“De novo, destrancada”, constatou ao girar a maçaneta. Irritou-se mas relevou o ocorrido, conformada por ser a negligência um típico sintoma de hospital público, cuja profilaxia era por ela desconhecida. Permaneceria em seu consultório por um tempo breve, não fosse observar em sua mesa um pequeno estojo de veludo vermelho, semelhante a um porta-alianças. Aproximou-se, a princípio com desconfiança, mas deixou-se vencer por sua curiosidade feminina incorrigível. Abriu o pequeno estojo esperando por um par de alianças, culpou-se pela ingenuidade. No forro acolchoado, restava acomodado um objeto que nunca havia visto antes: uma espécie de pequeno grampo com microventosas na parte interna e um berço metálico no qual estava acoplada uma bateria de relógio. Pegou-o na ponta dos dedos, levando o estranho artefato para bem perto dos olhos. Um envelope branco sobre a mesa desviou sua atenção. Cintia abriu, tirou de dentro um pequeno bilhete em papel lilás, leu e não entendeu. Mas seguiu as instruções.
No banheiro, abaixou a calça branca e depois a calcinha de algodão, num misto de curiosidade e sensação de ridículo. Com os dedos médio e indicador da mão esquerda pressionou em forma de arco os lábios vaginais e observou entre eles seu clitóris. Estimulou-se com o indicador da outra mão por alguns instantes até sentir-se mais lubrificada. Relembrou a fantasia que alimentava de ser penetrada por Aliandro na mesa de cirurgia. Não tardou a ter o clitóris mais proeminente e entumecido, tal qual pedia o bilhete que retirara do envelope. Pegou de cima da pia o misterioso presente e apertou suas hastes, fazendo-as abrir e fechar como as quelíceras de uma aranha. Permaneceu ainda um pouco relutante em usá-lo conforme as recomendações, mas novamente sua curiosidade feminina incorrigível não a permitiu voltar atrás. Respirou fundo, aproveitou o excitante da ocasião e prendeu o objeto ao clitóris. Ao contrário do que havia imaginado, ficou bem fixo. Sentiu falta de um espelho de corpo todo para se observar. Não parecia ser um piercing e não aumentou seu tesão, tampouco a machucou, mas as recomendações da carta acabavam por aí. O resto era mistério. Subiu a calcinha e a calça. Lavou as mãos. Olhou-se no espelho da pia. Levou os dedos ao sexo para conferir se ainda estava ali. Estava.
Na sala dos médicos, tirou da máquina um café preto bem forte, dispensando os sachês de açúcar para o amargor lhe restituir a atenção. Foi quando veio o primeiro estímulo. Uma espécie de formigamento instantâneo na haste do clitóris que a fez tremer. Parecia um pequeno eletro-choque, como a ponta de uma língua nervosa tocando-a de súbito. Uma massagem de instantes com precisão cirúrgica. Não derrubou a xícara mas transbordou o café no pires e no chão. Atrapalhada e sob o olhar indiferente dos colegas de hospital, apressou-se em juntar um maço de guardanapos de papel para limpar o piso branco. Foi quando ouviu o toque discreto de seu celular. Apanhou-o e, ainda agachada, viu a mensagem na tela do aparelho: “foi só um aviso”.
Ao caminhar pelo corredor que conduzia até a geriatria, conversava com Pamela sobre problemas de falta de leitos na UTI, quando cruzou pela primeira vez com Aliandro naquela manhã, seu “médico particular” como o tratava na intimidade. Cumprimentaram-se com um aceno de cabeça, mas ela não conseguiu conter o sorriso maroto, ao qual ele respondeu com um olhar pouco discreto, não percebido por Pamela por conta de sua preocupação profissional do dia. Cintia então recebeu o segundo estímulo. Desconcentrou-se do assunto, pediu para Pamela repetir do começo.
