domingo, 5 de abril de 2009

Menos fashion que a morte



“Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber, afinal amar o próximo é tão demodê”.
Renato Russo

Você conhece algo mais brega do que o amor? Pode constatar: uns 95% de toda a música péssima que existe no mundo reza sobre amor. Os pagodes mais execráveis, os sertanejos mais bagaceiros, os axés mais laxantes, quase sempre batendo na mesma tecla cor-de-rosa. Seja como ode, seja como escárnio, ele é tema recorrente. As histórias mais inesquecíveis, as paixões mais açucaradas, os desejos mais inconfessáveis, e faça-se presente o amor. Promessas quebradas, sonhos vencidos, cotovelos latejantes e lá está ele: o cobiçado e temperamental amor. Dando e tirando quase na mesma medida. Pisando duro no calo sem perder o sorriso de santidade.

Por ser, literalmente, o tema mais apaixonante do universo, o amor é também o mais democrático. Que jogue a primeira pedra de gelo aquele que nunca tomou um pilequinho para afogar as mágoas de um romance frustrado. E isso é o mínimo: há quem sequestre a família, bata o carro e até mate em nome do amor. Incrível como as autoridades investem em programas anti-drogas mas nenhum parlamentar se manifesta em prol de tratamento profilático para dores de amor, mesmo com casos de homicídio/suicídio todos os dias infestando os noticiários (vide o episódio de Diadema no ano passado, em que um desequilibrado alvejou a namorada e a amiga depois de dias de cativeiro, entre tantos outros). O Globo Repórter certa vez revelou uma pesquisa apontando que quatro em cada cinco pessoas já sofreram dor de amor. Quantos desses não perderam emprego, se viciaram em barbitúricos ou cometeram toda sorte de besteira para aplacar a dor da alma? O fato é que, por conta de seu histórico comprometedor (e isso vem desde Adão e Eva), somado à vulgarização com que é tratado por “artistas”, pastores e autores de livros de auto-ajuda, o amor virou sinônimo de veneno kitsch. De algumas décadas para cá, sua depreciação foi mais violenta do que os índices da bolsa Nasdaq no crepúsculo da era Bush.

No final dos anos 60 e início dos 70, o amor entrou em seu momento áureo. Afirmavam os esotéricos que estávamos adentrando na Era de Aquário e que o amor nos salvaria. Beatles não se constrangiam nem um pouco em receitar “All You Need Is Love” e o lema da nova era passou a ser “Paz e Amor”. Não havia embaraço nas vestimentas excessivamente coloridas, nem em se usar flores no cabelo. Era a ascensão do amor livre. Mas a década seguinte, ainda embalada pela sepulcral notícia de que “o sonho acabou”, trouxe um ceticismo arrogante e impulsionado pelo deboche da onda punk. Surgiram os yuppies, ex-hippies arrependidos e endinheirados que apregoavam justamente o contrário da redenção pelo amor. O que valia era o poder e as relações interpessoais efêmeras.

Claro, a moda é cíclica, e, portanto, os anos 90 se iniciaram com uma tentativa de retomada do Power & Flower, trazendo bandas como Stones Roses cantando e se trajando na linha amor-com-amor-se-paga. Mas foi muito breve este revival. Não havia como represar a mágoa de décadas de guerra fria e a desesperança de um mundo agora ameaçado pelo aquecimento global. Ela se impregnou nas composições dos astros do grunge, movimento que operou a estética da depressão fashion como nenhum outro. Letras ácidas, roupas escuras e guitarras distorcias – no futuro poderão chamar os filhos de Seatle de grosseiros, mas dificilmente poderão apontá-los como bregas, porque compunham com uma couraça estética quase intransponível para o contágio do amor.

