O filme acaba, ele desliga o DVD player e olha para a esposa esperando aprovação.
- E aí, gostou?
- Que idéia foi essa de me passar um filme de uma mulher que luta contra a balança?
- Nada, eu escolhi o filme porque é uma comédia romântica, não sabia quase nada da história.
- E é filme antigo ainda por cima.
- Você não tinha visto, você nunca tem tempo...
- Disse tudo, eu nunca tenho tempo. Por isso mesmo não posso perder duas horas da minha vida com essas alfinetadas.
- Tá bom, vamos fazer outra coisa então.
- Acho bom, alguma sugestão?
- Vamos sair para jantar.
- Mas você é muito abusado mesmo. Seu sarcasmo não tem limites?
- O que?! Não, querida, você não está entendendo...
- Ah, agora você está subestimando minha capacidade de discernimento!
- Não, eu só quis dizer que está havendo um ruído de comunicação entre nós.
- “Está havendo”? Com que frequência, você pode me dizer?
- Como assim “com que frequência”?
- É que pelo seu tom de voz eu deduzi que você quer dizer que isso é recorrente.
- Você não está entendendo.
- Não me desafie! Não me desafie! Quem não está entendendo é você!
- Eu não estou entendendo o que?
- Há, se você não sabe, não serei eu quem vai dizer, não é mesmo?
- O que?! Olha, vamos fazer algo para relaxar, eu proponho...
- Relaxar?! Você está insinuando que eu estou tensa? Não, não, acho que está sugerindo que eu sou uma desequilibrada.
- Meu bem: mim, amigo.
- Ah, perfeito. Agora vai me tratar como se você fosse o cacique da tribo!
- Não, meu amor, todo mundo sabe que o cacique é você. Lembra que você já deixou claro isso para todos naquele jantar de final de ano aqui em casa?
- Falei mesmo, devia ter noticiado na imprensa. Porque como é que eu vou dar a liderança para um homem que nem ao menos sabe escolher um bom filme para assistirmos juntos?!...
- Isso é subjetivo.
- Tudo é subjetivo, ouviu bem, tudo. Inclusive a felicidade da nossa relação.
- Você não está feliz?
- Responda você!
- Eu?!
- Não me desafie! Não me desafie!
- Não vai chorar agora...
- Você sabe que tenho alergia a essas lentes de contato.
- Claro, sei sim.
- Ah bom. E você sabe que eu só cheguei aonde cheguei porque sou assim, exigente com tudo e com todos. Inclusive com você.
- Principalmente comigo, você quer dizer.
- Ah, vai se rebelar agora? Só porque eu sou mais respeitada que você?
- O que!? Desde quando isso entrou em pauta?
- Desde o momento em que você escolheu um filme para baixar minha auto-estima!
- Mas só porque tem uma cena em que a personagem disse que não poderia comer um manjar?
- Sim. Porque foi uma indireta sua. Diga o que você pensa com sua própria boca, não através de um filminho de quinta.
- Eu quero paz!
- Então vá na ONU, meu filho. Una-se àquele bando de frouxos que só querem saber de paz no mundo como você.
- Vou mesmo! Vou numa assembléia alertar o mundo do risco que corremos com um ser humano assim habitando o planeta.
- Não me desafie! Não me desafie!
- Desculpe, mas eu cansei, você é mesmo uma mandona. É a maior mandona do mundo!
- Sou mesmo! Sou mesmo!
- Então faça bom proveito do seu mundo, sua maluca!
- Se você sair por esta porta, vai haver choro e ranger de dentes em proporções inimagináveis.
- Ah, sim. Passar bem, senhora do apocalipse!
Blam!
Nisso, toca o telefone e ela atende ríspida.
- Que foi?!...
- Sra. Presidente, o líder da liga de países árabes disse que os Estados Unidos não são de nada.
Mario Lopes
2 comentários:
Hilário! Adorei o final.
Beijos!
Obrigado, Cá. Beijos e supersemana.
Mario
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