terça-feira, 1 de julho de 2008
Lia vasculhava suas feeds de RSS no Google Reader e atualizava o orkut a cada sei lá 4 horas? Não conseguia perder o vício de dar aquela espiada no blog da colega insuportavelmente chata e no flickr do amigo do amigo. Sabia quem estava com quem, quem tinha mudado de cidade, de emprego, etc, apenas monitorando noite adentro alguns perfis online. A mãe, as irmãs e até o namorado a alertavam sobre o vício, que só aumentava na mesma proporção que o número de sites de redes sociais e ferramentas de comunicação.
Um belo dia, Jaques, o namorado viajou a trabalho em um feriadão, ia passar 5 dias em Recife produzindo umas filmagens. Era a deixa para Lia ficar conectada o feriado inteiro sem pentelhações. Além do mais ia poder conferir todos os perfis do seu cemitério online de ex-namorados sem ter que minimizar a tela de 5 em 5 minutos.
Na segunda madrugada de voyeurismo digital, ali por umas 2h30, de tanto entrar e sair de um perfil de um ex, aparece um scrap de um dos "cadáveres" em sua página:
- Oi, vai estar em casa amanhã à noite?
O coração de Lia disparou mas não era de emoção. Ela não sentia mais nada por Marcelo, de quem se separar há uns 7 anos, gostava apenas de ficar monitorando as ações de todos, assim mesmo, de longe. Ficou apavorada com a possibilidade de que Jaques pudesse ter visto o scrap naquele mesmo instante. Apagou-o sem nem responder e de canto amaldiçoou aquela tecnologia. Desistiu da mídia personalizada por umas horas e foi assistir TV bebendo jack daniels.
Lia apagara de sono após quase 36h nonstop de vigilância internética. Quando acordou, toda torta no sofá avistou o relógio do dvd: 4:47. Madrugada ainda. Voltou para o ibook que ela deixara ligado em cima da mesa e ao tocar nas teclas percebeu que não havia dado o logout de seu perfil no orkut. As atualizações pularam em seus olhos vermelhos.
Jaques atualizou relacionamento.
Respirando alto, Lia clicou no perfil do namorado e lá estava a mudança
Nome: Jaques Loureiro
Relacionamento: solteiro
Lia não podia acreditar naquilo, nem enxergava mais nenhuma das 301 informações do perfil dele. Foi direto para o ícone do skype no desktop e discou para o seu celular. A ligação chama uma vez, duas, três... até oito.. na nona finalmente atendem. Uma voz de mulher:
- Alô
- Quem tá falando - berra Lia
- Oi, tô passando a ligação diz a voz de mulher nhem nhem nhem
Após uns 10 segundos com Lia berrando feito louca com o ibook, a ligação cai e o notebook se espatifa no chão.
Lady A.
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3 comentários:
hehehe Muito bom, Adri, a verossimilidade do misto de bisbilhocite virtual com neurose e histeria chega a fazer pensar que foi baseado em fatos reais. Foi?
Beijo.
Charlie
Ai, esse é o tipo de final que me deixa loooouca. Que raiva, que curiosidade...rs Bj. Mazé
Charlie: existem elementos reais baseados na minha observação do comportamento das pessoas. O resto é pura coincidência :)
Mazé: pois é... rs finais abertos
LadyA.
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