Em seu consultório, passou a receber as senhoras e senhores que atenderia naquela manhã. Entre reumatismos e reclamações de insônia e falta de apetite, Cintia recebia um pequeno tremor no clitóris que a fazia corar. Enquanto discriminava receitas, ouvindo relatos doloridos e apalpando músculos flácidos e miúdos, era atingida de tempos em tempos por aquele impulso que, aos poucos, foi deixando-a lubrificada. Começava a se sentir culpada por não conseguir concentrar toda a atenção em seus pacientes. Mas não queria interromper abruptamente aquela experiência que estava num crescendo sem limites. No meio da manhã, foi ao banheiro inspecionar-se. Conferiu o forro da calcinha e ficou com medo de o líquido atravessar a calça branca, já que se formara uma poça de lubrificação. Novamente observou o pequeno objeto, agora com certo assombro e rindo de si mesma pela situação sem precedentes. Drenou o excesso de muco com um pedaço de papel. Depois, colocou um absorvente e voltou a clinicar.
Observou que o estímulo vinha de cinco em cinco minutos, o que passou a aumentar sua ansiedade pela próxima vez, e a próxima e a próxima. Logo, o quinto minuto seguinte parecia uma eternidade para chegar. Agora, eram os pacientes que começavam a perceber sua ansiedade. Cintia iniciava assim uma batalha interna para manter o controle. Por duas vezes, tentou levar a mão discretamente entre as pernas para se masturbar por cima da calça enquanto preenchia receitas para seus pacientes. Mas teve medo de desencaixar o artefato ou ser flagrada. Resignou-se em friccionar uma coxa contra a outra. Sentia o suor percorrendo sua nuca, a boca úmida e os mamilos empinados. Porém, voltava a clinicar com a persona de médica séria que sempre encarnou com desenvoltura. “Todos de visão fraca e mais concentrados nas próprias dores”, pensou, sabendo que aqueles idosos no máximo deduziriam que ela estava com algum tipo de indisposição.
Próximo ao meio-dia, percebeu que os estímulos agora eram mais demorados. Se antes se limitavam a cinco segundos, agora chegavam a dez ou mais. Era o último paciente da manhã e ela já não conseguia ouvi-lo direito. Decidiu que teria de almoçar, tomar aquele hipotético controle remoto das mãos de Aliandro e arrastá-lo até seu apartamento, que afinal ficava a apenas cinco quadras do hospital. Caiu em si e voltou suas atenções novamente a seu consultório, pedindo ao paciente que repetisse tudo desde o princípio. Alegou enxaqueca.
No refeitório, pegou sua bandeja e serviu-se de comidas leves para não estragar o sexo. Observou Aliandro de longe, sentado numa mesa com outros cirurgiões. Trocaram novamente aquele olhar cúmplice. Enquanto pedia um refrigerante, abanou-se com a mão, querendo comunicá-lo de que sua brincadeira tecnológica havia surtido efeito. Aliandro riu e virou-se para seus colegas novamente. Há mais de sete minutos que Cintia não sentia o estímulo, o que para ela estava sendo até um alívio, um intervalo naquela manhã nada convencional. Procurou uma mesa para se sentar. A de Aliandro estava cheia, e mesmo que não estivesse ela não se arriscaria a se aproximar e levantar suspeitas do affair entre os dois. Foi até a mesa que estava bem no canto, próxima a uma janela na qual batia o sol a pino. Era incômodo, mas preferia isso a sentar-se na cadeira vaga do pessoal da obstetrícia.
Mal começou a saborear o bife bem magrinho que sempre pedia a Dona Solange, quando sentiu novo estímulo. Uma sombra parou à sua frente. Olhou para cima e observou Franco, enfermeiro da ala de queimados, com sua bandeja e parecendo pedir para sentar, mas sem abrir a boca. Ficou embaraçada, pois, embora acreditasse ter sido discreta, sempre lhe acometia a sensação de que o estímulo poderia ser de algum modo percebido pelos outros.
- Quer sentar?
Sentiu novo estímulo, e desta vez não teve como não dar um pequeno sobressalto pela surpresa.
- Soluço (disfarçou ruborizada).
Franco continuava a olhá-la. Cíntia resolveu reforçar o convite.
- Você não quer sen...
