segunda-feira, 20 de julho de 2009

Semana de tema livre


Hoje é dia de estreia em dose dupla no Desaforadas. Patrícia Ermel mora em São Paulo, mas é cosmopolita por conta de suas experiências como modelo. Também foi bar woman, mergulhadora, dona de restaurante no Japão, atriz e diretora de vídeos independentes. Agora é socióloga e, como se não bastasse, ainda canta e é uma contista/cronista de mão cheia, como bem poderá ser observado nos dois textos abaixo, um para a semana de tema livre e outro referente ao assunto da semana passada (Música para transar). Bem-vinda ao time.


Pirata Invisível


“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Antoine Lavoisier


Vai lá, pega um copo de vinho. Tome a primeira taça... tomou? Tome a segunda... Quando der a tonturinha comece a ler.


Eis que a figura, minha amiga, uma doutora conceituada internacionalmente, estava com uma amiga nas ruas do Rio de Janeiro, zona sul, olhando algumas vitrines quando, de repente, um homem com um embrulho de pano corria em direção a elas. Ele dizia “não é assalto, não tô fugindo da polícia, vendo DVDs...”.


Bem, minha amiga atendia na clínica próxima e indicou para que o homem dos DVDs se escondesse portão adentro. Ficaram os três apertadinhos em um canto. Naquele clima de odores e estranhamento sinissssstro, o homem se apresentou como Bola e, como todo carioca que se preze, começou a descrever a dificuldade de vender os DVDs, a injustiça do preço dos cinemas, a falta de democracia em um país onde o grande exemplo de poder é a corrupção política e tal... e foi por alguns bons minutos.


Quando a poeira baixou, Bola agradeceu e a amiga que estava com a minha amiga, um pouco mais relaxada, para quebrar o gelo, quis conhecer um pouco da mercadoria. “Quanto é a Mulher Invisível?” - sem titubear, Bola, disse generoso: “Pra senhora, faço um precinho camarada: vinte reais.” “Nossa, que caro!” observou a amiga. Mas... como estava sem ter muito o que fazer naquela noite e o filme era nacional, inédito e ainda por cima com o Selton Melo... achou que era uma boa pedida, afinal esse país é injusto mesmo, o que fazer.


Comprou o DVD e foram para casa da amiga da minha amiga. Ela, como boa nutricionista, fez um super risoto de camarão com alho poró, uma bela mousse de maracujá e um fininho só pra fazer a cabeça.


Ligaram a tevê e qual foi a surpresa? faíscas potergaist por uns cinco minutos até que surge o filme já no e meio. Na tela vemos duas bolas pretas, uma à direita e uma à esquerda. Enquanto uma já meio tonta do fininho tentava configurar o controle do DVD para ver se eliminava as bolas, a minha amiga viu que uma se mexeu: “É uma cabeça!!! Eles estão dentro do cinema!!” Bem, estavam mesmo porque uma bunda de calça jeans se levantou no momento seguinte bem de frente para a câmera.


As duas riam de fazer xixi na calça e tentaram assistir ao filme até o fim. O volume era quase inexistente e as cabeças sempre cortadas. A brincadeira era deduzir o que o Selton estava dizendo e concluir o resto. Uma colocava o ouvido na tevê e gritava pra outra enrolar mais fininhos. Depois de alguns, o filme era hilário.

Vamos abaixar o valor dos ingressos, por favor?




Patrícia Ermel

2 comentários:

Anônimo disse...

Mais um texto que merece virar filme.
Parabéns pela estreia, Patrícia.
Beijo.

Mario

Anônimo disse...

legal, curti o texto. parabens