quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Percepção Sobre A Vida


Ele parece perdido, fora do seu mundo. Põe a mão no bolso, rói a unha, olha o relógio. Aparente nervosismo, quando percebe alguém observando, disfarça. Olha para o chão, olha para a porta...
Parece esperar por alguém que vai chegar, ou não. Olha as outras mesas, as várias pessoas que passam, sentam e se levantam, mira a moça que não é moça. Consulta o celular, torna à porta. Entre uma coisa e outra seus olhares se cruzam. Primeira percepção.
Mas ele está ansioso, roda o celular na mão, guarda no bolso, torna a pegar, disca e desliga sem saber como acabar com sua angústia. Novamente seus olhares se cruzam. A ligação é inevitável, ele está impaciente, indignado por não obter a resposta que espera. Parece quase desistir. Inicia, então, um contato com a mesa ao lado, gentilmente cede o porta-guardanapos, cogitando talvez dar um pouco de atenção às moças, mas volta ao seu objetivo. Liga novamente. O garçom retira uma cadeira, restando agora somente mais uma além da sua. Tudo indica que está à espera de alguém que não chega. Toma seu chopp, a mesa ao lado já parece mais interessante. Dá uma olhada, mas sem desgrudar da porta. Novos olhares se cruzam. Segunda percepção.
Lança seu olhar como se estivesse intrigado com alguma coisa. Parece ter notado que mais alguém presta atenção em seus movimentos. E não desiste. Torna a olhar para o relógio, insistente. A porta é a chave entre dois mundos. Não acredita. Está ali, no centro do mundo, e, no entanto, sozinho. Não sabe mais o que deseja. Seus olhos miram, sem nada enxergar. “O que esperar de alguém que espera?” Novamente ao telefone, desta vez com um sorriso sarcástico. O que passa por seus pensamentos, o que tanto quer? Novos olhares... terceira percepção.
Curiosidade, interferência e o destino. Só falta mais uma barreira para que haja uma aproximação. Mas, ainda, o foco é a porta. Tenta se distrair, não dar tanto a entender a sua aparente frustração. As meninas da mesa ao lado vão embora, uma oportunidade perdida. Mira o celular novamente, desta vez desenganado. Seu meio de comunicação tornou-se fútil. Levanta-se, muda de mesa, fica mais perto da sua libertação. Cada vez mais perto, seus lindos olhos escuros deixam de procurar. Parece ter encontrado algo de que não quer abrir mão, é como se tudo aquilo fizesse parte de uma situação premeditada.
Agora tudo lhe parece familiar, foi quebrado o silêncio. Os olhares tomam forma e se fundem, transformando a noite quente de início de verão na primeira entre Vinícius e Ana Luíza. Um novo ano chegou...



Angélica Carvalho

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Camiseta Branca De Ano Novo Que Virou Pano De Chão


Era novembro de 1988 e Maria, uma adolescente de 14 anos, resolveu consultar uma vidente para ler sua sorte sobre o próximo ano. Chegando ao local, ela viu que não tratava-se apenas de uma tenda cigana,e, sim de uma espécie de loja onde vendia-se: incensos, amuletos e muitas roupas. De repente, a sensitiva disse:
-Bom-dia! Posso ajudá-la?
Maria respondeu:
-Sim, pode. Eu vim aqui para a senhora ler o meu destino para 1989. Mas, na verdade, eu gostaria de uma simpatia para trazer-me sorte no ano que vem.
Assim a cigana falou:
-Se é isto o seu desejo, então você precisa vestir na hora do reveillon: uma camiseta branca com o número 1989 estampado. Inclusive tenho a peça para vender nesta loja. Leve o produto agora. Pois vale a pena. Custa apenas três mil cruzeiros.
A garota indignou-se:
-Três mil cruzeiros?!
A comerciante justificou:
-Lembre-se de que é a sorte do ano novo que está em jogo.
-Aguarde algumas horas, por favor. Pois retirarei o dinheiro da minha poupança para comprar a roupa.
Depois de algum tempo a menina voltou com o dinheiro e comprou a camiseta.
No momento da passagem do ano a jovem usou a camiseta com toda a fé, fantasiando um ano excelente. Após isto Maria guardou esta peça, sem nenhum cuidado, no guarda-roupa. Em meados de janeiro, ela tirou a blusa branca da gaveta e notou que nela havia uma mancha amarela e colocou esta roupa de molho. Naquele mesmo dia, ela soube que seu pai foi transferido da capital do país para uma cidadezinha do interior com somente cinco mil habitantes. A adolescente, ao saber disto, entrou em depressão e chorou. Pois deixaria os seus amigos e a escola de que tanto gostava.
Em fevereiro, ao chegar à nova cidade, Maria arrumou o armário e percebeu que havia um pequeno furo na sua peça de “reveillon”, mas não se importou. Naquele verão ela viu que a nova cidade era parada e as pessoas muito fechadas.
Em março, época do início das aulas escolares, a garota notou que a sua camiseta alva estava com a manga rasgada, porém nem ligou. Naqueles 30 dias ela percebeu que iria ser difícil adaptar-se ao novo colégio. Pois todas as meninas eram fúteis e preconceituosas. Já nos primeiros dias, as colegas apelidaram Maria de baleia por ser gordinha.
Em abril, a menina tirou a sua blusa branca para passar e acabou queimando a peça, na barra, sem querer. Neste mês ela teve suas primeiras provas na escola e foi mal em todas.
Em maio, Maria viu que a estampa da sua roupa de reivellon se desfez, mas ela nem importou-se. Naquele outono, teve a triste notícia de que sua avó havia falecido e ficou muito abalada.
Em junho, a jovem percebeu que a camiseta alva estava com umas manchas escuras, porém ela fez pouco caso. Naqueles trintas dias fez muito frio e Maria pegou pneumonia .
Em julho a garota notou que a blusa da passagem de ano estava partindo-se ao meio, mas ela nem deu bola . Um certo dia, daquele inverno, Maria atravessou a rua distraída, foi atropelada e ficou três dias no hospital.
Em agosto ela reparou que as traças estavam comendo, pouco a pouco, a sua camiseta branca. Porém nos meses de setembro e outubro, a menina cuidou-se mais. Pois passou a usar agasalhos, a atravessar a rua com atenção e a estudar arduamente.
Em novembro a adolescente percebeu que sua camiseta de reveillon estava imprestável e sua mãe transformou a peça em pano de chão.Naquele mesmo mês Maria ficou de recuperação na escola.
Em dezembro, ela refletiu:
-Aquela vidente falou que se eu usasse uma camiseta branca na passagem do ano eu seria feliz. Isto foi um engano! Afinal, meu ano foi péssimo porque mudei da capital para uma cidade do interior que não existe nem no mapa, perdi meus amigos, minha avó faleceu e ganhei inimigos preconceituosos na nova escola. Um ano que começa é como uma camiseta branca,que inicia-se com a cor da pureza. Porém vai encardindo-se pouco a pouco na medida em que as dificuldades aparecem. Quando a gente recobra a consciência, logo nota que desviou-se dos objetivos e não cuidou da blusa alva como deveria. Pois não deu valor para cada mês do ano. Mesmo assim passarei em uma outra loja, comprarei uma camiseta branca com os números estampados do ano que chega e desta vez cuidarei dela, com o maior cuidado, por todos os meses do ano novo.



Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Hoje é dia de estreia no blog. Elusa Costa é jornalista e repórter da Blooming, revista sobre qualidade de vida na qual as Desaforadas estrearão com uma coluna no próximo número. Em seu trabalho de campo, Elusa já investigou de tudo um pouco: dos perigos do bullying à magia da shantala, da militância do veganismo à inconveniência da halitose, das profilaxias para o coração à revolução pessoal da redução de estômago. É essa bagagem multidisciplinar somada a uma implacável contundência na escrita que essa loirinha invocada traz agora para o blog.

Adão, Eva & Eu



Eu sempre digo: mulher é um ser completamente injustiçado. Primeiro, levamos a culpa por ter mordido a maçã. Sim, fomos nós, as mulheres, que trouxemos a impureza, a malícia e os pecados para o mundo. O Adão até tentou evitar que a gulosa da Eva mordesse a maquiavélica fruta, tentou sim, mas mulher é assim, não resiste a uma cobra, não é? Isso que ainda não falei sobre aquelas piadinhas infames feitas a respeito da maçã. Quem nunca escutou aquela que diz que a Eva só mordiscou a fruta porque a cobra disse que emagrecia?
Ah, sim, outro fator completamente injusto em relação às mulheres: o peso. Homem pode ser gordo, ter celulite, mas as mulheres não! Devemos ser sempre perfeitas, magras, esbeltas, porém com curvas. Ora, então quer dizer que temos que concentrar a perda de peso apenas na barriga, para que as coxas e o bumbum fiquem fartos e suculentos para os olhos famintos dos homens? Sim, é isso mesmo.
Como se não bastasse, homem careca, descabelado, grisalho é sempre um charme. Mas experimente você, mulher, sair descabelada de casa, ou então cortá-lo completamente. No mínimo, vai ser chamada de louca. Depois, ainda temos que aguentar os homens falando que gastamos horrores em salões de beleza...
Falando em salão de beleza, outra coisa que me deixa irritada é a depilação. Mulher peluda? Deus me livre! É feio, anti higiênico. Porém, é um saco ir todo mês lá, deitar na maca e aguentar aqueles minutos de cera quente arrancando todos os seus pêlos. Por que Deus não nos deixou sem pêlos? Agora não precisamos mais deles, temos roupas! Ou então, porque não se dedicam a descobrir um meio mais fácil de eliminar todos eles de uma vez só? Laser demora muito, às vezes é dolorido e nem sempre dá pra se obter o resultado desejado. Mas tenho um segredo a revelar: HOMEM PELUDO ME DÁ ASCO. Sim, tenho nojo de ver todos aqueles pêlos enroladinhos espalhados pelo peito. Sem falar na quantidade exorbitante daqueles que vivem nas axilas. Quando os homens suam, os pêlos ficam úmidos, se juntam, e fica uma completa meleca de suor misturado com desodorante. Vai dizer que isso é sexy? Ouso dizer ainda que pêlo na bunda não é legal, é feio. Prefiro saber que um homem depila sua própria bunda do que ver tudo peludo. Homem peludo é um saco! Principalmente no saco. Acho feio sim. E pra ser bem direta: quem é que gosta de chupar pêlo? Ora essa...
E que ninguém ouse dizer que eu estou de TPM. Não estou. Aliás, TPM é uma coisa inventada pelos homens para dizer que somos loucas. Não existe tensão nenhuma, a questão é que fomos condicionadas a pensar que temos isso, simplesmente para que os homens tenham alguma desculpa se nos traírem, brigarem, etc. Quero só ver o dia em que nós vamos estar tão irritadas que essa tal de “TPM” não vai mai ser apenas uma vez por mês, mas sim, SEMPRE.
Eu não sou nenhuma feminista e isso não se trata de uma guerra de sexos. É apenas a verdade, nua e crua. E eu sei que vocês, homens, que leram todo esse texto (olha só, que inteligentes!) concordam, nem que seja bem lá no fundo, com tudo que disse. Porém, isso não é o fim. Existe uma lista muito mais extensa de coisas que cabem nesse assunto, contudo, levaria anos escrevendo cada coisa. Então, fica pra próxima. Agora to indo no shopping, fazer umas comprinhas.

Elusa Costa

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Uma noite em Buenos Aires


Julia saiu exausta da sala de reuniões da empresa onde trabalhava. Não concordava com os termos da reunião que acabara de ter com os gerentes e muito menos em fazer uma viagem de última hora para Buenos Aires, onde localizava-se uma das fábricas do grupo. Sabia que não seria bem recebida por seus colegas de trabalho da empresa hermana, devido às várias discussões via email a respeito das exigências absurdas feitas pela aduana brasileira, toda vez que traziam produtos da Argentina para revendê-los no Brasil.

