Vai encarar?
- Gostou ?
- Ãããn?
- Gostou do carinha surfistinha ?
- Quêê ?
- Ah, não te faz, Andréia ! Te vi sacando o carinha de terno cinza, com pinta de surfista.
- Como é que é, Alberto ?!
- Aquele ali ó, que tá dançando com tua amiga...
- Mas de onde tu tirou isso, criatura ? Primeiro, que estamos casados, segundo que ele está dançando com a Vivi.
- Ah, não finge, Andréia...
- Olha, Alberto... é a terceira festa de casamento das minhas amigas que tu estraga com esse teu ciúme doentio.
- Se tu não aprontasse...
- Eu ?? Eu não sou tu, Alberto. Não sou tu! E vamos voltar pra mesa! Não quero mais dançar.
- Não! Vamos ficar aqui na pista. Assim tu continua encarando o bonitinho....
- Aaaaaai! Não me puxa!
- Andréia... volta aqui!
....
- Amiga, tenho que ir...
- Ah, Déia... Já?
- Já. O Alberto surtou de novo. Viajou que tô encarando o carinha que tá dançando com a Vivi.
- De novo essa história? É a terceira festa que ele estraga, Déia!
- É, eu sei. Não aguento mais. E pior, que ele bebeu horrores... tô sentindo que a noite vai ser longa. Bom, tenho que ir... Amiga, estou muito feliz por ti! Que Deus abençoe a união de vocês.
- Obrigada. Te cuida. Falamos na volta da nossa lua-de-mel.
- OK... Divirtam-se e aproveitem Bali por mim.
....
- Onde tu pensa que vai?
- Pra casa, Alberto. Aqui não fico mais passando vergonha e sendo agredida por ti.
- Agredida? Só te dei um puxãozinho pelo braço!
- Começa assim... e não me segura. Me deixa ir.
- Vai como? A chave do carro tá comigo.
- É, eu sei. Mas a chave da casa tá comigo e, depois que casamos, aprendi a levar dinheiro na bolsa, no caso de acontecer algum “imprevisto”. Como esse. Táxi! Tchau, Alberto. Boa festa.
- Déia! Volta aqui! Dééiaa....
...
- Aaaai! Sai de cima de mim! Que horas são ?
- Não sei. Tá quase amanhecendo.
- Que nojo! Tu tá cheirando a bebida... sai daqui!! Me deixa dormir.
- Quero transar.
- Transa com a almofada, me deixa em paz, seu ridículo.
- O quê?? Eu sou ridículo mesmo! Te acompanho no casamento da tua amiguinha e faço papel de ridículo enquanto minha mulher encara um surfista.
- Tu surtou, Alberto... surtou! Não sou tu. Agora, me deixa em paz e me largaaaa!
- Quero te comer.
- Aaaai, me larga!
- Tá com medo de ficar de costas pro teu maridinho?
- Sim! Me larga, seu louco!! Aaaaaaaai!
- Desgraçada!
- Aaaaaaai! Alberto pára! Aaaai! Pára, pelo amor de Deus... tu tá me machucando!
- Vagabunda... pra que me chutar ?
- Pra tu parar de me agredir ! Não quero nada contigo, ainda mais à força. Saaai daquiii! Saaai!
- Pára de gritar, sua louca! Cala a boca!
- Aaaai!!! Cachorro... tô sangrando... minha boca tá machucada. Meu corpo dói... Some daquiiiiii!
- Daqui eu não saio. E pára de chorar. Não te faz de coitadinha.
- Tô com dor de cabeça!
- Ah, um clássico! Conta outra...
- Conto. Você também está com dor.
- Eu não!
- Dor de cotovelo!
- Ai! Você me acertou nos bagos!
- Foi sem querer. Tô só tentando me afastar de você.
- Não seja por isso, eu te afasto.
- Grosso! Você me derrubou da cama!
- Hoje tá quente, tá mais geladinho aí no assoalho.
- Quer frio, é? Quer frio? Então me dá essas cobertas!
- É assim? Então aproveita e leva esse travesseiro.
- Ai, não me bate!
- Ué, antes você não gostava de guerra de travesseiro?
