Quarta foi dia do Top 10 de quem se comportou mal, mas agora é hora de conferir a lista da nobreza. O povo aí embaixo é inspirador. Leia, admire e espelhe-se.
1) Daniel Manoel da Silva
Se você se perguntou “quem?”, não se aborreça, pois, num país que prefere mirar os holofotes sobre antas parideiras que apresentam programas de TV ocos de conteúdo, é normal que verdadeiros heróis como este acabem deixados de lado. Enquanto um pelotão de nossos bravos militares pilhava os flagelados de Santa Catarina, saqueando o que podiam entre os donativos enviados de todas as partes do país para salvar quem ficou sem nada na vida, o Seu Daniel se empenhava em devolver R$ 20 mil que sua filha pequena encontrara em um casaco de couro que seria repassado aos desabrigados. OK que honestidade é obrigação e não virtude, mas o fato de um homem trocar a oportunidade de reconstruir sua vida atolada em lama e desespero por atributos que não dão teto nem enchem barriga, como confiança e paz de espírito, é um feito que o torna realmente um herói renascido de um flagelo nacional sem paralelo.
2) Ingrid Betancourt
Resgatada dos narcotraficantes travestidos de revolucionários das FARC, ela foi a imagem viva da força e da esperança neste 2008. Ex-senadora, ativista anti-corrupção e mantida como refém desde 23 de fevereiro de 2002, ela foi libertada no dois de julho em uma operação que envolveu incidentes diplomáticos e a ansiosa ação de três países (França, Venezuela e Colômbia). Solta com mais quatorze reféns, ela não se conformou e continua agindo em busca da liberdade de todos os colegas de cativeiro, mas atuando de forma equilibrada, sem afetação, rancor ou mesmo mágoa, algo quase inconcebível para quem viveu o horror de ser destituída da própria liberdade.
3) Fausto De Sanctis
Ele não quis nem saber: o juiz, que foi desde pequeno educado em escola pública, mandou pra cadeia, sem dar trela para os advogados canalhas que assumiram defesas milionárias, o banqueiro Edemar Cid Ferreira, o empresário Ricardo Mansur, o doleiro Toninho da Barcelona, o megatraficante Juan Carlos Ramirez, o mega-investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e o hiperultramegasafado Daniel Dantas. Logicamente tanto caráter, em um país onde valores são mercadoria rara, não o deixaria passar impune: em cinco de setembro deste ano, o deputa Raul Jungmann (PPS-PE), denunciado pelo Ministério Púlbico Federal por desvios de verba no INCRA que praticou quando ministro, entrou com uma representação disciplinar no Conselho Nacional de Justiça contra o magistrado. Sempre temendo sua postura implacável, os advogados costumam alegar que ele não é imparcial, e eles têm razão: De Sanctis está sempre do lado da justiça.
4) Barack Obama
OK que só poderemos saber se esta foi uma boa escolha daqui a quatro anos, mas só o fato de termos o primeiro presidente negro em um país onde, há menos de duas décadas, pessoas de cor eram até mesmo proibidas de votar em alguns Estados, é um passo e tanto. Fez uma campanha limpa, mostrou-se bem quisto no mundo todo, e foi a melhor escolha para a sucessão de um Governo escabroso em incompetência e truculência internacional. E seu passado, tentando controlar o uso de armas de fogo e buscando adoção de medidas contra as mudanças climáticas, apontam para o surgimento de um líder com política muito diferente da de seu antecessor, um alívio para a humanidade e o planeta.
5) João Carlos Martins
Ser um grande pianista sem poder ouvir foi um grande feito de Beethoven, mas ser um grande pianista sem poder usar os dedos, isso é um disparate que nem mesmo as mais inverossímeis obras de ficção seriam capazes de conceber. João Carlos já se mostrou um grande intérprete aos oito anos de idade, quando venceu um concurso executando obras de Bach, vindo depois a gravar todas as peças do compositor, e construindo uma carreira internacional repleta de êxitos, até que teve um nervo da mão direita rompido, perdendo seus movimentos. Passou a tocar só com a mão esquerda, mas também perdeu seus movimentos ao sofrer um assalto, vindo então a estudar para ser maestro (mesmo sendo incapaz sequer de virar as páginas de uma partitura), tornando-se protagonista de documentário e realizando obras de inclusão social de crianças pobres através da música – e você achando que seus planos para 2009 eram difíceis, né?
6) Carla Bruni
Só a nova primeira dama americana é páreo para ela. Linda, canta muito bem, é simpatissíssima, elegante sem esnobismos, engajada em prestigiar obras assistenciais, e com um passado dos mais invejáveis, tendo vivido affairs com rock stars e milionários em seus tempos de top model internacional, dá uma olhada na lista: Mick Jagger, Eric Clapton, Kevin Costner, Donad Trump e, agora, Nicolas Sarcozy, a quem dedicou canções de letras polêmicas, aqui vai uma palhinha: "Meu homem, eu enrolo e fumo" / "[amor] mais mortal que a heroína afegã, mais perigoso que a branca colombiana" / " Você é meu senhor, você é meu querido, você é minha orgia". Prova de que uma senhora primeira dama não precisa ser uma primeira dama senhora.
