“Ela é precoce, e sabe exatamente
O que é preciso para fazer uma profissional envergonhar-se.
Ela tem os suspiros indiferentes de Greta Garbo,
Ela tem os olhos de Bette Davis”.
Estamos no ano do centenário de nascimento da mulher cujos olhos inspiraram um clássico absoluto do pop. Em “Bette Davis Eyes”, a voz rouca e vigorosa de Kim Carnes revela o estrago que um par de faróis hipnóticos no alto da face pode causar em um mero mortal. Um poder de divas do quilate de Davis e de Garbo, também citada nesta letra que é uma ode ao feitiço das femme fatales.
Em nenhuma área da atividade humana (exceto na oftalmologia, por motivos óbvios) a importância dos olhos ganha a envergadura legada pelo cinema. Aspirantes a musas das telas chegavam a pingar beladona no globo ocular para ter suas pupilas dilatadas, efeito que torna o olhar mais sedutor mas que tem neste elemento químico um componente perigoso para a própria saúde dos olhos. Coachs de atrizes famosas em qualquer parte do mundo são unânimes em afirmar que é no olhar que se segura verdadeiramente uma grande interpretação.
Sendo o cinema a expressão cultural que mais aglutina, dissemina e sedimenta o comportamento de uma geração, certamente os olhos de suas maiores starlets têm muito a informar sobre os períodos históricos atravessados pela sétima arte. Principalmente se selecionarmos para análise aquelas que detinham o maior poder de fascínio perante a audiência: as femme fatales. E isso em um pulo de 50 anos, para analisarmos o real contraste entre a mulher de antes e a de agora, aqui e no mundo. Enquanto lê, reflita: quem é a maior femme fatale da atualidade?
Os meados do século passado ficaram marcados como um período repleto de divas. Elas se destacaram por personagens fortes e uma maior tolerância (e atração) do público para com o sex appeal. Período conturbado: divórcio, pílula, golpes de estado, corrida espacial, Beatles, guerra fria, revolução sexual... foi um momento de ebulição comportamental que mexeu fortemente com o padrão social, e as divas das telas traduziram no olhar esta convulsão planetária, de maneira inquietante e sutilmente libertária.
Gina Lollobrigida abria os anos 50 com "Miss Italia" e em meados da década estrelava um filme com o sugestivo nome de "A Mulher Mais Bonita Do Mundo". Ela já fazia um gênero semi-andrógeno em alguns momentos, com seus cabelos curtos, calças e camisas quase masculinas.
Olhar: de falsa ingênua.
Ainda sem ostentar seu título de nobreza, Grace Kelly abrilhantava filmes de suspense com seu charme, como em "Disque M Para Matar" e "Janela Indiscreta". Ela ostentava os modelitos mais sonhadores, coisa realmente de princesa, como se antecipasse o guarda-roupa que passaria a desfilar pelo resto da vida, quando assumiu o principado de Mônaco.
Olhar: frágil e titubeante (ou dissimulado).
Laruen Bacall imprimia uma personalidade feminina inconfundível em "Teu Nome É Mulher" e "Como Agarrar Um Milionário". Em seu sóbrio tailleur, já antecipava a firme e pró-ativa mulher atual, disposta a encarar a igualdade de condições em perfeita equiparidade com os homens.
Olhar: determinado, cabal.
Marilyn Monroe era coroada com o título de mito por obras como "O Pecado Mora Ao Lado" e "Quanto Mais Quente Melhor". Em termos de figurino, tínhamos modelos bem comportados nas telas, embora Marilyn fizesse questão de imantar os olhares masculinos com sua saia estrategicamente projetada para inflar com o vento que vinha do túnel do metrô.
Olhar: sexy. Ponto.
Sophia Loren encarnava a voluptuosidade irresistível em "A Orquídea Negra" e "A Lenda Da Estátua Nua". Era a fartura em forma de mulher, assanhando a audiência com seus decotes e seios opulentos que pareciam querer saltar para fora da tela.
Olhar: feroz e irritadiço.
Audrey Hepburn fazia a espevitada que inquietava seus pretendentes em "Bonequinha De Luxo" e "Quando Paris Alucina". Tinha a nobreza em seu sangue belga, sendo filha de uma baronesa descendente de reis ingleses e franceses.
Olhar: frágil e volúvel.
Brigitte Bardot badalava balneários na riviera e no litoral carioca entre uma filmagem e outra de "E Deus Criou A Mulher" e "Viva Maria". Um símbolo sexual que chegou a ser considerado mais importante do que a balança comercial da França ou do que as exportações da indústria automobilística daquele país.
Olhar: sagaz, assanhado.
Catherine Deneuve fazia o tipo de mulher difícil de decifrar em "Repulsa Ao Sexo" e "A Bela Da tarde". Modelo de elegância e beleza galesa, galgou a fama de símbolo sexual frio e inacessível, reputação ganha em grande parte por causa de seus papéis de mulheres lindas e frígidas.
Olhar: indiferente.
Claudia Cardinale fazia sucesso com "Rocco E Seus Irmãos" e estrelava o clássico "Era Uma Vez No Oeste", dirigido por Sergio Leone. Uma liberal esquerdista com fortes convicções políticas e ascendência árabe.
Olhar: forte, marcante, rebelde.
Jane Fonda fazia o gênero inocente perigosa com "Barbarella" e "Descalsos No Parque". Mulher de estirpe, herdeira de um legado artístico transmitido no sangue por compor uma família de atores: pai, irmão, filhos e sobrinha (Brigitte Bardot).
