Amo futebol desde criança. Lembro que levava minhas chuteiras para a escola para jogar com meus amigos no intervalo. Nós jogávamos trinta minutos, sem direito a pausa ou reclamação. Minha mãe só não gostava das roupas sujas:
- Como vou limpar essas meias? Ela berrava.
Mas no fim, era sempre ela quem me dava novas chuteiras.
Com o tempo, fui crescendo e troquei a bola de futebol e as chuteiras por um uniforme oficial do meu time, pelo qual eu torcia, gritava e chorava sempre que possível. Todos os jogos eram inesquecíveis e me marcavam de alguma forma, e no último, não foi diferente.
Era um domingo. Eu havia acordado às 11h30. Fui direto para o banho, vesti o uniforme do time do meu coração, almocei. O jogo era às 16h e o relógio já marcava 14h05. Saí correndo com meu carro, parei no estacionamento de sempre, em frente ao estádio, e fui direto às catracas que davam acesso às cadeiras.
Subi as escadas. As arquibancadas ainda não estavam completamente lotadas. Fui até a fileira do meio e, olhando para a linha divisória do campo, sentei na posição mais central possível.
Ainda eram 14h50. O tempo estava nublado e ventava forte. O estádio já estava lotado. No lado dos adversários já havia umas duas centenas de torcedores confiantes, afinal, o CAF vinha com retrospecto favorável no nosso campo, tendo vencido os confrontos contra nossa equipe nos últimos três anos.
Fiquei esperando o tempo passar, enquanto observava as pessoas ao meu redor. Algumas eu já conhecia de vista, outras me eram estranhas. Mas, o que importava mesmo era que todos nós estávamos lá pelo mesmo objetivo: ver nosso timão acabar com o CAF.
Faltavam cinco minutos para o início do jogo. Todos se levantaram para cantar o Hino Nacional e depois aplaudiram, gritando VAI TIME!
16h00. O juiz apita. Miller, Nogueira e Brasil, três craques do CFC, já correm para o ataque. Souza, do outro time, rouba a bola de Macedo. A torcida CFC vaia e xinga o juiz. Souza passa a bola para Botelho, mas Vital intercepta a tempo, contra-atacando e mandando a bola bem nos pés de Miller. A torcida vibra com expectativa. Miller chuta de esquerda e POW! GOOOOL!
Eu fecho os olhos e só ouço o C-F-C! C-F-C… ecoando pelo estádio. Abraço o casal que estava ao meu lado e dou um beijo na testa de seu filho.
A bola volta a rolar. Começa a cair uma garoa fina e o pessoal se protege com capas de chuva. Enquanto espero o vendedor de capas passar, o rapaz do casal diz que está indo comprar pizza para o filho, e me pergunta se não quero aproveitar e pedir uma cerveja. Eu agradeço e digo que pago assim que comprar a capa de chuva, pois só tenho uma nota grande.
O que era uma garoa fina, tornou-se um toró. Chovia litros. Eu mal enxergava, mas continuava torcendo. Finalmente, o vendedor de capas passou. Paguei e tentava vestir a capa enquanto ele pegava o troco. Vesti-me de qualquer forma. Ele estendeu o braço, e bem na hora em que abria a mão para me passar o dinheiro, alguém, temendo um gol do CAF, empurrou-o sem querer, e meu troco espalhou-se por sabe-se lá aonde.
A torcida gritava, batia palmas. Miller estava de novo com a bola, e PA! NA TRAAVE! Todos aplaudiram.
O rapaz chegou com minha cerveja e bem na hora em que eu pedia desculpas e contava como havia perdido o dinheiro, o juiz marcava penalidade máxima a nosso favor. Macedo saiu de campo na maca. O casal, felicíssimo, insistia para que eu aceitasse a cerveja. Eu aceitei e bebia o primeiro gole quando Nogueira cobrou o pênalti e não converteu. Enquanto a torcida xingava com palavrões de todos os gêneros, eu sentia a cerveja gelada escorrer pelo meu pescoço. O torcedor ao meu lado nem percebeu que, irado com a falha de Nogueira, gesticulou com força, acertando meu copo, e fazendo com que o líquido desviasse da capa e entrasse pela minha roupa.
A torcida se acalmou, cessaram os palavrões e reiniciaram os gritos de incentivo: VAI CFC! O juiz determina dois minutos de acréscimo e o jogo segue agitado.
Miller, de novo com a bola, segue para o ataque com Souza em seu encalço. Desvia com dois dribles sensacionais, chuta para a área e é GOOOOOL! A torcida vai à loucura. O juiz apita o fim do primeiro tempo.
A chuva ficava cada vez mais forte e alguns torcedores já iam embora, mas, apesar dos pesares, tudo ia bem. CFC ganhava de dois a zero do CAF e só isso já bastava.
Eu me preparava para ir ao banheiro, quando o juiz voltou ao gramado. O que afinal ele foi fazer se ainda faltavam dez minutos para o início do segundo tempo? O clima era tenso. De repente, as pessoas que estavam com fones no ouvido começaram a xingar e se levantaram para sair. Os torcedores estavam irados, e eu nada entendia, até que li no placar eletrônico que o jogo seria suspenso devido à chuva. Decisão do juiz Sr. Roberto Marques.
O que eu poderia fazer? Em três anos, era a primeira vez que meu time estava na frente no placar e tinha todas as chances de vencer, e um juiz @*&%$# suspendeu a partida. Jogo anulado. Saldo final: dois gols de Juliana Miller invalidados, Paula Macedo contundida, três cartões amarelos para o CORITIBA FEMININO CLUB e três para o CLUBE ATLÉTICO FEMININO, todos anulados, cinqüenta reais perdidos, 500 ml de cerveja gelada desperdiçada, e… droga, perdi meu batom.
Letícia Mueller
2 comentários:
Letícia, mais uma surpresa com o seu perfil. :-)
Beijo.
Mario
hahaha
só não gostei da foto :P
vermelho é preto ´pe mais legal ;)
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