Além da Argentina, a empresa possuía fábricas na Itália e no Peru, de onde os produtos eram importados para abastecer o mercado brasileiro. E era no Peru que trabalhava o colega de departamento mais acessível, gente boa e competente de todas as filiais. Daniel sempre estava disponível para ajudá-la no que fosse necessário e mesmo as tarefas consideradas impossíveis, dava um jeito de resolver da forma mais rápida e com muita competência. Formavam uma dupla perfeita.

Saber que teria que passar três dias em Buenos Aires em companhia dos colegas argentinos, que não faziam questão de cooperar em nada; e muito menos de atendê-la pessoalmente, deixava-a com a sensação de que esta viagem seria tempo perdido.
Chegou em casa, largou suas coisas em cima do sofá e foi tomar um banho, deixando a água cair sobre seu corpo para que aos poucos, pudesse relaxar. Assim que terminou, ligou para sua família, avisou a respeito da viagem de última hora e foi arrumar suas malas, pois teria que acordar cedo na manhã seguinte.

O primeiro dia em Buenos Aires foi longo, cansativo e frustrante. O gerente com quem Julia deveria encontrar-se não estava na empresa e não informou à secretária quando chegaria para a reunião. Então, reuniu-se com sua assistente e tentou tornar o dia o mais produtivo possível, enquanto pensava com seus botões: “O que estou fazendo aqui, meu Deus? Uma cidade toda lá fora para eu aproveitar e eu aqui, com estas pessoas arrogantes e incompetentes.”

No final da tarde, enquanto juntava suas coisas para voltar ao hotel, o ramal do telefone onde estava sentada tocou. Era a telefonista da empresa avisando que havia uma pessoa na linha querendo falar com ela. Julia achou estranho, mas atendeu a ligação.

- Sim?
- Julia? Hola, soy Daniel, de Peru. Como estás?
- Daniel! Que prazer falar contigo. Estou bem e tu?
- Bien! Estoy de vacaciones aqui en Buenos Aires y pense, ya que estás aqui también, podríamos aprovechar La oportunidad para conocernos personalmente y conversar um poco. Te parece?
- Claro! Ótima idéia! Quando?
- Mañana? Te recojo en El hotel al rededor de las 9 pm, ok?
- Perfeito. Até amanhã.

No dia seguinte, depois de mais um dia cansativo e inútil na empresa, Julia resolveu sair mais cedo do trabalho; para descansar um pouco antes de sair para o jantar com Daniel. Na hora marcada, ele estava lá para apanhá-la. Depois das devidas apresentações, mucho gusto para cá e mucho gusto para lá, deixaram o hotel e dirigiram-se ao restaurante.
Educado e gentil, Daniel fez com que o tempo passasse voando e com que a janta fosse agradabilíssima. Como gentileza mútua, ele pediu uma caipirinha para beber e Julia, um pisco sour. Ao final, levou-a de volta para o hotel e despediram-se, comentando que era realmente uma lástima que ela não pudesse ficar mais tempo para conhecer melhor a cidade - com ele, obviamente.


Já em seu quarto, Julia tomou um banho e arrumou suas coisas; pois no dia seguinte, do escritório da empresa, iria direto para o aeroporto.
Assim que se deitou na cama, seu celular deu sinal de mensagem. Era Daniel, agradecendo a companhia, dizendo que estava encantado com ela e que era uma pena que não tinham prolongado o programa daquela noite.
Julia riu sozinha e ligou para ele.
- Muito gentil tua mensagem, realmente é uma pena que não tenhamos prolongado a noite.
- Podríamos tomar outra caipirinha y pisco, preciosa
- Nem pensar! A esta altura da noite, somente café, um cappuccino.
- Perfecto. 8 minutos y te busco para ir a tomarmos um cappuccino en Recoleta.
- Como assim, oito minutos? Como tu sabes?
- Si, preciosa. Ocho minutos es El tiempo que demoro desde El departamento donde estoy hospedado hasta tu hotel. Besos. – e desligou.

Julia pulou da cama e imaginou-se como o Superman, quando entra na cabine e em segundos, troca de roupa... Oito minutos!
Entrou no elevador dourado e espelhado, ao estilo Art Déco, quando seu telefone tocou:
- Preciosa, estoy aquí.
Julia sentiu-se personagem de um filme hollywoodiano quando a porta do elevador dourado e espelhado (e brega) abriu, na recepção do hotel, e Daniel estava lá, à sua espera.

Era junho e estava frio. Ao saírem do hotel, Daniel imediatamente cobriu Julia com seu sobretudo. Fizeram um breve tour por Palermo Hollywood (bairro descolado da capital portenha) e escolheram um café pequeno e charmoso, na Recoleta, para sentarem um pouco. Daniel pediu vinho para beberem e aos poucos, já sob efeito etílico, a sintonia e o desejo entre os dois foi tornando-se visível. Riam juntos, divertindo-se, quando Daniel diz, afastando a taça de vinho que separava os dois:
- Desde que te vi reir, me dejaste hipnotizado – aproximando-se lentamente dela.
Julia não resistiu à investida de Daniel e também aproximou seu corpo ao dele. O beijo lento e quente aconteceu naturalmente, conduzindo-os a uma noite que se tornaria inesquecível para ambos.
- Pensei que tu não fosses me beijar.
- En realidad, tuve ganas de besarte desde La primera vez que te vi, pero me contuve – as mãos de Daniel passeavam por debaixo do vestido dela.
- Então, agora não há mais motivo para nos contermos.
- No, no hay. – respondeu Daniel, pegando Julia pela mão e dirigindo-se à saída do café.

Eram 3 horas da manhã quando chegaram ao apartamento onde Daniel passava suas férias. Dentro do elevador, ele perdeu totalmente o juízo, jogando Julia contra a parede, levantando seu vestido e colando seu corpo ao dela. Pegando fogo e sem separarem-se por um instante sequer, Daniel conduziu Julia para dentro do apartamento e depois para seu quarto, onde com cuidado e gentileza, acomodou-a na cama. Ela sentia a boca macia de Daniel percorrer seu corpo e sua mão abrir os botões do seu vestido, que em segundos, já estava no chão. Então, virou-se e deitou-se por cima dele, repetindo o gesto: enquanto beijava Daniel, tirava sua roupa.

Passaram a noite transando e quando já estava quase amanhecendo, pegaram no sono. Na metade da manhã, Julia acordou assustada, pois ainda tinha que trabalhar.
Devagar, recompuseram-se e vestiram-se. Daniel levou Julia de volta ao hotel, onde despediram-se combinando um novo encontro no aeroporto ao final do dia, já que Daniel voltaria ao Peru praticamente no mesmo horário que Julia retornaria ao Brasil.

Julia passou por seu último dia de trabalho sem se importar com a prepotência dos colegas argentinos, e no horário acertado com Daniel, estava no aeroporto. Fez seu check in, despachou sua mala, escolheu um café para sentar-se, e pegou seu celular de dentro da bolsa para avisá-lo que já estava lá. Mas o celular dela não tinha sinal. Do outro lado do aeroporto, Daniel também procurava por Julia, mas seu telefone também não funcionava.

Dica de restaurante (ero) exótico para ser visitado em Buenos Aires:
Te Mataré Ramirez - http://www.tematareramirez.com/
Pratos afrodisíacos, teatro erótico, show de jazz e bossa nova, cabaret, shows de dança, teatro de bonecos, exposição de arte.




Karime Abrão (colaboração na revisão: Camila Souza Silva)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Ainda Dá Tempo


Todo final de ano parece ser igual. As pessoas se preparam, fazem promessas, refletem, colocam metas e muitas vezes acabam não cumprindo. Alguns vêem o mês de dezembro como um sino, que toca alto chamando o próximo ano, mas na verdade ele tem muitos dias para terminarmos aquilo que nem ainda conseguimos realizar no ano que passou e nas promessas antigas que fizemos. Por isso, ai vão algumas dicas para fechar o ano com chave de ouro e preocupar-se com o que vai ver só quando vier, deixando acontecer e prometer na hora certa.

Antes de acabar o ano...

1- Reconsidere tudo o que você fez, atitudes que tomou, palavras que proferiu. Coloque na balança e assim reflita o que foi certo e o que foi errado para saber como agir da próxima vez

2- Avalie quantas amizades fez e quantas foram desfeitas, será que não é possível reconquistá-las?Ou quem sabe olhar a sua volta e enxergar quem são realmente seus amigos, afinal, você irá precisar dos verdadeiros nas novas batalhas que irão vir.

3- Quantas vezes no ano você abraçou e beijou seus familiares? E quantas discutiu com eles? Reveja se não seria a hora de beijá-los e abraçá-los de uma forma que não fez ainda neste ano, de forma sincera e sem interesse.

4- Coloque no papel todos os projetos e objetivos que deram certo e os que ainda não foram realizados. Trace novos planos para ele e formas de conquistá-los, para que assim, seja mais fácil deles saírem do papel. Veja aonde errou e assim, mude o caminho.

5- Pague suas dividas. Se você acha que elas foram difíceis de serem pagas, acredite ano que vem será muito pior se deixar acumular

6- Termine de ler aquele livro que você vem lendo há tantos meses e não tem tempo para acabar. Afinal, novo ano sempre vem, novidades e você com certeza terá novas histórias para ler.
7- Nem pense em dieta neste Natal: aproveite, coma todos os pratos e guloseimas que você tanto sonha. Afinal, em poucos dias não vai dar tempo de emagrecer. Deixe isso para o ano que vem (mas desta vez, cumpra!).

8- Você já parou para pensar quantas pessoas amou este ano e de que forma amou? Reflita, abra seu coração e deixa que este sentimento fale mais alto no relacionamento com as pessoas e nas atitudes que irá tomar nesta nova etapa.

9- Tem algum caso pendente, mal resolvido, seja com homem, mulher, amigo, familiar?Tente resolver. Se não for possível, elimine já as marcas ruins de você. Comece o ano limpa de corpo, alma, mente e coração!

10- Não se limite as dicas acima, busque sempre algo que possa fazer, afinal, sempre terá algo que podemos mudar e fazer para hoje!


Bianca Nascimento
Hipocrisia natalina


2009 chega ao fim. Já repararam que o Natal é a época mais aguardada do ano? Para mim, é uma data como outra qualquer. Não vejo nada demais. Até hoje tento entender porque se faz tanto “auê” por conta dela.

De uma hora para outra, as pessoas se comovem. O coração amolece e surgem as campanhas-relâmpago para arrecadar alimentos, roupas, cobertores e brinquedos. O espírito de caridade é despertado como um mecanismo para aliviar a consciência... que alfineta, dói.

A mídia fala de uma bondade e solidariedade que deveriam existir o ano todo. Mal termina novembro e entra na programação uma “arrenca” de filmes relacionados ao assunto (“Esqueceram de Mim” é um dos que não podem faltar no pacote!). Ofertas e promoções mirabolantes - muitas vezes tentadoras - tomam conta das propagandas e são exibidas até a exaustão. Mensagens subliminares são usadas como água nos anúncios em busca de mentes ociosas e alienadas para aflorar o lado compulsivo escondido no inconsciente delas.

Com um sorriso amarelo estampado no rosto, proferimos aquelas frases clichês: “Feliz Natal e um Ano Novo repleto de paz, amor e prosperidade”. Falsas, vazias, ditas apenas da boca para fora. Esquecemos das brigas com a família, dos parentes chatos, do vizinho fofoqueiro. “Perdoamos” aquela colega de trabalho que nos sacaneou, damos uma segunda chance para aquele “amigo” que falou mal de você pelas costas... Resumindo: as pessoas posam de boazinhas e depois se traem durante o resto do ano seguinte.

Amigo(a) leitor(a), responda com sinceridade: nas últimas semanas, quantas vezes você se perguntou sobre o que irá comprar ou ganhar? Reparou nos enfeites, nas luzinhas e nas vitrines dos shopping centers? E pensou na mesa farta, na variedade de comida, bebida e no tanto de panetone que irá comer na ceia?

