quarta-feira, 30 de junho de 2010

Abstinência



Ela se induz ao erro

Talvez a solução vinda dos opostos



Já que o certo tem sido tão precipitado

E a tentativa sempre em vão



Ela não o ama

Ama a si própria na representação que projeta da existência dele



Um clareamento dos diálogos rotineiros de abstinência

Na medida em que ela aceita o fascínio pela idéia

De não ter

De nem ser

Nunca matéria

Nunca perto o suficiente pra tornar-se físico

Nunca físico o bastante para tocar o real

Nunca real o suficiente para deixar de relembrar o que não foi

Mastigar, engolir, deglutir

Encontrar a substância podre

Defecá-la

Lavar o íntimo, revelar um pouco da alma

Fechar um ciclo

Comer a semente

Eu não pretendo te roubar pra mim

Te quero pra matar a ânsia

Enforcar a falta

E depois disso tornar-te efêmero

Fazendo-me normal

Sem coisas, sem desejos, sem rabiscos


Eu quero recomeçar sem seguir teu molde

Sem pintar tuas cores

Sem gravar teus sons


O problema é sua presença não anunciada em todas as frases

É o meu querer nas estrelinhas

Ou em qualquer linha das tuas mãos,

Que eu toco fingindo esbarrar.


Só mais uma dose de você

E eu prometo me abster.





Jéssica Ferreira

terça-feira, 29 de junho de 2010

À Espera Do Vampiro


Vai,
sacia essa vontade
mas não minimize meu desejo
só faz crescê-lo com teu beijo
me torture
mas se alimente de meu amor

Te peço uma taça
daquele gosto de você
Para embriagar-me em teu corpo
da imortalidade esquecer

Vem,
de uma vez
morde essa saudade
e arranca de meu coração
Despida-me com vontade
possua o corpo que é teu
Faz que minha emoção
Seja a sua redenção

Voe,
e depois somente voe
para que não sinta mais nenhum rastro seu
melhor assim
por que se não, te caço
e não te acho
mas te espero a noite
quando voltas para mim



Bianca Nascimento

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Semana de Tema Livre

Lapso Temporal

Quando paramos para pensar, percebemos como o tempo passa, as vezes rápido, as vezes devagar e as vezes apenas passa. Percebemos quantas coisas ocorreram nas nossas vidas, coisas boas e ruins, ou apenas coisas, mas sempre temos a certeza das lições que pudemos tirar com tudo que nos aconteceu, de bom ou ruim ou que apenas aconteceu.
Se analisarmos o lapso temporal de um ano em nossas vidas, ou seja, 365 dias, percebemos melhor ainda como o tempo passa, ele voa!
Há um ano atrás estávamos diferentes, tínhamos amigos inseparáveis diferentes, amigos separados diferentes, amores, amor ou a solidão, contávamos com pessoas, desprezávamos pessoas, tínhamos um ou outro trabalho, ou nem trabalho tínhamos, tínhamos família, não havia família, e por ai vai... Hoje aqueles amigos já são colegas, os colegas nem existem ou são melhores amigos, o emprego pode ter mudado, o ramo, a profissão, o sexo, os amores, casamos, descasamos ou permanecemos sozinhos, o cabelo já muito dezoito vezes, até de cor se pode mudar em um ano.
Tão pouco, só um ano e nossa vida pode dar uma super guinada, pra lá ou pra cá seja como for. Em um ano, conhecemos pessoas maravilhosas, as quais gostaríamos de carregar por toda a nossa vida, mas nem sempre será possível, nesse tempo também perdemos pessoas não só maravilhosas, mas essenciais, basilares à nossa formação e ao nosso modo de ver o mundo, e por vezes ficamos apenas com a saudade e a espera por um plano superior. Temos decepções, que hoje nos parecem mínimas perto das atuais e que certamente nos parecerão mínimas diante das que estão por vir. Apaixonamo-nos, nos desiludimos, amamos e erramos. Em uma ano aprendemos a perdoar, aprendemos a reconstruir laços, fraternais, de amizade, maternais, amorosos...
Em um ano muito coisa acontece. Pulamos sete ondas, comemos lentilha, fazemos promessas, engordamos e emagrecemos, aprimoramos nossos conhecimentos e aprendemos cultura inútil. Nesse tempo acontece tudo, e ao mesmo tempo não acontece nada. Por vezes imaginamos que dentro do espaço de tempo de um ano, nossa via não mudou em nada, mas basta olharmos a nossas volta para verificarmos tudo àquilo que cultivamos, ou perdemos, e o ciclo continua.
Em uma não, apenas esse tempo, olhe a sua volta, perceba e analise, faça um balanço veja tudo que ganhou tudo que perdeu, mas principalmente, veja em um ano tudo que pode cultivar, afinal, o que nos vem fizemos por merecer.