Junte-se a isso a força dada por outros movimentos artísticos, como o cinema tarantinesco, onde até os amores são bandidos e as cenas de truculência é que fazem o frisson junto ao público, e assim caímos da era de aquário diretamente e sem escalas para a era do ferro. O amor se tornou elemento pernicioso, quase persona non grata. Um recurso canhestro e perigoso. E isso até mesmo em uma galáxia muito, muito distante: a série “Star Wars” tinha em seus rivais, os Jedis e os Siths, um inimigo em comum, o amor. O motivo? No caso dos Jedis, o amor poderia trazer ciúmes e ódio; no caso dos Siths, poderia enfraquecer por inspirar a compaixão. E, no caso dos produtores da série, poderia fragilizar a seriedade da história, gerando também constrangimentos para a platéia mais apegada à luta de sabres de luz do que às flechadas rudimentares de cupido.

Mas deixando um pouco de lado o nível macro do assunto e esquecendo as influências das artes e da mídia, por que o amor carrega essa aura de ameaça à estética e à paz do cidadão comum? Simples, ele nos torna tolos, nos desarma, nos joga em ciladas depois percebidas como quase inexplicáveis de tão enganosas quanto cruéis. Mudamos, nos infantilizamos, somos, da noite para o dia, vistos no jardim de uma casa desconhecida roubando rosas; ou servindo café na cama quando nem costumamos tomar café-da-manhã; damos presentes por um impulso irrefreável e sem qualquer motivo específico; escrevemos milhões de e-mails e recados no celular; catapultamos a conta telefônica. “Ame e dê vexame”, já alertava um livro de Roberto Freire. Você fica vulnerável porque amor de verdade não tem máscaras ou armaduras. Mas a apologia ao gladiador contemporâneo (e nele também está incluso a mulher guerreira que cumpre dupla jornada) nos impede de admirar quem se expõe e se fragiliza diante do outro, por mais que esse outro seja alguém com quem se dividirá as maiores intimidades. Vivemos o amor com um pé atrás, o que, já em primeira instância, não é amor de verdade. Por conta disso, a moda tratou de adotar o luto como um elemento mais seguro para o público e para os artistas. Vestir preto, por dentro e por fora, imuniza o usuário dos reflexos da breguice. É refratário e mais elegante. Preto emagrece na silhueta e previne dos efeitos colaterais da alegria. A morte é mais fashion que o amor. Essa constatação encontra coerência em uma pesquisa que aponta terem as pessoas mais medo de falar em público do que de morrer. Ou seja, pagar mico, eu?! Nunca, prefiro morrer. Uma visão que contamina o campo das relações conjugais.

Até mesmo (ou principalmente) no encerramento de uma relação usamos o ódio ao invés do amor, e isso por um fator simples: é muito mais fácil se afastar de algo que execramos do que daquilo que ainda desejamos. Além do mais, aliviamos ou anestesiamos o sentimento de culpa. Daí torna-se prudente botar a conta da relação no outro, construir uma falha alheia, esculpir um factóide: “ah, foi o jeito dele”, “ah, foram as manias dela”, espalhando o motivo ao seu círculo de relacionamentos que, por sua vez, dará o devido reforço estimulante ao fim da relação. Esquece-se todo o amor vivido por conta de uma necessidade pontual de ruptura.

E aquele amor fraternal, esqueça. Se já é difícil amar alguém que nos dá prazer, imagine exercitar compaixão por quem não conhecemos ou, pior ainda, que nos causa algum mal. O Amor a Deus, então, este ficou dividido em dois flancos: os que não acreditam nEle (e que estranhamente o odeiam, por mais que não faça sentido rechaçar o que dizemos não existir) e os que são papa-hóstia/crentes/glória-glória-aleluia. Não há espaço na arte e nos debates cotidianos para quem acredita no amor divino sem afetação ou ceticismo. Você escolhe, ou um ou outro.

“Declare guerra a quem finge te amar”, do Frejat, e “I Love you but when you love me”, de Barney Sumner e Johnny Marr, atestam que o tal amor soberano e incondicional entrou em baixa faz tempo, sem sinais de desfibrilador na enfermaria. Compositores gays, como Cazuza e Renato Russo, conseguiram tocar no tema sem grandes constrangimentos e com imenso sucesso, muito provavelmente porque adquiriram coragem já pela própria condição sexual que os coloca em posição vulnerável. Dos heteros, Djavan, Zeca Baleiro e Nando Reis fazem a valiosa frente dos machos sem medo de se expor, mas são modelos cada vez mais escassos, visto que estamos na era em que ninguém quer ver seu coração sendo sparring de alguém. E se é para expor fragilidade, que sejamos emos porque é muito mais cômodo nos fazermos de vítimas de nossas emoções do que exercitar seus riscos.

