O Cão E O Gato
Você gosta mais do cão ou do gato? Se fosse para escolher entre os dois bichinhos qual te traria mais benesses? Sim, tem que ter um retorno, já que provavelmente a única contribuição com as despesas da casa será a de aumentá-las, ao menos é esperado que surja um tipo de satisfação.
Ah, mas tem o lance do sentimento e quando você se apega, o que poderia ser calculado praticamente se perde. E, levando em consideração que cão é fiel e que gato não tem dono, eu pergunto de novo: com qual você consegue conviver?
Se agradar pode levar uma lambida bem molhada... ou uma arranhada, o que te apetece mais? Pode ser derrubado de quatro ou ser surpreendido com uma carícia nas pernas. O bruto e indefensável, o levemente imprevisível. Um banho de mangueira ou de língua, o calor dos pêlos, a leveza no movimento. Qual deles?
Se tudo o que você quer é ausência de relação escolha o gato. Terá prazer com suas caras e bocas, seu jeito indomável, sua característica em aparecer e desaparecer do nada, seu mistério e sua agressividade. É o prazer do domínio em forma de bicho. Ele fará questão de se meter entre suas coxas pra te pedir comida, mas sairá à caça assim que der na veneta. Ele se enrolará nas suas pernas cada vez que sentir que você pode lhe dar mais... mas, ao tentar pegá-lo, ele vai escorregar e procurar uma janela à luz da Lua pra pular. O gato é um bicho intenso, seguro e meticuloso. Você viverá uma relação doentia, porque vai ter mesmo de volta o olhar com desprezo e a expressão de autonomia. E, ainda assim, você irá amar seu bichinho... porque é com ele que você se identifica. Você apanha e diz: bate que eu gamo.
Quem costuma escolher cães, pensa em satisfação garantida. Eu te dou e você me dá. Vai até onde você mandar, mas vai querer sua recompensa. Muito fiel, não vai te abandonar depois que tiver seus pequenos caprichos atendidos. Será seu parceiro para tudo, terá sintonia com o mínimo movimento que você fizer, saberá quando está agradando e quando precisa melhorar. Ele vai te trazer a sensação de complexão, e você vai se apegar a ele. Vai amá-lo ainda que ele seja meio guapeca e que goste de sair para a rua de vez em quando, porque você sabe que quando ele tiver fome, vai voltar e esperar que você o sirva... porque só você, a “dona” (ou o dono) sabe fazer o que ele gosta. O cão é um bicho sociável, político e carinhoso. Você viverá uma relação de interdependência e provavelmente terá que se acostumar com isso. E, ainda assim, você irá amar seu bichinho... porque é com ele que você se identifica. Você apanha e diz: o amor me basta.
A mim, fica a dúvida sobre que bichinho eu escolheria... acho que, no fim das contas, é você que sai para procurar mas quem acaba achando é mesmo o sortudo que é adotado. Não sei quem é melhor, mas sei que não existe perfeição. Já tive gato e já tive cão. Se se apegar, apanha mesmo, e é daquelas sovas profissionais, que doem mas não deixam marca externa.
Gostoso mesmo é quando você experimenta o prazer das diferenças e aprende com elas. Na dúvida tenha o cão e tenha o gato, aprenda a lidar com sua liberdade, aprecie sua individualidade, se dedique mas não se vincule. Alimente na medida certa, o leve ao sol, ao parque e também ao veterinário. Você irá amar o seu bichinho... porque é com ele que você se identifica. Mas você o faz se identificar com você também. Você apanha e diz: minha vez...
Para pensar: três visões masculinas sobre a “surra de amor”:
- Primeira visão: é masoquismo... porrada pura e um pouco de sado também... não há amor de verdade, e sim humilhação... é psiquiátrico, é falta de respeito;
- Segunda visão: amor não tem que ser bilateral, é autônomo e incondicional. Se você ama, sai ganhando com isso.
- Terceira visão: é preciso pensar, não há opinião formada sobre isso.
Angelica Carvalho
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
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5 comentários:
Angel! Adorei, adorei...Tenho 3 cães. Um basset que é manhoso e geme quando ligo o computador, pede prá passear, sabe quando são 16h no domingo, rouba comida, come papel higiênico sujo, Bombril com sapólio, celular...um vira-lata adotado, que é ranzinza e neurótico, corre atrás do rabinho e morde as perninhas quando está nervoso, ama meu basset e odeia meu boxer. Este último também adotado quando estava morrendo, tem complexo de pincher, sem noção do tamanho, pede colo, defende a casa, é louco por crianças e é possessivo. Os três são minha alegria e retribuem meu carinho e meus cuidados, incondicionalmente. Depois deles, ri mais, chorei mais, me diverti mais, fiz mais amigos, me tornei uma pessoa mais sensível a tudo. Para ir a Curitiba ver vocês, minha primeira preocupação foi ter alguém para cuidar deles. Exagero ? Bobagem ? Pode ser...Mas eles não abandonam filhos no rio, não matam para roubar um par de tênis, não mentem, não traem, não são interesseiros...ops...são sim...meu basset adora pãozinho e só me atende quando ganha um.
