Quando lembro do meu passado uma as coisas que ele me traz é o futebol. Sim, só no passado porque hoje em dia eu detesto futebol (eu digo, o futebol estrela, as torcidas, o sistema) e não o esporte em si, que, pelo contrário, é muito legal e divertido. Mas vou explicar o porquê.
Tudo começou entre 2003, 2004 e 2005 quando estava na época de escola. Em 2004, eu já participava de campeonatos no colégio e era sempre a goleira. E na sala de aula então? EU PARECIA UM MACHO MESMO, brigava por futebol defendia meu ex-time (Atlético – Pr) com unhas e dentes e, se deixassem, muitos chutes. O Atlético perdia e eu já ficava ensaiando o discurso que falaria no outro dia para me defender da coxarada (principalmente!). Depois, quando mudei de instituição, quis ser atacante, mas sempre tive problemas para instituir o futebol naquele colégio (Positivo, imaginem, as meninas só queriam jogar Handbol e Vôley , blé!!!!!!!). E , por estas e outras, um dia almoçando na escola para a aula de teatro a tarde, percebi um grupo de meninas na quadra fazendo alguns passes com a bola, mansamente, como se estivessem se aquecendo. Achei inusitado aquilo ali naquele lugar em que as meninas não faziam muito isso. Logo, vi o treinador daquele grupo chegando e começando o treino com as gurias. Aquilo me brilhava os olhos, eu adorava futebol e ver que podia fazer futsal me brilhou os olhos novamente. Na outra semana, eu tive jogo de futebol (obrigatório pelo currículo pelo menos uma vez) e acabei jogando com as meninas e umas delas, da minha sala, pareceu bem interessada no esporte também. E, para minha sorte, percebi que, depois que jogamos, o treinador estava no outro lado da quadra treinando o time de futebol masculino. Comentei com minha amiga da minha vontade e fomos conversar com ele e perguntar preços e horários. Ele nos falou do preço e realmente disse a ele que para mim não daria. Mas, inesperadamente, ele disse que havia visto eu e minha amiga jogarmos e que nós fomos muito bem e que daria para gente um mês de graça de treino! Nossa, na hora parecia coisa de filme.
Cheguei a comentar com minha família na época da minha paixão pelo esporte, mas alguns foram totalmente contrários eu treinar o esporte. O único que aceitou, claro, foi meu pai. Lembro-me que saímos para comprar uma chuteira feminina escondido da minha mãe para fazer o treino. E lá ia eu, todas as terças-feiras, 13:30, treinar. Escondia a chuteira na mala par disfarçar e não ir com o sapato direto nos pés. E quando tinha futebol com meninos, eu e minha amiga jogávamos com eles. Mas, um dia, minha mãe abriu a mala e ficou brava, afirmava que aquele esporte era coisa para homem, que eu podia me machucar, cair, quebras os dentes e então tive que parar de fazer (mesmo que eu quisesse não daria pela situação).
Mas, mudando de colégio novamente para um público, foi onde tudo mudou (e para melhor). Lá, aprendi, na simplicidade em relação ao outro colégio que eu estudava, o que era o futebol. Uma vez, na aula de educação física, eu e uma amiga minha, a Janaina que também adorava o esporte, pedimos para jogar com os meninos. Lembro-me que, naquela tarde ensolarada na quadra do colégio Estadual do Paraná, os meninos riam da gente com o que acabamos de pedir (até porque eles eram trinta vezes mais altos que nós duas juntas!). Mas, até que um lá do meio, gritou: - “Deixem que elas joguem, se forem boas, ficam!". Os outros, mesmo que rindo, concordaram. E jogando, minha amiga fez um gol. E no outro tempo, eu fiz um. Os guris vieram falando que só tínhamos feito gols porque os goleiros deixaram (sabe né, aquela coisa de macho com o ego ferido, né!?). Mas, alguns pro outro lado, reconheceram nossa agilidade. Na outra semana, achei até engraçado pois eu e Janaína sempre ficávamos queitinhas na sala, só observando quando eles papeavam sobre o time de futebol e qual seria o time do dia. E, naquela semana, eles discutiam e um deles olhou para nós e soltou um espontâneo e desajeitado “Éééé, vocês vão jogar também?!”. Caramba, engraçado mesmo ver aqueles meninos semanas antes sempre concentrados e naquela dando atenção a duas novas possíveis integrantes. Respondemos que sim e alguns ficaram “meio assim” pois levavam a sério mesmo e achavam, por algum motivo, que com nós, seria um jogo de divertimento apenas.
Na quadra, nós duas já de top por baixo da blusa , cabelos presos, tênis apertados, observávamos os meninos e esperávamos chamarem. Até que o mesmo menino da sala, que nos chamou, falou: - “ Galera, que vocês acham, então de cada uma delas escolher seu próprio time?!”. Nossa! Alguns olharam para ele com cara de “calaabocacara!” . Mas, quando olharam para nós duas ali, impostas, decididas e como se tudo indicasse para fazermos um time para cada uma, eles concordaram. E eu, pela primeira vez, escolhendo meu time de jogadores HOMENS!
Jogamos assim durante muito tempo nas tardes ensolaradas do CEP. Uma vez, eu e Jana fomos jogar com as meninas (quando elas concordaram em jogar futebol!), e eu quase acertei o joelho de uma (sim, eu chutei a bola para o gol fraquinho e foi no joelho da guria que chegou a chorar!). Na mesma época, eu por sempre estar por dentro do futebol, vendo com meu pai, seguindo o atlético, acabei conhecendo o ex- jogador Shumacker que na época estava sendo um fenômeno no time . Mas, conversando com ele, ele me mostrou um outro lado do futebol (o lado em que os jogadores ganham milhões e as vezes não estão nem aí para o time que jogam e sim só para o dinheiro que ganham, que os fãs pagam seus salários e torcem, brigam por seus times para nada!). Aquilo, me revoltava e eu comecei a me desencantar do futebol. Ainda jogava, mas comecei aos poucos a me desligar e tomei outros rumos.
Meu sonho de ser jogadora foi findando ali mas o possível para deixar um depoimento a vocês como hoje e dizer que futebol pode ser coisa para mulher SIM! Só não me peçam pra jogar hoje em dia porque não lembro nem como fazer uma embaixadinha!
Bianca Silva
Bianca Silva
Um comentário:
Bia, lá onde eu faço trabalho de voluntariado com adolescentes no sábado, as garotas vivem pedindo pra rolar futebol, mas eu sempre achei que elas não dariam conta de jogar com os meninos. Depois me dá uns toques sobre como fazer times mistos e se isso não vai gerar confusão, porque depois desse texto estou começando a mudar meus conceitos. :-)
Beijo.
Mario
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