Por isso mesmo que eu digo e repito: o “espírito natalino” é uma tremenda farsa. Há muito tempo se perdeu o verdadeiro significado do Natal. Hoje, não passa de uma mentira sustentada pela engrenagem capitalista, que (infelizmente) conseguiu transformar o dia do nascimento de Jesus Cristo em uma máquina de dinheiro que induz as pessoas ao consumismo desenfreado... e enche o bolso dos comerciantes. Nada se dá sem o comércio. Afinal de contas, se você não gasta, o Natal não é o mesmo. A família e os “amigos” são a justificativa para comprar, comprar e comprar. É preciso ser feliz nestes dias. Ou pelo menos fingir.

Daí, pergunto: onde estão os valores e os sentimentos? Em negociação. Não é à toa que o ser humano seja visto e tratado como mercadoria e passe a ser avaliado pela quantidade de din din que carrega no bolso.

Estamos no meio de uma gigantesca Bolsa de Valores, onde se investe o capital (no caso, a bondade mascarada por interesses egoístas) para obter ainda mais lucros. Até as igrejas (não citarei nomes por motivos óbvios) têm como pauta central o dinheiro e ensinam seus fiéis a “fechar negócios” com Deus.

Por acaso paramos para orar e agradecer a Ele pela vida e pelo que recebemos? Onde estão os valores cristãos? E o aniversariante, Jesus Cristo, quando entra em cena? Salomão é quem estava certo quando disse: “vaidade de vaidades, tudo é vaidade." (Eclesiastes 1:2)

Voltemos os nossos olhos para coisas realmente importantes. Temos um saco cheio de problemas para resolver, como a fome, a miséria, as desigualdades sociais; o desemprego, o preconceito, a intolerância, os políticos corruptos que roubam na cara-dura e as palhaçadas que fazem no Senado e no Congresso Nacional, etc.

Uma das coisas que Jesus Cristo mais combateu durante a sua vida na Terra foi a hipocrisia. E, convenhamos, nunca se vê tanta hipocrisia como agora. Enoja-me, me dá ânsia de vômito. Haja paciência...

Cansei do Natal e de acreditar em Papai Noel. É preciso ser autêntico nas palavras e atitudes o ano inteiro. Portanto, não venha com essa de “Feliz Natal”, se não for verdadeiro.


Camila Souza

sábado, 26 de dezembro de 2009

Eles não voltam...


Café com leite na cama
Desenho animado na TV
Preguiça, infância
Nenhuma preocupação

A não ser qual seriaa próxima brincadeira
Bons tempos....
Escola, lição de casa
Conversa com amigas
Novas amizades
Os primeiros amores
Sentimentos curiosos
A única preocupaçãoera passar de ano e partir para as férias
Bons tempos...

Descobertas, experiências
Decepções, inevitável
Surpresas boas, ruins
Lembranças, as melhores
As piores, um alerta
Querendo entender
Buscando respostas
Construindo aos poucos
Os tempos mudam...

Começam escolhas
Pessoas, profissão
O que ser, como fazer
Sobre o pensar, agir, falar
Com o tempo nos formamos
Na vida, nas ideias
Criamos, deixamos marcas
Ou, deixamos pra lá
E o tempo passa...

Morar sozinha
Fazer valer a história
Pagar as contas
Cuidar do corpo
Da mente, do coração
Seguro do carro
Prazo no trabalho
A convivências com pessoas
Umas assim, outras assadas
Ainda crescendo
E o tempo não pára....

Vida a dois
Novas responsabilidades
Anseios, projetos
Algumas dúvidas, muitas certezas
Certas escolhas perduram
Novas verdades, outra realidade
Tudo pode mudar

Tudo deve mudar
Para melhor, para crescer
Para continuar, para conhecer
Para renovar, para cima
Para o bem, para sempre

O tempo não volta

O passado nos constrói
O futuro é o resultado que queremos dar a ele

Um dia o tempo vai acabar
Aproveite com qualidade



Liliana Darolt

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal De 15 Minutos



A menininha e seu irmão cinco anos mais velho. Ambos ainda crianças, viajando no carro com seus brinquedos e suas picuinhas. Os pais, já acostumados, não tiravam os olhos da estrada e a preocupação da mente, pois ainda faltavam 600 km para o destino. Eram permitidos, aos quatro passageiros daquela Caravan, apenas duas pausas, sob alteração, sem aviso prévio, do diretor geral da excursão: o Pai da família, caso esse quisesse tomar uma água, ir ao banheiro ou fumar um cigarro. Aos outros três passageiros, as paradas só eram permitidas em caso de extrema emergência. E a menininha às vezes sofria com isso.
Amélia contava os dias para essa viagem desde outubro, quando fazia um calendário à mão e riscava os dias à medida que eles iam passando. Ansiava que o tempo passasse rapidamente para logo chegar àquele lugar maravilhoso, sentir o calor de agoniar e pular naquela piscina enorme e refrescante. Nunca fora tão bom sentir calor.
Porém, era preciso chegar lá de algum jeito, e sua família sempre escolhia o mais demorado. Assim, ela ia quietinha ao lado do irmão para evitar qualquer confusão e alguns murros na cara, mas ele não era capaz de ficar mais de meia hora ao lado dela sem implicar com alguma coisa. Dessa vez, ele arrancou de suas mãos a sua querida boneca de pano, abriu o vidro do carro, e a pôs para fora, ameaçando soltá-la. Era-lhe regojizante olhar para a irmã e ver sua cara de desespero, implorando para que ele lhe devolvesse a sua bonequinha. Amélia olhava para Vic, com as longas pernas arqueadas para trás, quase se quebrando contra o vento e os seus cabelos de lã se enozando bem ali à sua frente, e ela sem nada poder fazer. Chorava, esticando as mãos para o irmão devolver sua filha querida, enquanto ele perdia o ar e respirava com dificuldade de tanto rir. A mãe e o pai, no banco da frente, ouviam tudo sem assistir ou interferir. Já estavam acostumados.
Nove horas depois, a família chega ao seu destino. Amélia sai do carro com a Vic bem presa em seus braços e, depois de algum tempo com a cara emburrada, ela olha ao redor, e todo aquele verde e aquele calor a fazem abrir um sorriso de orelha a orelha. Ela perdoa o irmão e o chama para irem juntos à piscina, mas ele finge que não a escuta e sai correndo na sua frente em direção ao quarto. Amélia olha para a mãe, buscando ajuda, mas ela está ocupada demais tirando as malas do carro. Portanto, ela e Vic saem juntas para dar um passeio por aquele hotel maravilhoso e ver se conseguem juntas achar um momento de verdadeira felicidade.
A menina e sua boneca deram uma volta pelo hotel, passando por enormes piscinas, jardins com flores de todas as cores e playgrounds gigantescos. Tudo lembrava um paraíso em Terra, não fosse sua família não lhe dar atenção. Eles a levavam para os melhores lugares, mas praticamente a obrigavam a aproveitá-los sozinha. Seus pais sempre falavam para ela fazer amigos , por mais que fosse a única criança no hotel, e seu irmão estava sempre com tanto mau humor, que ela tinha até medo de convidá-lo para fazer algo. Mas o lugar era lindo e seus pais sempre pensavam “como eles são felizes” ao esbarrar com ambos por algum corredor.
Em um desses dias, resolveram ir todos juntos fazer um passeio até as Cataratas do Iguaçú. Saíram do hotel carregados de câmeras fotográficas, chapéus, óculos escuros e protetor solar, feito turistas estrangeiros, e pegaram um ônibus turístico que ia direto para lá.
Amélia, apesar de já ter visto as Cataratas algumas vezes, ainda encantava-se com o volume que a natureza podia dar à mesma água que saía da sua torneira ou que molhava suas plantinhas na escola. Adorava descer a trilha cansativa, para logo se refrescar com as gotas que vinham das próprias evasões e depois, ainda encharcada, deslumbrar o belíssimo arco Iris marcado nos céus, próximo ao rio que corria lá embaixo.
As trilhas eram repletas de bichos tropicais e pássaros exóticos, como araras, lagartos e seus queridos quatis. Desde sempre, Amélia olhava para todos os bichinhos maravilhada, mas o quati era seu queridinho. Queria tê-lo em casa, acariciá-lo, dar de comer e levá-lo para passear. Eram tão fofinhos e pareciam tão dóceis, que Amélia não entendia quando lia nas placas que não era permitido tocá-los ou dar-lhes de comer. E foi assim, no impulso do encanto e na ânsia de ter um desses dormindo ao seu lado, feito um bichinho de estimação, que Amélia arriscou pedir um desses para o seu pai lhe dar de Natal, e ouviu um sim. Sim, Amélia ouviu um sim.
Ela enroscou-se no pescoço do pai e encheu-lhe de beijos e carinhos. Estava mais do que feliz, pois, primeiro: seu pai não admitia bichos em casa, mas agora ela poderia ter o seu, e segundo: seu pai dificilmente lhe dava um sim como resposta, a não ser que este indicasse uma negativa ou algo contra sua vontade. Porém, passada a festa, o pai advertiu-a de que não seria assim tão fácil conseguir um quati, que teria de pedir autorização do IBAMA e provar que saberiam cuidar dele. Amélia não se deixou abater e respondeu com afinco: "Pai, pode dizer a eles que irei cuidar do meu quatizinho como se fosse a própria Vic!", E permaneceu séria olhando para seu pai, esperando uma resposta que não veio.
Faltavam poucos dias para o Natal, e a menininha aguardava pelo seu presente anciosíssima. Imaginava de que cor ele seria, se daquele mais escuro ou mais clarinho, o que ele gostaria de comer, se ele seria dorminhoco, agitado ou preguiçoso. Até a Vic, sua bonequinha de pano, estava feliz com a idéia de ter um irmãozinho. E seus pais assistiam à filha sem nada falar.
Chegou o dia e a hora do Natal, porque, para Amélia e quase todas as crianças do mundo, o Natal só chegava na hora de ganhar os presentes. Nas outras 23 horas e 45 minutos, era apenas o dia 24 de dezembro. Como eu ia dizendo, já estava na hora do Natal. A família estava reunida ao redor dos presentes, cantando músicas natalinas e rezando algumas orações esquecidas durante o ano. Era Natal.
Todos ao redor dos presentes, tirando fotos de sorriso no rosto. Nenhum papel desembrulhado. Ainda embrulhos inteiros. Mais fotos. Abraços, um por um, Feliz Natal! Feliz Natal! Os olhos olhando de soslaio cada presente sobre o sofá. Ansiedade e o pai diz: podem abrir os presentes. Obedecem sem hesitar, sorriso estampado, mais ânsia. Uma camiseta, ãhn. Uma blusa, o sorriso diminui. Enquanto os presentes mínguam sobre o sofá, o volume de papéis aumenta sobre o carpet. Meias, vestidos, um brinquedinhozinho, legalzinho até, mas inho. O sorriso cada vez mais forçado, a lágrima cada vez mais incontida. Até que os presentes acabam e Amélia olha para o pai. Braba.
Ele abre um sorriso discreto, e olha para o irmão, piscando o olho. Tira de trás do sofá uma caixa grande de papelão cheia de buraquinhos. Amélia demora um pouco, mais sorri. Abre os braços para agarrar a caixa. O pai a dá. Amélia sacode, barulhos, algo se mexendo. Sorriso aumenta. O pai olhando para o filho, o filho olhando para o pai. A mãe quieta, sem nada entender.
Amélia abre a caixa.
Pedras, pedras, pedras.
E acabou o Natal.



Letícia Mueller

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Uma Tarde No Museu



Quem disse que uma tarde de domingo no museu deve obrigatoriamente ser entediante? Só diz isso, quem ainda não visitou o museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e não teve o prazer de conhecer e apreciar o trabalho de Vik Muniz, artista brasileiro com grande visibilidade e reconhecimento no exterior. Vik expressa sua arte através da composição de imagens criadas através de materiais inusitados como lixo, diamantes, chocolate, açúcar e outros tantos impossíveis de se imaginar. E foi apreciando estupefatos a obra e a originalidade de Vik, que três amigos passaram uma tarde totalmente irreverente e imprevisível, no famoso Museu do Olho. Concentrados na exposição de fotografias e demais obras dos artistas, eles passeavam pelo local, divertindo-se, rindo, trocando idéias.