Na semana que passou, tivemos duas coincidências interessantes quanto a este tema: Gabriel Garcia Marques, o genial autor de “Cem Anos De Solidão” e de “O Amor Nos Tempos Do Cólera”, anunciou que parará de escrever, gerando um pesar mundial por perdermos um dos raros minaretes intelectuais que não têm medo de cantar as maravilhas deste sentimento universal; e a MTV divulgou no Top Top, programa destinado a formar listas de mais-mais em diversas áreas da música pop, os dez discos mais importantes sobre fim de relacionamento. As verdadeiras vítimas da moda do desamor puderam saber quais artistas e álbuns tiveram mais significância na estética da deprê-conjugal. E aqui vão as faixas mais representativas de cada disco elencado (isso dentro de uma seleção pessoal, que não constou no programa da eme-tevê, como diria o Lobão). Leia as letras, veja os clips, ouça as músicas e bom Prozac pra você.


10º lugar) Kanye West se separou de sua noiva e gravou o álbum “808s & Heartbreak”, cuja faixa carro-chefe se intitula “Hearthless”, ou seja, “Sem Coração”. O estranho é que quem acabou o romance foi ele, então por que acusá-la de ser sem coração? Pelo que dá para entender da letra, quem disse “fim” foi ele, mas recebeu uma resposta que o magoou, e como.



Sem Coração

Na noite eu os ouço contarem
A mais fria das histórias
Em algum lugar dessa estrada ele perdeu sua alma
Pra uma mulher sem coração... sem coração
Como você pode ser tão sem coração...
Como você pode ser tão sem coração
Como você pode ser tão
Fria como o vento de inverno quando venta em você
Só se lembre que você falou comigo
Você devia ver o jeito que falou comigo
Tipo, depois de tudo o que passamos
Tipo, depois de tudo que fizemos
E eu sei algumas coisas suas que você não me contou
Sei que fiz algumas coisas mas aquele era o antigo eu, e agora você quer me devolver
Você quer deixar isso claro então anda por aí como se não me conhecesse
Você tem esses novos amigos
Bem eu tenho umas gatas
Mas no fim das contas ainda me sinto sozinho...
Na noite eu ouço eles contarem
A mais fria das histórias
Em algum lugar dessa estrada ele perdeu sua alma
Pra uma mulher sem coração... sem coração
Como você pode ser tão sem coração...
Como você pode ser tão sem coração
Como você pode ser tão "Dr. Evil"
Você está trazendo um lado de mim que eu não conheço
Eu decidi que não iríamos mais nos falar então porque estamos às três da manhã no telefone?
Porque ela tem que ser tão má comigo, eu não sei, ela é quente e fria
Não vou parar e ferrar minha música pois eu já sei como essas coisas são
Você corre e conta pra suas amigas que está me deixando
Eles dizem que não sabem o que você vê em mim
Espere uns dois meses então você verá
Que você nunca vai achar ninguém melhor que eu
Na noite eu ouço eles contarem
A mais fria das histórias
Em algum lugar dessa estrada ele perdeu sua alma
Pra uma mulher sem coração... sem coração
Como você pode ser tão sem coração...
Como você pode ser tão sem coração
Falando, falando, falando
Baby, vamos encerrar isso logo
Eles não sabem o que passamos juntos
Eles não sabem nada sobre mim e você
Então tenho algo novo pra ver
E você só vai continuar me odiando
E nós vamos ser inimigos
Eu sei que você não consegue acreditar
Eu podia deixar tudo errado
E você não pode consertar
Eu vou sair essa noite
Vou sair na noite...
Na noite eu ouço eles contarem
A mais fria das histórias
Em algum lugar dessa estrada ele perdeu sua alma
Pra uma mulher sem coração... sem coração
Como você pode ser tão sem coração...
Como você pode ser tão sem coração


9º lugar) Bruce Springsteen se separou de Juliete Philips e criou “Tunnel of Love”, considerado o 25º álbum mais importante de todos os tempos pela Revista Rolling Stone. Como diria Cazuza: “obrigado por me da inspiração pr’eu ganhar dinheiro”. “Brilliant Disguise” é a faixa lapidar deste momento penoso vivido pelo legítimo american hero.



