quinta-feira, 2 de dezembro de 2010


EFEITO DOMINÓ




“Se tal ocorrência foi com efeito real, e até mereceu atenção do cronista, ela é indigna da História, contrária à intenção moral da pintura, e por consequência imerecedoura da contemplação dos pósteros”. Tal frase proferida pelo pintor Pedro Américo, autor da obra que celebra o Grito do Ipiranga, foi uma referência a narrativa histórica de Dom Pedro I em sua jornada, bem menos imponente que a retratada no quadro, rumo ao corte de laços entre Brasil e Portugal. Para o pintor, a versão era mais importante que a realidade dura, em cima do lombo de uma mula, e frágil em decorrência de possíveis problemas intestinais do Príncipe.
Lendo o livro de Laurentino Gomes, 1822, estou aprendendo uma história que não me foi mostrada na minha época de escola, mas que aparece todos os dias na minha vida, nos tombos históricos do país. Em suas palavras, “Começava ali a construção de um país mais imaginário do que real”. E foi mesmo, né. Aqui mais se falou do que se fez, mais se reclamou do que se modificou. Esse país rico em natureza, pobre em espécie, forte em idéias, debilitado em ações. Ong’s, projetos sociais, campanhas, voluntariado e o problema está sempre lá e parece cada vez maior.
Até que um dia, uns malucos resolveram descer o morro e “tacar fogo” no Rio de Janeiro, estopim para uma ação conjunta entre polícia, exército, comunidade, poder público. E foi ótimo ver bandido subindo o morro tentando se safar e levando chumbo. E sabe por que foi ótimo? Porque aquela certa sensação de poder, que até ontem tava na mão do tráfico, hoje começa a ser concedido ao povo livre. Pode ser uma visão romântica, mas pela primeira vez tive a certeza de que se alguém quiser, a coisa acontece. Longe de querer florear o quadro, como fez nosso amigo Pedro Américo, mas penso que se o primeiro passo demorou a ser dado, haverá compensação nos próximos. Esperamos que a atitude do Governador Sérgio Cabral em solicitar que o exército permaneça até julho de 2011 para a possível implementação do patrulhamento da Polícia Pacificadora seja para tornar real que o Rio tenha um pouco mais de PAZ.
Até hoje imaginamos um mundo melhor, como na letra de John Lennon, em que as pessoas teriam mais amor umas pelas outras. Acredito que não é mais tempo de ficar no idealismo, que partir pra prática é o que nos tornará melhores mesmo. Chega de ficar pirando em idéias coloridas, vamos plantar flores. Pare de mandar seu dinheiro pelo correio, compre um livro e vá ler uma história pra uma criança internada. Deixe de colar adesivos de combustível natural no seu carro e compre uma bike. Uma coisa puxa a outra, um hábito muda o habitat, como diz minha filha.
Está claro que a união das forças em prol de uma política única acaba com a falsa dicotomia entre a esfera federal e estadual. Meu total apoio para que as Cidades Maravilhosas, Cidades Ecológicas, Cidades Modelo, Cidades Tecnológicas, Cidades do Rock, enfim, mereçam seus títulos pelo melhor que puderem proporcionar por um planeta mais decente, humano e habitável, realmente.

Angelica Carvalho

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