Os naturistas estão chegando... onde?
Pênis, vulva, vagina, pêlos pubianos, banhas, seios, tetas, tetas caídas, joelhos, bunda, cu... tranquilos e discretos, enfrentando ereções de curiosos e despreparados, mas muitas vezes com muita harmonia, ainda que minoria, os pelados ao natural procuram saídas para sua autonomia de liberdade (os índios a tem, o problema da terra veio depois).
Os naturistas parecem muito tranqüilos em seus depoimentos e, no final das contas, quando podem se libertar mais dos seus compromissos sociais (a partir dos quarenta, principalmente), vão ficar peladões sim, e a família que aguente.
A máquina do marketing, do aspecto visual, do apelo para o consumo, atrofiou a liberdade do olhar para o corpo humano.
Saí hoje de uma limpeza de pele. De repente, todas as mulheres que estavam lá eram loiras, chapinha, maquiagem, magras, e todos aqueles predicados que nos fazem ainda reféns do consumo em grande escala.
Originalidade zero.
Zé Celso, renomado diretor de teatro, ator, dramaturgo e muito mais, tem, entre seus elementos de contestação, o nu como quebra de tabu. Beleza, isso nos anos setenta vá lá... mas hoje? Hoje sim! Ele se mantém atual, infelizmente, porque o corpo, a aparência do corpo humano, se mantém um grande tabu. Graças à indústria do sexo.
O contraste entre o “ideal” e o real é sufocante e desgraçado.Tem mulheres fazendo plásticas em seus lábios vaginais e senhoras instalando dispositivos de ativação de orgasmo dentro de seus corpos, em seus pontos G (vai... até que esse dispositivo é interessante, isso foi comprovado por uma escritora que conheceu a técnica em um consultório na Suíça).
Ter o corpo perfeito é mais importante que ter um corpo.
Sou adepta do naturismo na natureza quando dá. Mas tenho que enfrentar sempre alguém espiando ou com intenções malévolas, inclusive para a castração do ato.
Em uma sociedade que reprime a nudez, reprime também o sexo e, portanto, como diria George Bataille (de outra forma), o controla, para a felicidade de muitas empresas.
É proibido o atentado contra o pudor. Mas a censura não tem pudor de exibir seus realitie shows como conteúdo televisivo, não tem pudor de colocar um programa da Xuxa, não tem pudor de transmitir a Bispa da prisão, não tem pudor de mostrar que o Sarney é apoiado pelo Lula para garantir a Dilma.
Temos vergonha do que não deveríamos ter e não temos vergonha do que é vergonhoso. Mas vamos voltar aos naturistas, ao corpo e ao eco de sua aparência.
O corpo humano é lindo em sua diversidade, em sua particularidade, em sua especificidade, em sua história, em sua memória arquivada dentro dele.
Respeitemos o corpo, o próprio, o do outro não como um lugar de masturbação coletiva para uma pobre coitada comprar uma casa para a mãe, mas para sublimá-lo como instrumento de expressão de nossas existências.
Viva os naturistas! Seja como for, representam uma resistência a essa convulsão que chamamos de atualidade.
Afinal, o ato de tirar a roupa está muito ligado ao de tirar as máscaras. Claro, quando isso é natural. Mas vamos imaginar que o naturismo fosse instituído e, mais que uma dinâmica de grupo para motivar uma agência publicitária inglesa, fosse aplicado ao senado brasileiro. Duvido que o Sarney pelado teria coragem de nomear algum parente...
Patrícia Ermel
Um comentário:
O egraçado é o tema dos naturistas chegar bem no meio desse clima friozaço, Patrícia. Viva os naturistas e coragem pra eles, porque vão precisar. ;-)
Beijo.
Mario
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