Ótimo Disfarce

Eu te seguro em meus braços
Enquanto a banda toca
O que são aquelas palavras sussurradas, baby
Enquanto você se afastava
Te vi noite passada
Pelas esquinas da cidade
Quero ler sua mente
Para saber exatamente qual foi minha parte
Nessa novidade que descobri
Então me diga o que eu vejo
Quando olho em seus olhos
É você realmente,
Ou somente um ótimo disfarce?
Ouvi alguém chamar seu nome
Debaixo do nosso salgueiro
Vi alguma coisa escondida
Embaixo do seu travesseiro
Bem, eu me esforcei bastante
Mas não consigo entender
O que uma mulher como você
Está fazendo comigo
Então me diga quem eu vejo
Quando olho em seus olhos
É você realmente,
Ou somente um ótimo disfarce?
Agora, olhe pra mim
Enquanto eu me esforço pra fazer tudo certo
E quando tudo dá errado,
Quando as luzes se apagam
Eu sou só um andarilho solitário
E ando por esse mundo com riquezas
Quero saber se é em você que não confio
Porque estou bem certo de que não confio em mim mesmo
Agora você interpreta a mulher apaixonada
E eu, o homem fiel
Mas não olhe muito de perto
Para as minhas mãos
Nós ficamos de pé, lá no altar
A cigana disse que nosso futuro era certo
Mas então vêm os pequenos momentos
E talvez a cigana tenha mentido
Então, quando você me olha
É melhor olhar bem e duas vezes
Sou eu realmente, baby
Ou somente um ótimo disfarce?
Hoje à noite nossa cama está fria
Estou perdido na escuridão do nosso amor
Deus tenha piedade do homem
Que duvida do que Ele tem certeza


8º lugar) Beck se separou de sua companheira de sete anos e criou um álbum com ligação quase inexistente perante os anteriores: nada de ecletismo e experimentalismos. “Sea Change” é puro amor rasgado, amargo e ácido. E “Lost Cause” é uma belíssima faixa que merece destaque.



Causa Perdida

Corte pesaroso
Dos olhos ao osso
É duro deixar este calor solitário
Da licença das feridas injetadas
Em alguém novo
Um bebê, eu sou um bebê perdido
Eu sou um bebê perdido
Eu sou um deles
Em uma causa perdida
Diversas pessoas vêm e vão
Para saber seus segredos
Você sabe que esta cidade tem loucos
Nenhum bebê recebe cuidado
Eu sou um bebê perdido
Eu sou um bebê perdido de uma causa perdida
Cansado da luta
Cansado da luta
Lutando por uma causa perdida
Um lugar onde você nunca esteve antes
Ninguém ri de suas costas
E estão em sua porta
É o que você pensa do amor
Eu sou um bebê perdido
Eu sou um bebê perdido
Sou uma causa perdida
Cansado da luta
Cansado da luta
De combate por uma causa perdida


7º Lugar) A cantora Jane Birkin se separou de Serge Gainsbourg, que, para quem não conhece, foi um dos mais importantes compositores franceses do século passado, tendo criado canções que fizeram sucesso também na voz de sua outra esposa, a exuberante Brigite Bardot. O álbum “Baby Alone in Babylone” tem, na faixa título, um melancólico e tímido uivo de amor, quase uma canção de caixinha de música. Incrível, mas reza a lenda que o próprio Gainsbourg compôs as músicas (cheias de referências altamente pessoais) para sua ex exorcizar a própria amargura da separação.



