domingo, 2 de agosto de 2009

Guia para naturistas de primeira viagem



Muita gente acha que ser naturista é a coisa mais simples do mundo, é só tirar a roupa e pronto. Não é bem assim. Não que você precise fazer um curso para ficar sem roupa, mas é recomendável que tome algumas providências, como as que verá abaixo. Elas valem para um passeio em praia de naturismo, aprenda para não passar vergonha.

1) Abuse do bloqueador solar
A grande maioria dos que debutam em praias de naturismo comprovadamente passa mais dor do que vergonha. Isso porque ninguém está acostumado a passar protetor solar nas partes pudentas. O resultado é que o cidadão ou cidadã tem de atravessar toda a semana seguinte dormindo de bunda para cima ou com os seios numa bacia de gelo. Ou ainda com suas vergonhas sopradas pelo ventilador. Portanto, capriche na hora de se bezuntar com esse santo produto, privilegiando as versões com fator de proteção elevado. Só um alerta para os nudistas de primeira viagem: não peça para sua companheira aplicar o bloqueador nas suas partes íntimas, porque a coisa pode esquentar e vocês acabarão sendo expulsos da praia. Ao contrário do que muitos pensam, em praia de naturismo não dá para ficar fazendo festinha, como você verá no próximo tópico.

2) Segure a onda
Há quem pense (muita gente, inclusive) que praia de naturismo é uma tremenda putaria, uma suruba a céu aberto. Se você faz parte deste time, esqueça. É muito mais fácil testemunhar excessos numa praia convencional do que numa de nudismo. Portanto, se você vai com más intenções, é bom mudar os planos. E se não vai por medo das más intenções alheias, é bom rever seus conceitos. Mas, claro, como estes conselhos são para naturistas de primeira viagem, vale o alerta de que é bom controlar a empolgação: caso os ânimos esquentem (normal pra você, debutante, que se sentirá como uma criança no Playcenter pela primeira vez), entre na água com urgência, se o mar estiver gelado não tardará a fazer passar a febre. Se ela não passar, permaneça no mar. Com o nível da água da cintura para cima, obviamente.

3) Cuidado com os bichos da areia
Nos anos 80, quando o fio dental chegou ao auge na adesão das mulheres cariocas, houve um grande número de intervenções médicas ocasionadas devido àquele ser que anda sempre nu: o cachorro. Suas fezes contém o famigerado bicho geográfico, que leva este nome porque percorre o corpo humano desenhando um rastro por baixo da pele que fica bem delineado e visível, parecendo o tracejado de um mapa. Quando o cidadão ou cidadã senta nu em pêlo na areia, o danado do bichinho resolver fazer, digamos, expedições espeleológicas... Portanto, use uma canga ou toalha de praia para forrar a areia, tomando o devido cuidado também com siris e caranguejos, já que esse bichos têm aquelas pinças que é bom nem lembrar das possibilidades de uso.

4) Cuidado com os bichos do mar
Se uma água viva já é capaz de detonar as partes mais expostas da sua pele, imagine o que não pode fazer naquelas que você vive escondendo... Portanto, inspecione bem o estado da água na qual você vai banhar seu corpinho. As recomendações aqui são para naturismo no mar, mas no rio há um alerta especial sobre um peixe intrometido chamado Candiru, que entra na uretra de homens e mulheres. Dizem que, se for para comparar a dor, você preferirá uma água viva.

5) Escolha o esporte certo
Frescobol, para os homens, pode ser muito inconveniente: uma bolada ou raquetada em áreas delicadas renderia um desfecho prematuro de sua tarde no paraíso. O mesmo pode ocorrer em um futebolzinho de areia, a não ser que você corra o tempo todo em posição de quem está na barreira diante de uma cobrança de falta. No vôlei de praia, cuidado com uma cortada mais animada de um jogador adversário... bom, façamos o seguinte: nada de esportes com bola, combinado? Se você for surfar, melhor abrir mão do naturismo e vestir um longjon, caso contrário a parafina pode grudar nas suas partes e causar um belo estrago na hora de pular para ficar em pé na prancha.

6) Não faça piadinhas nem fique reparando em tudo
Naturista de primeira viagem dificilmente consegue se conter e é fácil de ser identificado por justamente dar bandeira olhando tudo ao redor. Fica apontando para os outros, fuxicando e comentando impropérios do tipo “olha o tamanho daquele”, “olha os volumes daquela” e por aí vai. Quem faz isso paga o mico de passar por jacu e ainda corre o risco de levar umas bolachas de algum naturista menos paz-e-amor. Como também de ser apontando e debochado por outro naturista de primeira viagem.

7) Cuidado em operações de salvamento
Fingir que está se afogando só para ter um contato pele a pele com o saradão que se bronzeia na areia, ou correr para salvar aquela cover da Feiticeira só porque ela pisou numa concha, podem ser atitudes de risco. As beldades podem estar acompanhadas, como também é bom lembrar que podem nem ser a fim do sexo oposto, já que praias de naturismo costumam muitas vezes ser reduto gay.