Olhar: divertido, espoleta, de moleca.
No Brasil, o “padrão internacional de beleza” se repetia, só que com mulheres mais recatadas, apesar de uma delas fazer a diferença, optando por um estilo muito longe do discreto: uma portuguesa que se celebrizou por criar um estereotipo da mulher brasileira para o mundo, com seus balangandãs e frutas no topo da cabeça (você sabe quem). O cinema brasileiro testemunhou o declínio das chanchadas, com a platéia ficando aos poucos cansada daquele modelo que foi enorme sucesso da Atlântida. As grandes estrelas migraram para a televisão, mas mesmo assim surgiram musas inesquecíveis na telona. Em seguida, nasceu o Cinema Novo, tornando-se referência mundial em estilo cinematográfico. Surgiram então atrizes que se celebrizaram não apenas pela beleza, mas também pelo carisma e, principalmente, por participarem direta ou indiretamente da causa feminista em um momento de transição cultural, política e social no Brasil e no mundo.
Carmem Miranda era nosso maior ícone e suas canções animavam Dean Martin e Jerry Lewis em "Morrendo De Medo". Em 2009 será comemorado o ano de centenário de seu nascimento.
Olhar: alegre, vivaz.
Eliana Macedo estrelava 17 filmes só na década de 50 e fez cerca de 26 chanchadas para a Atlântida. Era imitadora de Carmem Miranda e tentou carreira de cantora, tendo ainda participado de novelas da Globo.
Olhar: simples, tênue.
Eliane Lage, com "Sinhá Moça" e "Angela", despontava como a grande diva da Vera Cruz. Desde cedo trabalhou com crianças carentes, ao contrário de muitas das ativistas ligadas à sétima arte, que, por conscientização ou oportunismo, acabam mostrando esta faceta só depois que consolidam a carreira.
Olhar: comportado, sóbrio.
Odete Lara participou de tantos filmes de relevo (como “O Dragão Da Maldade E O Santo Guerreiro”) e foi tão emblemática que, posteriormente, recebeu o prêmio Oscarito, em Gramado, por sua contribuição ao cinema brasileiro, além de ter um filme baseado em sua história: "Lara".
Olhar: misterioso, fugaz.
Tônia Carrero se celebrizou por sua beleza não só nos anos 50 mas por sustentá-la durante toda a vida. Uma das mais consagradas atrizes brasileiras de todos os tempos, tanto no cinema quanto no teatro e na TV.
Olhar: sereno e com um leve toque de melancolia.
Norma Bengell estrelou mais de 30 filmes, entre eles “O Pagador De Promessas”, que nos levou à consagração em Cannes. Foi a primeira atriz brasileira a se expor em nu frontal, no filme “Os Cafajestes”.
Olhar: firme, vigoroso.
Yoná Magalhães comovia como uma sofrida mulher do agreste naquele que é, muito provavelmente, o mais importante filme brasileiro de todos os tempos: “Deus E O Diabo Na Terra Do Sol”. Seu reconhecimento cresceu na teledramaturgia, participando de diversas novelas.
Olhar: amargurado mas forte e resoluto.
Danuza Leão desfilava charme e personalidade marcantes em um antológico filme dirigido por Glauber Rocha: “Terra Em Transe”. Sua elegância e polidez mais tarde a levariam a escrever um livro que é a bula da finesse: “Na sala com Danuza”.
Olhar: altivo, nobre.
Leila Diniz foi nosso mito mais polêmico, morta precocemente em uma carreira marcada tanto pelo talento quanto pela celeuma. A ex-professorinha de subúrbio carioca participou de 14 filmes, quebrou tabus e escandalizou o país com a frase: “transo de manhã, de tarde e de noite”.
Olhar: curioso, feliz, vigoroso.
Eva Wilma fazia John Herbert, Carlos Zara (respectivamente ex e atual marido) e muitos outros brasileiros se encantarem com sua interpretação no cinema e TV. Iniciou carreira como bailarina e chegou ao posto de uma das mais importantes atrizes da TV Globo, interpretando papéis memoráveis, como a da responsável médica que contracenava com Patrícia Pillar no seriado “Mulher”.
Olhar: sensato, seguro.
Vemos que o modelo se repete: mulheres bonitas mas recatadas e com um leve tom de sex appeal. Trajes que condizem com um momento histórico ainda pudico, só que à beira de uma transição abrupta e inesperada. A década de 50 fazia a véspera para os anos mais rebeldes que o comportamento humano já sofreu em toda a sua história. E quem melhor conseguiu representar este período de ebulição não foi a moda, mas sim o cinema e, principalmente, a música.
Surgia o rock’n roll. Elvis Presley despontava como estrela em ascensão. E ele não estava sozinho, vinham a seu lado Bill Halley and his Comets, Fats Domino, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, Little Richard e o astro precocemente falecido Buddy Holly. Já no Brasil, o eco dos primórdios do rock chegaria tardiamente e em forma laxante, com o início da Jovem Guarda, sendo que os principais expoentes eram Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Roni Von e Sergio Reis (sim, o cantor que virou mito sertanejo). Neste caso, o olhar que mais representava as mulheres do período em nosso país era o de Wanderléa, a ternurinha, pseudônimo que, como as próprias divas do cinema neste período, já trazia consigo uma aura de inocência.