Baby, sozinha na Babilônia

Baby, sozinha na Babilônia
Afogados nas ondas
Pontiac
Cadillac
Bentley em L. A.
Rolls Royce e Buick
Metal na noite
Baby, sozinha na Babilônia
Afogados nas ondas
Música
Elétrica
Rock 'n' roll está procurando um papel
Você pesquisa os estúdios
E vestígios de Monroe
O rhinestones e estresse
Deus e deusas
Los Angeles
Baby, sozinha na Babilônia
afogados nas ondas
Luz
Poeiras
Efêmero Estrelas
Você sonho de eternidade
Infelizmente você vai encontrar
Baby, sozinha na Babilônia
Afogados nas ondas
Suas lágrimas e encanto
Avenida da Sunset
Sunset Boulevard é o
Que serpenteia através do escuro
Baby, sozinha na Babilônia
Afogados nas ondas
Malibu
Petite estrela inconnue
Você viu que as estrelas
Polícia Federal


6º lugar) Marvin Gaye se divorciou de um casamento que durou 15 anos e gravou “Here, My Dear”, onde absolutamente todas as canções falam sobre o desenlace. Às vezes cínico, por outras sentimental, Gaye tem na faixa "When Did You Stop Loving Me, When Did I Stop Loving You” um resumo da ópera de tudo o que concluiu sobre suas desventuras conjugais. Na idade das debutantes, ele já sinalizava sua jornada vocacionada para a tragédia.



Quando Você parou de me amar, quando parei de amar você

Sabe, quando você diz seus votos de casamento,
Eles são supostamente para ser a sério.
Quero dizer...
Se você pensar sobre o que você realmente disse
O que é tudo, honra, amando e obedecendo até a morte fazer-nos parte e todo.
Mas isso não deveria ser assim, deve...
Devem, devem ser mentiras
Porque acaba por ser mentira.
Se não honrar o que você disse, você mente para Deus.
As palavras devem ser alteradas
Agora que me lembro, tentamos um milhão de vezes
Mais uma vez e outra vez e outra vez, e isso não é tudo
Eu dei o meu amor por você a cada vez
De repente, eu começo a perceber que não posso fazer isso
Belos pássaros voam longe
Tive que deixar você para a minha saúde no amor
O que fazer?
Faça você, vou deixar você, meu bem, para pagar para sempre
Portanto, se um novo amor aparecer
Não vou dizer aquelas palavras novamente
Em vez disso, vou dizer que vou tentar amar e proteger
Com todo o meu coração o tempo que me quiser para você, baby
Se eu amar de novo
Eu vou tentar uma nova forma desta vez
Lembranças das coisas que fizemos
Temos orgulho de algumas, outras se esconderam
Assim, quando duas pessoas têm de participar
Por vezes, tornam-se mais fortes
Você se lembra de todas as lutas que tivemos?
Você disse que você me amava com todo o seu coração
Se você nunca me amou, de todo o seu coração
Você nunca teve um milhão de razões
Eu realmente tentei, você sabe que eu tentei, oh baby
Embora tenhamos tentado, de todas essas promessas restou nada, mas algo ficou
Tentei mesmo, você sabe como eu tentei, nós realmente mentimos, não é querida?
E em cima do que você tem medo da vida, está o meu nome
Mas eu não posso compreender
Porque se você me ama
Como você poderia me transformar em nada?
Eu não te amo tanto e vou tentar tomar conta de você?
O melhor que eu podia, que era tão convidativo e seu amor era como o vinho
Dores de amor, milhas de lágrimas, depois duradouras para a minha vida
Corações quebrados duram anos e rompem com o azul de um dia ensolarado
Uma coisa posso prometer, querida: eu nunca vou voltar
Mas nós não estamos realmente amargos, baby
Eu prometo a você, todo o amor do mundo, o bom amor do mundo
Mas eu sei que você nunca vai ficar satisfeita apenas para me ter ao seu lado
Memórias assombram o tempo todo, eu nunca vou sair, você é minha
Deus julgou-me ao seu lado, você disse coisas ruins e você mentiu
Ainda me lembro de algumas das coisas boas, baby
De amor depois do escurecer e piqueniques nos parques
Esses são os dias que eu amo e que entram na minha vida
Eu prefiro lembrar, lembre-se da alegria que compartilhamos, baby
Eu prefiro lembrar de toda a diversão que tínhamos
Tudo o que eu realmente queria era amar você e tratá-la direito
Tudo o que fizemos foi espalhafato e luta
Ele não se importa, baby
Eu nunca pensei que iria ver o dia em que você colocou-me através de você
Colocou-me através
Você tenta o seu melhor, você disse que eu não te dei nenhum descanso
Quando você vai parar de me amar? Quando eu vou parar de te amar?


