho. Se teu colega já passou em concurso é porque meteu a cara nos livros. Se tua amiga vai casar, é porque ela uma guria bacana dessas que os homens não só suportam, mas curtem ficar ao lado. Agora, se você está na mesma, é porque está precisando rever seus conceitos. A grama do vizinho é sempre mais verde, no entanto, quando tratamos de cuidar a grama do vizinho, deixamos de adubar a nossa. Entende?
Se a galera do trabalho não te convida para as festinhas, é porque você é um chato ou puxa-saco do chefe. Se teus amigos te excluem é porque você talvez não seja tão legal assim. Se teu namorado te largou, no mínimo você é um porre. Se não é promovido, é porque teu trabalho é de mediano para baixo. Se teus estudos não vão bem, é porque não estuda direito. Não adianta, as coisas vêm quando as buscamos, colhemos o que plantamos, se não somos boas pessoas, é impossível que boas realizações nos aconteçam. Simples assim.
Pode até ser uma visão egoísta, mas se cada um pensar e fizer primeiro por si, as coisas engrenam e vão para frente, mas não, sempre tem aquele que espera por milagres, quer que riqueza, fama e sucesso caiam do céu, e daí reclama que nada da certo, que trabalha há tantos anos e nada conseguiu, mas nunca param para pensar no que fizeram para as coisas darem certo, não deram duro, não persistiram, não batalharam, sei lá, mas para o sucesso é necessário o esforço, a luta. Claro que existem aqueles sortudos que se dão bem sem muito esforço, mas isso além de minoria, um mínimo de esforço requer, pois, se o cara recebeu uma bolada, casou bem, foi promovido, um mínimo de esforço fez, seja para conquistar o Q.I (quem indique), ou para parecer ter muita habilidade, mas repito, um mínimo de esforço houve.
Agora, tem gente que leva uma vidinha medíocre, passa o dia futricando a vida alheia, invejando todos ao redor, falando mal de todo mundo, colocando ponta nisso e aquilo, é claro que com uma atmosfera ruim e carregada dessas, com pensamentos negativos e com os dois pés estáticos no comodismo, não há vida neste planeta que vá para frente. É necessário evoluir gente! Em tudo, em todos os aspectos, afinal, quando focamos em nossa vida, seja particular, no trabalho, nos estudos, as coisas melhoram, deixamos de se preocupar com o alheio, de se importar, de perceber quem fez e quem não fez, e inconscientemente produzimos mais, melhoramos, evoluímos, adquirimos ou pelo menos iniciamos a trilha do sucesso, do bem estar e quando vemos já estamos cuidando das nossas vidas, deixamos de pensar no que é bom para os outros, porque estamos preocupados em que vai fazer bem para nós, assim, nos tornamos pessoas bem melhores, mas entendo que isso não esteja ao alcance de todos, afinal, sempre tem aquele que vai continuar jardinando a grama alheia. Infelizmente, porque ninguém merece viver rodeada de gente mesquinha, interesseira, mal humorada, invejosa e principalmente falsa, que só pensa em se dar bem às custas alheias ou à custa nenhuma.



Fernanda Bugai

domingo, 18 de julho de 2010

O Centro Do Universo



Não lembrava o nome de sua primeira namorada. Só recordava que a conheceu no jardim de infância da Tia Mariangela, passeando com ela de mãos dadas ao redor do cercadinho de areia. Não sabia o que estava fazendo. Nem que brinquedo estava brincando. E só muito mais tarde foi entender com exatidão o que seus pais queriam dizer com não brincar com fogo.
A segunda namorada surgiu pouco tempo depois. Era a secretária de seu pai. Uma mulher de corpo esguio e traços harmoniosos nos desenhos que fazia emergir por seus longos dedos de rubras unhas bem cuidadas. Também não lembrava do nome, mas através dela começou a compor seus primeiros registros mentais do protótipo da feminilidade. Passava assim a montar inconscientemente os traços essenciais da mulher idealizada.
Suas referências só se confundiram quando seu progenitor contratou uma balconista de nome Wilma (deste lembrava bem por ser homônima de uma tia sua). No tempo em que não estava na escola, divertia-se olhando por baixo de sua saia por horas, enquanto Wilma atendia em pé aos clientes que chegavam até o balcão.
Cresceu empenhando-se em ser bom aluno, mas sentindo-se ainda analfabeto no entendimento das mulheres. Teve sua primeira namorada “de verdade” quando era pré-adolescente. Sandra tirara segundo lugar no concurso do casal mais bonito da cidade (e não foi culpa sua não ter tirado o primeiro lugar). Primeira namorada = primeiro Valisère, e não foi à toa que o desfecho o fez ter de visitar o médico da família, para se recuperar de uma queda que nem a mais moderna pajelança da medicina moderna poderia tratar.
Mudou de cidade, estudou na capital. Namorou e juntou as escovas com uma mulher 13 anos mais velha. Foi quando descobriu que experiência não significa necessariamente maturidade.
O fim de uma relação quase traumática deu abertura para que conquistasse a garota que era o sonho de todos os colegas de universidade. Uma atriz que estampara seu rosto luminoso em revistas adolescentes e em palcos e cenários de novela. Mas ele, com sua educação interiorana de macho provedor, não se via capaz de aceitar um beijo em cena. E assim baixou o pano.
Outras surgiram depois dela, até que se casou com uma professora de inglês e piano. Não se entenderam nem na letra, nem na melodia.
Passado o divórcio, acostumou-se com a ideia de que contos de fadas ficam apenas restritos ao campo da fantasia, jamais podendo transcender para a realidade. Resolveu acumular amores breves, placebos emocionais para compensar uma ausência imaginada perpétua e insolúvel. Acreditava que dúzias de margaridas poderiam muito bem suplantar a carência de uma orquídea rara.
Para exercitar seus sonhos, passou a escrever. Quem sabe em seus simulacros de realidade pudesse encontrar o alento para a carga de existir sozinho. Também se tornou professor, mesmo sabendo desentender a mais importante de todas as disciplinas. Escreveu então o roteiro de um filme no qual inseriria a mulher que até aquele momento habitara apenas seus indomáveis devaneios. Ela deveria ser tão linda que a fila de pretendentes não teria fim. E sua essência interior seria tão bem lapidada em simplicidade e caráter que faria jus à sua incomensurável beleza. A personagem não tinha um nome exato, transitando entre vários de conotações fonéticas diversas, na busca por se encontrar o mais adequado em sonoridade ou significado. Ao visitar o set de filmagem, constatou que quem a interpretaria tinha um nome simples e breve. Imutável se lido de frente para trás ou de trás para frente, o que era muito coerente, já que ela viraria seu mundo do avesso. Ana não era como a personagem que desenhara em sua mente. Ela a superara. Era inigualável. Passou uma hora ao seu lado, sentado em frente ao notebook e fazendo as últimas alterações de roteiro na conversa com a equipe. Fechou seu equipamento e ficou por algum tempo tentando controlar seus batimentos cardíacos, esperando uma oportunidade para conversar com a moça cujos cabelos compridos laçaram seus desejos. Mas então veio a saber que ela já era comprometida. Ele foi embora em seu carro observando-a caminhar pela calçada, com graciosidade hipnótica. Desfilando elegante no cinza da paisagem urbana e no breu de suas esperanças.
Ele então a viu casar. Ou melhor, a viu casar na história que criara. A estrela do filme se tornara sua personagem favorita e inviável. Sua musa estava no alto do pedestal e distante de seu toque, oferecendo os fios negros de suas madeixas ao toque de um outro que ele não conhecia, mas que invejava com toda a intensidade inerente a um homem que sofre de amor à primeira vista.
Mas como não era ele quem escrevia o roteiro da vida real, teve a surpresa de ver Ana em sua sala de aula. A musa virara aluna. E a aluna virara amiga e confidente. De namorada se tornou ex. E, no mesmo dia, um beijo entre os dois dava início ao mais delicioso e intenso colapso existencial que um homem pode ambicionar.
Em apenas 48 horas, já era como se fossem conhecidos de anos. Talvez porque quando se espera uma pessoa por tanto tempo, esse alguém se torna familiar quando o encontramos. Viveram dias intensos e noites sem se refazer. Ligavam um para o outro com intervalos de tempo cada vez menores, sem se dar conta de que já estavam ligados pelo cordão umbilical de seus sonhos. Lembrou que, há menos de uma semana, ele era apenas a 1.245.972º pessoa mais feliz do mundo. Descobriu o verdadeiro centro do universo. De uma hora para outra superou Copérnico e Galileu simultaneamente. Os livros didáticos foram subjugados pela ficção, e as fábulas sucumbiram ao fantástico da realidade.
E ele, que adorava finais felizes, se viu pela primeira vez escrevendo uma história que acabava com um início feliz. Tão feliz que já nasceu eterno.




