sábado, 26 de setembro de 2009

De Neanderthal a Lara Croft



Brincar é uma atividade inerente ao ser humano (menos ao grupo dos mal-humorados – soube que não existe consenso na comunidade científica se de fato eles pertencem ao gênero Homo, por isso tomei a liberdade de utilizar a generalização).
E assim é desde os primórdios. Nossos ancestrais pré-históricos brincavam até quando trabalhavam – afinal uma caçada a um mamute, a um bisão ou a um smilodon podia facilmente converter-se num legítimo jogo de pega-pega (e então trocavam-se os papéis: o humano ora era caça, ora caçador).
Como ainda demoraria alguns milênios para que as crianças pudessem divertir-se horas em frente ao seu monitor, o jeito foi apelar para a criatividade. Dessa forma, os ossos da última refeição acabaram virando um jogo que a maior parte das pessoas (as ditas normais, pelo menos) conhece: as “cinco-marias” – a vantagem é que o brinquedo era altamente acessível, podia ser transportado para qualquer lugar e, para desespero das progenitoras, podia ser usado contra a peste do irmão mais novo que insistia na desonrosa tarefa de ganhar sempre. Além das cinco-marias, as bolas de gude, feitas de pedra, ossos ou argila eram sucesso entre as crianças pré-históricas.
A maior parte das mulheres (e alguns homens também) teve como brinquedo preferido, uma boneca. Exercitar o instinto maternal precocemente: cuidar, dar banho, amamentar, levar para passear – a boneca é a nossa primeira filha. Até que inventaram a Barbie, e a boneca virou mulher. E brincar de boneca é tão antigo que as meninas egípcias, há cinco mil anos, já tinham a sua. Ocasionalmente, as perdiam nas tempestades do Saara ou no sarcófago da avó – decerto, na tentativa de promover um encontro de gerações...
Já para os homens, o brinquedo preferido, sem dúvida nenhuma – é a bola. Normalmente, antes mesmo de articular palavra, os instintos masculinos clamam por um jogo de futebol. Alguns homens levam isso tão a sério que mesmo depois de crescidos continuam tão arraigados a esse costume que praticamente permanecem como na infância – sem articular palavra, clamando por futebol.
Há 6500 anos, os chinesinhos jogavam bola feita de crinas de animais e a dos japonesinhos era feita de bambu. Os chineses, como todos sabem, foram muito criativos ao longo da história e assim um dos seus armamentos utilizados para a sinalização virou brinquedo de criança, alguns séculos mais tarde. E, graças a Deus, eu não estou me referindo à pólvora, mas... à pipa.
Que atire o primeiro peão quem nunca jogou “Banco Imobilário” – jogos de tabuleiro fazem sucesso entre a criançada há muito tempo: o mais antigo foi encontrado na Mesopotâmia, e data era 4000 a.C. O xadrez existe na Índia desde o século V. Em tempo: o Banco Imobilário foi criado por um desempregado norte-americano, em 1934 (decerto estava louco para ficar rico, para fugir da falência).
Lembra do pião? Se você não conhece, corra para a Feirinha, que você encontra: não é tão antigo quanto aqueles encontrados na Babilônia, há 3000 a.C, mas tem a mesma função, ficar rodando, rodando, rodando...
Todo mundo quer alcançar o céu... no jogo da amarelinha. Mas na Roma antiga, as crianças pulavam sobre sacos feitos com pele de bode, untados com azeite. (Bom para passar rasteira naquele adversário escorregadio).
Enfim, brincar é saudável e divertido – em todas as idades. Algumas pessoas crescem, amadurecem e envelhecem sem deixar a essência de lado. São aquelas em cujo semblante o sorriso resplandece, espontâneo, luminoso. Brincam com as situações, divertem-se, na medida do possível. Pulam corda, cama elástica, bungee jump. Respiração ofegante, articulações doendo, nada disso importa. Mas também há os que não se permitem peraltices. Trabalho e seriedade. O resto é brincadeira de criança. E você, o que acha?
Independe, se não acha, procure, lembra? Esconde, esconde.... ah, não é do seu tempo... sei, vídeo-game, né? Geração Street Fighter, Tomb Raider e outros joguinhos. Sabe, você deveria perder um pouco do seu tempo e empinar uma pipa, papagaio, pandorga que são a mesmíssima coisa, amarrar um barbante em um carrinho de madeira, andar de carrinho de rolimã, curtir o vento e o tempo, curtir sua infância, pois infância não tem idade, é um estado de espírito... mas se você deixar, ela passa por você sem que se perceba e aí pronto... envelheceu.


Rubia Carneiro

Um comentário:

Anônimo disse...

Bela trajetória essa narrada por você sobre a brincadeira na história da humanidade, Rubia. De fato, acho que a gente já nasce com esse espírito lúdico inquieto querendo apenas um bom motivo pra festa (e, a bem da verdade, o motivo nem precisa ser lá muito bom rs).
Beijo.

Mario