Pulando meio século adiante, teremos um cenário bastante contrastante. As musas do cinema atual são inúmeras, mas algumas se destacam pelo contra-ponto que fazem aos anos 50: Angelina Jolie, Cate Blanchett, Catherine Zeta Jones, Charlize Theron, Christina Ricci, Gwyneth Paltrow, Halle Berry, Liv Tyler, Uma Thurman e Nicole Kidman.
Se formos recorrer à moda, veremos que, ao interpretar personagens contemporâneas, as atrizes citadas geralmente fazem uso de figurinos que valorizem suas privilegiadas formas físicas. Estamos na era do consumo (apesar da crise mundial) e elas não deixam de se portar como produtos, vendidos em DVDs, pôsteres e matérias de revistas e periódicos de moda. Ao analisarmos cada uma das beldades ficará mais clara a diferença que estabelecem com as divas do passado.
Angelina Jolie encarna personagens fortes, como em “Tomb Rider”, no papel de Lara Croft, que é famosa no videogame homônimo ao filme. Personalidade fortíssima: em seu primeiro casamento, vestia uma calça preta e uma camiseta branca na qual escreveu o nome de seu amado com o próprio sangue.
Olhar: intenso, devorador.
Cate Blanchett chega a lembrar Lauren Bacall por sua personalidade marcante, só que consegue ser o legítimo estereotipo da mulher atual, sem as máculas de sua versão anos 50. Foi a primeira ganhadora de Oscar a interpretar uma ganhadora de Oscar: Katharine Hepburn em “O Aviador”.
Olhar: de quem sabe muito bem o que está fazendo.
Catherine Zeta Jones é a sexy que, ao contrário de Marilyn Monroe, marca terreno no campo masculino, fazendo papéis de personagem perigosa e letal para o sexo oposto. É casada com Michael Douglas, tentou ser cantora no início da carreira e foi descoberta a partir de um filme fracassado: uma versão para TV de “Titanic”.
Olhar: insinuante mas também formal.
Charlize Theron é a mais destemida atriz de sua geração, capaz de aceitar papéis em que sua figura deslumbrante é totalmente e intencionalmente deformada, como no assustador (e real) “Monster”. Foi descoberta ao fazer escândalo em um banco que não aceitou seu cheque por ser de outro estado.
Olhar: tranquilo e impávido.
Christina Ricci é uma ousada atriz, que (coisa absolutamente impensável nos anos 50) é capaz de interpretar uma lésbica sem qualquer constrangimento público. Sua beleza está fora dos padrões hollywoodianos e começou a carreira muito cedo: em “Minha Mãe É Uma Sereia”, contracenando com Cher.
Olhar: sagaz, destemido.
Gwyneth Paltrow consegue ser romântica e inocente nas telas, sem que fique ofuscada sua personalidade forte – ao contrário de Grace Kelly, que permaneceu a vida toda com a aura de boa moça à espera do príncipe, mesmo com todos os boatos garantindo ser ela uma mulher altamente infiel. É casada com Chris Martin, vocalista da banda Coldplay, com quem tem dois filhos.
Olhar: sereno, pleno.
Halle Berry talvez seja o maior e o melhor contraste, pois é uma estrela negra, algo também pouco imaginável há meio século, quando mulheres de cor eram até mesmo impedidas de votar nos EUA. Foi a primeira negra a ganhar o Oscar de melhor atriz e também a primeira Bond girl negra do cinema.
Olhar: seguro.
Liv Tyler é filha de astro de rock (o vocalista do Aerosmith) e não se afeta com o posto de mito sexual que a cerca. Aliás, seu primeiro papel foi como personagem do clip “Crazy”, da banda de seu pai – por sinal o clip mais querido da audiência americana da MTV em todos os tempos.
Olhar: sensível e decidido.
Nicole Kidman é a típica estrela que não se conforma com o democrático fenômeno da velhice: ao contrário das musas de outrora, ela está mais exuberante a cada novo filme. Tem um Oscar, três Globos de Ouro e um Urso de Prata.
Olhar: sedutor, instigante.
Uma Thurman é a grande musa de Quentin Tarantino. Seu sucesso no cinema era considerado altamente improvável, pois ela era introvertida e chegaram a apontar em seu corpo uma estranha estrutura óssea, com pés e nariz grandes, contudo...
Olhar: constante, inflexível.
As musas nacionais também fazem forte contraste com os anos 50. Elas interpretam personagens fortes, e isso se traduz tanto no figurino quando no jeito de ser, tanto na forma quanto no conteúdo. E é no olhar que essa nova mulher fica mais evidente. Mas por muito pouco que o brilho das nossas musas não acaba sendo eclipsado. O cinema brasileiro viveu anos dificílimos mas foi ressuscitado em um processo que ficou conhecido como “retomada”, o qual deu novo alento a uma arte que chegava a se mostrar em vias de extinção e nosso país. Com a quebra da Embrafilme pelo Governo Collor, uma nuvem negra pairou sobre o cinema nacional. Mas, como diria o Arnaldo Jabor, a sétima arte aqui é como erva daninha que se recusa a fenecer. E nosso jardim ficou muito florido.
Claudia Abreu mostrou sua versatilidade, indo da comédia, em “Ed Mort”, ao drama histórico, em “A Guerra De Canudos”. Seus papéis são quase sempre de mulheres enérgicas e brigonas, o que combina com sua personalidade.