Mario Lopes

sábado, 17 de julho de 2010

Totalmente Problemático Mesmo



Ela é cinza. Eis a TPM. É assim que é! A pessoa acorda de manhã e, claro, é segunda-feira. Tá sol, mas tá dose. Sem fazer muito conquista uma dor nas costas. Daquelas que travam. PQP, pensa. Mulher é um bicho cheio de bicho dentro dela. Estranho isso, eu sei.

Mas como acontecem coisas lá dentro, não é mesmo? Fala sério....Quando digo dentro, é dentro de verdade e pra todos os lados, em todos os sentidos.

Todas as dúvidas, todo o organismo, tudo acontece e confunde.

E na segunda-feira, de TPM.

Na verdade é tudo culpa dela. O dia estaria normal com todas as coisas se mexendo,mas não íamos querer mudar a vida de lugar. Embora, porque não?

Enfim, voltando a sina do mulherio. Tem algumas que não gostam nem de falar.

Falar pra que? Posso ficar quietinha no meu canto?Outras ficam de mau humor e a qualquer momento podem proporcionar uma patada.Vá lá. Mulher faz e sente coisas que mal consegue explicar, mas justifica ser o dia,aquele maldito dia, que passa praquela mulher completamente não criativo e... chato.

Quando acha que pode se esconder embaixo das cobertas e seriados de... mulher, tem festa...

Que raios, comemorar aniversário numa segunda, já começou até a chover.

Mas tá, como sempre há tempo de salvação, vai, se joga.

Já no espelho acontece o inevitável, mas não perde tempo com isso. Segue nesse figurino...

E claro, dentro é quente, tira jaqueta. Fora é frio, põe a jaqueta.

Bah, a cerveja desce mas não alivia muito. Vai embora que ainda tem jeito de salvar algum seriado.Deita no sofá.... adormece... sonada, dá uma cotovelada no namorado que tenta ajeitá-la.

Inconsciente, sempre. É tudo culpa dela até dormindo.

Ao menos todo esse desgosto acende uma lamparina que pode iluminar e iluminar e,quem sabe um dia, a TPM tenha outra cor. E os outros dias, serão melhores dias.




