Quem disse que uma tarde de domingo no museu deve obrigatoriamente ser entediante? Só diz isso, quem ainda não visitou o museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e não teve o prazer de conhecer e apreciar o trabalho de Vik Muniz, artista brasileiro com grande visibilidade e reconhecimento no exterior. Vik expressa sua arte através da composição de imagens criadas através de materiais inusitados como lixo, diamantes, chocolate, açúcar e outros tantos impossíveis de se imaginar. E foi apreciando estupefatos a obra e a originalidade de Vik, que três amigos passaram uma tarde totalmente irreverente e imprevisível, no famoso Museu do Olho. Concentrados na exposição de fotografias e demais obras dos artistas, eles passeavam pelo local, divertindo-se, rindo, trocando idéias.
De repente, ao passarem pelo corredor que liga um andar ao outro, ouvem um som estranho de uma campainha tocando e uma pessoa gritando: havia alguém preso dentro do elevador. A mulher pediu ajuda, dizendo que era hipertensa e estava nervosa. Mario saiu em busca de socorro para ela, enquanto Angelica e Karime ficaram do lado de fora do elevador, acalmando-a. Após alguns minutos, surge um guarda do museu, que se acreditou ser a pessoa que poderia tirar a mulher de dentro do elevador. O sujeito aproxima-se e tenta abrir a porta do elevador com as mãos. Obviamente que, se fosse possível abrir a porta com as mãos, a mulher não teria ficado trancada. Não bastasse a atitude brilhante, ele diz: "Fica calma, que estamos buscando ajuda”. As amigas entreolharam-se: "Mas isso nós já fizemos”. E o guarda segue, perguntando: "Quem está aí?", A mulher, desesperada, responde seu nome, como se fosse a palavra mágica para fazer a porta abrir. Angelica afasta-se, em silêncio, e sobe as escadas para o andar superior do museu. Karime, chama pela amiga, preocupada em ficar sozinha ali, sem ação diante da situação: "Angel, espera...". Mas Angelica não atendeu ao pedido de Karime e... sumiu. Neste exato momento, Mario retorna, informando que já havia avisado os guardas do museu e que iam trazer ajuda. Karime lia um catálogo das obras expostas encostada na parede da escada, quando ouve uma voz longínqua, suave, chamando por seu nome: "Kaaaa...Kaaa!" Olha para cima, vê Angelica no topo da escada, e resolve ir ao encontro da amiga. "Angel, tu sumiu!", Angelica não conteve a ira e mostrou o quão é intolerante à obviedade das coisas e situações: "Meu, que importância tem saber o nome da mulher que está dentro do elevador? Guarda burro, cara... se é comigo, eu já digo: 'é a tua mãe! Abre aqui que te mostro quem tá aqui dentro!'. E chuto a porta com o pé". Quem conhece Angelica não imagina que a moça, de feições e gestos delicados, atitude descolada, pode ser dona de personalidade tão forte. Karime não consegue conter-se e cai na risada. Ri muito, até chorar. Mario, que recém tinha chegado, depois de procurar ajuda e conversar com o guarda, não entende nada.
Karime acorda assustada, com o coração acelerado e suando frio. Só conseguia lembrar-se dos gritos horrendos da mulher presa no elevador. Imaginou-se naquela situação, claustrofóbica. Então, acalmou-se, lembrando da parte engraçada, onde Angelica blasfemava contra o infeliz do vigilante. Olhou para os lados e estava no banco de trás do carro. Angelica coloca a cabeça entre os bancos e grita, rindo muito: "Oi Kaaaa... até que enfim acordou hein? Ta tão cansada assim da viagem?".
Mário, solta das suas: "Tá te fazendo né, gaúcha?", E riem, enquanto Karime não entende muito bem o que está se passando.