Olhar: sapeca mas firme em seus propósitos.
Giulia Gam abrilhantou produções bem sucedidas, como “Sábado” e “A Grande Arte”, que iniciou a carreira internacional de Walter Salles. Mulher do mundo, nasceu na Itália e tem ascendência dinamarquesa.
Olhar: de mulher moderna, dona de si.
Julia Lemmertz foi uma das mais ativas artistas do período da retomada, participando de mais de uma dezena de filme, entre eles “Jenipapo” e o clássico infanto-juvenil “Lua de Cristal”. Seu papel mais recente foi o da mãe do traficante João Estrela em “Meu Nome Não É Johnny”.
Olhar: de discreto amargor, embora seu comportamento denuncie o oposto.
Patrícia França ficou marcada por papéis fortes, como a Eurídice de “Orfeu” e a fase jovem da protagonista de “Tieta do Agreste”. Mas seu primeiro papel de grande repercussão foi na série “Tereza Batista”.
Olhar: rude e por vezes fatigado.
Patrícia Pillar atuou no concorrente ao Oscar “Quatrilho” e em outros filmes de relevo, como “O Menino Maluquinho”, baseado na obra do cartunista Ziraldo. Venceu um câncer e consegue se superar, quebrando até mesmo seu perfil de mulher bonita e meiga ao incorporar uma supervilã na novela “A Favorita”.
Olhar: mágico, polivalente.
Luana Piovani começou a carreira como modelo da Ford Models e logo sua beleza a levou a trabalhar no Japão. De personalidade forte, diz que não precisa de dinheiro para pousar nua, “portanto não vão ver minha periquita”, afirmou, embora um paparazzo a tenha flagrado sem calcinha em uma festa na qual foi de vestido curto.
Olhar: atraente, magnético.
Leandra Leal foi premiada internacionalmente quando tinha apenas 13 anos de idade, por seu papel em “A Ostra E O Vento”, filmado na Ilha do Mel. Polivalente, interpreta na TV, cinema e teatro, além de também dirigir e produzir.
Olhar: inquieto mas controlado.
Deborah Secco é a atriz precoce que interpretou papéis marcantes no cinema, como em “Meu Tio Matou Um Cara” e “Caramuru, A Invenção Do Brasil”. Mas é muito mais conhecida por seus papéis na TV e suas poses nas páginas da Playboy.
Olhar: pseudo-meigo, sensual.
Grazi Massafera é a humilde capirinha do interior do Paraná que se tornou a mais bem sucedida participante do Big Brother Brasil de todos os tempos. Ainda não decolou para o cinema, mas parece que é questão de tempo.
Olhar: ingênuo, recatado.
Leona Cavali é o raro caso de atriz que desponta no cinema para depois cair nas graças da TV. Pertencente a uma família tradicional (o pai foi duas vezes prefeito), não deixou de cometer audácias na tela, em especial com seu personagem Lígia em “Amarelo Manga”.
Olhar: brilhante, expressivo, claro.
Já conseguiu identificar mentalmente qual a maior femme fatale da atualidade? Enquanto a resposta não vem, deixemos um pouco de lado o cinema e a mulher, para analisar outras esferas do comportamento e manifestações artísticas, bem como seus reflexos sociais, que marcaram este pulo no tempo. Estamos em um mundo muito menos subversivo do que aquele de 50 anos atrás. Na música, o rock é agora apenas um gênero musical, não promovendo mais manifestações sociais como antigamente. E isso vale tanto lá fora quanto aqui. A pegada pungente continua a mesma, pois um Kings of Leon não é tão diferente de um Little Richard, mas a motivação agora é business, enquanto que antigamente havia uma rebeldia natural e legítima.
Mas o reflexo desta transição tão contrastante (ou o motivo) pode ser visto, em especial, nos filmes nacionais que trataram de temas políticos. Em todos eles, temos a figura da mulher lançando olhares emblemáticos sobre sua condição perante o mundo e suas transformações. Segue aqui um breve resumo das principais obras cinematográficas que se tornaram iconcográficas por espelharem o ambiente sócio-político do país em cada década.
* Anos 50 - Sinhá Moça (letargia e alienação da realidade)
Um país ainda no encanto das chanchadas da Atlântida assistindo na tela grande à adaptação do livro de Maria Dezone Pacheco Fernandes. A obra era um tanto escapista, apesar de tocar no assunto da escravatura, mas visava entreter as multidões que davam ao nosso cinema força capaz de oferecer ofensiva à indústria da sétima arte que vinha dos EUA.
* Anos 60 - Deus E O Diabo Na Terra Do Sol (o agreste, a miséria e o Cinema Novo)
Glauber Rocha surgia como nosso grande nome do cinema, trazendo o lema “Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. O movimento do Cinema Novo só encontrou outro à sua altura no mundo naquela década: a Nouvelle Vague francesa, que tinha em Jean Luc Godard seu principal nome. Aqui no Brasil, Glauber escancarava nas telas imagens de miséria explícita, parecendo prever o cerceamento radical de liberdade que viria com o AI5 e os chamados anos de chumbo.
* Anos 70 - Eles Não Usam Black Tie (o operariado vai para as telas)
Gianfracesco Guarnieri e Fernanda Montenegro protagonizam esse marco da rebeldia proletaria. Enfim, a grande massa adquire rosto, personalidade e força nas telas. Paralelamente, nossos compositores da MPB, como Gil, Caetano e Chico, eram perseguidos e censurados, num período negro de nossa história que só conseguiu ser documentado, em sua sensibilidade, através da criatividade de nossos artistas.