De repente, ao passarem pelo corredor que liga um andar ao outro, ouvem um som estranho de uma campainha tocando e uma pessoa gritando: havia alguém preso dentro do elevador. A mulher pediu ajuda, dizendo que era hipertensa e estava nervosa. Mario saiu em busca de socorro para ela, enquanto Angelica e Karime ficaram do lado de fora do elevador, acalmando-a. Após alguns minutos, surge um guarda do museu, que se acreditou ser a pessoa que poderia tirar a mulher de dentro do elevador. O sujeito aproxima-se e tenta abrir a porta do elevador com as mãos. Obviamente que, se fosse possível abrir a porta com as mãos, a mulher não teria ficado trancada. Não bastasse a atitude brilhante, ele diz: "Fica calma, que estamos buscando ajuda”. As amigas entreolharam-se: "Mas isso nós já fizemos”. E o guarda segue, perguntando: "Quem está aí?", A mulher, desesperada, responde seu nome, como se fosse a palavra mágica para fazer a porta abrir. Angelica afasta-se, em silêncio, e sobe as escadas para o andar superior do museu. Karime, chama pela amiga, preocupada em ficar sozinha ali, sem ação diante da situação: "Angel, espera...". Mas Angelica não atendeu ao pedido de Karime e... sumiu. Neste exato momento, Mario retorna, informando que já havia avisado os guardas do museu e que iam trazer ajuda. Karime lia um catálogo das obras expostas encostada na parede da escada, quando ouve uma voz longínqua, suave, chamando por seu nome: "Kaaaa...Kaaa!" Olha para cima, vê Angelica no topo da escada, e resolve ir ao encontro da amiga. "Angel, tu sumiu!", Angelica não conteve a ira e mostrou o quão é intolerante à obviedade das coisas e situações: "Meu, que importância tem saber o nome da mulher que está dentro do elevador? Guarda burro, cara... se é comigo, eu já digo: 'é a tua mãe! Abre aqui que te mostro quem tá aqui dentro!'. E chuto a porta com o pé". Quem conhece Angelica não imagina que a moça, de feições e gestos delicados, atitude descolada, pode ser dona de personalidade tão forte. Karime não consegue conter-se e cai na risada. Ri muito, até chorar. Mario, que recém tinha chegado, depois de procurar ajuda e conversar com o guarda, não entende nada.
Karime acorda assustada, com o coração acelerado e suando frio. Só conseguia lembrar-se dos gritos horrendos da mulher presa no elevador. Imaginou-se naquela situação, claustrofóbica. Então, acalmou-se, lembrando da parte engraçada, onde Angelica blasfemava contra o infeliz do vigilante. Olhou para os lados e estava no banco de trás do carro. Angelica coloca a cabeça entre os bancos e grita, rindo muito: "Oi Kaaaa... até que enfim acordou hein? Ta tão cansada assim da viagem?".
Mário, solta das suas: "Tá te fazendo né, gaúcha?", E riem, enquanto Karime não entende muito bem o que está se passando.
Ao olhar para o lado percebe que estão chegando ao Museu. Um lugar imenso, construído sob um forte pilar central. Sua forma de olho inspira em Karime certa repulsa, que não sabe explicar. O dia estava ensolarado até aquele momento, mas quando desceram do carro, a cidade foi tomada por uma forte ventania. As folhas voavam, as pessoas mal conseguiam mover-se. O céu ficou cinza e nuvens negras começaram a se aproximar indicando que uma tempestade iria começar. Raios começam a surgir. As expressões de Angelica e Mário permanecem as mesmas, é como se aquilo fosse muito normal por ali. Mário, com sua mania de tirar foto de tudo, tira várias e mostra às duas. Karime, perspicaz, nota algo estranho nos raios. Percebe que eles têm algo diferente, é como se fossem seres estranhos entrando para debaixo da terra. Aproximou a foto e percebeu os detalhes: eram mesmo seres vindos do céu em uma velocidade tão grande como a de raios. Pediu para que os amigos a levassem dali, mas era tarde demais. O "Olho" do museu começou a mover-se. Debaixo da terra saíram pernas monstruosas, como as de uma aranha e aquele monstro começou se mover e a atirar raios para todos os lados. Tudo derretia como uma espécie de molho de tomate. Karime começou a gritar quando.... "Karimeeee, oww, acorda guria. Olha esse quadro do Vik Muniz, ele fez com molho de tomate, que massa, né?!", diz Angelica. Mário complementa: "Nossa que trabalho de louco. Parece coisa de E.T. mesmo. Olha aquele outro.... Tá bem, Karime?"
Karime responde: "Sim. Tava só pensando em como esse Museu me assusta.” Risadas gerais. Subiram para o "Olho", quando de repente, ouvem a voz de uma mulher presa no elevador.

Dejavu...

Enquanto isso, em outro canto do museu, Ruiva, sem saber que os amigos também estavam lá, curtia a tarde quente de domingo com uma amiga.
A exposição estava bela e curiosa, a imaginação corria solta, a cada passo dado frente às obras, a cada história contada pelo autor, que expressava a sua viagem inspiradora.
Vick vê arte em tudo. Alguns olhos não seriam capazes de reconhecer o que ele estava apresentando ali. Havia momentos em que as amigas xingavam, com tom de bom-humor, claro, chegavam a ter uma invejinha de uma mente assim, tão brilhante.
Não só isso, mas também habilidade, sensibilidade. Riam da graça que ele proporcionava, a cada imagem que encontravam.
Pelo menos era assim que se sentiam: leves, em segundos solitários e silenciosos. Estavam conhecendo um novo universo.
Gostavam de estar em um museu dessa forma, em paz.

Até que uma senhorinha resolveu explicar toda aquela maravilha em voz alta. Lendo cada palavra que o autor das obras escrevera com tanto cuidado e de qualquer jeito, acompanhando com o dedo pra ter certeza de que não ia perder nada, para quem estivesse prestando atenção. Será mesmo que tinha alguém atento? Ou eram somente Ruiva e sua amiga que desejavam que ela ficasse afônica naquela hora?
Não bastasse isso, às vezes a moça resolvia “achar”, sem perceber que a poucos centímetros da ingênua mentira que acabava de contar, estava a verdade. Cultura tem que ir para todo lado. Mas existem pessoas que não podem chegar tão perto, que falam bobagem.

Mas as amigas conseguiram salvar o restante da exposição, tomando certa distância dos inconvenientes. Depois de realmente babar diante de tantas idéias geniais, encerraram o passeio fazendo uma boquinha no café charmoso que há por lá. Ruiva sorveu um suco delícia de laranja, enquanto a amiga, talvez inspirada por algumas obras onde o chocolate era matéria-prima, devorava um petit gateau, que de petit, não tinha nada.

http://bethccruz.blogspot.com/2009/04/as-obras-de-vik-muniz.html

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI18080-15228,00-VIK+MUNIZ+NO+MOMA.html


Angelica Carvalho, Karime Abrão, Liliana Darolt

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Vela Em Forma de Papai-Noel



Esta lenda foi contada por dona Maria , moradora de Curitiba , que autorizou – me a colocar a estória na Internet :
Era novembro e dona Maria recebeu um presente pelo correio e ao abrir a caixa ela disse :
- Este presente é de Sandra , a minha filha mais velha que foi estudar nos Estados Unidos !
- Nossa !
- É uma vela em forma de Papai-Noel !
- Quando chegar o Dia de São Nicolau , 6 de dezembro , levarei este adorno para ser abençoado na missa do Bosque do Papa .
Após dizer estas palavras , a senhora colocou a vela em cima da mesa de centro da sala .
De noite ela notou que o boneco tinha sumido e gritou :
- Quem roubou a minha vela em forma de São Nicolau ?!
Neusinha entrou na sala e perguntou :
- O que aconteceu , Mamãe ?!
Maria explicou :
- Ganhei uma vela em forma de Papai – Noel , deixei na sala e ela sumiu .
Então a garota procurou por todos os lugares da casa , achou o boneco e disse :
- Ele estava em cima da máquina de lavar roupas , mas agora devolverei este adorno para a mesa de centro .
Neusinha olhou bem para a vela , mas teve a impressão de que o bom velhinho sorriu para ela .
Todos os dias o mesmo fato estranho acontecia : sempre no final da tarde , a vela sumia e quando as pessoas iam procurar o boneco , ele estava num lugar diferente da casa . Até que chegou o Dia 6 de dezembro , dia de São Nicolau . Assim dona Maria foi até o Bosque do Papa para assistir a missa em homenagem a este santo . Esta senhora levou junto , com ela , a vela em forma de Papai – Noel . No final da cerimônia ela chegou perto do padre e indagou :
- Será que o senhor poderia abençoar esta minha vela em forma de São Nicolau ?
O sacerdote observou o boneco e comentou :
- Sim !
- Esta vela em forma de São Nicolau possui um poder bem grande . Se a senhora manter ela intacta , com certeza , esta vela trará muitas graças no ano quem vem . Mas , para isto , é necessário que na passagem de ano a senhora faça a seguinte oração , olhando para este boneco :
- “ Oh , São Nicolau , por favor , faça que todos os dias do próximo ano seja um Natal repleto de alegria . Que as luzes do menino Jesus penetrem na cabeça dos meus filhos e que a Virgem Maria encha a minha casa de paz . Que os reis magos preencham os meus negócios com prosperidade.Amém.”
Após a missa , dona Maria chegou em casa repleta de alegria . Quando chegou o dia 25 de dezembro ela chamou todos os seus amigos e familiares para comemorarem o Natal . Num certo momento Talita , a filha da vizinha , exclamou :
- Oba !
- Uma vela de Papai – Noel !
- Vamos acender !
Naquele instante a dona da casa explicou :
- Ninguém pode acender esta vela , pois ela tem um significado muito especial .
Na hora da ceia todos estavam na mesa da copa . Quando , de repente , escutaram um choro vindo da sala – de- estar . A anfitriã foi ao local , para ver o que estava acontecendo , e viu Talita com a mão queimada , que disse :
- Tentei acender a vela do bom velhinho , mas acabei queimando a mão .
Naquele segundo Otávio , irmão de Talita , pegou o isqueiro e tentou acender a vela . Porém desmaiou no mesmo instante e o objeto não acendeu . Uma enfermeira , que era convidada da festa , tratou das crianças e ficou tudo bem .
Na passagem de ano , dona Maria fez a oração , que o padre ensinou , olhando para vela . Então no ano seguinte tudo deu certo : sua filha tirou notas excelentes na escola , a empresa do seu marido abriu uma filial e ela ganhou na quina .Porém , num dia de novembro , Maria notou que a vela em forma de São Nicolau desapareceu novamente . Neusinha tentou achar o boneco em todos os lugares da casa , porém não conseguiu . No dia seguinte esta menina foi até a casa de dona Gertrudes , comadre de sua mãe , para falar com sua filha Dalva . Na estante da sala ela reconheceu o boneco de Papai-Noel e contou tudo para sua mãe , que resolveu deixar esta estória do roubo da vela de lado e não partir para a briga .No ano seguinte tudo deu errado para dona Gertrudes : ela foi atropelada , sua filha Dalva pegou pneumonia e a empresa de seu marido foi à falência . Dona Maria acredita , até hoje , que estas desgraças aconteceram porque sua comadre roubou a sua vela de São Nicolau . Dona Maria , também , diz que rezar aquela oração , que o padre ensinou , na frente de uma vela em forma de Papai – Noel é uma simpatia infalível para ter um ano novo excelente .





Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Fim da Jornada Para Sofia


Fim de ano. Festas, resoluções, limpeza da casa, formação de uma família, nada disso faz parte a vida de Sofia. Desde que saiu da faculdade, sua vida é o trabalho. Tem se dedicado a Publicidade e Design, duas áreas que consomem um estilo de vida menos rígido, pois todo momento é momento de criação.

Algumas de suas amigas decidiram traçar um outro rumo para a vida, montando família e desistindo de sua vida profissional. Quando Sofia conversa com elas sente um clima de ressentimento e decepção, pois o que parece ser uma resolução feliz e madura, não passa de um modo de fugir de um mercado competitivo que engole a vida de muitas pessoas. Sofia fica feliz por ter tomado o caminho mais difícil.

Mas mesmo estando segura de sua vida, final de ano é o período em que Sofia entra em dúvida se está tomando o caminho certo. Pensa nos seus sonhos em viajar por lugares exóticos, fazer mil e uma aventuras num 4x4, estudar diversas culturas e diversos idiomas. Mas nunca sobra tempo para concretizar estes sonhos, pois sua vida gira em torno de se aperfeiçoar sempre e trabalhar muito para perder o seu posto conquistado com suor e sacrifício. Férias não faz parte do vocabulário dela.

Mas este ano seu corpo lhe revelou uma surpresa desagradável. Mesmo não estando obesa, não fumando e bebendo somente uma taça de vinho ocasional, Sofia sofreu um infarto dentro de seu maravilhoso escritório de criação. Sua secretária chamou imediatamente a equipe de primeiros socorros que havia no edifício e um clínico geral de um escritório num outro andar foi acionado para ajudar. Passado o susto inicial, uma internação é forçada por sua família e uma bateria de exames realizada. Sofia havia levado seu corpo e sua mente ao limite e, com 32 anos apenas, estava experimentando o que gerações anteriores experimentaram a partir dos 50 anos em diante.

O repouso forçado fez Sofia sair de sua inércia pessoal e tomar decisões de reais mudanças em seu estilo de vida. Casamentos e filhos definitivamente não faziam parte de sua personalidade. Ainda sobra a amargura de sonhos não realizados. Receios e inseguranças que antes lhe prendiam agora não faziam a menor diferença, pois seu fim poderia estar próximo... ou não. Definitivamente não queria morrer amargurada.

Sofia largou o emprego, comprou um 4x4 e pôs os pés na estrada. Destino? Esta vai ser uma viagem sem destino.


Daniela M. Braga

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Semana de Tema Livre

Temporada Da Tigrada




Hoje começa o verão. E, com ele, está chegando um bicho típico desta época do ano: o tigrão. Embora sendo um termo equivocado (tigre é um animal elegante), ele se refere à contundência, indiscrição e agressividade com que alguns jovens de dotes intelectuais menos favorecidos se apresentam em nossos balneários e cortejam a mulherada. Além de serem muito invasivos e gostarem de se meter em confusão, os bichanos têm alguns outros efeitos colaterais, como papo que não dura mais do que o tempo de consumo de uma lata de Skol, e um “estilo” de galanteio pouco original: se o tigrão estiver no carro e você a pé, ele dará um “psiu” seguido de assobio que parece som de sugada; já se você estiver de carro e ele a pé, dará um “psiu” seguido de assobio que parece som de sugada. Numa balada, o intervalo entre um “você vem sempre aqui?” e um beijo com gosto de lúpulo geralmente não demora mais de 15 segundos (não importa se você está a fim ou não). Então, para prevenir maiores incidentes e identificar a figura se aproximando a duas quadras de distância, eis um manual de observação educativa na selva litorânea, com dez sinais evidentes de que quem vem lá é um legítimo tigrão.

1) Óculos de sol com as lentes viradas na nuca
E os modelos são pouco discretos: armação grossa salmão com lentes espelhadas verdes, por exemplo.

2) Corrente de pitbull no pescoço
O bom é que funciona como um tigrômetro: quanto mais grossos os elos da corrente, mais tigrão é a criatura.

3) Bermuda que dá para ver metade da cueca
Usando preferencialmente modelo box da Bad Boy Company (aquela com olhinhos de malvado estampados na bunda).

4) Tatuagem no bíceps e/ou peitoral
Geralmente o tema é tribal, animal selvagem ou índio americano de cocar. Que a Funai nos perdoe, e nada contra nossos silvícolas, mas tribo, selva e índio têm tudo a ver com essa turma.

5) Cabelo espetado e com luzes
É aquele semi-moicano “esculpido” no salão de beleza daquela tia que fuma enquanto besunta as madeixas com alguma química preparada no quintal de casa.

6) Bronzeado moreno jambo
Não importa que o cara tenha pai norueguês e mãe albina, ele vai cultivar aquela cor de quem não faz outra coisa que passar o dia todo na praia.

7) Andar em matilha
O tigrão só anda em grupo, faz parte de sua personalidade (ou melhor, da falta dela). Na verdade, o coletivo de tigres é alcateia, pois matilha é de cahorros, mas aqui foi adotada uma (justificável) liberdade poética. Se o tigrão estiver a pé, você o verá encostado sem camisa no carro de um amigo, de braços cruzados com as mãos nos sovacos e mexendo com quem passa pela calçada, lançando cantadas originais como: "tô nessas carne". Se estiver fazendo um rolê no carro do amigo, vai dar play num som de funk, sertanejo "universitário" ou música eletrônica. Pagode e axé também são bem cotados, depende da onda do momento, porque tigrão não tem gosto próprio. Certamente o porta-malas estará aberto para o subwolfer causar abalo sísmico de cinco graus na escala Richter.

8) Físico bombado
OK que há um certo mérito de academia, mas você logo vê que tem um bom punhado de albumina no muque do mancebo.

9) Brinco de pedrinha
O que era signo gay virou “charme” no lóbulo da tigrada, alargadores também são a bola da vez.

10) Cerveja ou energético na mão
Cevada para desembaraçar, taurina para animar. Tigrão que é tigrão não dispensa uma latinha sempre à mão. Talvez seja por isso que ande o tempo todo com a cueca à mostra: facilita, já que tem de ir toda hora ao banheiro.


Mario Lopes

domingo, 20 de dezembro de 2009

100 Coisas Que Homens E Mulheres Gostariam De Fazer Só Uma Vezinha



Todos temos nossas curiosidades de como seria fazer algo proibido ou muito difícil (ou até impossível), mas sem tornar a ação um hábito recorrente. É aquele desejo inevitável de se colocar no lugar do outro e imaginar como nos sentiríamos. Fazemos isso constantemente no cinema e na literatura, conseguimos entrar na pele de outro cidadão e voltar em segurança à nossa própria vida, mas quais seriam os desejos ocultos que homens e mulheres gostariam de ver realizados só uma vezinha (ou mais, se valesse muito a pena). Para tentar esboçar uma lista com alguns desses devaneios secretos, botamos the dark side of the brain para funcionar e indagamos pessoas próximas sobre quais seriam seus sonhos de golpe único – aqueles que bastaria uma vez e pronto. As listas abaixo contaram com colaborações diversas, como as da executiva de contas Monique Stolt, da roteirista Patrícia Pinheiro e da estudante de cinema Ana Paula Campos, dentre outras. Só não iremos apontar quem disse o que, por uma questão de preservar a intimidade de cada colaboradora. Leia e veja se você complementaria com algo mais, ou vai dizer que você não tem uma curiosidade que gostaria de saciar só uma vezinha?

50 coisas que os homens gostariam de experimentar “só uma vezinha” (ou mais)

1) Menage à trois (segundo pesquisa da Edição Especial No. 27, pág. 58, de Veja Homem: 78% dos homens acham excitante ver duas mulheres se beijando. Os outros 22%, afirma a revista, “também acham mas não falam”).
2) Ficar invisível para entrar no banheiro feminino e descobrir porque as mulheres vão sempre nele em bando. Claro que o poder de invisibilidade não se restringiria a esta função...
3) Dar uma lição num cara metido a brigão numa boate em frente justo daquela gostosa que magnetizou seus olhos a noite toda.
4) Viver um dia na vida de um sultão casado com 100 mulheres (e que esse dia fosse o da lua de mel, OK?).
5) Descobrir se o receio comum entre a classe masculina de fazer o exame de próstata é por medo de doer ou de gostar.
6) Viver “Um Dia de Fúria” como Michael Douglas no filme homônimo.
7) Experimentar cerveja sem álcool (mas só um golinho).
8) Correr pelado na rua.
9) Ter o poder do Mel Gibson em “Do Que As Mulheres Gostam”
10) Saber cozinhar como um verdadeiro chef para detonar naquele encontro especial marcado no ap.
11) Saber como é ter um bebê na barriga (mas nada de parir, cruzes!...).
12) Dominar todas as técnicas do kama sutra.
13) Ter TPM pra tirar à prova se é ou não frescura.
14) Entender por que para mulher é tão complicado transar sem ter amor na história.
15) Saber como é ter uma prótese peniana.
16) Conseguir traduzir os jargões do advogado e do colunista de economia.
17) Identificar com clareza em que ponto a metrossexualidade vira boiolice.
18) Deixar a mulher pagar a conta do restaurante ou do motel.
19) Ficar preso no elevador com uma ninfomaníaca.
20) Ficar famoso pra todas as ex se darem conta de o que perderam.
21) Voltar ao passado e deletar seu maior vexame.
22) Entender tudo de mecânica para conferir se tem sido passado para trás pelos brucutus da oficina.
23) Ser confundido com gay só para entrar no provador e dar pitacos nas lingeries e roupinhas que elas vestem.
24) Sentir como as mulheres recebem estímulos em suas zonas erógenas só para depois poder reproduzir carícias cirurgicamente perfeitas.
25) Entender como as lésbicas conseguem suprir a ausência do pênis.
26) Descobrir aonde está o botão “on-off” feminino para recorrer a ele quando ela vier discutir a relação.
27) Transar usando cada uma das drogas ilícitas para descobrir qual o efeito no sexo.
28) Entrar na cabeça de um idoso de 60 anos de casado e saber o que ele pensa de verdade sobre esse tempo todo de monogamia.
29) Descobrir o afrodisíaco infalível.
30) Saber se há mesmo amor à primeira vista.
31) Encontrar um dispositivo que o desidiote quando estiver apaixonado.
32) Conhecer, na prática, cada um dos apetrechos de uma sex shop (exceto os fibradores, claro).
33) Poder trocar de posto com o patrão e demiti-lo.
34) Fazer um filme pornô com amigas coloridas.
35) Descobrir uma palavra mágica para acabar com uma broxada (“Shazam!” não funciona, infelizmente).
36) Saber como é ser pai de vários filhos como nas famílias de antigamente (mas seria uma vezinha bem rápida, e quando as crianças estivessem dormindo).
37) Experimentar uma sessão sadomasoquista hardcore (desde que não deixasse sequelas, óbvio).
38) Fazer uma sessão de troca de casais (desde que o outro cara fosse bicha ou impotente).
39) Localizar o famigerado Ponto G.
40) Estar na pele de um pop star no corredor de mulheres que tentam agarrá-lo.
41) Poder virar imperador apenas para empalar os políticos corruptos.
42) Viajar fora da órbita terrestre.
43) Dar a volta ao mundo (preferencialmente muito bem acompanhado).
44) Descobrir quais dos seus amigos são enrustidos.
45) Saber quais dos seus amigos quer comer sua namorada.
46) Saber quais são as reais opiniões dos colegas de trabalho a seu respeito.
47) Sentir o que é marcar um gol na final do Brasileirão no Maracanã lotado.
48) Chegar ao nirvana.
49) Ter um dia de Hugh Hefner – o dono da Playboy (o que deve ser mais ou menos a mesma coisa que o item 48).
50) Ter certeza de que um amor será para sempre.


