Abstinência
Ela se induz ao erro
Talvez a solução vinda dos opostos
Já que o certo tem sido tão precipitado
E a tentativa sempre em vão
Ela não o ama
Ama a si própria na representação que projeta da existência dele
Um clareamento dos diálogos rotineiros de abstinência
Na medida em que ela aceita o fascínio pela idéia
De não ter
De nem ser
Nunca matéria
Nunca perto o suficiente pra tornar-se físico
Nunca físico o bastante para tocar o real
Nunca real o suficiente para deixar de relembrar o que não foi
Mastigar, engolir, deglutir
Encontrar a substância podre
Defecá-la
Lavar o íntimo, revelar um pouco da alma
Fechar um ciclo
Comer a semente
Eu não pretendo te roubar pra mim
Te quero pra matar a ânsia
Enforcar a falta
E depois disso tornar-te efêmero
Fazendo-me normal
Sem coisas, sem desejos, sem rabiscos
Eu quero recomeçar sem seguir teu molde
Sem pintar tuas cores
Sem gravar teus sons
O problema é sua presença não anunciada em todas as frases
É o meu querer nas estrelinhas
Ou em qualquer linha das tuas mãos,
Que eu toco fingindo esbarrar.
Só mais uma dose de você
E eu prometo me abster.
Jéssica Ferreira
quarta-feira, 30 de junho de 2010
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