Quanto ao cara que precisa pensar mais sobre “surra de amor” porque não tem opinião formada....bem... o que tu esperava ? hahahaha Sorry, Mario. Gostei da opinião do segundo.Bjo
A Ka disse que a maior dificuldade de ela vir pro Encontro de Desaforadas aqui em Curitiba estava em deixar seus três cãezinho, mas ela já encontrou um método de enfiá-los na mala. hehe
Ange, você sabe que eu tenho uma predileção indisfarçável por gatos (não que sejam melhores ou piores que cães, essa competição "funcional" é típica de bichos humanos como nós, que gostamos de ver utilidade em tudo, como se fossemos criados para ser servidos), e gostei muito da busca por isonomia no trato e apresentação dos dois tipos de pets. Mas vou ter de discordar em um único porém crucial ponto: "Se tudo o que você quer é ausência de relação escolha o gato". Isso é uma inverdade, é justamente o contrário, minha relação com gatos é tão forte que chega a ser quase telepática. Quando os vejo aqui no meu condomínio vou até eles para dar comida e afago. Quando eu viajo e vejo um bichano, é como se tivesse encontrado um parente. Eu me recordo que na Europa não conseguia reconhecer os brasileiros (uma vez até tentei entabular conversa em inglês com uma garota pensando que era turista de outro país mas era brasileira), porém, cada vez que via um gato, puxa, que felicidade. Lógico que eles não me "reconheciam", mas em pouco tempo já estavam no meu colo e conversávamos como amigos de tempos. Há lendas que alguns povos dão como certas de que pessoas evoluídas viram gatos depois que morrem, e conheço filmes maravilhosos que tratam do assunto ("Vanilla Sky" e "Betty Blue" tratam do tema); como também há a crença de que escritores se tornam gatos na próxima vida. Não sei se é ou não verdade, mas depois que eu morrer, por via das dúvidas, tratem bem todo gatinho que vocês verem pela rua, OK? Ah, e você, Ange, como Desaforada, e também todas vocês, meninas escritoras de coluna semanal neste blog, preparem-se porque pode ser que tenham bigode quando partirem dessa para melhor. :-)
Beijo, Ange.
Mario
Gatos não tem dono, são indomáveis por natureza. Ponto. rsrs. Mas respeito seu ponto de vista, até porque concordo que gatos são mais atraentes justamente por isso.
Com certeza serei gata, em outra vida... por enquanto, "gata garota", amante das enroscadas nas pernas e lambidas pelo corpo... ;-)
beijos
Angelica
Há muitos mitos relacionados a gatos. Um deles é que o gato se apega ao lugar e não ao dono. Não sei se isso aplica há algum gato, mas minha vastas experiência em gatos diz que mitos sobre não se apegar ao dono, não ser um bicho carinhoso e companheiro são besteiras.
8 entre 10 dos meus amigos tem gato. E todos eles são super amorosos com seus donos. Eu já fui babá de 4 gatos. por 2 anos, de um amigo e era impressionante como eles ficavam carente com o dono fora. Acabava ficando mais tempo do que devia para dar carinho, atenção e brincar um pouco com eles, além de dar comida e trocar areia.
Eu tive esta experiência também ao viajar. Mesmo vindo meu vizinho dar uma olhada e brincar com os meus bichanos, o mais velho se recusava a comer enquanto eu estava fora. Toda vez que viajo fico neurótica e preocupada com eles, mas infelizmente tenho que acostumá-los com algum momento de separação.
Os meus gatos são super manhosos. São SRD e definitivamente foram eles que me escolheram como dona, pois do jeito que são carinhosos comigo. Eu fico doente eles não saem do meu lado, eu chego em casa e parece a cena do Dino quando recebe o Fred Flinstone em casa. Os tapas que recebo são do meu mais velho, Iggy, que 6 da manhã tem mania de colocar a pata na minha cara para eu acordar.
Ano passado dois de meus amigos perderam seus gatos e eles juram que estes gatos foram super companheiros nos momentos mais difíceis da vida deles.
Algumas coisas eu não sabia e achei legal Mario. Fantástico os escritores reencarnarem em gatos. Eu definitivamente quero ser gato.
Sou louca por gatos e se pudesse pegava todos os que encontro na rua. Infelizmente não tenho um apartamento que comporte todos eles.
Beijos Angelica
Daniela
bem, pessoal... sou super suspeita pra falar do assunto, pois sempre tive cão em casa e sou super alérgica a pelo de gato, razão pela qual mantenho certa distancia destes bichanos....mas uma vez escutei uma estoria na Igreja que frequento, sobre a relaçao das pessoas com Deus, usando o cão e o gato para isso... Então, é mais ou menos assim: o gato recebe amor, carinho, comida, abrigo e toda dedicaçaõ do seu dono que se sente tão importante que pensa " da forma como ele me trata e me venera só deve ser porque EU sou Deus" enquanto que o cão, recebe todas as mesmas coisas e olha para seu dono com tanta admiração e só consegue pensar " Ele me dá tudo que preciso,me ama e cuida de mim então ELE só pode ser Deus".....Acho que é bem por aí, cansei de ver gatos super ingratos virando as costas para seus donos quando bem entendiam, e cães super fieis acompanhando e cuidando de seus donos ( por exemplo minha cachorra rosnando pra quem tentasse chegar perto da minha mae quando ela teve crise renal)...
Os gatos que me desculpem, mas meu voto para " o melhor amigo do homem ( e da mulher) vai continuar sendo para os cães.
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