* Anos 80 - Pixote (aqueles que não têm voz chegam ao cinema)
Hector Babenco, o diretor argentino radicado no Brasil e que foi responsável por grandes sucessos internacionais (como “Iron Weed” e “Brincando Nos Campos Do Senhor”) apresenta aqui uma história tocante e dramática, que se repete até hoje, dia após dia, em nossas ruas, praças e becos. Um filme tão realista que o protagonista, Fernando Ramos da Silva, de fato se envolveu com a criminalidade e acabou falecendo em decorrência justamente de complicações com o submundo no qual ingressou.
* Anos 90 - Carlota Joaquina (a retomada do cinema)
A diretora Carla Camurati teve a ousadia de realizar um filme de época quando todos afirmavam em uníssono que o cinema brasileiro estava morto. E, embora volte aos anos do Brasil colônia, o filme se mostrava mais contemporâneo do que nunca: o desgaste de nossos líderes, a crise de autoridade, os mandos e desmandos de um país que parece ser regido pela sina do descaso e da incompetência de seus tutores.
* Anos 00 - Cidade De Deus (as câmeras chegam onde a lei não pisa)
O roteirista Braulio Mantovani conseguiu escrever uma obra que é o retrato fiel de um país que não quer se ver. Fernando Meirelles, diretor egresso do cinema publicitário, teve a coragem de investir do próprio bolso em um filme que beira o impecável, justamente exibindo um universo onde a imperfeição é o principal cenário. Definitivamente um marco do cinema brasileiro, talvez comparável a o que o neo-realismo italiano significou na década de 40.
Em 50 anos o mundo mudou muito, e agora, com a ascensão da TV digital e da web, é bem provável que mude mais nos próximos dez anos do que o fez em meio século. E, claro, tudo isso vai se refletir na música, no cinema, na moda, na política e, principalmente, na vida.
Mas voltamos à pergunta feita vários parágrafos atrás: qual a maior femme fatale da atualidade? Pense: a mulher atingiu idêntico ou superior nível de poder e influência social em relação ao homem em quase todas as partes do mundo; avançou em todos os campos do conhecimento e das artes; imprimiu e imprime sua identidade em qualquer área produtiva, mesmo naquelas que antes eram redutos assegurados e incontestáveis do macho típico. Sendo assim, segue a explicação daquela que é definitivamente, e sem chance de errar, a maior femme fatale do mundo atual.
Ela foi descoberta recentemente, mais precisamente no dia 17 de julho. Seu talento foi reconhecido de imediato, tanto que ela foi deslocada às pressas para Nova York, viajando mais de 11 mil quilômetros para um encontro que mudaria sua vida. Chegando lá, vestia um modesto agasalho de moletom e pesava apenas 40 quilos, medida aquém do compatível com seus 1,63 m de altura. Moça de família de classe média alta, passou mais de dez anos estudando em universidades de elite nos Estados Unidos. Filha de um cirurgião e de uma dona de casa, morou também em Manchester na Inglaterra, no Afeganistão e na Zambia. Garota cosmopolita e aplicada, estudou biologia com uma bolsa no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), tendo sido considerada uma aluna excelente. Ela foi, sim, a mulher mais badalada e procurada do mundo por quatro anos, ou seja: antes mesmo de ser descoberta, já causava frisson em todo o planeta, tendo o assédio iniciado na verdade durante a primavera de 2002, quando começaram a surgir os primeiros boatos sobre seus dotes. Nem Madonna nem Hillary Clinton foram tão procuradas quanto ela, nem geraram tanto interesse ou mesmo admiração. Chegou a ser considerada uma Mata Hari contemporânea. Uma Lara Croft do mundo real, só que sem a opulência dos lábios bojudos de Angelina Jolie. É classificada por especialistas como verdadeiro gênio feminino. Embora não faça o gênero Marilyn Monroe, que cantava “Diamonds Are A Girl’s Best Friends”, ela também fez dos brilhantes seus grandes e inseparáveis companheiros. Seus feitos são descritos como espetaculares. Protagonizou dramas marcantes como “O Fantasma de Bragam”, “Fahrem” e “Ordem de Descarte”, embora ainda pouco conhecidos no Brasil.
As pistas não foram suficientes para saber quem é a femme fatale? Então aqui vão mais algumas dicas. Nascida em 2 de março de 1972, ela atende também pelos nomes de Saliha e Fahrem, e é mãe de três filhos. Não ajudou muito? OK, na verdade, esta é uma celebridade que está fora das telas. Ela é a femme fatale por excelência e ao pé da letra. É considerada a mulher mais perigosa do mundo.
