A gente sempre tem uma velha história de infância para contar, seja ela boa ou ruim. E eu não esqueço nunca do dia em que brinquei se esconde-esconde e pega-pega ao mesmo tempo, literalmente. Mas não foi tão engraçado. Maquiavélico foi para mim, uma criança, com nove aninhos, que acorda numa manhã calorosa e não sabe o que no final do dia lhe reservava. Franzo até a testa ao relembrar.
Estava no fim da tarde quando conversava com meus amigos e minha irmã na rua, na frente da casa do Baleia (apelido carinhoso do nosso amigo gordinho). Estava sentada com minha irmã de costas para a esquina com uns colegas e o Baleia, de pé virado pra nós, tendo a vista do resto da rua atrás da gente. E ali papeávamos e nunca virávamos da esquina - é claro, se virasse o véio do saco iria nos pegar, como contam estas lendas sujas criadas por mães... como elas são maquiavélicas também! Enfim... e papo ia, papo vinha até que o Baleia arregalou os olhos e disse pra nós:
- As "véias loucas" estão vindo ali atraaaás.
- Ah tá Baleia, sim, elas estão vindo... até aprece, pare de mentir - uma colega disse.
- É sério, olhem - disse Baleia.
E nós na recusa em querermos olhar para trás, crentes que ele estava querendo tirar uma com a gente, Baleia saiu correndo. As "véias loucas"? São duas irmãs que, se duvidar, são as mais velhas do mundo, vivem juntas em uma pequena casa escondida por árvores aqui no conjunto onde até hoje moro. Umas das diversões dos colegas da minha turma era atormentá-las jogando ovos na janela da casa onde moravam. E aí, com pedaço de pau na mão, naquela noite, elas vieram se vingar. Foi uma correia desatada, elas querendo pegar a gente e a gente lutando para se esconder. Um verdadeiro pega-pega e esconde-esconde forçado, que de engraçado não tinha nada na hora. Uns subiam em árvores, outros pulavam nas casas, e eu, passando pela minha, encontrei o portão um pouco aberto e por ali entrei e fechei rapidamente, com medo de, enquanto fechasse o cadeado, mãos enrugadas aparecessem e prendessem as minhas tão inocentes ali. Saí correndo e encontrei meus pais na cozinha. Mal conseguia falar
- Pai, as véia, ajuda - falava querendo respirar.
- O que, que véias? Bianca, cadê sua irmã? - meu pai perguntou um tanto preocupado.
- Pai, as véia louca tão na rua, querendo pegar a gente.
- Véias louca? Vamos ver logo isso, me leva aonde estão todo. - disse ele.
Eu relutei em ir, mas meu pai foi lá na frente ver o que acontecia e eu fui junto, tentando me disfarças atrás de suas pernas enquanto ele andava. Nessas alturas, como contou minha irmã, uns entraram e se esconderam na vendinha, em baixo das cadeiras de espera. Minha irmã entrou na casa de uma amiga pelo portão que estava aberto, indo até a porta da sala da menina. Encontrou o pai dela só de toalha na cintura. Perguntou discretamente, nem notando a toalha branquinha perfeitamente enrolada com um nó bem seguro:
- Tio, a Dani ta ai? - perguntou.
- É, não... ela foi posar na casa de uma amiga... pelo que lembro ela tinha comentado com vocês, não? – indagou ele.
- Puxa, é verdade, que cabeça a minha. - minha irmã disse com medo que, ao sair, se deparasse com as véias.
- Então eu espero ela voltar (risos). - disse ela.
Nesta hora, acho que se todos pudessem fazer um buraco e se esconder nele, fariam fácil. Tá aí um bom lugar para se esconder. Minha irmã caminhou lentamente, como se estivesse indo até a forca, quando viu o portão encostado na parede e ali foi se enfiando (melhor isso que morrer a pauladas). Eu, neste momento, estava embaraçada entre as pernas de meu pai, enquanto ele conversava com as veia.
- É, nós vamos pegá-los. Eles ficam jogando ovo em nossa casa... aquele menino gordinho e aquele outro e bla bla bla. - falavam elas para meu pai.
- Mas veja bem, deixe eles que vou falar com eles, isso nunca mais vai acontecer e as meninas não tem nada a ver com isso. - disse meu pai tentando reduzir o estrago
Depois da tentativa de negociação em vão , elas saíram correndo atrás de alguns amigos. A maioria nessa hora ia saindo de suas tocas e esconderijos. Nossas brincadeiras nunca foram as mesmas. Não por medo delas ou de receber pauladas, mas sim por que naquele momento todo mundo já sabia aonde se esconder e aonde achar. Quer algo mais maquiavélico para uma criança?