Com o terceiro estímulo seguido em menos de um minuto e sob o sorriso cínico de Franco, Cintia então se deu conta do real autor da proeza. Boquiaberta, viu o enfermeiro sentar à sua frente, tirando de baixo da bandeja metálica um pequeno controle remoto de botão único, que parecia poder ser pressionado para cima e para baixo, ativando e desativando o estímulo. Tinha cor alaranjada, e era do tamanho de um chaveiro, discreto e ao mesmo tempo curioso por seu formato divertido, como uma pêra achatada e sinuosa. Possuía também uma pequena tela de cristal líquido, que, pelos números, Cíntia deduziu se tratar de um temporizador para a marcação de intervalos entre um estímulo e outro, o qual certamente poderia ser substituído pelo comando manual, com simples pressões no botão quando o usuário bem quisesse e com a duração que melhor lhe apetecesse. Incrédula, a médica voltou a procurar Aliandro no refeitório. Viu-o levantando-se com os demais cirurgiões e sumindo para fora do salão numa conversa amistosa, sem sequer buscá-la com o olhar para uma despedida. Franco acompanhou a cena olhando por cima do ombro esquerdo.
- Não, não foi ele.
- Que idéia é essa?!
- Por que achou que era ele?
- Porque...
- Relaxe, todo mundo sabe que vocês estão... “ficando”.
Novamente aquele sorriso cínico. Parecendo sem fome (de comida), Franco apenas brincava de cutucar suas almôndegas com a ponta do garfo. Aquele mínimo gesto inofensivo parecia provocação para Cíntia.
- Você me enganou!
- De jeito nenhum. Não assinei o bilhete, assinei?
Cintia então se deu conta.
- Por isso não apareceu o nome dele no meu celular...
- Mas e aí, gostou?
Cintia parecia sem reação. Novo estímulo.
- Pare com isso!
- Então me dê atenção.
Num impulso, tentou pegar o controle da mão de Franco, que puxou-o para si rindo da falta de habilidade da médica. Falou, já iniciando sua refeição.
- Deixo você apertar o botão, quer?
Cintia agora não mais se alimentava, não sabia como reagir à situação e ao abuso daquele enfermeiro que mal conhecia.
- Nós nunca tivemos nada! Eu não sei de onde você achou que poderia ter uma liberdade dessas comigo!
Enquanto ela falava, Franco empurrava até Cintia o controle remoto sobre a mesa com a ponta do indicador. Ela olhou-o curiosa, aturdida pelo inusitado da situação.
- Parece um tamagoshi.
- É um brinquedinho mesmo.
Ela observou e observou, meio que hipnotizada. Franco aproveitou-se daquele vácuo de resistência.
- Aperte o botão.
De súbito, sentiu o pé descalço de Franco percorrer a parte interna de sua panturrilha. De ato-reflexo, fechou o cenho e o olhou com fúria. Ele sabia que a expressão facial não correspondia ao real sentimento de Cintia. Pegou a mão da médica, já quase desarmada perante o excesso de confiança daquele semi-desconhecido. Ela pensou em se levantar, mas foi impedida por sua costumeira e incorrigível curiosidade feminina. Enquanto Franco sorvia seu suco de morango pelo canudinho, afagava os dedos de Cintia com sua mão, e percorria a parte interna de suas coxas com o pé. Cintia olhava para os lados com medo de ser flagrada. Franco aos poucos aproximava o indicador da médica daquele botão saliente no pequeno aparelho. A unha vermelha e bem feita se encaminhava para o êxtase. Ela já não mais resistia, apenas se debatia internamente transferindo sua reação para breves e insignificantes impulsos de relutância. A ponta do indicador chegando no botão. A ponta do pé de Franco seguindo por suas coxas. As pontas dos dedos. Dois botões.
O aperto de botão, o sobressalto, o alto-falante – tudo ocorreu simultaneamente:
- Dra. Cintia, compareça com urgência à sala de cirurgia cinco. Dra. Cintia, cirurgia cinco.
