Soco Emocional
Que fosse entre tapas e beijos ou tapinhas indolores.
O amor de Teresa ultrapassava as barreiras do imaginável. Se, de início, fora conquistada e amava-o mais do que a si própria, passou a ser consumida por aquele fogo que ardia dentro de si, e, mais ainda, do seu companheiro, Roberto.
Ardia feito chama, invisível mas presente, e ela, de início, derretia-se como cera em vela. Apaixonava-se loucamente por seu dito docinho de coco e honrava-se em ser o seu doce de leite. Todas as noites sonhava com o príncipe encantado que após algumas centenas de beijos, perderia seu encanto para transformar-se em sapo.
Bom seria se o desenrolar e desfecho dessa história fosse tão clichê e meloso quanto o seu início, com Roberto simplesmente a trocando por outra, Teresa deixando-o para mudar de país devido a uma promoção no emprego, ou até mesmo pela desaprovação das famílias. Porém, deu-se o início do fim não por motivos inerentes a ela ou a qualquer uma das duas famílias, e sim por única e exclusiva culpa dele, Roberto, o grande vilão.
Se, de início, Roberto fingia ser o herói, enganando Teresa, a mocinha, e mais umas dezenas de telespectadores que a tudo assistiam de camarote e pipoca na mão, no fim, mostrou-se o carrasco da história. O fato é que a sua mudança repentina não era apenas sua culpa, mas de uma série de atitudes de Teresa que lhe davam certa liberdade para fazer o que quisesse.
A primeira vez que Roberto chateou-se quando Teresa disse que ia sair, ela acatou seu pedido de cabeça baixa e deixou-se estar em casa, ao lado de seu companheiro. Na terceira vez, ele irritou-se, alegando que não havia motivos para ela querer sair a sós com suas amigas, e Teresa novamente não saiu. Nas outras vezes, as coisas mantiveram-se iguais, com ele reclamando, e ela acatando. Porém, ao conversar com uma amiga próxima e contar a ela sua situação, Teresa achou que estava na hora de mudar, pois não estava contente com a relação e, para sua surpresa, a reação de Roberto foi melhor do que o esperado. Agiu como um cavalheiro, pedindo desculpas por suas atitudes e dizendo que não sabia o quanto a estava magoando.
Contente, ela tentou voltar a sua vida normal e sair com tranquilidade, mas as coisas não eram bem como ela imaginava que seriam. Roberto ligava para ela de meia em meia hora, sempre com um tom de voz irritado e arisco, dizendo que ela estava acompanhada de outro homem e ameaçava terminar caso ela não chegasse no horário estipulado. Teresa, inocente que era, chegava quase a acreditar que ele estava certo, afinal era sua namorada e devia-lhe obediência, da mesma forma que ele sempre atendia aos seus pedidos. Pois é, ela nunca pedia nada.
O ciúme só aumentava e as conversas tornavam-se cada vez mais escassas, mas, para Roberto, a relação ia de vento em popa. Enquanto isso, Teresa sonhava com aquele homem que conhecera e que fora se transformando em outra pessoa. Quanto mais o conhecia, mais desconhecido ele se tornava.
O ciúme era tanto que ela sentia que estava sendo totalmente manipulada, e perdera sua personalidade, afinal não estava contente, mas era incapaz de fazer algo para mudar sua situação. Teresa se questionava sobre os sentimentos de Roberto e concluía que, devido a suas atitudes, aquilo estava menos para amor do que para possessão.
Ela sofria, mas não conseguia largá-lo, e a loucura de Roberto ficava cada vez mais insana. Antes fosse uma dor física, da qual poderia curar-se com mais facilidade, mas era a dor psíquica que a sufocava e a consumia infindavelmente. Queria livrar-se dessa vida, mas era incapaz de qualquer coisa.
As brigas constantes levavam vagarosamente à separação, mas ainda faltava uma atitude definitiva. Teresa sabia que precisava dar um basta em tudo, pois não era apenas vítima de Roberto, mas de sua própria covardia. Sem querer, ela criou uma armadilha, e já não sabia mais como escapar dela.
Mas, aos poucos, ela foi acordando para vida e sentindo que o que antes era doce, hoje já estava mais do que azedo. Percebeu que talvez preferisse ter levado uma surra de Roberto e ter deixado-o de uma vez, do que ter aguentado toda a opressão e ainda sentir-se culpada.
Teresa, depois de saborear a delícia de um manjar dos deuses e o amargo de um pão que o diabo amassou, percebeu que doce de leite e doce de coco definitivamente não combinam, mas continuou ruminando os fiapos daquele amor bandido.
Letícia Mueller
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
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4 comentários:
Letícia, pode ter certeza: tem muito homem que também sabe exatamente o que a Tereza sentiu. rs
Beijo, Fofulety.
Mario
Já este filme em algum lugar...não passou no Telecine Premium semana passada?
Sorte que Teresa não descobriu que na verdade, o ciúme exagerado de Roberto é exatamente porque ele faz as coisas que acusa ela de fazer.
Le, adoro teus textos! Bjos
Não duvido disso.
hausha
Beijos
Ka, não sei se passou no Telecine Premium, mas, acredite, vi um episódio extremamente parecido na semana passada.
Beijo.
Mario
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