50 coisas que as mulheres gostariam de experimentar “só uma vezinha” (ou mais)

1- Ter pinto - para transar, “ver como é que é” ou brincar de “girocóptero” (?!?!) .
2- Transar em banheiro de boate.
3- Saltar de pára-quedas.
4- Conhecer seu ídolo de perto.
5- Beijar o namorado da amiga.
6- Ser freira por um dia para descobrir se há santidade.
7- Xingar o chefe.
8- Aprender a jogar golfe.
9- Escrever sua biografia.
10- Ir a uma formatura de camiseta e chinelo.
11- Comprar uma bolsa da Chanel.
12- Experimentar drogas ilícitas.
13- Saber como é fazer xixi de pé.
14- Ganhar do seu irmão na queda de braço.
15- Escalar o Everest.
16- Transar em lugar público.
17- Ser pop star por um dia.
18- Fazer contato com alienígenas.
19- Dirigir uma Ferrari.
20- Casar de véu e grinalda.
21- Explodir uma bomba na casa do vizinho.
22- Ser mulher melancia e entender o sex apeal do manequim 46.
23- Passar o dia comendo sorvete e chocolate sem sentir culpa.
24- Ir pra balada de pijama.
25- Matar alguém sem ser descoberto.
26- Não ter celulite.
27- Descobrir o encanto de cerveja+futebol.
28- Viajar o mundo em um cruzeiro.
29- Filmar um filme pornô.
30- Ter seu próprio negócio.
31- Ter vários namorados sem ser chamada de piranha.
32- Tomar finasterida pra fazer o cabelo crescer rápido.
33- Comprar um iate.
34- Morar numa tribo de índios.
35- Meditar no Tibete.
36- Ir para Las Vegas.
37- Falar com o presidente.
38- Frequentar uma praia de naturismo.
39- Se passar por louco.
40- Não trabalhar numa segunda-feira.
41- Morar na praia.
42- Dizer que o conselho da mãe não é correto, e ter razão.
43- Ir para China e comer escorpiões no palito.
44- Ficar magra.
45- Fazer massagem tailandesa.
46- Repetir strikes no boliche.
47- Roubar chocolate na Americanas.
48- Beber até ter amnésia.
49- Encontrar um amor de cinema.
50- Ser sorteado em qualquer promoção.


Mario Lopes e Fernanda Bugai

sábado, 19 de dezembro de 2009

Tião e Maria



O namoro de Tião e Maria era como um dia de calmaria, todos os dias. Não que fosse pouco o sentimento, apenas não era violento. Tinham a segurança de saber exatamente onde pisavam e o que queriam, e eram felizes assim, diferentes do resto do mundo.

Mas o resto do mundo não compreendeu vida tão singela e achou que havia algo de muito errado. Aconselharam Tião a não ligar um dia para Maria, pois ela nunca tomava a iniciativa, só para ver se ela realmente se importava, “ver se ela sente saudades”, disseram. E só uma vez Tião não ligou. Maria, mesmo estranhando, também não ligou, “ele precisa de espaço” disseram.

Sem resposta, nem no outro dia nem depois, Tião começou a se sentir vazio e perdido, “numa dessas ela cansou”, disseram. Via Maria de longe, na saída do trabalho, e o ar sereno dela o deixava ainda mais aturdido. Maria, sentindo que alguma coisa grave estava acontecendo, baixou a guarda e pegou o telefone, “tá doida!? Vai se rebaixar assim?”, disseram, e Maria não ligou, mesmo com o coração dolorido. Via-o de longe, no horário do almoço, e o semblante bem posto dele dava-lhe a certeza que já a esquecera.

Depois de tempos, cada um já estava absolutamente certo e resolvido consigo mesmo que a história que construíram juntos havia terminado exatamente como começara: sem muitas palavras e tormentas de verão.

Disposta a esquecer, só uma vez foi Maria Vai Com As Outras, resolvida a afogar as mágoas no baile de carnaval que se anunciava e no qual nunca se arriscara a ir. Perdida no meio de tantas cores, fantasias e máscaras, Maria sentiu que podia sim, que voltaria a encontrar um porto seguro e que o primeiro passo para isso era exatamente este: estar perdida.

Foi quando, em meio a toda aquela gente, surgiu um moço mascarado e o coração de Maria, sabe-se lá o motivo, falhou uma batida. Certa que ele jamais olharia para ela, também mascarada, estremeceu quando ele pegou na sua mão e sentiu, mais uma vez, vontade de se doar, esquecer Tião e recomeçar.

Só uma vez se aventurou e atirou-se em braços desconhecidos. No meio do baile resolveram despir a fantasia para que pudessem se conhecer também sem disfarces. Mas, ao tirarem as máscaras, o coração de Maria embranqueceu como embranquecem os cabelos. O que aconteceu foi que se deparou com um rosto muito parecido com o de Tião, era o irmão, João.

Constrangidos e culpados, não sabiam ao certo o que fazer dessa nudez em que se encontravam, nem conseguiam tecer explicações. Sem jeito e sem palavras apenas viraram-se as costas e partiram mas, desde então, Maria nunca mais sentiu como se o mundo desabasse dentro dela ao ver Tião, nem uma vezinha só.





Ana Cordeiro

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Arte de Ser Escravo



Artista, poeta, músico, compositor, escritor, pintor. Manoel era o híbrido de todas as facetas artísticas, dissolvidas em sua personalidade fantasiosa e fruto de uma infância solitária e adulta. Tendo apenas a si mesmo como companhia, passou a ver em livros o que não via em pessoas: fidelidade para toda as horas. Desde cedo, lá estava ele sentado em algum canto com os livros apoiados sobre o joelho, os olhos abertos e vermelhos devido à leitura e os dedos quase calejados de tanto virar páginas amareladas e grossas.
De estatura mediana e rosto costumeiro, Manoel nada tinha de interessante, nem mesmo aquele quê de exótico sempre presente nos artistas compunha sua face. Não usava grandes óculos ou cabelos compridos, e nem havia criado um trejeito estranho ou uma mania bizarra para si. Manoel não era artista por fora, mas era por dentro.
Quando seus olhos lacrimejavam pedindo uma pausa, ele largava os livros e compunha livremente em seu violão. Não parava para raciocinar sobre a teoria da música e suas harmonias e desarmonias, e simplesmente deixava que suas mãos ganhassem vida própria. Entrava em transe durante esses momentos de criatividade. Nunca sabia aonde ia parar, mas tinha a certeza de que voara alto e centenas de quilômetros.
Assim criava melodias e canções, contos e poemas e tudo o mais que sua vontade lhe ordenasse. Não se preocupava com a qualidade do que criava, mas sim com a verossimilhança dos sentimentos e emoções que depositava em cada palavra do que fazia.
Manoel, normalzinho, de jaqueta e calça jeans, era um artista. Compunha por hobby, por paixão à arte e por adorar entrar em suas próprias entranhas através de rimas, estrofes e acordes. Não almejava ser um estereótipo caricato, ou ser daquele tipo que é identificado como artista logo de primeira. Aliás, seu único desejo era aprimorar todos seus trabalhos para satisfazer melhor a si próprio.
Com o tempo, o volume de obras produzidas por Manoel foi ficando cada vez maior, e a quantidade de prêmios ganhos também. Ele passou a ser reconhecido, ou melhor, suas obras passaram a serem reconhecidas. Manoel era como um fantasma por trás de suas músicas, poemas e contos, como se elas, em sua natureza onipotente, descartassem a necessidade de um autor.
Era frustrante ver que após finalizadas, suas criações tornavam-se tão independentes que eram mais donas dele do que ele delas. Era como se a música tivesse sido feita por ela mesma, e Manoel fosse apenas um intruso pensando ter feito parte de todo o processo. Os poemas eram dos poemas, de cada linha e estrofe contida em seu conteúdo, como uma obra fantasma que finalmente tornou-se viva. E Manoel, era Manoel.
Tudo era seu, mas ninguém notava e nem se dava ao esforço de notar o quão boas eram suas obras. De tão magníficas, tornavam todo o resto insignificante e aquém, até mesmo seu autor e seu público. Eram como deuses hipnotizantes dominando um mundo pela fascinação e perfeição. Era desnecessário saber a fonte de algo mágico, pois talvez o público temesse até uma frustração. Não queriam ver um artista intelectual incrível e muito menos uma pessoa comum. Seria um afronto àquela melodia, a história envolvente e inesquecível e ao poema ícone que marcaria épocas.
E Manoel assistia a tudo assustado e sem saber o que fazer. Suas obras tornaram-no um Zé ninguém, uma pessoa sem sombra, sem nome, sem trabalho e sem sonhos. Todas as suas criações foram feitas para ele mesmo, e acabaram conquistando um mundo de seguidores ingratos.
Mas isso mudaria. Desde criança, Manoel não queria ser reconhecido como um artista e nem se parecer com um, mas também não desejava o extremo oposto. Não esperava que suas músicas virassem referências e fossem estudadas por grandes músicos, nem que seus poemas fossem cegamente comparados com os de poetas renomados ou que seus contos fossem considerados como os melhores do século.
Então, Manoel encontrou a solução. Pelo menos uma vez na vida agiria como um verdadeiro artista deveria agir. Se escritores devem ser depressivos e anti sociais e músicos devem ser drogados, ele agiria como tal.
Talvez assim alguém notasse o caráter humano de todas as suas obras e pela primeira vez percebesse que há alguém por trás das criações. Acreditava que o público o ignorava por não fazer parte do estereótipo artista e estava condicionado a primeiramente avaliar o autor para depois olhar o que criou e como desde sempre ele era nada mais do que apenas o Manoel, esqueceram-se dele, mas não de sua obra. Um fenômeno na história da música e literatura.
Ele estava cansado de ler a biografia de grandes escritores e músicos que além de fazerem arte, levavam uma vida “artística”. Bem ele sabia que o maior movedor da criatividade é a tristeza, mas ele não precisava buscá-la e viver depressivo para conseguir criar uma obra prima.
Ele era uma verdadeira exceção, pelo menos de acordo com tudo o que já ouvira falar e lera sobre os verdadeiros fazedores de arte.
Portanto, mudou sua vida, desde as vestimentas, até sua rotina e sua forma de pensar. Trocou as simples calças jeans por calças de linho xadrez, e a jaqueta por um terno comprado em brechó. Deixou o cabelo crescer e uma boina estilo francês tornou-se sua peça pessoal. Aprendeu a tragar e não mais saía em público sem um cigarro nas mãos.
Mas de nada adiantou. Até o olhavam na rua, mas não o reconheciam como o grande autor de todas aquelas maravilhas. Era inacreditável sua transparência e insignificância.
Então, o jeito era tomar atitudes que iam contra seus princípios, mas a favor dos de um artista. Uma atitude que realmente lhe daria os títulos de grande escritor, poeta e músico compositor, mesmo que ninguém soubesse que ele havia feito isso. Um puro desencargo de consciência em uma situação de desespero.
Feitos os devidos preparativos, Manoel colocou sua melhor música para tocar. Seria o jeito perfeito de, só uma vez, uma vez apenas, agir como um verdadeiro artista “exemplar”. Sem mais delongas, sem hesitar para evitar qualquer arrependimento, injetou em suas veias o que para ele deveria ser sua heroína. Injetou a sua fuga do mundo real, e a passagem para um mundo onde ele realmente era o dono de suas obras. Sentiu correr dentro de si e misturar-se à sua essência a original alma de alguém que vive de criatividade. Alguém que não era ele, mas poderia ser.
Enquanto seu mundo girava, ele mal percebia que os vizinhos arrombavam a sua porta para entender o barulho que vinha dali de dentro. Mas ele não estava lá, e sim em frente a um enorme público chamando por seu nome, gritando sua música e recitando poemas seus.
Cinco homens arrombaram a porta do apartamento. Todo o prédio ouvira os gritos insanos e irreconhecíveis de Manoel e o som de móveis e objetos sendo jogados contra a parede e se despedaçando no chão. Nunca ninguém havia entrado ali e muito menos sabia algo sobre ele.
Tudo ali estava coberto de poeira e parecia ter vindo de um museu de inutilidades, de um antiquário ou de uma loja para fãs de bandas. Nas paredes, quadros do Led Zeppelin, Beatles e Elvis ao lado de outras de Luiz Vaz de Camões, Shakespeare e Dante Alighiere. No chão e nas prateleiras, dezenas de livros clássicos de escritores como Homero, Balzac, Cervantes e Dostoievski misturavam-se com papéis amarelados escritos por garranchos quase ilegíveis. Um dos rapazes procurou entre os papéis alguma carta de despedida ou algo assim, mas só achava poemas que aparentemente não estavam conectados a sua tentativa de suicídio. Em um deles, lia-se:

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
Ass: Manoel Vieira da Costa.

