domingo, 13 de dezembro de 2009

Fã, Tiete ou Groupie


Estou pesquisando sobre este assunto faz duas semanas. Motivo? Decidi criar um roteiro sobre uma groupie. Depois de uma tentativa frustrada de tentar transformar em roteiro a história de um amigo, que eu devo ter ouvido umas 50 vezes no mínimo, decidi ‘‘chutar o pau a barraca’’ e mudar para um tema que teve inspiração num certo festival Planeta Terra e o frenesi causado por um sessentão conhecido como um dos seres mais loucos do rock: Iggy Pop.

Era o meu terceiro show do senhor Pop e sua banda Stooges e, como sempre, ele não decepcionou seus fãs, com um show extremamente energético, ou seria melhor dizer violento? Iggy aprecia o perigo e gosta de sentir seus fãs de perto, a ponto de chamá-los para o palco. Mas não é do Iggy e de seus dotes que eu quero falar aqui e sim das suas fãs. Incrivelmente, apesar dos seus 60 e poucos anos, ele consegue atrair fãs ardorosas de apenas 20 anos. Admirável que um artista que faz parte de dez entre dez livros de groupies ainda consiga atrair tantas mulheres.

Eu não sou groupie do Iggy, nunca sonhei em ser, apesar de meus amigos acharem que sim e de eu fazer brincadeiras com o fato. Eu sou uma fã que faz alguns sacrifícios que outros fãs não fariam para ver show dos seus ídolos. Viajei para vários lugares para ver Nine Inch Nails, decidi me jogar em uma semana para ver New Order em Buenos Aires e sacrifiquei minhas finanças por artistas como Bjork e Sonic Youth. Conheci muitas pessoas nestes shows também assim. Fãs do Manchester Army que tinham viajado por 17 locais para ver o mesmo show do New Order, amigos que viajaram por boa parte dos Estados Unidos para ver Nine Inch Nails mais de uma vez e por aí vai. Coleciono algumas destas histórias traçadas em filas de shows. E, pelas definições de pesquisas, estes caros companheiros de momento são apenas fãs. Um pouco mais radicais do que outros, mas fãs.

O que diferencia as tietes e groupies de fãs mais exaltados? O grau de interação desejado e realizado com seus ídolos. E pode parecer surreal, mas algumas groupies desenvolveram até dicas de etiqueta e de como uma groupie atual deve agir. Infelizmente o que era um posto transformado em arte por groupies históricas como Pamela De Barris, virou ação de vulgares strip teasers. É só acompanhar Sharon Osbourne tentando colocar um pouco de classe nas garotas de Brett Michaels, ex-pesadelo da banda Poison e ícone das malditas bandas hair metal, em Rock of Love. VH1 é cultura pop inútil mesmo, mas devo confessar que divertida. E obrigado por trazer esta figura da sua tumba de ostracismo, pois eu duvido que Brett consiga retornar aos tempos áureos e que conseguia traçar a Pamela Anderson.

Voltemos às clássicas groupies que elevaram o status a uma forma de arte dentro do mundo do rock e de outras vertentes musicais. Pamela De Barris é a mais emblemática e histórica figura, não só porque ela atuou no melhor momento do rock, décadas de 60 e 70, como sua fama em saber entreter os astros em turnê se tornou um guia para as novatas. De Jim Morrisson, Jimmy Page a Rod Steward e Sting, Pamela não só virou um ícone das groupies, como também a maior parte do personagem de Kate Hudson em “Quase Famosos” foi baseada na sua vida e em seus romances famosos. Frank Zappa foi o único que utilizou Pamela para uma função diferente – babá de seus filhos. Zappa, apesar de ser um dos mais loucos geniais compositores e artistas do rock e fazer uma homenagem em Crew Slut, música do álbum “Joe’s Garage”, era careta em sua vida pessoal e nunca traiu sua esposa.