5º lugar) O vocalista do Blur, Damon Albarn, rompeu seu namoro de seis anos e deve ter sido muito, muito doloroso. Continuaram amigos mesmo após o rompimento, o que atesta um alto grau de maturidade, mas as sequelas ficaram. Tanto que renderam um álbum um tanto aquém da euforia típica do grupo: “13”, cuja faixa “No Distance Left To Run” é tão triste que é difícil não se penalizar pela situação do músico (ou de não se identificar com ele em alguns momentos da vida).



Sem distância para percorrer

Está tudo acabado
Você não precisa me dizer
Espero que você esteja com alguém que te transmita segurança ao dormir
Estando contigo à noite
Eu não vou me matar
Tentando ficar na sua vida
Eu não tenho mais distância para percorrer
Quando você me encontrar
Por favor, vire de costas e vá embora
Eu não quero te ver
Pois eu sei que dos sonhos que você guarda eu faço parte
E quando você se entristece
Pensando em mim aqui
Eu não tenho mais distância para percorrer
Está acabado
Eu sabia que terminaria desse jeito
Eu espero que você esteja com alguém que te faça sentir
Que a vida é essa noite
E se estabeleça, ficando na volta
Passando mais tempo contigo
Eu não tenho mais distância para percorrer
Eu estou voltando pra casa.


4º lugar) Nick Cave sempre foi a depressão em seu amálgama mais elegante, justo em calorosas terras australianas, e isso desde os tempos em que dividia o palco com seus Bad Seeds. Mas seu relacionamento com uma jornalista brasileira, o qual lhe rendeu um filho e um rompimento de rasgar o coração, inspiraram o cavernoso poeta pop na composição de um álbum que destila o amargor em sua essência: “The Boatman’s Call”. A faixa “Into My Arms” é incrivelmente tocante, devido a seu lirismo cáustico, embalando religiosidade e desesperança com um teor romântico cativante – praticamente uma canção de ninar, não fosse o tema ser motivo da insônia de qualquer um.



Em seus braços

Eu não acredito em um deus intervencionista
Mas eu sei, meu amor, que tu acreditas
E se eu também acreditasse, eu ajoelharia
E rogaria a ele
Que não tocasse num único fio de cabelo de tua cabeça
Que te deixasse do jeito que tu és
E se ele sentisse que precisa te guiar
Que ele te guie direto para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
E eu não acredito na existência de anjos
Mas ao te olhar, me pergunto se não é verdade
E se eu acreditasse, eu os convocaria a todos juntos
E pediria que te guardassem
Que cada um lhe acendesse uma vela
Para fazerem o teu caminho limpo e iluminado
E andarem, como Cristo, em graça e amor
E te guiarem para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Porém, no amor eu acredito
E eu sei que tu também acreditas
E eu acredito em algum tipo de caminho
Que nós podemos seguir andando, tu e eu
Então, mantenha tuas velas acesas
Que faça da jornada dela pura e brilhante
Que ela irá sempre retornar
Sempre e sempre mais
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços
Para os meus braços, oh, deus, para os meus braços


3º lugar) Bob Dylan se separou de Sarah, e Sarah deixou como resquício dos anos de amor uma verve que tornou o mais célebre compositor folk ainda mais admirado e idolatrado: “Blood On The Tracks” foi o fruto tão comemorado desta história de final triste. A faixa “Tangled Up In Blue” tem uma longa letra em que Dylan desfila os motivos do insucesso na relação. Quando alguém quiser filmar sua biografia, essa canção servirá quase que como um pré-roteiro.