Aafia Siddiqui é uma cientista brilhante que foi denunciada por um terrorista da Al Qaeda durante a paranóia investigativa pós-11 de setembro. As suspeitas se confirmaram quando seu cartão de crédito foi usado para encomendar óculos de visão noturna e armaduras em uma loja online de venda de equipamento militar. Passou então a ser investigada pelo FBI, que a acusa de suprir financeiramente a rede terrorista com mais de US$ 19 milhões em diamantes contrabandeados, comprados na Libéria. A paquistanesa passou a ser classificada entre os maiores suspeitos de terrorismo nos EUA. Aliás, os órgãos de inteligência a consideraram tão perigosa que o ex-secretário de Justiça, John Ashcroft, a colocou em sua lista dos "Sete Mais PerigosOS" da organização terrorista Al Qaeda, tendo sido seu paradeiro descoberto na metade do ano em Ghazni, uma capital provincial ao sul de Cabul. Inteligentíssima, obteve PhD em neurociência pela Universidade Brandeis, onde foi considerada uma cientista notável. Acusa o governo americano de tê-la aprisionado e torturado na base militar de Bragam. Mas sua mais grave afirmativa é a de que o serviço secreto dos EUA tentou fazê-la parecer uma terrorista dentro de território afegão para ser morta pelos soldados daquele país, num método comumente conhecido por “Ordem de Descarte”. Há muitas especulações e mistérios orbitando sua história, mas o fato é que uma mulher entre os homens mais perigosos do mundo aponta para uma conclusão inquietante: a de que, infelizmente (e, paradoxalmente, para certo orgulho da classe feminina), o sexo frágil virou letal e rompeu com a última barreira que distinguia a diferença entre os sexos, o talento para a violência estratégica e em larga escala. E isso em uma cultura altamente machista. Uma lástima para a humanidade que vê as mulheres buscando tanto a igualdade de condições que acabam se tornando homens, o que é um retrocesso. Observe os olhos de Aafia e sinta o que eles querem dizer. A mulher fatal não é mais apenas uma distinção cinematográfica. E as armas não são mais batom e rimel.
Olhar: seguro.
Liv Tyler é filha de astro de rock (o vocalista do Aerosmith) e não se afeta com o posto de mito sexual que a cerca. Aliás, seu primeiro papel foi como personagem do clip “Crazy”, da banda de seu pai – por sinal o clip mais querido da audiência americana da MTV em todos os tempos.
Olhar: sensível e decidido.
Nicole Kidman é a típica estrela que não se conforma com o democrático fenômeno da velhice: ao contrário das musas de outrora, ela está mais exuberante a cada novo filme. Tem um Oscar, três Globos de Ouro e um Urso de Prata.
Olhar: sedutor, instigante.
Uma Thurman é a grande musa de Quentin Tarantino. Seu sucesso no cinema era considerado altamente improvável, pois ela era introvertida e chegaram a apontar em seu corpo uma estranha estrutura óssea, com pés e nariz grandes, contudo...
Olhar: constante, inflexível.
As musas nacionais também fazem forte contraste com os anos 50. Elas interpretam personagens fortes, e isso se traduz tanto no figurino quando no jeito de ser, tanto na forma quanto no conteúdo. E é no olhar que essa nova mulher fica mais evidente. Mas por muito pouco que o brilho das nossas musas não acaba sendo eclipsado. O cinema brasileiro viveu anos dificílimos mas foi ressuscitado em um processo que ficou conhecido como “retomada”, o qual deu novo alento a uma arte que chegava a se mostrar em vias de extinção e nosso país. Com a quebra da Embrafilme pelo Governo Collor, uma nuvem negra pairou sobre o cinema nacional. Mas, como diria o Arnaldo Jabor, a sétima arte aqui é como erva daninha que se recusa a fenecer. E nosso jardim ficou muito florido.
Claudia Abreu mostrou sua versatilidade, indo da comédia, em “Ed Mort”, ao drama histórico, em “A Guerra De Canudos”. Seus papéis são quase sempre de mulheres enérgicas e brigonas, o que combina com sua personalidade.
Olhar: sapeca mas firme em seus propósitos.
Giulia Gam abrilhantou produções bem sucedidas, como “Sábado” e “A Grande Arte”, que iniciou a carreira internacional de Walter Salles. Mulher do mundo, nasceu na Itália e tem ascendência dinamarquesa.
Olhar: de mulher moderna, dona de si.
Julia Lemmertz foi uma das mais ativas artistas do período da retomada, participando de mais de uma dezena de filme, entre eles “Jenipapo” e o clássico infanto-juvenil “Lua de Cristal”. Seu papel mais recente foi o da mãe do traficante João Estrela em “Meu Nome Não É Johnny”.
Olhar: de discreto amargor, embora seu comportamento denuncie o oposto.
Patrícia França ficou marcada por papéis fortes, como a Eurídice de “Orfeu” e a fase jovem da protagonista de “Tieta do Agreste”. Mas seu primeiro papel de grande repercussão foi na série “Tereza Batista”.
Olhar: rude e por vezes fatigado.
Patrícia Pillar atuou no concorrente ao Oscar “Quatrilho” e em outros filmes de relevo, como “O Menino Maluquinho”, baseado na obra do cartunista Ziraldo. Venceu um câncer e consegue se superar, quebrando até mesmo seu perfil de mulher bonita e meiga ao incorporar uma supervilã na novela “A Favorita”.
Olhar: mágico, polivalente.
Luana Piovani começou a carreira como modelo da Ford Models e logo sua beleza a levou a trabalhar no Japão. De personalidade forte, diz que não precisa de dinheiro para pousar nua, “portanto não vão ver minha periquita”, afirmou, embora um paparazzo a tenha flagrado sem calcinha em uma festa na qual foi de vestido curto.
Olhar: atraente, magnético.
Leandra Leal foi premiada internacionalmente quando tinha apenas 13 anos de idade, por seu papel em “A Ostra E O Vento”, filmado na Ilha do Mel. Polivalente, interpreta na TV, cinema e teatro, além de também dirigir e produzir.