Liliana Darolt

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Melhor Piada Do Mundo


Hoje era dia de só alegria. Amélia já despertou cantando, dando pulinhos suaves e esboçando sorrisos para as paredes.
- Bom dia, Dona Branca! Como vai você?
E se virava para o extremo oposto do quarto:
- E você, Armário ? Dormiu bem?
Amélia não esperava a resposta. Corria para o pequeno espelhinho do banheiro minúsculo, engafinhado-se para caber ali dentro. Bom mesmo seria poder deixar seu enorme par de pernas do lado de fora, e entrar só com a cabeça, que apesar de também imensa, era o seu menor membro. Olhava seu rosto com cuidado, certificando-se que todas as sardas estavam em seus devidos lugares e que nenhuma tinha fujido. Tudo certo? Então era hora de trabalhar.
Percorria os corredores feito uma bailarina desengonçada, parecendo um louva-deus em meio a um vendaval. Caprichava no silêncio, pensando nos patrões dormindo bem ao lado, atrás das paredes finas que também descansavam a essas horas da matina. Amélia chegava na porta da cozinha, e embalava seu corpo com força para deslizar sobre o piso de cerâmica, surfando com suas pantufas. Manejar aquelas longuíssimas pernas não era trabalho pra qualquer um. Exigia prática e habilidade.
O fim do seu trajeto de deslize tinha de ser a cafeteira, em uma posição em que conseguisse tocá-la, sem esforço, se esticasse os braços. Se por o acaso, o embalo terminasse fora da área permitida, um centímetro que fosse, ela voltava para a linha de partida e tentava novamente.
O que mais gostava no café da manhã, era a cafeteira. Adorava sentar próxima a ela,e aproximar o ouvido para ouvir os borbulhos da água efervescente. Quando o café estava pronto, ela jogava-o fora, e fazia tudo de novo. Não mais que três vezes, pois ai dela se o patrão descobrisse o desperdício.
Meio entristecida, ela servia-se de um pouco de café, e em dias normais, comia duas fatias de pão com manteiga e uma fruta qualquer.
Naquele dia, não comeria nada. Salivava só de imaginar as delícias que degustaria mais tarde. Aliás, desde o dia anterior, quando sua tia a ligou e disse que seu tio estava morto e seria velado hoje, ela parou de comer. Mal se deu ao trabalho de jantar, até porque o velório estava marcado para começar de manhã, e se estenderia até o momento do enterro, no finzinho da tarde.
Amélia tomou seu café mais por obrigação do que por vontade, e com tanta lentidão, que os últimos goles, de tão gelados, fariam vomitar até o mais forte. Mas ela, distraída e pensativa, nem notou e bebeu até a última gota. Só estava esperando os patrões acordarem para dizer que hoje não poderia trabalhar.
Quando contou para Dona Joana, sua patroa, que teria de ir ao velório do tio, e portanto, ficaria o dia todo fora, não conseguiu conter o entusiasmo.
- Só você mesmo, Amélia... ficar feliz em velório.
A empregada fingiu estar envergonhada:
- Ai Dona Jo, e tem como não ficar feliz com tanta comida gostosa e gentarada reunida pra eu contá minhas piada? Pó dexá que eu trago um pedacin de misto pra senhora, viu?
E lá foi bailando Amélia para o seu quarto, já pensando na roupa que reforçaria a graça das anedotas.
Vestindo calças pantalonas vermelhas, um sapato roxo, e um blazer xadrez preto e branco, Amélia ficou satisfeita com o que viu no espelho e saiu correndo pegar o ônibus, com medo de se atrasar.
Chegando no velório, ela foi logo para a mesa de comidas. Primeiro, deu uma olhadela geral sobre todas as opções, e satisfeita, pegou a comidinha que estava mais a mão para poder, finalmente, passear pelo salão.
Com um pedaço de nega-maluca em mãos, Amélia andava com suas enormes pernas olhando para cada rosto que estava presente, e cada vez que seus olhos encontravam com os de alguém, lá ia ela, com um sorriso incoveniente e uma piada engraçadinha na ponta da língua.
Sua risada ecoava pelo salão, chamando a atenção até dos mais compenetrados.
Amélia tomou o lugar da melancolia. A morte já não era mais a estrela do local.
Ela não se importava com as lágrimas ou olhos fechados, e sim com as piadas e as guloseimas em suas mãos.
Andava de um lado para o outro, enroscando suas pernas em distraídos, derrubando os mais baixinhos e irritando os rabujentos. Quando cansava, ia para a mesa, enxia suas mãos com sanduichinhos, bolos, bolachas e balinhas, e voltava para o seu show.
Em uma de suas andanças, parou para olhar o seu tio dentro do caixão.
Apesar dos cabelos puidos e fininhos da velhice, os lábios franzidos, a pele flácida e o rosto pálido, ele demonstrava tanta serenidade que Amélia acalmou-se e deixou, sem querer, as guloseimas cairem no chão.
Ela lembrou-se do seu tio, de sua risada, seu jeito meigo e brincalhão de ser, e sentiu uma dorzinha no peito que fez uma lágrima escorrer dos seus olhos. Sentiu uma saudade tão forte, que quis logo voltar para casa. Tinha muito trabalho a fazer, louças para lavar, um banheiro para limpar, um chão para varrer...
As comidas e as piadas não tinham mais graça. Iria embora.
Quando já estava dando as costas para o tio, viu algo se mover. Assustada, olhou bem para ele, tentando achar o movimento, e notou que seus lábios tinham mudado de posição.Já não estavam mais flácidos e exibiam um sorriso tão discreto que só ela conseguiu notar.
Amélia tentou interpretar o gesto do tio, e conclui que deveria voltar a contar piadas para todos os presentes para alegrá-los.
Quando estava prestes a escolher alguém para divertir, viu que seu tio já não estava mais com aquele sorriso, bem pelo contrário. Ele parecia brabo, irritado, com as sobrancelhas cerradas.
Amélia voltou para perto dele, e o sorriso voltou ao seu rosto.
- Ai meu Deus! E se ele quiser que eu fique aqui pra sempre com ele?, pensou ela.
Pensativa, tentava achar uma resposta para o que acabara de ver.
- E se... boa. Florida tinha quatro cachorros que..
Ela contou uma de suas melhores piadas, a que fazia qualquer um rir, e alguns perderem o ar.
Fechou os olhos, cheia de expectativas, e olhou para o seu tio.
Em uma fração de segundo, ela conseguiu ver. Ele abriu um sorriso imenso, que exibiu seus dentes amarelados e sua garganta rosada. Toda sua face e seu corpo se comprimiram com a gargalhada muda, até que, de repente, ele voltou ao normal.
Os lábios voltaram a ser franzidos e o rosto voltou a ser pálido e sereno como antes.
Quem gargalhava agora era Amélia, que mais feliz do que nunca, pegou mais um pedaço de nega-maluca e foi para casa.
Já era hora de descansar.




Letía Mueller (retornando de lua de mel. Felicidades, Desaforada Fofulety!)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Resta



Quando criança, ela desejava ser veterinária.

Cresceu, e acabou tornando-se uma cadela.

Da escritora, que um dia quis ser,

Tornou-se um rabisco medíocre,

feita de linhas tortas.

Do baile de formatura,

da valsa com o pai,

do álbum de fotos que todos deveriam ter

Ela só teve um vestido rasgado

O corpo, que sofreu tanto pudor rigoroso

Vive agora, a regra de pertencer a todos

Mas hoje, esse é um corpo que ninguém mais quer

Do único homem que nunca lhe prometeu coisas que não poderia cumprir

Ela guarda somente o número da lápide

E uma tentativa fracassada de extorquir o coveiro

De todos os outros que passaram

Ela só tem as cicatrizes

Dos sonhos que teve,

hoje só lhe resta a saudade.