Fernanda Bugai

domingo, 27 de junho de 2010

Ou não...



milagre, me largue

a mágica não se repete

a magia está no brilho dos olhos

de quem acreditou que ela existea

mágica não precisa se repetir

pois sempre existe nas sensações de quem a fez,

de quem a negou

e de quem a provou

mesmo sabendo ser um truque,

truco!

mágica não é milagre

nem precisa ser,

existir ou se repetir

a magia eu senti

quando não precisaram-se as palavras,

quando senti o azul hipnótico

penetrar nas serenas castanheiras

e até pude ver a cor dos olhos do filho teu

que nunca vou ter.

fizemos,

sentimos

e negamos...

e gozamos sim!

mas não foi isso que importou

se eu pudesse

ficaria e limparia

as cinzas que ficaram ao chão,

consertaria seus óculos,

faria uma fotografiado

sol nascendo na tua janela

recortando em luz as paredes da sala,

passaria um café

e não mais seriam as certezas e sim

as dúvidas que poderiam fazer valer a pena...

mas, sentindo muito,

preciso voltar para minha vida.





Juliana Biancato

sábado, 26 de junho de 2010

Maria Das Dores


Maria das dores tinha remédio para tudo. Não havia pergunta que a curandeira não respondesse. - Dor de cabeça Maria?
- Toma um chá de alecrim com cidreira
- Dor de estômago?
- Um punhado de marcela e uma água morna
- Fígado ruim?
- Toma chá de losna com boldo que fica bonzinho
- E dor nas juntas?
- Toma sucupira que já pode sair correndo
- Dor nos olhos?
- Chá de rosa branca e vai ver os dias mais lindos
- Dor de dente?
- Chá de cravo bem forte e um sorriso colgate
- Dor na bexiga?
- Raiz de salsa com morango e pode urinar a vontade
- Gripe Maria?
- Ferve limão, mel, gengibre e alho. Tiro e queda menino!
- E se a pressão subir?
- Toma chá de embaúba que desce
- E se baixar?
- Toma chá de canela que sobe
- Se me der cólica?
- Se for da TPM toma arruda bem quente. Se for do ventre toma mel com água.
- Dor de barriga?
- Erva doce cura já.
- Estou com vermes?
- Hortelã e joga tudo pra fora
- Não consigo dormir?
- Tira o louro do feijão e guarda um pouco pro chá
- Sarampo?
- Chá de cabelo de milho e nenhuma pintinha mais!
- Para o nervosismo?
- Toma chazinho de cidreira morno e fique calminho, calminho
- Diarréia?
- Broto de goiaba que tranca
- Crise de rim?
- Toma chá da folha do abacateiro que a dor passa
- E para as dores do mundo, Maria?
- Respira bem fundo. Ergue a cabeça e segue adiante meu filho!