Enquanto lavava as mãos com povidine degermante, ainda tentando esquecer a surpresa do refeitório, ouvia Édna explicando que o Dr. Henrique não poderia operar aquela emergência no momento (sem dar maiores explicações), por isso Cintia foi convocada às pressas. Vestiram avental, touca, luvas e máscara, tudo tão rápido que a médica não teve tempo de ir ao banheiro desgrudar o apetrecho eletrônico de sua genitália. Entrando na sala de cirurgia, encontraram um paciente jovem se esvaindo em sangue, vítima de acidente automobilístico. A perna dilacerada deixava à mostra um sulco profundo nos músculos da virilha. Como uma fiel escudeira, lá estava Eliane, a instrumentadora cirúrgica, pronta com o material aberto sobre a mesa auxiliar. Dr. Amauri, o anestesista, informou que um pedaço do painel do automóvel havia se rompido e cortado a artéria femural do paciente. Iniciaram o procedimento de emergência tentando estancar o sangue, antes que o rapaz entrasse em choque hipovolêmico. Entre surpresa e indignada, Cintia sentiu o estímulo clitoriano voltar a ser acionado. Édna perguntou se houve algum problema, a médica disfarçou, pedindo a cuba com povidine tópico e uma pinça com gaze. Limpou rapidamente a região e solicitou o bisturi para ampliar o orifício do corte. Sentiu novo estímulo clitoriano e se degladiou internamente para controlar seus efeitos. Imediatamente, e já irritada, pediu as pinças hemostáticas, para buscar o segmento proximal da artéria que estava sangrando. Perguntou sobre a respiração do paciente, novo estímulo e desta vez muito forte, não teve como não sentir a excitação, mesmo que diante de um corpo desfalecendo à sua frente. Mal conseguiu ouvir que a vítima tinha sua pressão declinada a níveis abissais, quando sentiu nova pulsão no clitóris. Precisava agir, suturando os segmentos com grande urgência, depois pensaria naquele grampo demoníaco em seu sexo. Pediu fio Prolene vascular e Eliane passou a montá-lo no porta agulhas, com olhos desconfiados de que algo não estava bem com a médica. As mãos de Cíntia passaram então a percorrer carne, veias e sangue num balé de brancas luvas agitadas, enquanto seu clitóris era acometido por três impulsos seguidos. Sentiu raiva de si mesma. Foi alertada de que o paciente estava com sua taquicardia no limite. Pediu que preparassem o desfibrilador para o caso de uma parada súbita. Gaguejou ao sentir um, dois, três, quatro estímulos clitorianos, sendo o último muito intenso, quase enturvando sua visão, que buscava os indicadores do monitor cardíaco. Sentiu-se culpada por sentir prazer enquanto procurava em meio a músculos e sangue a ponta da outra artéria. Mais dois estímulos, só que o segundo não parou mais. Prosseguiu até ela soltar intensamente o gozo protelado por toda uma manhã, enquanto a busca desesperada pela ponta rompida da artéria fez esguichar sangue sobre luvas e punhos de sua roupa cirúrgica. Ficou tão suada que teve medo de pingar no paciente. Interpretou errado quando ouviu “você conseguiu, doutora”, de Édna referindo-se ao êxito em interromper o sangramento.
Enquanto isso, Franco procurava também desesperadamente, só que pelo controle do estimulador clitoriano. Foi quando se deu conta de tê-lo esquecido junto com seu crachá, na ala de pediatria.
Mario Lopes
6 comentários:
Onde vende isso? ;)
bj
Vê
hahahahahahaha
Verô, não sei se ainda inventaram, mas estou pensando em patentear. Já pensou, vocês saindo por aí e dando pequenos soluços a todo momento do dia? Numa festa de gala, e vocês lá: "ic, ops, desculpe, foi o champanhe".
Por hora, o jeito é se conformar com os artigos tradicionais de sex shops e as escovas de dentes elétricas. hehe
Verô, obrigado, fiquei muito feliz em ver alguém lendo o post tão cedinho em pleno domingo.
Beijo.
Charlie
Caracoles!
Quanta criatividade... hahahaha
Beijo.
Camila.
Isso se chama, falta de companhia. :-( Entrei 6 e pouco e ainda não tinha nada. Estranhei. Do jeito que é rigoroso achei que 12h01 já tinha o seu post lá. Hehe! Depois meu computa queimou e tive que esperar o pai acordar para poder ler no dele. Cedo fiquei lavando a louça da cozinha fazendo bastante barulho para ele acordar logo.
Tudo na vida começa com uma necessidade acompanhada de uma vontade. Temos as duas, podemos viabilizar o projeto. Eu topo ser a cobaia! Hehe...
Tô lendo tanto sobre novidades e apetrechos de sex shop que logo viro uma freqüentadora assídua.
Beijos
Verô
Obrigado, Cah. ;-)
Charlie
Verô, a idéia está aí, agora o lance é encontrar um engenheiro elétrico para fazer os testes. Coloco meus controles remotos à disposição. hehe
Beijo.
Charlie
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