Jéssica Ferreira

quarta-feira, 14 de julho de 2010

As Quatro Fases De Um Sonho


Descobre em um fim de tarde os encantos de um grande amor.
Receosa, teme o sentimento que desponta.
Crescente, confiante, se joga no delírio e na armadilha dessa paixão,
Sem, no entanto, atentar-se ao que está disposta a encarar ou a deixar.
Mergulha e se deixa levar
Pela magia da neblina do início de inverno.

Cheia. Absolutamente plena e abarrotada de sonhos.
O sorriso estampado na face brilha e ilumina os caminhos
Noites se transformam em dia
Não há o que temer, pois as noites são estreladas,
O caminho é límpido, claro e certo.
A certeza de que seu dia chegou.

O tempo traz uma ruptura
Uma ponta incômoda afiada como uma lâmina
Corta um pedaço do seu coração
Mingua uma parte da sua vida
Recorta sem piedade o que lhe resta
Diminui sua força, seu brilho,
Apaga sua luz
A faz chorar

Vazia, escura, dormente...
Em busca de um novo sentido
À procura de si mesma
Não cicatrizam os cortes
Noites escuras, chuvosas,
Movida apenas pela força de seus dois sóis
Que não permitem que desista
De continuar a girar.
Nova, espera por uma outra estação,
Por um novo sonho. Recomeça o ciclo.

Algumas coisas o tempo jamais apaga, apenas torna menos visíveis.


Angelica Carvalho

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um Verbo Para Vida Toda


Passamos a vida toda motivados por uma única palavra: medo. Mesmo sem perceber, todos nós já fomos motivados por ele, a fazer ou não fazer alguma coisa. Medo de sofrer, de amar, de crescer, de morrer. E algumas vezes, pelo medo, deixamos de viver algo ou vivemos aquilo que não devíamos.

Se é quando crianças, temos medo de Papai Noel, de bruxa e monstros, que aterrorizavam nossas noites e nossos pensamentos. Aí, descobrimos na adolescência que os piores monstros, na verdade, eram os adultos, que não nos entendem, não nos permitem aproveitarmos nossas vidas. Mas quando crescemos mais um pouquinho é que complica: quando nos tornamos um deles. Nessa fase, começam a aparecer os monstros da profissão, do “o que faço da minha vida?”, dos relacionamentos e aqueles que te perguntam a toda hora quando é que você tomará um jeito, se casará, quando ganhará dinheiro suficiente e o que você é nessa vida.

Infelizmente, esses medos, nos tomam de uma forma até mesmo irreversível. Medo de não conseguir um emprego, uma companhia, de ficar pobre, de não realizar os sonhos, de ficar doente, de perder quem ama, de não dar certo. E por isso, há pessoas que nem tentam, que nem querem saber, o medo toma conta delas a ponto de acharem que a dor de suas perdas ou não -conquistas será muito maior do que o medo que possuem. E por isso, o medo impera. Mas há uma palavra que felizmente existe e pode ser vista na ação, um verbo, um encorajamento e um passo adiante daquilo que se quer ou se precisa. Essa palavra é que motiva e motivou todos aqueles que um dia conquistaram algo ou alguém, que fizeram as coisas dar certo porque a partir dela se pode ver onde se estava errando e o que devia ser mudado. E não adianta ter medo de que esta palavra não surta o efeito desejado: o que você deve fazer sempre, é TENTAR!


Bianca Nascimento

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Semana de Tema Livre

Talvez

Por vezes nos deparamos com pessoas ao nosso redor que nos fazem sentir, sentir bem, mudam nossas vidas, daquele momento adiante tudo parece mais colorido, nossa vida se torna mais iluminada, os dias mais felizes.
Acomodamos-nos, por querer, com aquele prazer, com a sensação de bem estar, isto porque nos sentimos felizes, amados e seguros. Sentimos bem. Sentimos vontade de pular e fritar, de sorrir, de dizer bom dia, beijar na boca, dançar na chuva. Porque sabemos, existir alguém que nos quer bem temos a certeza de um porto seguro e então, passamos a ser melhores conosco e com tudo ao nosso redor, e não importa o que digam, o que pensem e o que falem, estamos naquela redoma de alegria e felicidade em que a serotonina toma conta de nosso ser e assim nos sentimos bem melhores, bem felizes, tudo de bom.
Parafraseando Clarice Lispector, não temos tempo para mais nada, ser feliz nos consome muito. Tudo belo, legal, tudo e tal, com o tempo nós humanos nos apegamos tanto à matéria, a tudo de material que nos cerca, as conveniências diárias, às pessoas que nos cercam, a certeza de que depois de um dia ou de uma semana exaustivos, terá sempre alguém de braços abertos nos esperando, que aceitamos o comodismo. Passamos por vezes a não perceber o pequeno, os pequenos gestos e as pequenas coisas, as pequenas importâncias, e deixamos parte de nossa vida “anterior” de lado, passamos a nos dedicar àquele alguém que nos completa, temos a certeza da perfeição, a utopia se faz completa em nossa redoma.
Talvez estejamos certos, valha mesmo à pena, pode ser que tenha sido o melhor para nossa vida, o rumo certo que nos aguardava. Ou pode ser que tenhamos deixado de lado coisas, momentos e pessoas importantes, que aquele alguém que surgiu do nada, possa também ir embora do nada, e dessa forma, talvez seja tarde para reconquistar pessoas, momentos e coisas.
Mas talvez tudo isso não passe de talvez...


Fernanda Bugai

domingo, 11 de julho de 2010

Volto E Refaço



Por que a criatividade que me faz viver intensamente os amores que só existem para mim, não surge nas horas que eu preciso?
Eu sofro de carência degenerativa crônica
Não há cura, e o pior de tudo, nem previsão para morte.
Infelizmente tenho de me acostumar com a idéia de viver eternamente desejando, desejando e desejando as coisas que só fazem parte de mim, na falta.
Eu sofro de transtorno de amores obsessivos generalizado.
É uma síndrome precocemente diagnosticada.
E quanto mais cedo o diagnóstico, menos chances para cura existem
Há vezes em que lavo tanto o meu coração, que ele chega a sangrar
E mesmo assim, eu não o considero limpo
Antes de sair, confiro mil vezes se tranquei o âmago corretamente
Volto, e refaço, volto, e refaço
Acabo quebrando as fechaduras com isso
O meu caminho de demonstração de frieza, seguido por amolecimento de guarda, finalizado por estruturação exagerada de apego, eu tenho de sempre percorrer.
Tenho calos nos sorrisos.
E nunca considero-me suficientemente agradável
Quando não há um novo amor, tenho um estoque passado de dores, que uso para mutilar-me as defesas.
E nenhuma dor será o bastante.
Quando desejo, com as lágrimas cortar-me os olhos, ao reviver minhas lembranças mais singelas.