- As "véias loucas" estão vindo ali atraaaás.
- Ah tá Baleia, sim, elas estão vindo... até aprece, pare de mentir - uma colega disse.
- É sério, olhem - disse Baleia.
E nós na recusa em querermos olhar para trás, crentes que ele estava querendo tirar uma com a gente, Baleia saiu correndo. As "véias loucas"? São duas irmãs que, se duvidar, são as mais velhas do mundo, vivem juntas em uma pequena casa escondida por árvores aqui no conjunto onde até hoje moro. Umas das diversões dos colegas da minha turma era atormentá-las jogando ovos na janela da casa onde moravam. E aí, com pedaço de pau na mão, naquela noite, elas vieram se vingar. Foi uma correia desatada, elas querendo pegar a gente e a gente lutando para se esconder. Um verdadeiro pega-pega e esconde-esconde forçado, que de engraçado não tinha nada na hora. Uns subiam em árvores, outros pulavam nas casas, e eu, passando pela minha, encontrei o portão um pouco aberto e por ali entrei e fechei rapidamente, com medo de, enquanto fechasse o cadeado, mãos enrugadas aparecessem e prendessem as minhas tão inocentes ali. Saí correndo e encontrei meus pais na cozinha. Mal conseguia falar
- Pai, as véia, ajuda - falava querendo respirar.
- O que, que véias? Bianca, cadê sua irmã? - meu pai perguntou um tanto preocupado.
- Pai, as véia louca tão na rua, querendo pegar a gente.
- Véias louca? Vamos ver logo isso, me leva aonde estão todo. - disse ele.
Eu relutei em ir, mas meu pai foi lá na frente ver o que acontecia e eu fui junto, tentando me disfarças atrás de suas pernas enquanto ele andava. Nessas alturas, como contou minha irmã, uns entraram e se esconderam na vendinha, em baixo das cadeiras de espera. Minha irmã entrou na casa de uma amiga pelo portão que estava aberto, indo até a porta da sala da menina. Encontrou o pai dela só de toalha na cintura. Perguntou discretamente, nem notando a toalha branquinha perfeitamente enrolada com um nó bem seguro:
- Tio, a Dani ta ai? - perguntou.
- É, não... ela foi posar na casa de uma amiga... pelo que lembro ela tinha comentado com vocês, não? – indagou ele.
- Puxa, é verdade, que cabeça a minha. - minha irmã disse com medo que, ao sair, se deparasse com as véias.
- Então eu espero ela voltar (risos). - disse ela.
Nesta hora, acho que se todos pudessem fazer um buraco e se esconder nele, fariam fácil. Tá aí um bom lugar para se esconder. Minha irmã caminhou lentamente, como se estivesse indo até a forca, quando viu o portão encostado na parede e ali foi se enfiando (melhor isso que morrer a pauladas). Eu, neste momento, estava embaraçada entre as pernas de meu pai, enquanto ele conversava com as veia.
- É, nós vamos pegá-los. Eles ficam jogando ovo em nossa casa... aquele menino gordinho e aquele outro e bla bla bla. - falavam elas para meu pai.
- Mas veja bem, deixe eles que vou falar com eles, isso nunca mais vai acontecer e as meninas não tem nada a ver com isso. - disse meu pai tentando reduzir o estrago
Depois da tentativa de negociação em vão , elas saíram correndo atrás de alguns amigos. A maioria nessa hora ia saindo de suas tocas e esconderijos. Nossas brincadeiras nunca foram as mesmas. Não por medo delas ou de receber pauladas, mas sim por que naquele momento todo mundo já sabia aonde se esconder e aonde achar. Quer algo mais maquiavélico para uma criança?
Bianca Silva
5 comentários:
Bia, fiquei curioso pra saber se as véia louca são namoradas do homem do saco. hehe. ;-)
Beijo, VamB.
Mario
O Homem do saco é lenda..nunca vi!As veia loca existem mesmo, so que hoje são mais equilibradas!RS
Beijos
Bia
Bia, que delicia de texto..confesso que dei boas gargalhadas durante a leitura, e depois com o comentário do Mario quanto aos namorados das véias ...Mandou muito bem, parabéns.
Paula
por acaso não tem a véia da lambreta também?...quer dizer que você correu das veias...medrosa!!!
Até hoje vejo s véia loca moram aqui, já são lenda!Tem até tópico para elas na comu do conjunto aonde moro.
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=2856096&tid=2445561746374262512
Eu corri mesmo, como a rua toda!hahaha
Destes amigos alguns estão em outros paises, um foi faze medicina em Cuba, uns tiveram filhos e elas aida lá,intactas!hahaha
Beijos
Bia
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