quinta-feira, 28 de outubro de 2010



ESSE DIA REALMENTE FOI NECESSÁRIO?





“Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.” Comecei assim minha conversa com meus filhos, com o primeiro e mais absoluto dos tópicos que canalhamente ilustram a Lei de Murphy.
Duas horas antes eu havia ligado pra minha casa e disse para minha filha mais nova que não mexesse na escultura que eu tinha restaurado no dia anterior. Aquela que ia salvar meu mês, aquela que eu tinha vendido por uma pequena fortuna. Recomendei que eu estava atrasada mas que chegaria logo e que se o dono aparecesse que aguardasse um pouco. Ela já veio com um “mas poxa mãe, logo hoje você tinha que se atrasar?” E eu, “pois é filha, fiz de propósito, tenho bola de cristal pra adivinhar que meu chefe vai pedir reunião”. As coisas são bem assim, a natureza está sempre a favor da falha.
Eu me desesperei no escritório de manhã porque lembrei que não havia recomendado às crianças sobre o valor psico-financeiro cultural da peça. Saí correndo da cadeira e fui até o corredor com o celular na mão pra não correr o risco de alguém aparecer na minha mesa com algum trabalho importante e eu perder a oportunidade. Saí tão esbaforida que, lógico, dei um tropeção e meu celular voou longe, enquanto eu me agarrava na parede lisa tentando não cair. Fiquei imóvel por 5 segundos e corri em direção ao aparelhinho que ainda tinha vida. Pensei, “nem tudo está perdido”, até ouvir o bip da bateria que anunciava que mais uma ligação seria o máximo que faria. Respirei, teclei os números. Tocou, tocou, tocou... e quando o meu filho mais velho atendeu, pof. Acabou o sinal, acabou a bateria, acabou minha calma.
Voltei pra minha mesa e peguei o telefone. Só que no que peguei já tinha alguém na linha e adivinhem: era problema... de trabalho... e grande... daqueles que se você cria uma solução, cria também novos problemas. Porque é isso aí, o número de exceções sempre ultrapassa o número de regras. E há sempre exceções às exceções já estabelecidas.
Meia hora depois, finalmente consegui me livrar de tudo. Sentei e consegui finalmente falar com minha filha, que me garantiu que tudo estava sob controle. Me senti bem. Mas lembrei que toda sensação de bem estar passa logo. Não via a hora de chegar em casa. O trânsito tava um inferno e um acidente fechou a principal. Será que nada é tão ruim que não possa piorar? Claro que pode, é só começar a chover.
Cheguei, enfim, suada, molhada, atrasada, mofada... e um tanto intrigada. Um silêncio ensurdecedor no meu apartamento. E penso que crianças nunca ficam quietas a menos que estejam sejam filmadas. Fui subindo até meu estúdio, lentamente devido ao cansaço, já tinha desistido de tudo, sabia que o pior tinha acontecido. Acontecimentos infelizes sempre acontecem em série. Para minha surpresa, estavam lá meus filhos, o dono da escultura e sua esposa, que me receberam amavelmente e sorrindo elogiaram a educação e presteza das crianças, que os receberam, serviram-lhe suco e os solicitaram que esperassem por mais alguns minutos até minha chegada.
Quase não estava acreditando que essa reviravolta pudesse ocorrer. Catei o cheque e sorri com um brilho nos olhos, largando UM PUTA QUE O PARIUUUUUUUU, DEU TUDO CERTOOOOO PORRAAAA !!! Meus filhos me olharam neste momento e como as crianças incrivelmente repetem palavra por palavra aquilo que você não deveria ter dito, sem cerimônia o fizeram. Apenas sorri, o que mais eu podia fazer?
Moral da história: entre dois acontecimentos prováveis, sempre acontece um improvável.

Angelica Carvalho

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