Jéssica Ferreira

sábado, 10 de julho de 2010

Boca Do gol


Todo mundo sabe o que é estar numa final de Copa do Mundo. Aquela sensação de é tudo ou nada, é agora ou nunca. Todo mundo sabe o que é o medo do goleiro diante do pênalti. E o do batedor ao assumir integralmente a responsabilidade de resumir anos de treino duro de toda uma equipe em um único chute. Aquela entrevista para um emprego dos sonhos é um exemplo. Mas há uma “final de copa” que as mulheres deveriam conhecer bem. É aquele encontro para sair com um pretendente não-assumido: aquele tipo que marca um jantarzinho de amigos com segundas intenções. Claro que rola um nervosismo de ambos os lados, mas para o homem (que acha que escolheu mas na verdade foi escolhido) é, muitas vezes, a peleja mais importante de uma vida. Não que homens comparem mulheres a futebol, mas a analogia é apropriada nestes tempos de pátria de chuteiras. Ao se preparar para o encontro, o dito pretendente se aparamenta no vestuário com camisa, chuteira e calção, tudo convertido em uma camisa da sorte, um blusão que o vendedor garantiu ser chique, um perfume que tenha algum componente afrodisíaco (nem que seja um mero placebo aromático). O campo ele mesmo escolhe: restaurante, balada, peça, etc. A torcida é puramente íntima, no máximo um ou dois amigos foram previamente avisados para levantar a moral e ajudar na estratégia do jogo. As formalidades são essenciais: deixar de abrir a porta do carro para ela é como errar o hino nacional. E o jogo efetivamente começa quando estão sentados um de frente para o outro. Ele sabe que os 90 minutos passam rápido. E que o melhor é marcar já no começo, pois deixar para a prorrogação (carro ou porta de casa) é tática de desespero. No diálogo surgem os dribles a uma resistência inicial. Ela cita com carinho o ex-namorado, opa, falta! Pode ser sinal de que é melhor tirar o time. No momento seguinte, ela elogia o sorriso de seu interlocutor, olé! E é gingando entre gestos, frases de efeito e uma ou duas taças de vinho que se vai avançando o meio campo. Só que existe o momento mágico, aquele que não pode ser perdido, quando se abriu a guarda com um “que bom estar com você”, e deixar de chutar pode ser um atestado de desinteresse ou de excessiva timidez. Mas o pior é quando, na verdade, se tratava de gesto meramente cordial: “que bom estar COM UM AMIGO como você”, na trave! Mas, supondo que o interesse seja realmente afetivo, o pretendente fica cuidadoso esperando o momento certo de correr pro ataque, ouvindo internamente vários “uuuhhhh!” de sua torcida íntima, de suas sinapses e batimentos cardíacos em acelerado descompasso à medida que se aproxima o final do tempo regulamentar. E é assim que o esporte da sedução se encontra com outros em termos de lances cruciais: o match point, o ippon, o último saque do tie break. É achar a brecha para chutar e correr pro abraço. E, como dizia o Djavan, é quando se sai do 0 x 0 e se faz 1 x 1.

Mario Lopes

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Meu Preço É O Poder


E se possível ficar para história. Mas não uma história qualquer. Eu quero ser um herói nesta história. Meu nome não interessa, afinal esta é mais uma viagem maldita de minha cabeça. Este escritório é um tédio e não consigo controlar meus pensamentos. Peso na consciência? De onde vem isso? Não sei o que esta pergunta quer me dizer.

Vim de família humilde, mas faz muito tempo que fiz questão de esquecer das minhas origens. Não há humildade no mundo em que vivo agora. As melhores frases para descrever aqui seriam ‘Os fins justificam os meios’ ou ‘Ignorância é uma benção’. Gostaria de saber quem escrever estes ditos populares. Mas o que me importa, eu não sou fã de leitura mesmo. Para que ler, se nem foi assim que cheguei aqui nesta cadeira.

Meu objetivo agora é continuar no poder, fazer um sucessor e procurar outras cadeiras de mais prestígio para eu ocupar. Talvez algo satisfaça minhas ambições, como uma carreira de líder internacional ...


Caralho, será que ele sabe que estou aqui nesta sala já faz algum tempo? Ele está sonhando em voz alta, creio que nem me ouviu bater. Devo interromper ou não? Temos assuntos sérios para tratar. Creio que tão cedo ele não vai parar com este delírio. Ah o poder ... como corrompe o mais ingénuo dos mortais. Bastou sentar ali que já acha o grande salvador da humanidade. Não, na verdade não o salvador e sim o grande líder que entrará para os anais da história do mundo. Fala sério, eu posso com isso?
Humm, não vou interromper, pois cansei do papel de interlocutor desse sujeito. Ele não ouve ninguém mesmo. Ah, mas se eu fosse um daqueles puxa-sacos do outro departamento. Quer saber. Todo mundo tem sua hora de saco cheio e a minha chegou. Vou dar o fora daqui, encerrar o dia e ver o jogo da Espanha, afinal não é feriado nacional os dias de jogos da Copa? Porque deveria ser diferente só por causa de uma eliminação? Eu quero mais é ir para casa cedo, pegar uma cerveja e ver a final. Apostei uma grana na final. Vai ter que dar Espanha. Espero que o polvo esteja certo. Deixa eu ver aqui rapidinho no meu computador as suas previsões. Que saco, mais uma piada deixada no meu Twitter - ‘Os alemães tem o polvo vidente e nós temos lula presidente’. Era isso que eu precisava para encerrar meu dia aqui.


Daniela M. Braga

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Verbo Entreaberto



Meu bem, nunca me contrarie, caso a intenção seja não me ter por perto.

Não instigue a minha vontade em compreender sua negação,

Porque todo meu prazer se origina do seu não.