Olhar: inquieto mas controlado.
Deborah Secco é a atriz precoce que interpretou papéis marcantes no cinema, como em “Meu Tio Matou Um Cara” e “Caramuru, A Invenção Do Brasil”. Mas é muito mais conhecida por seus papéis na TV e suas poses nas páginas da Playboy.
Olhar: pseudo-meigo, sensual.
Grazi Massafera é a humilde capirinha do interior do Paraná que se tornou a mais bem sucedida participante do Big Brother Brasil de todos os tempos. Ainda não decolou para o cinema, mas parece que é questão de tempo.
Olhar: ingênuo, recatado.
Leona Cavali é o raro caso de atriz que desponta no cinema para depois cair nas graças da TV. Pertencente a uma família tradicional (o pai foi duas vezes prefeito), não deixou de cometer audácias na tela, em especial com seu personagem Lígia em “Amarelo Manga”.
Olhar: brilhante, expressivo, claro.
Já conseguiu identificar mentalmente qual a maior femme fatale da atualidade? Enquanto a resposta não vem, deixemos um pouco de lado o cinema e a mulher, para analisar outras esferas do comportamento e manifestações artísticas, bem como seus reflexos sociais, que marcaram este pulo no tempo. Estamos em um mundo muito menos subversivo do que aquele de 50 anos atrás. Na música, o rock é agora apenas um gênero musical, não promovendo mais manifestações sociais como antigamente. E isso vale tanto lá fora quanto aqui. A pegada pungente continua a mesma, pois um Kings of Leon não é tão diferente de um Little Richard, mas a motivação agora é business, enquanto que antigamente havia uma rebeldia natural e legítima.
Mas o reflexo desta transição tão contrastante (ou o motivo) pode ser visto, em especial, nos filmes nacionais que trataram de temas políticos. Em todos eles, temos a figura da mulher lançando olhares emblemáticos sobre sua condição perante o mundo e suas transformações. Segue aqui um breve resumo das principais obras cinematográficas que se tornaram iconcográficas por espelharem o ambiente sócio-político do país em cada década.
* Anos 50 - Sinhá Moça (letargia e alienação da realidade)
Um país ainda no encanto das chanchadas da Atlântida assistindo na tela grande à adaptação do livro de Maria Dezone Pacheco Fernandes. A obra era um tanto escapista, apesar de tocar no assunto da escravatura, mas visava entreter as multidões que davam ao nosso cinema força capaz de oferecer ofensiva à indústria da sétima arte que vinha dos EUA.
* Anos 60 - Deus E O Diabo Na Terra Do Sol (o agreste, a miséria e o Cinema Novo)
Glauber Rocha surgia como nosso grande nome do cinema, trazendo o lema “Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”. O movimento do Cinema Novo só encontrou outro à sua altura no mundo naquela década: a Nouvelle Vague francesa, que tinha em Jean Luc Godard seu principal nome. Aqui no Brasil, Glauber escancarava nas telas imagens de miséria explícita, parecendo prever o cerceamento radical de liberdade que viria com o AI5 e os chamados anos de chumbo.
* Anos 70 - Eles Não Usam Black Tie (o operariado vai para as telas)
Gianfracesco Guarnieri e Fernanda Montenegro protagonizam esse marco da rebeldia proletaria. Enfim, a grande massa adquire rosto, personalidade e força nas telas. Paralelamente, nossos compositores da MPB, como Gil, Caetano e Chico, eram perseguidos e censurados, num período negro de nossa história que só conseguiu ser documentado, em sua sensibilidade, através da criatividade de nossos artistas.
* Anos 80 - Pixote (aqueles que não têm voz chegam ao cinema)
Hector Babenco, o diretor argentino radicado no Brasil e que foi responsável por grandes sucessos internacionais (como “Iron Weed” e “Brincando Nos Campos Do Senhor”) apresenta aqui uma história tocante e dramática, que se repete até hoje, dia após dia, em nossas ruas, praças e becos. Um filme tão realista que o protagonista, Fernando Ramos da Silva, de fato se envolveu com a criminalidade e acabou falecendo em decorrência justamente de complicações com o submundo no qual ingressou.
* Anos 90 - Carlota Joaquina (a retomada do cinema)
A diretora Carla Camurati teve a ousadia de realizar um filme de época quando todos afirmavam em uníssono que o cinema brasileiro estava morto. E, embora volte aos anos do Brasil colônia, o filme se mostrava mais contemporâneo do que nunca: o desgaste de nossos líderes, a crise de autoridade, os mandos e desmandos de um país que parece ser regido pela sina do descaso e da incompetência de seus tutores.
* Anos 00 - Cidade De Deus (as câmeras chegam onde a lei não pisa)
O roteirista Braulio Mantovani conseguiu escrever uma obra que é o retrato fiel de um país que não quer se ver. Fernando Meirelles, diretor egresso do cinema publicitário, teve a coragem de investir do próprio bolso em um filme que beira o impecável, justamente exibindo um universo onde a imperfeição é o principal cenário. Definitivamente um marco do cinema brasileiro, talvez comparável a o que o neo-realismo italiano significou na década de 40.
Em 50 anos o mundo mudou muito, e agora, com a ascensão da TV digital e da web, é bem provável que mude mais nos próximos dez anos do que o fez em meio século. E, claro, tudo isso vai se refletir na música, no cinema, na moda, na política e, principalmente, na vida.
