Desaforadas

Relacionamento entre pais e filhos é...


Escrevi essa frase e pedi para que algumas pessoas concluíssem:
“O relacionamento entre pais e filhos é...”.
Responderam-me: Legal, importante, ruim, complexo, complicado...
Com isso percebi que o resultado estava diretamente ligado ao contexto de vida de cada um.
Citarei um caso que me chamou atenção:
Meu cliente, Pedro (chamaremos assim), homem culto, inteligente, moderno, de classe média alta, com mais de sessenta anos, viúvo, não fala com a filha do meio, a mais de três de anos. Detalhe, ela mora com ele (junto o genro e a neta).
Quando me contou pela primeira vez que não falava com ela, pareceu-me frio, rigoroso, insensível, cruel... Mas respeitei e não opinei.
Depois, um outro dia, detalhou-me a história... Ele começou a namorar uma mulher muito mais nova que ele, a filha enciumada passou a ofendê-la, até que ele, já irritado com aquilo, começou a revidar dizendo: “Putas são essas suas amigas, meus amigos já falaram...” E começou dar nomes e fatos... Ela perdeu o controle e jogou um tamanco nele, que se defendeu e disse: “E tem mais, você que sai daqui e vai lá dar para aquele vagabundo do seu namorado (hoje marido dela)”. E partir daí começou a baixaria, partiram para agressão física. Ela o arranhou, o empurrou... E ele a derrubou com um tapa. A filha disse que ele não era mais seu pai. E não se falaram mais.
Ele concluiu a história dizendo: “Ela me renegou, tenho apenas duas filhas”... “Se ela morrer amanhã não vou nem no velório.”.
Fique sem energia diante de uma confissão tão agressiva, tão sem amor, sem valores... E passei dias pensando nisso. É contra tudo que acredito. Um pai falar desta forma da filha. Que triste! Que assustador!
Quando soube do tema da semana, contei a ele a minha intenção de escrever sobre o assunto, ele permitiu que eu citasse a sua história e sugeriu que o chamássemos de Pedro. E começou a relatar-me novamente. Porém dessa vez, notei que ele estava magoado, senti tristeza, solidão...
De homem insensível, incapaz de amar, passou a um pai magoado e orgulhoso, aos meus olhos.
E perguntei: “Se ela pedisse desculpas, você a perdoaria...” Ele me respondeu um “CLARO!” com muita empolgação. Voltei a acreditar na humanidade! Percebi que era apenas um Pai ferido. Não justifica qualquer atitude agressiva, no entanto consigo entender, não aceitar.
Fiquei pensando o que a filha pensa sobre o pai, será que ela tem a mesma impressão que tive no início ou consegue perceber sua fragilidade?
Confesso que por um momento pensei em conhecê-la e tentar ajudar de alguma forma, mas não tenho esse direito.
Através desta história lembrei do meu pai, o quão rígido e insensível ele era aos meus olhos. Até que uma única atitude dele surpreendeu-me e marcou-me por toda vida. Percebi que ele me amava incondicionalmente quando o vi chorando. Não queria me ver infeliz - era como eu estava naquele momento. Talvez ele tivesse se sentido impotente diante da situação, pela qual eu passava.
O conflito entre meu pai e eu era de poder. Ele não valorizava as minhas coisas, por conseqüência eu não concordava com as dele, por pirraça ou sei lá... Com o tempo percebi que essas coisas são insignificantes e que fiz papel de tola por um longo tempo.
Minha perspectiva de vida começou a partir do momento em que sai de casa. Porque tive todos os ensinamentos colocados à prova. Percebi que todas as vezes que meus pais me podaram, eles tinham razão. Queriam me proteger. Porém só pude aprender, vivendo cada situação e não ouvindo como seria.
Já fiz muita “CACA”, mas graças à base que me foi dada, voltei e construí tudo de novo.

Sou grata e APAIXONADA por meus queridos MESTRES.
MARIA E JOSÉ.

Relacionamento entre pais e filhos é... REPLETO DE AMOR, ERROS E ACERTOS.
Se eles erram, nós também. É próprio do ser humano.

Beijo Mãe...
Beijo Pai...


Ariam Quejaneli Machado