Enquanto isso, um outro rapaz notava que todos as capas de CDs estavam riscadas, e no lugar do nome da banda estava escrito Manoel Vieira da Costa.
No apartamento, os outros três homens que ouviam Twist and Shout tocando na vitrola velha, olhavam para Manoel e para o disco que pendia em suas mãos. A capa estava recortada e uma foto do dono do apartamento fora colada ao fundo e embaixo dela, lia-se com dificuldade:
Abbey Road.
Enquanto naquele instante, em algum lugar do universo, Manoel pensava que finalmente fora reconhecido, um dos rapazes presentes no apartamento olhou para Manoel e em uma fração de segundo, viu Jim Morrison.
Mas a sensação logo passou.


Letícia Mueller

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Estela E Seu Espelho


Ela abriu os olhos pela primeira vez numa noite de verão... e daí em diante não quis mais parar...
Pulou portão, até virar atleta
Roubou borracha, até fazer coleção
Fugiu da escola, até abandonar
Puxou o cabelo, e depois a arma
Viu estrela.
Beijou na boca da amiga, dos amigos
Fumou um cigarro, por minuto
Correu na chuva, pra fugir
Se perdeu no acampamento, depois de apanhar
Tirou onda de mais velha, sem dormir dá nisso
Entrou em bar proibido, pagar seu sustento
Dirigiu sem carteira, já havia muito tempo
Bebeu até cair, e continuou a beber e rir.
Engordou 20 quilos, emagreceu 30
Fez bate e volta na praia, cidade onde fosse
Pegou uma ponta, duas, dez
Cantou pra esquecer.
Transou por amor, ou por sexo
Engravidou, e perdeu
Teve uma viagem de três dias, sem volta
Se jogou na vida, da pior forma.
Foi presa.
Entorpeceu.
Coisas que só pensava que ia fazer faz por curiosidade, uma vez na vida, só uma vez.
Arrumou sua cama e foi dormir. E não abriu mais os olhos.


Angelica Carvalho

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Uma Vez, Uma Vida


Só uma vezinha e pronto, ela já era um espermatozóide fecundado. Nove meses e já estava ali. Só uma vezinha permitiu dar os primeiros passos, a falar as primeiras palavras para poder andar e a falar para sempre. Só uma vezinha permitiu dar o primeiro beijo e foi assim que começou a beijar mais e mais até encontrar seu primeiro amor. Mas também foi só uma vezinha para se decepcionar e chorar, aprendendo então como era a dor e o sofrimento, prometendo a si mesmo que seria a única vez que se deixaria levar.
Assim, foi só uma vezinha que permitiu fazer aquela viagem para se ter história para contar, que teve aquela noite que caiu na gandaia, aquele encontro às escondidas, aquele beijo com quem ainda nem conhecia direito. E foi estas vezes que a permitiram conquistar seus objetivos, saber o que é certo e errado e a amar. E foi quando ela se deu conta disso, só uma vezinha já a fez perceber quem seria o seu companheiro. E somente uma vezinha para que gerassem aquele ser. Só uma vez para ter momentos que não voltariam mais, para ensinar sobre a vida, para ter a última chance de pedir o perdão e dizer o último “eu te amo”. Assim, de vezes e vezes, viveu. E pela primeira, única e última vez fechou os olhos para sempre.

Bianca Silva

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Rebecca



Dizem que ser hipnotizado pode induzir uma pessoa normal a realizar coisas que vão além de seus sentidos. O hipnotizador, ao estabelecer um relacionamento com o indivíduo, pode incitá-lo a demonstrar certos hábitos inconscientes chegando a um estado alterado, no qual sua mente ficará suscetível apenas à sua vontade, transferindo controle total à outra pessoa.
É como Bernardo se sente em relação a Rebecca.
"Só uma vai? Só uma vezinha? Não aceito um não como resposta! Por favor, por favor, por favor...", dizia ela fazendo biquinho e uma vozinha de menina que pede para o pai deixar brincar mais um pouquinho no parque de diversões. Rebecca, olhos azuis, cabelos curtos e louros, no auge de sua fugaz adolescência, garota intempestiva, teimosa, quando colocava uma coisa na cabeça ninguém tirava, e o pior é que sempre conseguia o que queria. Culpa da doçura e esperteza de moleca, culpa do doce sorriso, das belas e sensíveis curvas de seu corpo. Culpa minha, sim minha culpa.
O que eu estava pensando? Quem eu pensava que era? Eu, cerca de 13 anos mais velho, nesse momento um apaixonado, viciado pelo som musical de sereia da voz de Rebecca, que me enfeitiçava e eriçava todos os pêlos de meu corpo. Seus convites eram como ímãs, uma coleira presa em meu pescoço, me puxava para lugares desconhecidos, inimagináveis. Os olhos convidativos de Rebecca, quando encontravam os meus, dissipavam raios nocivos direto no meu coração, cegavam minha alma. Diante dela, eu era só sorrisos e afirmações. "Sim, claro que sim, Rebecca , levar você aonde? No shopping? Vai sozinha? Ah, tá... vai com as amigas... tudo bem... acho que dá tempo sim, no intervalo do meu almoço, mas não posso aguardar muito tempo, tenho reunião no escritório". "Ah, fala sério Bernardo! Só uma vez, só uma vezinha vai, quebra esse galho pra mim"?
Aquela voz... soava como sinos em meus ouvidos, como resistir aos apelos frenéticos de meu coração, então eu realizava todos os desejos de Rebecca, uma, duas, três, várias vezes.
Eu era o chofer, o “Severino quebra galho”, o que estava sempre disposto a dar carona para a festa rave no interior, acampamento no fim de semana, compras, levava a vozinha ao médico, levava para passear: as amigas, a família, o gatinho... quer dizer... maldito gato que defecou no estofamento do carro. Aí, quando ela percebia que eu me irritava... "humm, que bíceps, hein, Ber! Anda malhando? Como você está forte Ber... Ber, carrega essas sacolas pra mim? Só dessa vez? Só uma vezinha! Lindooooo! Você não existe, Ber! Sabe, se eu fosse mais velha até namoraria com você".
Uma centelha de esperança percorria meu corpo, uma visão esplêndida em minha mente: eu beijando os lábios vermelhos e carnudos de Rebecca, o cheiro almiscarado de seus cabelos, o contato suave com sua pele alva. E o desejo apossando-se cada vez mais, eu entrava numa espécie de transe misturado com contemplação, um ser divino era Rebecca, uma sílfide. Uma parte de minha consciência pedindo “pare agora”! Mas eu não ouvia, eu queria mesmo era ver Rebecca, senti-la, ouvir seus risinhos irônicos, misturar-me a sua vida diária, aproximar-me e aproveitar a hora mais propícia. Nem que fosse só uma vez... só uma vezinha.
Em uma tarde quente de verão, Rebecca resolvera acampar, o humor imperturbável, os lindos olhos azuis faiscando de excitação pelo passeio, o sorriso avassalador. Naquele dia usava apenas um micro shortinho, blusinha de alcinha, sem sutiã. Era uma visão perturbadoramente sexy e cruel. Correu em minha direção, jogou os braços em meu pescoço, parecia pendurar-se como uma criança num balanço, beijou meu rosto várias e consecutivas vezes. Outra vez o suave perfume, o toque incendiário de seus lábios, e a voz pueril: "Vamos, Ber, me ajuda a colocar as malas no carro, por favor?", então, eu esquecia outra vez minha identidade, todos os compromissos cancelados, minha visão era “ela”, meus pensamentos eram dela, meu corpo obedecia somente as vontades dela.
Acampamentos simplesmente me irritavam, odiava dormir ao relento, os mosquitos, as terríveis brincadeirinhas sem graça. Não que eu fosse anti-social, mas acho que não tinha mais idade, nem paciência para essas coisas. Mas Rebecca conseguia me puxar com unhas e dentes para esses eventos.
Havia pessoas demais naquele acampamento, cinco garotos sardentos, carregavam uma menina, ou melhor, arrastavam-na para dentro de uma piscina, gritos... gargalhadas... olhares... e, finalmente, a recepção calorosa: "Nossaaaa! Quem é o vovô? E aí, tio? Veio trazer a sobrinha? Não se preocupa não, a gente cuida bem dela! Ah, é o tio da carona, kakakaka"!
Mas isso não era tão ruim até Rebecca chegar e me puxar pela mão: "não liga, não, Ber! Eles estão é com inveja! Vem cá, me ajuda a montar as barracas, aff! Já está escurecendo... Tem ainda que acender a fogueira... corre, vem me ajudar!", "Não sei, Rebecca.. acho que vou embora", "Deixa de ser preguiçoso, Ber, só dessa vez, você não faz nada mesmo naquele escritório! Só dessa vez, vai? Só uma vezinha".
Fiquei horas montando as barracas, acendendo a fogueira, organizando as malas, e olha que não eram poucas! Quando dei por mim, estava sozinho, ouvia somente o cantar dos grilos, olhei ao meu redor, senti a falta de Rebecca, depois de tanto trabalho, meu único alívio seria seu sorriso.
Andei pelo acampamento a sua procura, várias barracas estavam dispersas, encontrei as amigas que me disseram que ela estaria na cachoeira. Avistei Rebecca deitada às margens do rio. O corpo semi-nu, a pele branca iluminada pela luz da lua, de longe parecia uma sereia. Fui me aproximando devagar. Ela parecia tão sensível, tão volúvel, os olhos fechados... e se eu a beijasse? Talvez ela nem sentisse, ou até mesmo gostasse. Só uma vez... poderia jamais ter outra oportunidade. Não haveria cenário mais propício e romântico como aquele. Então, sem pensar, agachei-me e pousei meus lábios nos dela, os lábios macios e frios...
De repente, eu era o personagem de um estranho sonho, hipnotizado, sem ação. Senti-me flutuar, uma sensação forte e quente se infiltrando em meu coração, sentia um cheiro metálico e doce ao mesmo tempo, eu só queria que Rebecca acordasse, que retribuísse meu beijo, mas não houve resposta, apenas silêncio. Minha razão agora voltava aos poucos, me libertando da hipnose. E quando dei por mim, não era mais um sonho, mas sim um pesadelo, o desespero invadiu-me ao perceber o frágil corpo de Rebecca sem movimento, a pele fria e uma grande mancha vermelha de sangue...
Eu desejava morrer naquele instante, para quem sabe ainda alcançar Rebecca em sua passagem para a outra vida, tê-la em meus braços nem que fosse uma única e última vez, só uma vezinha.