Emaranhado Na Fossa

Bem cedo certa manhã enquanto o sol brilhava
Eu estava deitado na cama
Imaginando se ela mudou alguma coisa
Se seu cabelo ainda estava vermelho
A família dela, eles dizem que nossa vida juntos
Certamente seria difícil
Eles nunca gostaram
Do vestido cosido em casa da mamãe
O saldo bancário de papai não era grande o suficiente
E eu estava de pé no lado da estrada
A chuva caindo nos meus sapatos
Em direção da costa leste
Deus sabe que eu paguei o que devia
Emaranhado na fossa
Ela estava casada quando primeiro nos conhecemos
Prestes a ser divorciada
Eu lhe ajudei com seu problema, suponho
Mas usei excesso de força
Dirigimos aquele carro para o mais longe possível
O abandonamos no oeste
Nos separamos em uma noite escura e triste
Ambos concordando que era melhor
Ela virou-se e olhou para mim
Enquanto eu caminhava embora
Eu a ouvi falando por sobre meus ombros
“Nos veremos novamente algum dia pela avenida”
Emaranhado na fossa
Eu tinha um emprego nas matas do norte
Trabalhando como um cozinheiro por um tempo
Mas nunca gostei tanto assim
E um dia o machado caiu
Então eu acabei em Nova Orleans
Onde acabei sendo empregado
Trabalhando em uma barca pesqueira
Bem na margem de Delacroix
Mas todo esse tempo que eu estava só
O passado estava logo atrás
Eu vi um bocado de mulheres
Mas ela nunca fugiu da minha mente
E eu apenas cresci
Emaranhado na fossa
Ela estava trabalhando em um local de topless
E eu parei para uma cerveja
Eu apenas fiquei encarando o lado de seu rosto
No holofote tão claro
E mais tarde quando o público afinava
Eu estava pronto para fazer o mesmo
Ela estava ali de pé atrás da minha cadeira
Me disse: “Eu não conheço o seu nome?”
Eu murmurei algo em voz baixa
Ela estudava os contornos do meu rosto
Eu devo confessar
Que me senti um pouco desconfortável
Quando ela se abaixou
Para amarrar o cadarço do meu sapato
Emaranhado na fossa
Ela acendeu a boca do fogão
E me ofereceu um cachimbo
“Pensei que você nunca ia dizer ‘olá’”, ela disse
“Você me parece do tipo calado”.
Então ela abriu um livro de poemas
E entregou-o para mim
Escrito por um poeta italiano
No século XIII
E cada uma daquelas palavras soavam verdadeiras
E reluziam como carvão em brasa
Derramando a cada página
Como se fossem escritos
De dentro da minha alma de mim para você
Emaranhado na fossa
Eu vivi com eles em Montague Street
Num porão descendo as escadas
Havia música nos Cafés à noite
E revolução no ar
Então ele passou a negociar com escravos
E algo dentro dele morreu
Ela teve que vender tudo que possuía
E congelou por dentro
E quando finalmente o fundo caiu
E me tornei distante
A única coisa que sabia fazer
Era continuar a continuar feito um pássaro que fugiu
Emaranhado na fossa
Então agora vou voltar novamente
Eu tenho que encontrá-la de algum modo
Todas as pessoas que conhecíamos
Elas são uma ilusão para mim agora
Uns são matemáticos
Outras, esposa de carpinteiros
Não sei como tudo começou
Não sei o que fazem com suas vidas
Mas eu, continuei na estrada
Em direção de outra espelunca
A gente sempre sentiu as mesmas coisas
Apenas observamos de um ponto de vista diferente
Emaranhado na fossa


2º lugar) O Fleetwood Mac é certamente a banda mais encrenqueira do planeta, sendo que cada músico tem seu próprio advogado, e também seu próprio caso de amor e traição praticado com os próprios colegas de palco. Com separações múltiplas na banda e enlaces feitos entre eles mesmos, nasceu “Rumours”, que teve o hit “Dreams” estourando nas rádios e expurgando a dor da rejeição com melodia altamente palatável e letra sarcástica (sobre uma mulher que se sentia presa e que irá amargurar as inconveniências da própria liberdade). Pop magoado que rendeu a venda de milhões de cópias.