8) Evite câmeras
Vale tanto para você evitar de levá-las quanto para fugir das dos outros. E isso tanto para câmeras fotográficas quanto para as de vídeo. Sua câmera pode ser vista com maus olhos, ainda mais se tiver uma daquelas teleobjetivas com zoom capaz de focalizar um fio de OB escapando a cinco quilômetros de distância. E as câmeras alheias representam inimigo iminente para você, naturista amador, que provavelmente não irá gostar de ser pano de fundo de uma foto que circulará livremente pela Internet.

9) Tenha sempre em mãos um binóculo
Para apreciar peitos e bundas? Não. Para se certificar de que a área está livre de gente que não possa ver você sem roupa, ou de gente que você não possa ver sem roupa, ou ambas as coisas. Alguns frequentadores da praia poderão ficar incomodados, mas dane-se, é melhor discutir com um desconhecido pelado do que com a sua sogra nua, concorda? Eis os tipos de situações de perigo e o que fazer em cada uma delas:
· Alerta vermelho – chefe
o Vista-se e fuja em direção ao lado oposto ou entre no mar e nade até a praia (ou ilha) mais próxima.
· Alerta vermelhíssimo – chefe com esposa
o Peça a alguém que enterre você na areia (use o canudo da água de coco para respirar) e só deixe que o desenterrem quando anoitecer.
· Alerta verde – chefe com amante
o Vá em direção a eles rapidamente, antes que seu chefe possa percebê-lo (use um sombreiro), esbarre “sem querer” nele e cumprimente-o com cara de surpreso (do tipo “chefe, você por aqui!?”) – pronto, sua promoção está garantida.
· Alerta vermelho vivo – sua cara-metade
o Onde já se viu, aquela pessoa tão recatada que você escolheu para dividir seus dias e seu carinho de repente surgindo do nada, pelada, numa praia de naturismo!? O alerta passa para vermelho chacina se ela disse que iria passar a tarde na avó. E passa para alerta cor de burro quando foge se você também inventou uma desculpinha barata para se livrar e vir na praia de nudismo. Enfim, aqui a vermelhidão tem várias nuances: aumenta se sua cara-metade estiver acompanhada, mais ainda se a companhia for uma grande amizade sua, e mais ainda se for mais de uma companhia. Como também diminui se você estiver na praia em companhia de mais alguém, se esse alguém tiver amizade com a sua cara metade, se for mais de um alguém, etc. Provavelmente este é um dos motivos de ser terminantemente proibido entrar em praia de naturismo armado (no sentido literal, obviamente).
· Alerta laranja – amigos ou parentes
o Vai depender do grau de modernice de você e de quem pintar no pedaço. Se for a galera da balada, vão tirar uma com a sua cara e vice-versa. Se forem amizades do sexo oposto, a coisa ficará entre o embaraçoso e o divertido. Se forem parentes próximos, como tios, por exemplo, melhor fugir para evitar constrangimentos na próxima reunião familiar. Se forem parentes distantes (tipo primos de terceiro grau), que se dane, você não deve nada a eles. Mas se forem parentes que você quer distância, como sua sogra, fuja como quem corre do capeta (o que não deixará de ser verdade). Para os homens, se for aquele primo com o qual você rivalizava desde a infância, será a hora da verdade...

10) Cuidado com praias de nudismo facultativo
Geralmente, praias de naturismo ficam localizadas em uma área geográfica confinada, cercada por paredões ou outro tipo de bloqueio natural, justamente para tornar restrito o acesso e a visibilidade. Corretíssimo. Só que isso faz com que você tenha de caminhar um certo trecho até chegar à área dos pelados. E é aí que entra um risco delicado, que pode ser exemplificado através de duas praias de Santa Catarina: a do Pinho, em Balneário Camboriú, e a da Galheta, em Florianópolis. Na Praia do Pinho você pode se desnudar sossegado e caminhar tranquilo, porque lá só vai encontrar gente peladona como você; mas se for na Galheta, fique atento porque é uma praia de nudismo facultativo, sendo que fora de temporada só tem gente vestida de Adão e Eva, mas quando chega o verão vai ter seus quadros de naturistas reduzido a uma meia dúzia de gatos pelados. Ou seja, cuidado para você não ser uma dessas raras pessoas nuas em pêlo no meio de uma multidão de sungados e biquinadas. Pode até correr o risco de você ser a única pessoa sem roupa no recinto. Neste caso, levante as mãos pra cima e grite: “socorro, me assaltaram!”.


Mario Lopes

4 comentários:

Unknown disse...

Bem, se um dia eu deixar de ser encanada com o meu corpo e reunir coragem suficiente pra ir a uma praia naturista, levarei esta cartilha comigo. rs
Beijos.

Anônimo disse...

Ah, Mila. Desencana. rsrs E eu recomendo que você decore a cartilha ao invés de levá-la. Afinal, iria guardá-la em que bolso. hehe
Beijo.

Mario

Unknown disse...

Ah, vou decorando no caminho. rs

... ai, rachei de rir com o "alerta verde". Ah, como eu queria encontrar algum chefe meu nessa situação. hehe
Beijos.

Anônimo disse...

hehe Olha, se um dia a crise bater a porta aqui de casa, vou viver de paparazzo em praia naturista. hahahaha ;-)
Beijo, Mila.

Mario