sábado, 5 de dezembro de 2009

Surra De Amor Não Dói



Acordo. Abro os olhos como de costume, me espreguiço na cama. Um, dois, três estalos. Dores por todo o corpo. Alguém pode me explicar o que eu estou sentindo? Confusão mental. Algo diferente no ar. Terá sido um sonho ou um pesadelo? Quem sou eu? Disso ainda me lembro: Rodrigo, 26 anos, universitário, boêmio... e charmoso. Meu quarto está diferente: mais cores... mais luzes. Nem parece meu quarto, parece que um furacão passou por aqui. O frescor da manhã arrepia meu corpo e faz as dores quase desaparecerem. Pareço flutuar entre os lençóis. Será que adoeci e mal percebo minha condição?
Que sensações serão essas? Não obstante, pareço estar leve como uma pluma, os batimentos descompassados, uma vontade súbita e engraçada de rir. Ergo-me, de um sobressalto, quero sair correndo, ir pra rua, nu mesmo, cantar, dizer "olá" ao mundo, abraçar as pessoas, rodopiá-las, mudar o mundo... O que está acontecendo? Será que enlouqueci?
Retenho meus pensamentos tentando lembrar do dia anterior, e a única coisa de que me recordo é de um livro, sim um volume muito interessante que adquiri na livraria: o Kama Sutra. Avistei-o em uma das prateleiras. Enquanto folheava-o, divertia-me com as gravuras. Uma moça parou ao meu lado e pareceu interessar-se também pelo tema sexologia. Uma linda morena, cabelos desalinhados negros e compridos, decote ousado. Usava um vestido longo de seda, em tons de amarelo esverdeado, colado no lindo corpo escultural. Lembrou-me uma dessas atrizes de filme pornô, mas ponderei meus olhares. Pensei: "uma mulher muito atraente, com um perfume inebriante, deve esconder segredos insondáveis". Começamos a conversar sobre o livro, e pelo que pude perceber era um de seus livros de cabeceira. Ela me deixou a par de vários trechos e temas, por sinal muito interessantes. O que me chamou mais a atenção foi um dos temas sobre Pancadas de Amor.
O Kama Sutra descreve alguns rituais usados por parceiros para aumentar o prazer durante o ato sexual. Chega a ser hilário, mas os espancamentos podem aumentar e muito a excitação antes e durante a relação. Alguns tipos de pancadas são executados com as costas das mãos, com os dedos levemente contraídos, com os punhos e com as palmas das mãos. As pancadas são mais eficazes nos ombros, na cabeça, entre os seios e nas costas.
Imaginei os casais modernos da atualidade tendo esse tipo de comportamento. Provavelmente as mulheres seriam rejeitadas e os amantes seriam alvo de piadas. Quem aprecia a violência ritualizada é estigmatizado em nossa sociedade. Mas, os dependentes deste vício diriam que uma “pancadinha” com a palma da mão não doeria, mas proporcionaria uma excitante sensação de formigamento, e que se você recebesse pancadas suficientes, seu corpo ficaria muito mais excitado. O ato agressivo poderia ser provocante para despertar emoções e irritar as pessoas a ponto de iniciarem uma “briguinha”. Isso aumentaria os seus níveis de adrenalina e também o prazer.
Confesso que comecei a rir zombeteiramente, imaginando as cenas, mas fiquei sem jeito ao ver aqueles lindos olhos castanhos me encarando fixamente, sérios, enigmáticos, poderosos. Ainda lembro de ela ter pedido uma carona até sua casa, mas depois disso as imagens se confundem em minha mente. Mas de certa forma, posso deduzir o que me ocorreu até o presente momento. Então as lembranças vão reaparecendo, como flashes incontroláveis, deliciosos, empolgantes. Dor e prazer. Essas palavras definem definitivamente minha noite.
Sinto o sol entrando pela janela, aquecendo meu corpo e anestesiando-o, mas que sensação...




Elaine Souza

Um comentário:

Anônimo disse...

Elaine, esse post merece continuidade, só que daí revelando mais detalhadamente as tais técnicas. hehehe
Beijo.

Mario