- Isso era antes de você ter virado um cavalo. Agora só topo se eu puder colocar um ferro de passar dentro da fronha.
- Vai, pega lá. Eu boto um cactus dentro do meu travesseiro.
- Mais espinhoso que essa sua barba mal feita não vai ser.
- Antes você gostava dela roçando na nuca.
- Antes! Antes! Antes! Antes você não era um porco espinho.
- Antes você não era essa vaca atolada!
- Quer outro chute nos bagos?!
- Experimenta! Experimenta!
...
- Calma, calma, senhores. Vou responder a uma pergunta por vez.
- Doutor, qual a causa mortis?
- Bem, o casal já foi trazido bastante debilitado. Não sabemos quem os espancou, foram encontrados desacordados no quarto.
- Doutor, mas chegaram vivos, não foi?
- Sim, nós mesmos estamos confusos e não sabemos o que de preciso temos para informar a vocês da imprensa, mas foi isso: eles chegaram vivos, sim. Faleceram aqui.
- Qual a suspeita?
- A causa mortis nós sabemos, mas as circunstâncias ainda são confusas. Quando os dois chegaram no hospital, resolvemos deixá-los juntos em um mesmo quarto, pois acreditávamos que se sentiriam melhor ao recobrar a consciência.
- E recobraram?
- Sim, uma enfermeira testemunhou quando abriram os olhos, então ela veio correndo até um de nossos médicos para contar. Quando voltaram ao quarto, os dois estavam mortos.
- Como morreram?
- Foi tirado o respirador do marido. A esposa também morreu asfixiada, só que por um travesseiro. E o mais estranho é que o assassino deixou o corpo dele sobre o dela. Provavelmente foi uma tentativa patética de fazer parecer que o marido matou a esposa com o travesseiro. Também foram encontradas digitais dela no tubo do respirador, ou seja, o assassino com certeza colocou os dedos da mulher no equipamento para parecer que ela é que o tinha tirado do marido.
- O senhor está sabendo que o caso já causou comoção nacional?
- Sim, já. Os familiares e amigos garantem que era um casal excepcional. Ninguém consegue imaginar qual motivo levaria alguém a querer matá-los. Sabemos também que depois da vigília que estão fazendo em nossa capela ecumênica, os fiéis farão uma passeata.
- Reivindicando o que?
- Maior segurança. Como pode um casal que se ama ser atingido assim dentro de casa, e no próprio leito?
- E quem os atingiu?
- Daí os senhores terão de indagar a polícia.
- Mas não há nenhuma suspeita?
- Não há nenhuma pista até agora. Mas ao que parece já há um suspeito preso.
- Quem?
- Terão de perguntar o nome à polícia. Só sei que é um rapaz de terno com jeito de surfista. Próxima pergunta...
Karime Abrão e Mario Lopes
7 comentários:
Se não tivesse lido os nomes dos autores no final, eu diria que é uma historieta escrita pelo Luiz Fernando Veríssimo. Muito legal,engraçada, diálogos e desfecho ao estilo veríssimo. Mas mesmo que não tivessem, os autores, separado seus textos pela cor, assim mesmo daria para identificar quem escreveu o quê, pelo uso dos pronomes tu e você.
Parabéns!
Gilberto Abrão
Valeu, Gilberto. A Karime bem que avisou que não era necessário separar os textos. E obrigado pela referência ao LFV, é um enorme orgulho e honra você nos ter comparado a esse gaúcho pra lá de genial, Tchê!
Abraço.
Mario
Eu fiquei nervosa lendo... ainda bem que se mataram... as vezes a morte é a melhor saída rsrsrsrsrsrsrsrsrs
Parabens!
bj bj
Rê
Karime e Mario
Ótimo texto, chorei de rir nas brigas e no final.
Como toda estudante de cinema já pensei nisso sendo tranformado em curta.
Beijos
Daniela
Adorei.Parabéns para os dois.
Beijos
Oi pai, oi Re, oi Dani, oi Leticia ! Obrigada! Adorei que vcs gostaram! Se meu partner topar, em breve repetimos a brincadeira.
Bjos
P/se ter uma idéia de como as aparências enganam...
Beijos!
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