terça-feira, 9 de junho de 2009

O pulo do pai


Meu pai era um santo. Meu pai não errava e eu só pensava em seguir o exemplo dele. Meu pai era o mais sábio. Meu pai era correto, sério e cuidadoso. Até aquela manhã. Estava subindo no elevador de um consultório com meu pai, mas não era qualquer consultório. Não havia mais ninguém além de nós. Eu estava bem e alegre até entrar no elevador, aquela lata me amedrontava. Mas esse até que era bonitinho, espelho no fundo, paredes metálicas e até um mini ventilador no teto. O sistema com era digital e tinha até um telefone. Com tudo aparentemente aconchegante, e meu pai do lado me passando toda segurança que só os pais tem, o que poderia dar errado?

Passou um, dois, três, quatro...e meu pai começou a ficar inquieto como de costume quando fica muito tempo em espera e começou a batucar com a mão na parede. O sonzinho estava legal até. Mas, a música estava legal demais e olhando para o espelho, ele começou a batucar o pé. Quando estava no décimo andar, quase indo para o décimo terceiro, o meu pai simplesmente “se empolgou” dando um pulo, e até hoje não sei o porquê disso. Aquela figura paterna de pai que dá segurança veio à baixo; e bem para baixo, junto com o elevador que desceu durante uns 3 segundos e parou. Não podia acreditar naquilo! Se fosse alguma criança pulando até podia entender.

A luz piscou, meu pai olhou para os lados e num surto de medo e nervosismo começou a rir e dizer :
- Nossa, o elevador parou!- jamais poderia imaginar uma reação dessas de algum pai.
- Sim parou, mas porque você pulou!- respondi a ele. E ele negava. Mas a verdade é que ele parou depois que meu pai pulou.
Eu não conseguia saber por qual motivo estava mais estarrecida,se era com o elevador parado ou com meu pai. Até tentei brigar com ele mas nem consegui muito. O que teria levado ele à pular?Não conseguia entender. Ele pegou o telefone e ligou para a recepção e foi conversando com os atendentes e,enquanto isso, tudo ia ficando menor. Aquela “lata” parecia mais uma lata de sardinha. Já nem queria saber mais a resposta do motivo de meu pai ter pulado. Tentava achar algum lugar em que viesse oxigênio e ar e tentei pensar que o ventilador pudesse me trazer algum tipo de “sobrevivência”. Ao término na conversa de meu pai, ele me veio dando a notícia bombástica: o homem que concerta o elevador chega daqui “vinte minutinhos”. O quê? Como assim? Porque esse “vinte minutinhos” no diminutivo? Vocês sabem quanto custa vinte minutos para alguém como eu? Não meu pai realmente não tinha essa noção. Lembrei-me do episódio que vivi aos dez anos de idade em que fiquei os “vinte minutinhos” presa na roda gigante e quase me joguei de lá.

Eu aceitaria fácil mesmo se fosse um elevador velho caindo aos pedaços, mas não era o caso. Olhava os quatro cantos do elevador pensando em qual deles iria desmaiar. Mas fui tentando me controlar e respirar e fui conseguindo controlar meu nervosismo e até sorrir para meu pai, o que parecia impossível naquela hora. A única coisa que dizia à ele era: eu to legal . Depois de uns quinze minutos, ouvi ruídos. Meu Deus! Outros seres humanos estavam do outro lado! Nunca gostei tanto dos humanos como naquela hora. Abriu-se uma frestinha e fechou-se. Abriu-se de novo e fechou-se novamente. Toda vez, de frestinha em frestinha, ouvia o mundo lá fora. Até que escutei buzinas, falações, e uma luz “divina” , que como se fosse eminente de um anjo vindo me salvar, apareceu. Olhei pra baixo e vi alguns “brutamontes”, esses que concertam encanamentos dizendo para eu dar um pulinho até o chão, como se naquele momento “um pulinho” não fosse nada. Mas dessa vez eu teria certeza que ia parar no chão. Quando todo mundo terminou de me analisar com aquela cara de curiosidade em ver a cara de alguém depois que fica preso em elevadores , fui ao encontro “da mulher”. A minha psicóloga era o motivo deu estar ali naquele prédio para fazer uma consulta como de costume toda terça-feira contra claustrofobia e outras coisas.

Eu olhei para ela e disse:
- To curada!
-Mas nós não terminamos o tratamento, você ainda tem que aprender a lidar com suas fobias e seus medos - respondeu ela.
-Não precisa mais, acabei de ficar enlatada e até que me sai bem – falei olhando para ela dando tchau, descendo as escadarias, quase rastejando.
Nunca mais precisei ir ao psicólogo. Nenhum psicólogo tem a cura para minha fobia de entrar em elevadores com meu pai.


Bianca Silva

2 comentários:

Anônimo disse...

Isso sim é terapia de choque, Bia. :-)
Beijo.

Mario

Anônimo disse...

Nunca mais eu pulo no elevador...
Pior que tenho essa mania, rsrsrs.


Beijos.

Ariam