Ao olhar para o lado percebe que estão chegando ao Museu. Um lugar imenso, construído sob um forte pilar central. Sua forma de olho inspira em Karime certa repulsa, que não sabe explicar. O dia estava ensolarado até aquele momento, mas quando desceram do carro, a cidade foi tomada por uma forte ventania. As folhas voavam, as pessoas mal conseguiam mover-se. O céu ficou cinza e nuvens negras começaram a se aproximar indicando que uma tempestade iria começar. Raios começam a surgir. As expressões de Angelica e Mário permanecem as mesmas, é como se aquilo fosse muito normal por ali. Mário, com sua mania de tirar foto de tudo, tira várias e mostra às duas. Karime, perspicaz, nota algo estranho nos raios. Percebe que eles têm algo diferente, é como se fossem seres estranhos entrando para debaixo da terra. Aproximou a foto e percebeu os detalhes: eram mesmo seres vindos do céu em uma velocidade tão grande como a de raios. Pediu para que os amigos a levassem dali, mas era tarde demais. O "Olho" do museu começou a mover-se. Debaixo da terra saíram pernas monstruosas, como as de uma aranha e aquele monstro começou se mover e a atirar raios para todos os lados. Tudo derretia como uma espécie de molho de tomate. Karime começou a gritar quando.... "Karimeeee, oww, acorda guria. Olha esse quadro do Vik Muniz, ele fez com molho de tomate, que massa, né?!", diz Angelica. Mário complementa: "Nossa que trabalho de louco. Parece coisa de E.T. mesmo. Olha aquele outro.... Tá bem, Karime?"
Karime responde: "Sim. Tava só pensando em como esse Museu me assusta.” Risadas gerais. Subiram para o "Olho", quando de repente, ouvem a voz de uma mulher presa no elevador.
Dejavu...
Enquanto isso, em outro canto do museu, Ruiva, sem saber que os amigos também estavam lá, curtia a tarde quente de domingo com uma amiga.
A exposição estava bela e curiosa, a imaginação corria solta, a cada passo dado frente às obras, a cada história contada pelo autor, que expressava a sua viagem inspiradora.
Vick vê arte em tudo. Alguns olhos não seriam capazes de reconhecer o que ele estava apresentando ali. Havia momentos em que as amigas xingavam, com tom de bom-humor, claro, chegavam a ter uma invejinha de uma mente assim, tão brilhante.
Não só isso, mas também habilidade, sensibilidade. Riam da graça que ele proporcionava, a cada imagem que encontravam.
Pelo menos era assim que se sentiam: leves, em segundos solitários e silenciosos. Estavam conhecendo um novo universo.
Gostavam de estar em um museu dessa forma, em paz.
Até que uma senhorinha resolveu explicar toda aquela maravilha em voz alta. Lendo cada palavra que o autor das obras escrevera com tanto cuidado e de qualquer jeito, acompanhando com o dedo pra ter certeza de que não ia perder nada, para quem estivesse prestando atenção. Será mesmo que tinha alguém atento? Ou eram somente Ruiva e sua amiga que desejavam que ela ficasse afônica naquela hora?
Não bastasse isso, às vezes a moça resolvia “achar”, sem perceber que a poucos centímetros da ingênua mentira que acabava de contar, estava a verdade. Cultura tem que ir para todo lado. Mas existem pessoas que não podem chegar tão perto, que falam bobagem.
Mas as amigas conseguiram salvar o restante da exposição, tomando certa distância dos inconvenientes. Depois de realmente babar diante de tantas idéias geniais, encerraram o passeio fazendo uma boquinha no café charmoso que há por lá. Ruiva sorveu um suco delícia de laranja, enquanto a amiga, talvez inspirada por algumas obras onde o chocolate era matéria-prima, devorava um petit gateau, que de petit, não tinha nada.
http://bethccruz.blogspot.com/2009/04/as-obras-de-vik-muniz.html
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI18080-15228,00-VIK+MUNIZ+NO+MOMA.html
Angelica Carvalho, Karime Abrão, Liliana Darolt
4 comentários:
nossa meninas. que tarde louca, mas aquele museu proporciona loucuras. me lembrou de uma viagem insana para a bienal, que já começou louca desde curitiba e em sampa foi mais piração.
eu me diverti lendo sobre a normalidade que encaramos a tempestade na cidade. e o mario deveria andar com uma autorizção de uso de imagem por tirar tantas fotos. eu já viajei com turista japonês que não tirava tanta foto como ele.
adorei o texto.
beijos
daniela
Pensando bem...Mario tem um olho meio puxadinho! rsrsrsrs
Adoro o Museu do Olho, não me canso de ir lá.
Beijos
Ka
A história baseada em fatos reais mais vaijante que eu já vi. rsrs Beijo, trio de Desaforadas.
Mario
e isso porque temos um roteiro a ser feito em janeiro, baseado em fatos reais ;).
não só esta história aqui é louca, como me deu vontade de ir no museu.
beijos meninas
daniela
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