Outra groupie famosa, que, eu confesso, só fui conhecer através desta pesquisa, é Margaret Moser. Fundadora do Texas Blondes – nome que na verdade foi dado por John Cale. Margaret já tinha por objetivo ser uma groupie, montou sua própria estratégia e tinha seu manual do que manter (bebidas e drogas) no quarto do hotel para entreter os músicos. Mas o que mais me surpreendeu em sua história, além de um tórrido momento com o bem dotado Iggy Pop, foi a grande diferença entre ela e De Barris. Pamela seria mais a groupie que teve a sorte do acaso, além de reforçar a fama de bobinha. Margaret já era astuta, escolheu a dedo quem seriam seus alvos e era vista pelos artistas como uma pessoa extremamente inteligente. Tanto é que se tornou, anos mais tarde, colunista em um jornal de Austin, Texas. Cometeu apenas um grande erro no mundo das groupies: se apaixonar perdidamente e ter seu coração partido por John Cale.

E o que será do futuro das novas groupies, numa era em que o rock and roll já não conta com o mesmo glamour de eras passadas? Resta a elas perseguir os legendários sessentões? Ou partir para a nova e fraca safra de artistas atuais? Mesmo nos sites de groupies atuais encontramos uma ou outra história interessante para transformar em roteiro, artigos e discussões sociológicas do fenômeno. Se o rock and roll não encontra mais o mesmo glamour, temos groupies de astros do cinema, jogadores de futebol e até mais localizadas e polêmicas, groupies de professores. O que virá depois? Será mito a tal da ‘‘Maria Teclado’’? Festival de Parati que se cuide.

Alguns links interessantes utilizados para a pesquisa do roteiro

Literatura Clandestina - Pamela Des Barris
Margaret Moser
Maria Teclado

Deixo aqui com uma foto curiosa da ‘‘esposa’’ brasileira de Trent Reznor que eu tirei na apresentação deles em 2005. Será que ele sabia que estava casado?






Daniela M. Braga

4 comentários:

Karime disse...

Dani! Sabe que nunca me imaginei sendo groupie de nenhum dos meus ídolos ? Mas teu post me fez lembrar que Mark Knopfler do Dire Straits e aquela voz de beira de cama dele, me deixavam com as pernas bambas. Tenho vinis e K7 (putz, to velha) deles.
Beijão

Anônimo disse...

Boa - tarde !
Parabéns pelo artigo !
Este texto me fez lembrar da música que sempre canto , quando a hipoglicemia me ataca , debaixo do chuveiro :
"- Candy , candy , candy...
I love you , soon ... "
Do cantor Iggy Pop .
Com carinho ,
Luciana do Rocio .

Anônimo disse...

Dani, tem ainda um outro conceito: entournage, que são as acompanhantes de viagem, cujas despesas são previamente previstas no orçamento da turnê (com alimentação, hospedagem, transporte, etc, como se fosse um músico ou roadie da banda). Daí vale tudo: amiga, prima, irmã ou, claro, as figurinhas que você citou no texto.
Muito esclarecedor o post, eu sinceramente nunca me liguei nessas diferenças, e colocava tudo num mesmo balaio.
Beijo.

Mario

absolutsubzero disse...

Oi Ka. Eu já me imaginei, mas isso foi aos 16 anos e uma queda pelo Perry Farrel do Jane's Addiction. Viva a aborrecência. Mas depois eu cresci, virei fã de outras bandas bem mais pesadas e não dá nem para imaginar sendo groupie deles. Aliás não dá para imaginar sendo groupie, por isso fiquei curiosa para saber o que elas pensam da vida.

Uma voz que ainda me deixa bamba das pernas é a do Peter Murphy - Bauhaus.

Oi Lu, obrigada. Candy virou um hino de amor para muita gente e não tenho idéia porque, pois a letra é um tanto contraditória.

Mario, entourage vale até fãs que acabam trabalhando para banda. Eles começam a ir em um show, depois outro, seguem as bandas por diversas cidades e ''ganham'' na loteria da sorte o patrocínio para seguir a banda pelo mundo. Eu não acho que os caras de Manchester, que eu conheci, tivessem grana para seguir o New Order por 17 países diferentes.

Ah também tem o seriado Entourage que é muito engraçado, sobre um astro de Hollywood e seus companheiros de balada. Dizem as más línguas que foi baseado em astros reais que praticamente bancam estes amigos. Ao que parece, para os famosos, amizade tem preço sim.

Beijos a todos