Sonhos

Agora vem você de novo
Você diz que quer sua liberdade
Bem, quem sou eu para negar
Só está certo o que você quer
Você joga do jeito que tem vontade
Mas ouça com atenção o som
Da sua solidão
Como o bater do coração... que te deixa louco
Na calmaria da lembrança do que você tinha
E do que perdeu...
E do que tinha...
E do que perdeu
Só há trovões quando chove
Jogadores só te amam quando estão atuando
Diga... mulher... eles virão e irão
Quando a chuva lava, você limpa... você saberá
Agora vou novamente
Eu tenho as visões de cristal
Eu guardo minhas visões pra mim mesma
Sou somente eu
Quem quer envolver-se em teus sonhos e...
Você tem algum sonho pra vender?
Sonhos de solidão...
Como o bater do coração... que te deixa louco...
Na calmaria da lembrança do que você tinha...
E do que perdeu...
E do que tinha...
E do que perdeu...
Só há trovões quando chove
Jogadores só amam você quando estão atuando
Diga... mulher... eles virão e irão
Quando a chuva lava você limpa... você saberá


1º lugar) Claro que, como primeiro lugar, este álbum não iria escapar de polêmica. O Afghán Whigs fala de separação com rancor em “Gentlemen”. É disco para você dar de presente quando sua carta de intenções for a mais depreciativa possível, e o recado já começa na faixa-título, que tem uma letra gato-e-rato de propósito difícil de definir, sabendo-se pela agressividade melódica que se trata, sim, de um manifesto claro de adeus.



Cavalheiro

Sua atenção, por favor
Agora desligue a luz
Sua infecção, por favor
Eu não tenho a noite toda
Entenda, você não entende?
Entenda, eu sou um homem
Eu fiquei muito tempo
Mas ela era a combinação perfeita
E empurramos isso para fora dessa vez
Começou a fazer alguém doente
Mas agora eu tenho tempo para você
Para você, você, você e eu também
Agora, venha pegar, venha pegar
Porque eu terminei
Entenda, você não entende?
Entenda, eu sou um homem
Eu esperei pela piada
Ela nunca chegou
E palavras que eu pensei que evitaria
Me deixaram dentro, estou frio
Todo bagunçado mas sem lugar para ir
Você tem indecisão, e indecisão é minha inimiga
Destranque a cabine, hei hei hei
Eu pego qualquer coisa que tiver
Agora estou nisso, agora estou nisso
E você acabou
Eu esperei pela piada
Ela nunca chegou
E palavras que eu achei que sufocaria
Eu dificilmente reconheci


E já que iniciamos o texto com Beatles, encerremos com uma frase lapidar de John Lennon: “no final das contas, todo o amor que você dá é exatamente proporcional a todo o amor que você recebe”.


Mario Lopes

6 comentários:

Anônimo disse...

O amor nunca sai de moda !
U - hu !
Luciana do Rocio .

Anônimo disse...

Depende onde, Luciana. Se você está falando de bailão sertanejo, banda Calipso, rádio AM, baile de debutantes, festa do Havaí, desfile de estilista de bairro, etc, daí sim, não sai de moda mesmo. :-) Mas gostaria que não saísse de moda, mesmo, em nenhum círculo. E que isso não ficasse apenas nas boas intenções mas também no bom gosto. Quem sabe um dia, né.
Beijo.

Mario

Anônimo disse...

não entendo o que vcs tem contra o calipso........

Anônimo disse...

Eu é que me pergunto o que o Calipso tem contra a gente. rsrs
Valeu, anônimo.

Mario

Katia K. disse...

Oi, fazia um tempinho que não passava por aqui... Uma coletânea e tanto de músicas neste post :-)
Bjos.

Anônimo disse...

Valeu, Katia Cross. Você é convidada tanto a visitar mais como a participar como colunista, OK? Havendo interesse, me acione.
Beijo, Desaforada potencial.

Mario