Em uma segunda-feira de manhã, ele se pôs diante de mim. “Eu não consigo mais conviver com esta situação” - disse-me ele com o olhar estendido ao chão. Abaixou sua cabeça escondendo o rosto atrás do capuz. “Eu posso te ajudar em algo?” - perguntei, tentando amenizar a tensão do momento. “Você não entende, não é? Não tem ajuda, somente um milagre, uma cura, que não sei o que é e aonde existe” ele me disse cruelmente.
Uma lágrima caiu lentamente no tapete enquanto seus pensamentos voavam. E ali, abaixando a cabeça para ver a gota que umedecia o pano, entendi o tamanho de seu sofrimento. De repente, seus olhos cor de mel, vivos, como a única coisa mais viva que sua aura, fitaram meus olhos castanhos, tão normais. “Você tem a cura?” - perguntou–me, com algum resquício de esperança que aqueles olhos cor fogo ainda esquentavam. “Ainda não, mas vou tentar achá-la” - disse no meu lapso maior de loucura, prometendo algo que ao menos sabia o que era. E então, todos os dias de manhã, nós dois discutíamos formas de achar a cura que ele tanto precisava. E ela era tão misteriosa para mim que, enquanto falávamos, me desesperava por dentro por não conseguir decifrá-la.
Quando falava o que sentia, sobre seus medos e desesperos, eu os media à medida que ele movia seus gestos pondo a mão na cabeça, no rosto, no peito, na boca e enrugando o olhar. Em uma sexta-feira, pela manhã, o sol batia naquele “nosso” lugar. “Chega, não vamos nos enganar! Não acharemos a cura nunca” - disse ele sem dó nem piedade, nem dele, nem de mim. “Calma, pode haver uma saída” - disse, relutando como numa prece agonizante. Meu coração por dentro se arrastava. Ele fitou com os mesmos olhos daquela segunda-feira. “Se achá-la, promete que irá mostrá-la às pessoas?”- pediu-me singelamente. “Se achá-la, é você quem irá mostrar” - eu disse, segurando suas mãos tão frias, mas que emanavam em meu peito um calor, uma esperança por ele. E então, na segunda-feira, o telefone de meu consultório tocou. Recebi a notícia fatídica: Eduardo se jogara do décimo andar de seu prédio. Uns diziam que ele era somente um louco. Mas ali, naquela sala e naquele momento, jazia uma louca, uma louca apaixonada com a cura que, mesmo que tarde, estava estampada no coração: o amor.
Bianca Silva
5 comentários:
Hmmm... Bia, acho que estou meio devagar, mas sinceramente gostaria de saber qual o motivo da loucura da história. Dá pra revelar ou fica de mistério?...
Beijo, VamB.
Mario
O cara era doente mentalmente e ia todos os dias no consultorio..mas a medica acaba se apaixonando por ele. E no fim, ela descobre que o amava e que esse amor era o que ele estava procurando pra se curar, pra viver melhor.Ou seja, a cura dessa loucura, da loucura dele.
Bia
Hmmm... caiu a ficha, Bia. Só pena ele ter encontrado a eutanásia ao invés da cura, né?
Beijo, VamB.
Mario
curitiba é dura com a depressão, essa época do ano também...
nem sempre a prece chega antes.
amor aos atormentados.
muito sol
e ilha do mel.
bjo
ermel.
Onde entra Curitiba nessa postagem?ilha do mel?
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