Você já me perguntou o que quero de ti, e diante do meu silêncio, alega incoerência da minha parte.

Você não faz as perguntas certas.

Afinal, todo querer, quando destina-se a outra pessoa, é quase sempre igual.

As coisas que eu não quero de você, é que te fazem diferente.

Não quero te sujar com minhas palavras, nem te queimar com minha saliva ácida.

Nem te transformar nas tralhas que eu uso para conseguir prazer.

Não quero idolatrar seu pinto como se fosse meu último deus.

Não quero lamber seu sexo, não quero engolir sua porra.

Não quero que seu beijo seja simplesmente um prenúncio tolo, um grito hormonal de “vamos foder”.

Não quero perder minhas mãos na sua virilha, nem afogar minhas mágoas no seu jato incandescente de libido.

E a única coisa que o meu desejo requer é que não me veja como uma vagina falante, e sim como mulher.





Jéssica Ferreira

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Tudo É Vaidade


Calebe não era o tipo que gostava de estudar, mas sempre se deu muito bem em tudo o que fez. Desde novo já sabia negociar. Com sete anos eram a figurinhas, aos dez jogos de videogame, ao doze comercializava celulares usados e aos quinze... bem, aos quinze mostrou a que veio ao mundo. Sua especialidade tornou-se a venda do prazer. Sim, o garoto ao quinze já era cafetão. E pensa que ganhava trocadinho? O cara era bom, tinha uma lábia que adoeceria uma beata.
Nem era tão bonito assim, mas o charme... e foi numa noite, em um bar, com esse olhar que ele laçou Raquel. Ela estava sentada no balcão com sua mala ao lado da cadeira esperando um lanche. Sozinha e perdida, nunca tinha ido lá e nem imaginava o tipo de programa que rolava. Quando virou em direção ao relógio na parede, deu de cara com os olhos do moço, insuportavelmente penetrantes. Ele perguntou se podia servir uma bebida e Raquel virou-se rápido vermelha como uma maçã. Baixou a cabeça e sussurrou um não envergonhado, o que fez Calebe chegar ainda mais perto. Tentou levantar-se para algum lugar mais claro, mas ele insistiu que ficasse, que não lhe faria mal algum, apenas queria conhecê-la melhor. Pediu ao garçom do balcão que trouxesse um Martini para Raquel e uma vodka sem gelo para ele. Brindou com a moça e perguntou-lhe o nome e o que fazia. Raquel respondeu que havia chegado à cidade há poucas horas e estava procurando por um hotel para passar a noite. No dia seguinte, seguiria viagem até a casa da tia na cidade vizinha aonde iria se preparar para entrar em um convento.
Aquilo soou como um sinal divino para Calebe. Pediu mais um Martini e perguntou:
- Mas... se você vai para um convento precisa ser virgem.
- Sim, claro. Deus não admitiria no convento uma moça que não fosse.
Celebe brilhou os olhos. Imaginou mais uma possibilidade de faturar alto.
- Sempre pensou em tornar-se freira?
- Não. Tive uma desilusão amorosa.
- Já pensou em trabalhar pouco e ganhar muito dinheiro?
- Do que está falando?
- De como você assim tão linda ganharia fortuna e teria tudo o que desejasse com um pequeno esforço.
- Não posso. Decidi que vou para o convento.
- Você não deve fazer isso. Estará desperdiçando uma oportunidade única.
- De que tipo de trabalho está falando? Eu não venderia minha vocação.
- De um que te trará muitas coisas. Dinheiro, festas, prazer... Terá o que sempre sonhou... E o melhor... poderá mostrar ao homem que a desiludiu que pode ter quem quiser. Nunca mais se sentirá sozinha, não vai mais chorar. Terá o que sempre desejou. Todos tem um preço. Minha oferta é tentadora não?
- Tentadora...
- Fazemos assim. Você fica durante um tempo. Se não gostar pode ir para sua vocação. Ninguém saberá. Será um segredo só entre nós. O que acha?
- Perfeito. A não ser por um detalhe.
- O qual seria esse detalhe? O que foi que eu esqueci? Disse Calebe, sorrindo com desdém.
- Eu vou indo.
Raquel deixou um sorriso de adeus e um bilhete em cima do balcão. Nas palavras de Chamfort, explicou a Calebe sua opinião sobre o destino:
“ A sociedade, que é chamada o mundo, não é senão a contenda de mil interesses mesquinhos e discordantes, um conflito eterno de todas as vaidades que se cruzam, se chocam, se ferem e se humilham sucessivamente, e expiam, no dia seguinte, na amargura da derrota, o triunfo do dia anterior. Viver só, evitar os ferimentos de encontros desventurados em que a pessoa atrai todos os olhares num minuto só pra ser pisada no minuto seguinte, é o que chamam nada, não ter existência. Pobre humanidade!”


Angelica Carvalho
Maria Tira-Trapos E O Preço da Morte


Há muitos anos atrás, existia uma mendiga apelidada de Maria Tira-Trapos, pois sempre tirava a roupa se alguém lhe oferecesse qualquer moedinha. Uma vez esta moradora de rua pegou um ônibus junto com outras cinco mulheres: uma freira, uma professora, uma colunista social, uma empresária ambiciosa e uma executiva. Então, no meio do caminho, o ônibus teve um acidente e todas as passageiras morreram. Naquele instante a Morte apareceu para estas seis almas e exclamou:
- Cada um tem o seu preço e eu tenho o meu!
- Por isto deixarei entrar no céu quem trouxer o tesouro mais precioso do mundo!
Deste jeito os seis espíritos saíram pelo mundo em busca deste tesouro.
Algum tempo depois a alma da empresária ambiciosa explorou todos os tesouros perdidos em navios naufragados, pirâmides e castelos secretos. Desta maneira ela chegou com um baú repleto de ouro, pedras preciosas e afirmou:
- Descobri todos os tesouros secretos do planeta Terra e por isto mereço entrar no paraíso.
A Morte respondeu:
- Você errou, pois não é deste tipo de preciosidade que eu estava falando.
Após estas palavras, a empresária foi levada ao inferno.
Logo chegou a executiva que falou:
- Eu trouxe o tesouro mais valioso do mundo: o tempo.
A Morte fez sinal de negativo e jogou a executiva no inferno também.
Naquele instante a colunista social disse:
- Eu tenho, dentro deste pote mágico, prestígio e sucesso que são coisas muito preciosas.
Deste jeito a Morte comentou:
- Você trouxe os instrumentos da vaidade, que é um dos pecados capitais e por isto você irá para o inferno também.
Naquele instante a freira e a professora chegaram. Então a religiosa disse:
- Eu trouxe a Bíblia Sagrada. Pois ela é muito preciosa para mim e para todos os cristãos.
Após estas palavras, a professora se pronunciou:
- Já eu consegui a sabedoria, o verdadeiro tesouro da nossa mente.
A Morte deu um sorriso e comentou:
- Vocês passaram perto, mas infelizmente não acertaram. Porém como sou boa deixarei as duas descansando no limbo.
Então a mendiga olhou bem nos olhos da Morte e tirou a sua roupa. Após este ato a morte falou:
- Parabéns!
- Você descobriu a resposta da charada!
- Afinal para entrarmos no céu precisamos nos despir de nossas vaidades, começando pelas roupas. Eu sou a Morte e este é meu preço.




Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 6 de julho de 2010

Não Valho Um Centavo


Ouvi uma vez que tudo na vida tem um preço. Que para cada ação, havia uma reação, um preço a pagar. Minha vida inteira cresci ouvindo isso. Nesse tempo, vi e vejo gente que não valia nada, nem o pão que comia. Aqueles que valorizaram tanto os outros, e no fim, se ferraram, foram esquecidos. Os que deviam valorizar mais, mas por algum motivo, não o faziam ou não conseguiam demonstrar. Perguntei-me diversas vezes quanto valia minha alma, meu corpo, meus sentimentos, meus pensamentos, diante de tanta desvalorização entre o ser humano. Tantas vezes não fui paga pelo amor, que algumas vezes me deixou com uma mão atrás e outra na frente, sem recompensa, e eu tendo que sobreviver do que tinha restado de bom em mim. Tantas vezes as amizades não me pagaram pelo abraço que dei, pelo sorriso, pelas palavras. E pagar, era somente apenas retribuir quando eu mais precisava. Mas no fim, percebi que não tenho preço e nenhuma atitude minha. Ninguém deveria ou deve pagar nada a ninguém. As pessoas simplesmente devem é viver diante do amor e da amizade e de qualquer sentimento mutuamente, sem cobrar, sem pedir, apenas sentir e praticar. E é esse o pagamento que as pessoas mais podem dar e quem recebe, mais pode usufruir.



Bianca Nascimento

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Tema da Semana: Todo Mundo Tem Seu Preço, Eis A Minha Oferta

Oferta E Procura


Eu vou te encontrar no meu orgasmo.

Cheia de dores,

me livrar do teu espasmo;

Cheia de cores,

me atar ao teu sarcasmo;

Cheia de amores,

me juntar aos teus pedaços.


E se só te exalto algo,

quando em falta

É pra te corromper o íntimo;

Que te intima a revelar o teu início,

Pra que eu possa mostrar o que guardei no meu suplício.

Ata-me em tuas coisas

Que já sou tua antes de você me ter.

Me gira,

me encanta com tua verdade,

Até nossa vontade enrijecer.



Jèssica Ferreira

domingo, 4 de julho de 2010

Lurdinha


Lurdinha era uma menina sonhadora, alegre e sorridente. Todos gostavam dela devido à sua simpatia e humildade. Vinda de família simples, morava em um sítio junto de seus pais e seus 10 irmãos. Sempre de bem com a vida, adorava cantar por entre os pastos, os animais e o rio do sítio. Uma menina pura, de muito bom coração. Um tanto quanto arteira. Vivia se metendo em encrencas. Adorava os animais, no entanto mexia com eles além do que devia. Tirava os porquinhos e os bezerrinhos que estavam amamentando para beber leite na teta da porca e da vaca. Com seus cavalos, corria atrás de outros animais deixando ambos irritados e cansados. Costurava roupinhas para alguns animais, como pintinhos, cães e gatos, com a intenção de protegê-los nos dias de muito frio. Enfim, fazia uma infinidade de coisas que perturbavam seus pais, os quais procuravam ficar de olho, porém com tantos filhos e afazeres era quase impossível.
Em uma noite muito fria e chuvosa, vendo vários pintinhos encolhidos ao redor de uma galinha e a mesma não dando conta de proteger todos, Lurdinha recolheu-os pra dentro de casa onde, na sua inocência, teve a seguinte idéia: forrar o interior do forno da cozinha com panos, aquecê-lo em uma temperatura agradável em relação ao frio e colocar os pintinhos lá dentro por alguns instantes. Tudo isso sem que ninguém a visse, é claro, pois seus pais viviam implicando com suas idéias malucas. No momento em que ela colocou os pintinhos no forno, sua mãe a chamou do quarto para ajudá-la em alguma tarefa. Cautelosamente, Lurdinha deixou a temperatura do forno baixa, fechou a porta do mesmo deixando uma pequena fresta e virou-se em direção ao quarto de sua mãe. Ao acordar pela manhã, lembrou-se do ocorrido de supetão. Esquecera de tirar os pintinhos do forno! Engolindo soluços decorrentes de um choro inicial, correu desesperadamente até a cozinha. Conclusão ao abrir o forno: tais instantes viraram minutos, que viraram horas, que viraram pintinhos e panos queimados. Agora, então, despencou a chorar de vez! Acordou a casa inteira. Assim que seu pai notificou o ocorrido, apanhou com uma vara de marmelo.







Bruna Roveda

sábado, 3 de julho de 2010

1, 2, 3 e... já!