Fernanda Bugai

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Amigas de sangue


Seu nome era Riberclei. Sem idade, sem família, sobrenome, ou origem. Até lembra do dia em que o homem de coturnos e bafo quente pediu sua identidade. Lembra mais ainda do que veio em seguida, da ardência do cassetete, conseqüência de uma resposta sincera: eu não tenho.
Apesar de não recordar o que fazia antes de ser abordado, sabe exatamente o que começou a fazer em seguida. Ainda com sangue escorrendo pela boca, sentindo a ausência de um dente que acabara de ser arrancado, Riberclei, tomado pela fúria, avançou sobre o policial e antes que qualquer um percebesse sua intenção, torceu-lhe o pescoço como a uma toalha encharcada. Não tentou correr.
Em menos de meia hora, Riberclei conheceu seu lar de uma vida toda.
Atrás das grades, dormindo sobre o concreto frio, de cara para o chão, ele fazia amizade com as aranhas. Reconhecia-as uma a uma, dava boa noite, perguntava sobre a vida. Não era louco não, só achava que lá dentro daquele lugar, dentre carcerários e prisioneiros, os insetos eram a melhor companhia para uma conversa descontraída.
Comia com gosto a sopa velha e o pão embolorado, a água amarelada e suco vencido. De quando em vez, lembrava-se de separar umas larvas para suas aranhas e aí era só festa. Vinham todas comemorar, e o Riberclei ficava deitado, de cara para o chão, observando feliz a algazarra.
Mas o banquete mesmo, a verdadeira festa de arrombo, o grande encontro, acontecia quando ele acordava de boníssimo bom humor, pronto para causar a alegria geral. Riberclei erguia os braços, abrindo o sorrido preto de tártaros e o cheiro ruim de podridão que nem os próprios companheiros de cela agüentavam. Mal despertava, os outros se encolhiam nos cantos mais afastados do cubículo numa tentativa de se camuflarem com a parede.
Mas Riberclei não selecionava. Não cabia a ele escolher. Não cabia a ele tomar tal decisão. Seria o mesmo que ir a uma lanchonete e deixar que outro cara escolhesse em seu lugar um x-salada, ao invés de um x-bacon.
Humm, bacon... Riberclei olhou para o chão. Do último verme que ele deu às aranhas, só restava a gosma das tripas indigeríveis. Algumas, ao verem o mestre, já se agitavam freneticamente e pareciam dançar de alegria. Em menos de 10 segundos, dezenas de finas perninhas se mexiam de lá pra cá, esperando o presente de Riberclei.
Ele, ansioso, lembrava de como tinha sido das outras vezes e seu olho brilhava de segundas intenções. Em pé, no meio da cela, Riberclei amedrontava os companheiros encolhidos na parede, aproximando-se do seu alvo como quem está faminto.
Ele lembrava de como havia sido com sua última vítima. Um golpe certeiro contra a parede, o corpo desfalecendo, o sangue se espalhando sobre o concreto frio, e as aranhas serelepes a passear sobre o cadáver e explorá-lo com sagacidade.
Riberclei olhou nos olhos de sua próxima vítima, e deliciou-se com o medo exalado por sua íris. Ele era uma lenda viva, e imortal. Até os cárceres o temiam. Aliás, uma das coisas de que Riberclei mais se orgulhava, era de ser amigo única e exclusivamente das aranhas. Amigas fiéis e inseparáveis. Elas mereciam uma retribuição, e ele a dava com carinho.
Riberclei aproximava-se de seu escolhido lentamente, quando decidiu atacar e empurrou seu corpo com violência contra a grade. A vítima não caiu, e tentou revidar, mas a sua força era insuperável. O homem tentava se desvencilhar das mãos de Riberlei, mas parecia impossível. A mão grande do assassino agarrava aquela cabeça e a batia contra o chão, formando uma enorme mancha de sangue que já animava as aranhas. Ele já sorria, declarando-o morto para alegria de suas companheiras, quando é atingido na cabeça por algum objeto cortante. Mal tem tempo de olhar pra trás para se defender, quando é atingido novamente.
Com o rosto sobre o concreto, Riberclei sente o gosto do próprio sangue, e ainda tem tempo de ver suas arainhas subindo sobre o seu corpo. Todas serelepes.