7) Maureen Maggi
Depois de passar dois anos afastada dos esportes por conta de ser pega em um exame anti-dopping, voltou mais por cima do que nunca, tornando-se a primeira brasileira a conquistar uma medalha de ouro em esportes individuais nas Olimpíadas. Recordista brasileira e sul-americana, e bi-campeã pan-ameircana, é o maior nome do altetismo feminino em nosso país, sagrando-se ainda mais vitoriosa em 2008 ao saltar 7,04 m em Pequim. É atleta do ano, vitoriosa em uma vida de muitos saltos, nem todos em direção do sucesso, mas mesmo os malfadados serviram para mostrar que, literalmente, ela sabe sacodir a poeira e dar a volta por cima.
8) Diablo Cody
De blogueira, operadora de tele-sexo e stripper, passou a roteirista impulsionada por seu espírito aventureiro e pela inspiração ao se mudar de cidade com o namorado que conheceu pela Internet, tornando-se uma das mulheres mais queridas da indústria cinematográfica norte-americana. Linda e excêntrica, fez a diferença ao receber o Oscar de Melhor Roteiro neste ano, quando subiu ao palco para pegar seu prêmio toda tatuada e pouco similar em figurino se posta em paralelo aos demais modelitos luxuosos das starlets. Com “Juno”, mostrou que é possível se vencer produções anababescas fazendo-se uso de histórias simples e humanas, como é sua própria vida, desorganizada e dividida com seus gatos Ernie e Douchepacker, bichanos que provavelmente lhe deram sorte, afinal agora trabalha para Steven Spielberg ganhando um cachê milionário (ainda mais valorizado pela vitória da greve dos roteiristas ocorrida no início de 2008, que deu a Hollywood prejuízo de mais de US$ 2 bilhões).
9) Malu Magalhães
Em tempo de ídolos adolescentes acéfalos, suas canções são um bálsamo de lucidez e qualidade musical. Fez shows por todo o país, deu uma entrevista divertidíssima no Jô, mostrou-se modesta até demais para uma garota prodígio e, de quebra, iniciou namoro com um mito do pop cabeça: Marcelo Camelo, tudo isso sem perder a meiguice, a humildade e o estilo bem comportado de ser. Se do “alto” de seus 15 anos a garota já é isso tudo, não demora a atingir o posto de maior pop star nacional, e não precisa ser profeta pra saber isso.
10) Boo Boo
Grace George, uma senhora norte-americana de 97 anos, foi salva pelo miar de seu animal de extimação durante um incêndio – o nome do gatuno herói: Boo Boo. A idosa estava dormindo quando a sua casa começou a pegar fogo, e ela só acordou com o alerta do animal, desesperado na janela do quarto: “Fiquei preocupada, não entendi porquê que ele miava tão alto”, afirmou Grace, garantindo ter dado a Boo Boo, como prêmio, sua refeição favorita: uma lata de salmão. Em tempos de falta de heróis, estamos perdendo espaço até para aqueles que menos têm chance de nos proteger.
Menção Honrosa
Wall-e
Não é de carne e osso e nem viveu no ano de 2008. O simpático robozinho da Pixar veio do distante ano de 2700, trazendo uma importante mensagem para nossa época atual: a de que um dia seremos soterrados pelo próprio lixo que produzimos. Tomara que a mensagem seja ouvida, apesar de muita gente estar com lixo até os tímpanos.
Troféu Aqui Se Faz Aqui Se Paga
Bernard Madoff
Lembra que, há alguns anos, o Steven Spielberg, achando divertida a história de um jovem estelionatário que usurpou somas vultosas de diversas empresas e companhias aéreas, resolveu filmar suas aventuras, com Leonardo Di Caprio e Tom Hanks brincando de rato e gato em “Prenda-me Se For Capaz”? Pois então, com um truque velho e uma lábia experiente, Bernard Madoff, um gestor de Wall Street que já presidiu a bolsa eletrônica Nasdaq, enrolou bancos e centenas de endinheirados pelo mundo, entre eles o próprio Spielberg, que, provavelmente, desta vez não deve ter achado muito engraçada a brincadeira. As companhias aéreas deveriam mandar um presente para o Spielberg com um bilhete escrito “bem-vindo ao clube”.
E pra encerrar...
Façamos que esse post não seja só de coisinhas fofas e bonitinhas, portanto, aqui vão imagens de um Natal pouco comportado.
Mario Lopes
2 comentários:
Uau, caprichou nas escolhas hein Guto.
Bj. Camila
Obrigado, Mila. Mas tá'í uma seleção feita com mó prazer, já que esse é o dream team do bom velhinho. Se ganhassem o presente que merecem, não teria Bill Gates que os ultrapassasse em fortuna.
Beijo.
Mario
Postar um comentário