Fui inspirada por uma amiga e lançarei a pergunta: porque é difícil dar o primeiro passo?
Porque nos acomodamos numa zona de conforto e dá muito trabalho se mexer e mover as coisas do lugar.Porque já acostumamos do jeito que é, e talvez seja mais fácil adaptar apenas.Porque nos apegamos e é melhor deixar tudo como está.Porque estamos cansados e parece um castigo começar algo do zero.Porque temos preguiça e por isso empurramos com a barriga até não ter mais opção.Porque... pra que? Do jeito que é tá ótimo e se ficar assim por um bom tempo, tá bom.Porque não tenho apoio e sozinha não consigo ir além.Porque hoje não é segunda-feira.Porque me sinto fraca e não tenho força pra ir em frente.
Enfim, podem ser vários motivos, diferentes de pessoa pra pessoa, convincentes ou não, ou ainda completamente sem sentido.Porque não invertermos essa história? Porque pode ser bom dar logo esse primeiro passo?
Podemos ver as coisas por outro ângulo e concluir, devia ter feito isso antes.Giramos a rotina, mudamos o dia a dia e por consequência, o futuro.Atualizamos nosso conhecimento, enfrentamos a realidade de outra forma.Nos enchemos de coragem e curiosidade. Queremos mais.Arriscamos mais, podendo ganhar ou perder, mas, no fim, aprendemos mais.A vida é uma só, passa rápido e quanto mais experimentar, melhor.Não estamos sozinhos e sempre teremos o conselho, a verdade, o amigo, o amor.O medo vira desafio e pode ser uma delícia vencer.A tristeza dá espaço pra cor, e assim é muito mais fácil movimentar a vida.
Pois é, as ideias podem variar, e muito. Mas, não pode pensar muito. Feche os olhos, respira fundo, 1, 2, 3 e ...








Liliana Darolt

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Looping



Por fim até o verso mais íntimo se torna neutro

Todo amor é composto por palavras recicláveis

E as sentenças privadas tornam-se sempre públicas

Amar o novo é acrescentar adjetivos diferentes ao velho

É grifar palavras novas em um texto antigo,

perceber as coisas que podem rimar ao acaso

E, no entanto, a elucidação não tira o encanto da dúvida

Nem o fulgor da expectativa

Todo novo concentra em si uma partícula do velho

E todo velho se manifestará em algum momento no novo

Vivemos em círculos,

e ainda assim, sempre erramos o caminho.





Jéssica Ferreira

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ode Ao Não Conformismo


Então... Li um dia desses alguma coisa sobre o comportamento humano... do tipo, o que fazem as pessoas quando estão entediadas com sua prórpia vida e tudo mais. Mentira, não li nada mas eu precisava iniciar com uma introdução brilhante. Tá, tudo bem, não teve nada de brilhante, mas eu queria chamar a atenção. Tá lendo ainda? Massa, chamei a atenção, mesmo achando que nem iria.
Agora que estamos aqui juntinhos te pergunto: o que tá te sobrando, heim? É, o que te sobra, tipo, a gente sempre se pergunta o que nos falta na vida, qual nossa missão na Terra, o que mais podemos fazer, sempre o que poderíamos mais. Hoje, novamente pergunto: o que te sobra heim? Tem gente que tem talento. Isso é certo. Talento pra vender, talento pra falar. Talento para escrever, atuar, fazer maquiagem. Talento pra mentir, pra roubar, pra consumir. Pow, bacana, você tem talento pra alguma coisa. Pense bem, vá até a raiz do seu Eu e grite sobre o que você tem de talento. Mostre ao mundo que você veio pra fazer diferença, que você não é mais um humano que veio a Terra pra superpopular o planeta, que você... porra, que você, é você! Ok, pensou? Se motivou? Se sentiu importante, a última bolacha do pacote, uma alma divina que faz a diferença? Muito bem. Então agora se ligue e se pergunte: o que mais eu posso fazer? Sério!!! Tipo, você se acha especial? Ótimo, sinal de autoconfiança... e só. Só, mesmo !!!
Achou que já fez demais na sua vida né? Que plantou uma árvore, colocou mais um rebento no mundo e escreveu meia dúzia de palavras publicadas por algum editor suicida e a tua missão tá cumprida, né? Que foi bom aluno, namorou sem trair, se formou com notas boas e casou com um(a) gato(a) e tá tudo certo né? Bobooooooo(aaaaaaaa). Heheheheh
Tá, não tô aqui pra te tirar as tuas notas 10, nem pra dizer que não foi correto(a) quando contou pra sua mãe sobre o que fez naquela noite em que bebeu demais. Tô querendo mesmo é te fazer pensar, se é que alguém consegue isso. Bem de boa, acho que não, que a maioria das pessoas pode vir a me odiar por isso e escrever cartas e mais cartas pro editor do blog exigindo que eu saia, mas quer saber? Acho que até vou gostar, porque isso eu ainda não tinha feito, ser explusa de algum lugar. Sim, o prazer é esse. Ainda não ter feito. As pessoas vendem suas almas pro diabo pra terem o que querem e daí no dia que conseguem descobrem que os juros virão e que provavelmente não conseguirão pagar, mas ainda assim continuam a se vender. Pensam sempre que “amanhã será um lindo dia” como diz o Lulu Santos na sua música (é do Lulu, gente?) e que tudo vai dar certo com sua fé inabalável e sua capacidade de auto piedade. Auto piedade do tipo: “Ah, eu não tinha intenção mas eu achei que era a melhor forma naquele momento” como quem já quer se defender de algo que nem sabe se tá certo ou errado de verdade. Não sabe, só quer se isentar da culpa que talvez poderá sobrevir.
Aí vai um conselho: Você tem que se conhecer. Não sabe o que quer da vida? Pare e pense. Não sabe se teu próximo passo é o certo? Pare, e pense. Já fez errado, provavelmente, meu bem, porque seres humanos erram, mas pensar te faz não ser tão omisso e te leva a não cometer os mesmos erros e te eleva a um certo grau de sanidade mental que pode não ser o melhor, mas certamente será o ideal para o momento que está vivendo. Não espere respostas automáticas, rápidas e de acordo com o teu gosto, entenda e confie na razão dos fatos. Tudo ocorre em conseqüência de algum ato, as coisas não são por acaso. Você plantou, você colheu. Não se esconda de si mesmo, você pode até enganar os outros – ainda que não por maldade – mas não enganará a si mesmo jamais.
E finalmente: não se entregue ao conformismo. Pelo amor da crença que você tiver, não entenda as coisas como atos obscuros do desconhecido. Você está nesse mundo para fazer da sua vida o que desejar e cabe somente a você isso, a mais ninguém. Não culpe ninguém, não mistifique desejos possíveis, não viaje na maionese. Você pode o que você conhece e o que você idealiza.
Podia ser mais completa essa idéia. Mas tô com TPM e acho que tá claro o suficiente. Se conforme... ou não.


Angelica Carvalho