Mas voltamos à pergunta feita vários parágrafos atrás: qual a maior femme fatale da atualidade? Pense: a mulher atingiu idêntico ou superior nível de poder e influência social em relação ao homem em quase todas as partes do mundo; avançou em todos os campos do conhecimento e das artes; imprimiu e imprime sua identidade em qualquer área produtiva, mesmo naquelas que antes eram redutos assegurados e incontestáveis do macho típico. Sendo assim, segue a explicação daquela que é definitivamente, e sem chance de errar, a maior femme fatale do mundo atual.
Ela foi descoberta recentemente, mais precisamente no dia 17 de julho. Seu talento foi reconhecido de imediato, tanto que ela foi deslocada às pressas para Nova York, viajando mais de 11 mil quilômetros para um encontro que mudaria sua vida. Chegando lá, vestia um modesto agasalho de moletom e pesava apenas 40 quilos, medida aquém do compatível com seus 1,63 m de altura. Moça de família de classe média alta, passou mais de dez anos estudando em universidades de elite nos Estados Unidos. Filha de um cirurgião e de uma dona de casa, morou também em Manchester na Inglaterra, no Afeganistão e na Zambia. Garota cosmopolita e aplicada, estudou biologia com uma bolsa no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), tendo sido considerada uma aluna excelente. Ela foi, sim, a mulher mais badalada e procurada do mundo por quatro anos, ou seja: antes mesmo de ser descoberta, já causava frisson em todo o planeta, tendo o assédio iniciado na verdade durante a primavera de 2002, quando começaram a surgir os primeiros boatos sobre seus dotes. Nem Madonna nem Hillary Clinton foram tão procuradas quanto ela, nem geraram tanto interesse ou mesmo admiração. Chegou a ser considerada uma Mata Hari contemporânea. Uma Lara Croft do mundo real, só que sem a opulência dos lábios bojudos de Angelina Jolie. É classificada por especialistas como verdadeiro gênio feminino. Embora não faça o gênero Marilyn Monroe, que cantava “Diamonds Are A Girl’s Best Friends”, ela também fez dos brilhantes seus grandes e inseparáveis companheiros. Seus feitos são descritos como espetaculares. Protagonizou dramas marcantes como “O Fantasma de Bragam”, “Fahrem” e “Ordem de Descarte”, embora ainda pouco conhecidos no Brasil.
As pistas não foram suficientes para saber quem é a femme fatale? Então aqui vão mais algumas dicas. Nascida em 2 de março de 1972, ela atende também pelos nomes de Saliha e Fahrem, e é mãe de três filhos. Não ajudou muito? OK, na verdade, esta é uma celebridade que está fora das telas. Ela é a femme fatale por excelência e ao pé da letra. É considerada a mulher mais perigosa do mundo.
Aafia Siddiqui é uma cientista brilhante que foi denunciada por um terrorista da Al Qaeda durante a paranóia investigativa pós-11 de setembro. As suspeitas se confirmaram quando seu cartão de crédito foi usado para encomendar óculos de visão noturna e armaduras em uma loja online de venda de equipamento militar. Passou então a ser investigada pelo FBI, que a acusa de suprir financeiramente a rede terrorista com mais de US$ 19 milhões em diamantes contrabandeados, comprados na Libéria. A paquistanesa passou a ser classificada entre os maiores suspeitos de terrorismo nos EUA. Aliás, os órgãos de inteligência a consideraram tão perigosa que o ex-secretário de Justiça, John Ashcroft, a colocou em sua lista dos "Sete Mais PerigosOS" da organização terrorista Al Qaeda, tendo sido seu paradeiro descoberto na metade do ano em Ghazni, uma capital provincial ao sul de Cabul. Inteligentíssima, obteve PhD em neurociência pela Universidade Brandeis, onde foi considerada uma cientista notável. Acusa o governo americano de tê-la aprisionado e torturado na base militar de Bragam. Mas sua mais grave afirmativa é a de que o serviço secreto dos EUA tentou fazê-la parecer uma terrorista dentro de território afegão para ser morta pelos soldados daquele país, num método comumente conhecido por “Ordem de Descarte”. Há muitas especulações e mistérios orbitando sua história, mas o fato é que uma mulher entre os homens mais perigosos do mundo aponta para uma conclusão inquietante: a de que, infelizmente (e, paradoxalmente, para certo orgulho da classe feminina), o sexo frágil virou letal e rompeu com a última barreira que distinguia a diferença entre os sexos, o talento para a violência estratégica e em larga escala. E isso em uma cultura altamente machista. Uma lástima para a humanidade que vê as mulheres buscando tanto a igualdade de condições que acabam se tornando homens, o que é um retrocesso. Observe os olhos de Aafia e sinta o que eles querem dizer. A mulher fatal não é mais apenas uma distinção cinematográfica. E as armas não são mais batom e rimel.
Mario Lopes
4 comentários:
SHOW!!!!
Super Mario que inspiração!!!!
Boa semana!!!
bjks Ale
Ale, show é ter você visitando o blog. Obrigado pelas palavras. Quero conversar contigo, garota, saudades. Me chama pelo msn ou eu te chamo.
Beijo, gata superfashion.
Mario
Uau!
Fiquei até sem palavras. Excelente post.
Beijos,
Camila. *
Valeu, Mila. Mas espero que fique com palavras, afinal você também é colunista do blog. hehehe
Beijão.
Mario
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