sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Um ode a máquina de Lavar Louças e outros Apetrechos




Aos 10 anos, eu só lavava louça se queria, e quando era por desejo próprio, eu adorava pegar numa panela e esfregá-la até ficar tinindo. Sempre achei lindo esse negócio de ver a sujeira saindo e indo embora ralo abaixo com um simples esfregão e um detergente.
Varrer e passar pano no chão, nossa, era uma loucura. Como toda criança que se preze, eu tinha meu kit completo de limpeza, com vassoura, rodinho, pazinha, escova, balde, e nem lembro mais o que tudo. Eu sei que era completíssimo, digno de uma verdadeira camareira de hotel de luxo. Engraçado que eu gostava de limpar a casa só quando minha mãe também se empenhava com essa tarefa. Não tínhamos empregada por causa de péssimas experiências passadas, como roubos de cueca e louça importada.
Eu olhava para ela, minha mãe inspiradora, e memorizava os movimentos com memória cinematográfica, tentando reproduzir com minhas mãos infantis a mesma segurança e eficiência na hora de juntar toda a sujeira, colocar na pazinha e jogar no saco de lixo. Minha mãe devia achar uma graça, porque só ficava me olhando com ar de que está achando a maior fofura. Ela nunca me corrigiu, logo, eu sempre varria daquele meu jeito, espalhando poeira pra tudo que é lado e ainda com a proeza de conseguir uma insuportável dor nas costas em menos de cinco minutos.
Não sei até hoje que tipo de ficção eu e minhas amiguinhas tínhamos com essas brincadeiras de ser dona-de-casa. Que menina nunca sonhou em ter uma daquelas casinhas, com cozinha de mentira, uma caminha pras bonecas, uma mesinha pra tomar chá? E quem teve uma dessas deve lembrar que, apesar da bagunça, tudo ali dentro era cuidado e limpo de acordo com toda a capacidade e esforço que poderia se exigir de uma menina com menos de oito anos.
Daí a gente cresce, deixa de ser criança, doa todos esses brinquedos educativos, e, perde o apreço por ser dona-de-casa. Conheço muita gente que ama lavar louça, limpar a casa, arrumar o armário, desinfetar banheiro (Ok, exagerei). Mas e daí? Como é que se explica tudo isso?
Porque algumas mulheres amam cuidar da casa, e outras, como eu, tem plena certeza de que deveriam ter nascido homem pra simplesmente ficar deitada tomando cerveja e comendo amendoins?
Alguns acreditam, e pode até ser verdade, que é simplesmente o dom de cada um. Afinal, sem preconceito, quando você vê a sua diarista limpando a sua casa não dá uma sensação de alívio, de que seus móveis, seu chão e sua cozinha estão em ótimas mãos? Não dá a impressão de que aquela moça tem o dom pra aquilo?
Acho isso ótimo, e confesso que tenho um pouco de inveja. Na verdade, eu tenho é medo de não prestar pra nada. A única coisa prendada que sei fazer bem é arrumar a cama e preparar umas sobremesas. Mas, como uma casa não se resume somente a uma cama arrumada e, muito menos não se vive somente de doces e porcarias, acho que estou condenada a aprender, e logo, as magias e encantos de ser uma dona-de-casa.
Confesso que também não contribuo muito. Comprei há pouco mais de um mês atrás um conjunto de kit de limpeza (de novo) parecido com aquele que eu brincava. A única diferença é o tamanho, até porque ele é todo estampado com Poá rosa bebê. Uma graça. Brinquei com ele umas duas vezes, e já perdi o encanto. Minha mãe não estava lá pra eu imitá-la.
Toda minha louça do diário é estampada com bolinhas, mais pra eu me conformar na hora de lavá-la do que por beleza ou decoração. Mas também não adiantou. Há uns dias atrás, ganhei uma máquina de lavar louça de tanto reclamar pelos quatro cantos do mundo o quanto eu odiava lavar pratos e talheres (sim, copo e xícara até que vai, não me pergunte o porquê).
Sobre meus panos de prato, menina, são um luxo. Tenho até dó de usá-los. Assim, já justifico o fato de eu não secar a louça com o medo de estragar aqueles bordados, rendas e estampas maravilhosos. E minha unha, claro.
Para quem está lendo tudo isso, e está sentindo um ódio imenso pela minha madamisse, eu tenho só uma verdade que me desculpa de todo o pecado: a culpa não é minha, e sim da minha educação que me privou de conhecer os deleites de ser uma verdadeira dona de casa mirim. Minha mãe até hoje fala com veemência que me criou para a cultura, e não para a mão de obra. Ok, ok.
Peço minhas sinceras desculpas àqueles que se frustrarem ao irem minha casa, mas cruzemos os dedos. Talvez vocês tenham a sorte de eu já ter me convertido no que eu projeto ser, ou talvez eu ainda esteja com mais um super-fashion-desentupidor-de-vaso-sanitário-com-suporte-de-bolinhas-e-um-cabo-em-forma-de-cabeça-loira-de-corte-Chanel, ligando para minha mãe e tentando representar com movimentos às explicações em “Alien” que ela me dita, passo-a-passo, pausadamente pra eu não perder nada e alagar o apartamento.


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