Elaine Souza

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Tema da semana: Só uma vezinha

Só Mais Uma Vez Novamente


Enquanto Maria Eduarda escolhia a roupa que ia vestir naquela noite lembrava do tempo em que ela e Marcos eram Marquinhos e Duda, ou, Duda e Marquinhos.
Viviam no mesmo prédio, estudavam na mesma escola, os pais eram amigos e, por isso, cresceram juntos.
Duda era extrovertida e adorava brincar com os coleguinhas, era democrática e liderava os amigos. Marquinhos era mais introspectivo, inteligente e educado, nunca saía de perto de Duda e a defendia quando ela corria algum tipo de “perigo”.
Brincavam juntos nos finais de semana e algumas pessoas achavam que eram irmãos, tamanha a semelhança física.
Nunca houve entre eles aquela diferença entre meninos e meninas, bem como as brincadeiras grosseiras, típicas da adolescência. Adoravam-se e respeitavam-se muito.
Na adolescência, foi Duda quem tomou a iniciativa e roubou o primeiro beijo de Marquinhos durante a festa de aniversário da melhor amiga de ambos. Ele, muito timidamente, retribuiu.
Tinham 17 anos quando começaram a namorar e estudavam juntos para o vestibular.
Marquinhos queria passar em medicina e planejava fazer vestibular em várias universidades do país. Duda queria ser juíza e, para tanto, passava horas lendo ao lado do namorado.
O vestibular chegou e Marquinhos passou em uma universidade em outro estado, distante 1.000 km da cidade onde moravam.
Quando contou a novidade para Duda, ela chorou. Derramou lágrimas de alegria e tristeza simultaneamente. Estava feliz porque o namorado tinha realizado seu sonho, mas doía-lhe o peito ao imaginar que ele estaria muito longe e que a frequência dos encontros diminuiria significativamente.
No dia em que Marquinhos foi embora, abraçaram-se e ficaram colados um no outro, por muito tempo, em silêncio. Quando Marquinhos entrou no carro dos pais para ir ao aeroporto, Duda não derramou uma lágrima.
Nos primeiros tempos, mantiveram contato através de cartas durante todos os dias, como um diário. Aos poucos, as cartas que eram diárias, passaram a ser semanais e, logo em seguida, mensais. Até que, depois de um verão, quando Marquinhos foi passar um mês com amigos na praia e Duda viajou para os Estados Unidos com as amigas, elas cessaram.
Não cobraram um do outro porque não se falaram mais. Estavam quase adultos, já tinham outros amigos, outro ritmo de vida e entendiam que esse era o curso natural das coisas.
Dezoito anos depois, Duda já Maria Eduarda, depois de alguns relacionamentos mal sucedidos, ainda estava solteira e era uma juíza respeitada na cidade.
Naquele mês, justamente naquele mês, em que ela estava toda atrapalhada com o ritmo de final de ano no fórum, Marquinhos, agora Dr. Marcos, a procurou quando ela saía do trabalho.
Estava cansada, carregava mil coisas, levava trabalho para casa, quando o celular tocou. Os livros que tinha nos braços caíram no chão, a bolsa abriu e o celular rolou pela calçada.
Correu atrás do telefone, apanhou-o do chão e atendeu o número desconhecido, sem nunca imaginar quem poderia ser. Quando ouviu a voz de Marcos, congelou. Congelou inteira, desde o fio de cabelo, até o pé. Congelou por dentro e por fora. Não conseguia falar. Lembrou-se da brincadeira de “estátua” que adoravam brincar, quando crianças.
- Oi, Duda. É o Marcos.
- O-o-i M-m-a-r-q-u-i-n-h-o-s. Tudo bem contigo ?
- Sim, tudo bem. Estou na cidade e gostaria de saber se podemos nos ver, tomar um café.
Maria Eduarda queria conseguir dizer: “Não, não podemos nos ver”. Mas não foi forte o suficiente para isso. Dezoito anos se passaram e ela ainda gostava muito dele.
O encontro seria na casa dos pais de Marcos, que estavam na praia.
Agora, já vestida, Maria Eduarda olhava-se insegura na frente do espelho. A imagem da adolescente descolada havia dado lugar à imagem de uma mulher madura e clássica, séria demais, por vezes. Não tinha certeza se a roupa escolhida era a mais adequada, mas tentou ser o mais despojada possível. Maquiou-se de forma discreta, colocou um perfume suave e dirigiu-se à garagem para pegar o carro.
Quando Marcos abriu a porta para recebê-la, uma vontade de sair correndo dali tomou conta de seu corpo, mas ele deu um sorriso lindo e sincero, convidou-a para entrar, e então ela não resistiu.
Eram estranhos um ao outro, não tinham mais absolutamente nada em comum.
Ao mesmo tempo em que conversavam constrangidos, um clima de sedução começava a surgir entre os dois. Dezoito anos se passaram e hoje não eram mais dois adolescentes magrinhos com espinhas na cara e corpo desproporcional. Marcos era um homem moreno e charmoso, de voz firme e, por onde passava, marcava presença. Maria Eduarda tinha cabelos longos e lisos, corpo bonito, embora escondido pelas roupas de linhas clássicas exigidas pela magistratura, e aquela beleza discreta que dispensa maquiagens e roupas insinuantes.
Marcos ainda era um homem introspectivo e discreto, mas a maturidade trouxe a ele a ousadia e, hoje, era um homem que sabia o que queria, e não mais o menino inseguro de anos atrás.
Quando Maria Eduarda pediu a ele que a servisse de um pouco mais de vinho, Marcos viu que ali estaria a chance que ele tanto queria. Alcançou o copo de vinho para Maria Eduarda e, quando ela foi pegá-lo, ele recuou, pegou sua mão, puxou-a contra seu corpo e beijou-a. Desejavam aquele momento, precisavam dele.
Transaram ali mesmo, na sala da casa dos pais de Marquinhos, onde muitas vezes haviam estudado, ouvido música e assistido a filmes teenagers.
Marcos explorou cada milímetro do corpo de Maria Eduarda, lentamente, beijando-a, acariciando-a, sentindo-a. Maria Eduarda retribuiu com o mesmo desejo, com a mesma atenção, com o mesmo tesão. A noite de sexo seguiu-se por horas, não queriam que aquele momento acabasse na explosão de um gozo só.
Mas foi impossível conter o que tanto desejavam...
Quando acabaram, Maria Eduarda estava zonza, as pernas bambas, confusa.
Marcos, que minutos antes havia se mostrado atencioso e sedutor, tornou-se frio e objetivo, sutilmente insensível. Levantou-se, vestiu-se e deixou a sala. Quando voltou, poucos minutos depois, Maria Eduarda perguntou a ele o que havia acontecido para que ele tivesse mudado de atitude de um minuto para o outro.
Ah, como ela arrependeu-se da pergunta. Bastava ter ido embora, sem maiores perguntas. Mas não resistiu e perguntou.
Marcos, então, revelou que durante anos pensou em Maria Eduarda, sonhou com ela, desejou-a. Agora que tinha voltado para a cidade onde tinha vivido durante a infância, queria vê-la uma vez mais. Queria tocá-la e senti-la somente uma vez mais, antes do casamento, que aconteceria em 15 dias com uma médica cardiologista, que trabalhava no mesmo hospital que ele.


Karime Abrão

domingo, 13 de dezembro de 2009

Fã, Tiete ou Groupie


Estou pesquisando sobre este assunto faz duas semanas. Motivo? Decidi criar um roteiro sobre uma groupie. Depois de uma tentativa frustrada de tentar transformar em roteiro a história de um amigo, que eu devo ter ouvido umas 50 vezes no mínimo, decidi ‘‘chutar o pau a barraca’’ e mudar para um tema que teve inspiração num certo festival Planeta Terra e o frenesi causado por um sessentão conhecido como um dos seres mais loucos do rock: Iggy Pop.

Era o meu terceiro show do senhor Pop e sua banda Stooges e, como sempre, ele não decepcionou seus fãs, com um show extremamente energético, ou seria melhor dizer violento? Iggy aprecia o perigo e gosta de sentir seus fãs de perto, a ponto de chamá-los para o palco. Mas não é do Iggy e de seus dotes que eu quero falar aqui e sim das suas fãs. Incrivelmente, apesar dos seus 60 e poucos anos, ele consegue atrair fãs ardorosas de apenas 20 anos. Admirável que um artista que faz parte de dez entre dez livros de groupies ainda consiga atrair tantas mulheres.

Eu não sou groupie do Iggy, nunca sonhei em ser, apesar de meus amigos acharem que sim e de eu fazer brincadeiras com o fato. Eu sou uma fã que faz alguns sacrifícios que outros fãs não fariam para ver show dos seus ídolos. Viajei para vários lugares para ver Nine Inch Nails, decidi me jogar em uma semana para ver New Order em Buenos Aires e sacrifiquei minhas finanças por artistas como Bjork e Sonic Youth. Conheci muitas pessoas nestes shows também assim. Fãs do Manchester Army que tinham viajado por 17 locais para ver o mesmo show do New Order, amigos que viajaram por boa parte dos Estados Unidos para ver Nine Inch Nails mais de uma vez e por aí vai. Coleciono algumas destas histórias traçadas em filas de shows. E, pelas definições de pesquisas, estes caros companheiros de momento são apenas fãs. Um pouco mais radicais do que outros, mas fãs.

O que diferencia as tietes e groupies de fãs mais exaltados? O grau de interação desejado e realizado com seus ídolos. E pode parecer surreal, mas algumas groupies desenvolveram até dicas de etiqueta e de como uma groupie atual deve agir. Infelizmente o que era um posto transformado em arte por groupies históricas como Pamela De Barris, virou ação de vulgares strip teasers. É só acompanhar Sharon Osbourne tentando colocar um pouco de classe nas garotas de Brett Michaels, ex-pesadelo da banda Poison e ícone das malditas bandas hair metal, em Rock of Love. VH1 é cultura pop inútil mesmo, mas devo confessar que divertida. E obrigado por trazer esta figura da sua tumba de ostracismo, pois eu duvido que Brett consiga retornar aos tempos áureos e que conseguia traçar a Pamela Anderson.

Voltemos às clássicas groupies que elevaram o status a uma forma de arte dentro do mundo do rock e de outras vertentes musicais. Pamela De Barris é a mais emblemática e histórica figura, não só porque ela atuou no melhor momento do rock, décadas de 60 e 70, como sua fama em saber entreter os astros em turnê se tornou um guia para as novatas. De Jim Morrisson, Jimmy Page a Rod Steward e Sting, Pamela não só virou um ícone das groupies, como também a maior parte do personagem de Kate Hudson em “Quase Famosos” foi baseada na sua vida e em seus romances famosos. Frank Zappa foi o único que utilizou Pamela para uma função diferente – babá de seus filhos. Zappa, apesar de ser um dos mais loucos geniais compositores e artistas do rock e fazer uma homenagem em Crew Slut, música do álbum “Joe’s Garage”, era careta em sua vida pessoal e nunca traiu sua esposa.

Outra groupie famosa, que, eu confesso, só fui conhecer através desta pesquisa, é Margaret Moser. Fundadora do Texas Blondes – nome que na verdade foi dado por John Cale. Margaret já tinha por objetivo ser uma groupie, montou sua própria estratégia e tinha seu manual do que manter (bebidas e drogas) no quarto do hotel para entreter os músicos. Mas o que mais me surpreendeu em sua história, além de um tórrido momento com o bem dotado Iggy Pop, foi a grande diferença entre ela e De Barris. Pamela seria mais a groupie que teve a sorte do acaso, além de reforçar a fama de bobinha. Margaret já era astuta, escolheu a dedo quem seriam seus alvos e era vista pelos artistas como uma pessoa extremamente inteligente. Tanto é que se tornou, anos mais tarde, colunista em um jornal de Austin, Texas. Cometeu apenas um grande erro no mundo das groupies: se apaixonar perdidamente e ter seu coração partido por John Cale.

E o que será do futuro das novas groupies, numa era em que o rock and roll já não conta com o mesmo glamour de eras passadas? Resta a elas perseguir os legendários sessentões? Ou partir para a nova e fraca safra de artistas atuais? Mesmo nos sites de groupies atuais encontramos uma ou outra história interessante para transformar em roteiro, artigos e discussões sociológicas do fenômeno. Se o rock and roll não encontra mais o mesmo glamour, temos groupies de astros do cinema, jogadores de futebol e até mais localizadas e polêmicas, groupies de professores. O que virá depois? Será mito a tal da ‘‘Maria Teclado’’? Festival de Parati que se cuide.

Alguns links interessantes utilizados para a pesquisa do roteiro

Literatura Clandestina - Pamela Des Barris
Margaret Moser
Maria Teclado

Deixo aqui com uma foto curiosa da ‘‘esposa’’ brasileira de Trent Reznor que eu tirei na apresentação deles em 2005. Será que ele sabia que estava casado?






Daniela M. Braga