terça-feira, 27 de outubro de 2009

Desabafo



Hoje pela manhã era pra ser apenas mais um dia como aqueles tantos que reclamo. Movida pelo trabalho que tinha que fazer para a faculdade com algumas colegas, fui até lá já pensando em todos os problemas que iria enfrentar no dia (minha noite já havia sido péssima, com tantos sonhos ruins de gente morrendo, perseguições). Chegava a dizer a mim mesma e a Deus, meu amigo das minhas noites acordadas e confidentes de meus pensamentos, que não iria mais dormir. Subi as escadas para ir ao encontro das colegas. Quem me vê, aquela menina nos corredores e nas ruas, não imagina quantos pensamentos, sentimentos, sofrimentos aquele peito já carregou. “Mais uma semana, mais um dia”, eu pensava a cada passo. Seguimos ao lugar marcado para fazer as entrevistas. Chegando lá, segui com elas pelos corredores brancos e chão creme, pessoas normais e anjos de branco. Fui até a sala de nosso destino para falar com o responsável pelo assunto de nosso trabalho: voluntariado. Conversamos, entrevistamos até que uma das voluntárias se propôs a nos levar até seu local de ‘trabalho”, pois precisava dar comida ao seu paciente (sem ela, ele não comia!). E ela nos levou com aquele sorriso branco e vestida de branco, sim, como verdadeiros anjos.
Cheguei ao local prometido: a cena era tudo que pensava como seria, mas a vivenciando tinha um poder a mais. Aqueles senhores, com exceção de um jovem jornalista também enfermo, mexeram comigo. Quantas histórias havia ali, afogadas, doentes, esmagadas pelo tempo. Era impossível não perceber tamanho sofrimento. Mas aquele olhar azul anil olhando o azul anil do céu me chamou a atenção. Um olhar de um senhor grisalho que estava com uma máscara de oxigênio e um cano que ia até uma máquina de onde saia sua vida, sua sobrevivência. Ele tentava olhar para nós, mas nem isso conseguia, nem olhar o que acontecia ao seu próprio redor. Então só lhe restou olhar para o céu. O que pensava naquele momento? Será que estava apreciando? Será que a dor era tão grande que não via a hora de ir embora? Ninguém pode saber, nem falar ele pode.
Nós, jovens, adultos, adolescentes, não importa, realmente não sabemos viver. Arranjamos um monte de motivos para não fazer as coisas ou queremos tudo de uma vez só, sempre metendo os pés pelas mãos. Esquecemos às vezes de nossas famílias, nossos pais, irmãos e amigos. Confesso que hoje fui um exemplo de alguém que acordou reclamando, mas mudou o pensamento, pois as vezes podemos resolver nossos problemas e já outros só por um milagre de Deus. Não conseguimos mais nem amar o próximo, pois quando vemos alguém caído no chão na rua achamos ser apenas mais um bêbado vagabundo. Pensamos tanto no futuro que esquecemos que a vida é hoje, por mais que tenhamos nossas responsabilidades. Vamos nos permitir viver aquilo que queremos e quando não dá nos planejar, continuar lutando. Trabalhar e estudar sim, mas também ser um homem e uma mulher que se permite assistir desenho, dançar na frente do espelho, rir do nada, fazer uma farra, comer doces, aproveitar o papo com os amigos, comprar algo que queremos muito ter. E podemos mais: amar mais o próximo, fazendo o que está ao nosso alcance pelos outros. Aqueles que estão nos hospitais não podemos tirá-los de lá, mas podemos tentar melhorar suas vidas, seja doando sangue, tempo e amor. Às vezes queremos as coisas e quando não as conseguimos ficamos achando que o mundo está contra nós. Mas nós podemos ir lá tentar novamente, ter outra saída. E aqueles que nem isso podem? Que muitas vezes dependem do sangue e do tempo de pessoas que só pensam em si mesmas? Alguma atitude nossa, por menor que seja, pode ajudar o outro a conseguir o que precisa. Nós temos alternativas, eles não, a alternativa deles somos nós. Então por que não tentamos realizar o desejo do outro já que não conseguimos o nosso? Sabe qual é o desejo do outro? Viver, apenas viver. Pensem nisto porque amanhã ou depois pode ser eu ou você naquela cama olhando para o céu e não podendo respirar o ar lá de fora nem poder falar! Fale e viva hoje, nas pequenas até nas grandes coisas. E é por este senhor que estou aqui falando hoje.

Está é a mesma janela que aquele senhor comtemplava. Aproveite enquanto você pode respirar o ar puro lá de fora.Aproveite enquanto você pode viver o que tem de melhor lá fora. Mas ajude também a quem não pode nem esta vista comtemplar.

Bianca Nascimento

4 comentários:

Anônimo disse...

aloha
eu já presenciei isso algumas vezes..um olhar pedindo apoio...sabendo que não tem retorno, a espera de um milagre...e quando deparamos com essas situações é que vemos o quanto estamos perdendo nossa vida...por um stress no trabalho...por uma prova da universidade que não sabemos como resolver...como pagar aquela dívida...(coisas que a nossa sociedade impoe)...geração do capitalismo que nos faz ser materialistas demais...não tendo capacidade de aproveitar os momentos de nossa vida...devemos dar mais atenção a nossos sentimentos...nada de frescura...não podemos ser frios a ponto de exergar o próximo como um inferior ou um vagabundo...aproveitem as suas vidas...curtam enquanto podem...pq depois que estiver em um leito de hospital...seremos apenas mais um ali a espera do ultimo suspiro...divirtam muito..e aproveitem cada minuto de suas vidas...

Anônimo disse...

O triste é q em geral, as pessoas só passam a valorizar a vida quando vivenciam o sofrimento ou quando são expectadoras do sofrimento de outrém...
Mas é isso mesmo: nesta vida, somos eternos aprendizes...
Bjus
Rubia

Karime disse...

Oi, Bianca! Adorei o texto...Não temos só que viver, temos que saber viver. É uma tarefa difícil, mas se nos dedicarmos, um pouquinho a gente consegue....Bjão

Anônimo disse...

Legal, Bia, vou aproveitar para fazer divulgação de duas entidades para as quais atuo como voluntariado e que tem as portas abertas para quem quiser participar e colaborar: Casa de Apoio Abibe Isfer, que realiza uma enormidade de atividades (de edificantes a profissionalizantes) com a comunidade do Jardim Santos Andrade, área bastante humilde localizada na perfiferia de Curitiba; e o Hopital Pequeno Príncipe, que é referência nacional no cuidado e tratamento médico de crianças. Quem tiver interesse em atuar em qualquer uma delas, pode falar comigo.
Beijo.

Mario