Letícia Mueller

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Metamorfose


Nana nasceu rubra. O primeiro manto era vermelho, trazendo o brasão da família. Seu choro forte não deixava dúvidas: a menina era guerreira. Chegou ao mundo antes da hora, torcendo sua mãe de dor que, enquanto o sangue escorria por suas pernas, gritava enlouquecida e agarrava a enfermeira pela gola.
À medida que foi crescendo, Nana foi trazendo consigo sua paixão pelas cores fortes. Extremista, riscava e rabiscava nos seus folhetos, desenhava os seus sonhos, atravessava mundos com seus lápis de cor. Ai de quem a tirasse dos seus sóis, vulcões, fitas, flores, corais intensamente vermelhos, antes que os finalizasse, era uma gritaria. A paixão a movia, paixão por tudo.
Já era mais menina quando, um dia, simplesmente enjoou do vermelho. Seu calor já não a mantinha fixada e sentiu-se seduzida pelo azul, da echarpe de dois tons da tia. Percebeu que o azul tornava-se mais forte se o vermelho se misturasse apenas em espaços determinados e encheu a mão de tinta. E assim, descobriu a sutileza e a serenidade da cor fria e do poder, experimentou a leveza. Tratou de retratar céus, peixes, babados, flores, rendas, tudo em azul. Já não trazia tanta força no traço, era mais branda.
Ao chegar em sua juventude, alguma coisa mais mudou e os rabiscos de criança tomavam forma de arte, sua particular arte. Despertou-lhe o gosto por verdes olhos que traziam consigo a virilidade, a grandeza dos oceanos, das matas, do contentamento, das flores raras. Suas telas pintavam paisagens místicas, com gotas de cristal nas folhas geladas da manhã, a água correndo esfumaçando o rio e as pedras do fundo cobertas por algas... verdes. De que mais precisaria, a guerreira, doce Nana, dona da sua arte e dos seus instintos? Dona de tudo o que sua preciosa altivez poderia trazer... Precisava de menos azul e verde e mais alguma coisa que não sabia bem o que era.
Acordava e dormia
e não entendia
a falta que sentia.
A angustiava esta indecisão por não encontrar o que buscava e não demorou a mergulhar nos tons mórbidos de cinza e preto. A estabilidade depressiva dos muros de concreto, dos edifícios infinitos, de castelos lúgubres, geleiras, da idéia de morte, mistério e fantasia. Percebeu a dignidade de estar sozinha.
Nana precisava da cura pra sua loucura e então parou de pintar. Suas telas brancas estão no cavalete, sua inocência e pureza de espírito ficaram gravadas nos últimos traços que iniciaria tentando se retratar. Deixou este mundo com os pulsos em tons de paixão. Nana foi em busca do manto vermelho.


Angelica Carvalho

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Darcy E Suas Mudanças De Times


Darcy era uma menina afro-brasileira, muito esperta e nascida em uma favela. Mas ela diferente, pois era masculinizada, porém tinha uma sensibilidade muito feminina. Aos dois anos de idade ganhou sua primeira bola de futebol de dona Sálvia, uma vizinha idosa, que pensava que esta garota era um moleque. No primeiro instante em que Darcy olhou para a bola, ela apaixonou-se pelo objeto e logo começou a fazer brincadeiras como embaixadinhas e chutar no gol. Quando Sálvia viu a criança demonstrando estas habilidades, a anciã comentou:
- Esta criatura mudará muito de time na vida.
Quando esta garota completou cinco anos de idade, foi matriculada no Jardim de Infância de uma creche. Então, no primeiro dia de aula, a professora fez a chamada. Quando chegou a vez de Darcy, a mestra exclamou:
- Darcy!
A menina respondeu:
- Presente!
Ao ouvir a voz da menina, a mestra comentou:
- Com este nome, você é menina ou menino?
- Cuidado para não mudar de time, hein!
Darcy não respondeu nada, apenas deu deliciosas gargalhadas e depois disse em voz alta:
- Mudar de time parecer ser algo muito engraçado!
Após estas palavras, todos na sala de aula deram boas risadas.
Apesar de ser diferente, Darcy nunca sofreu bullying na escola, pois era muito boa atleta em todos os esportes, fato que garantia a admiração de todos. No primário ela jogava futebol com os meninos. Então Stéfany, a professora de Educação Física, vendo o potencial da garota montou um time de futebol feminino no “contraturno” e chamou a menina para ser capitã do time quando ela ingressou no ginásio.
No campo de futebol do colégio, um olheiro viu o talento de Darcy e chamou a adolescente para estudar, gratuitamente, na escolinha de futebol do clube chamado Bom Começo e a primeira frase que ele disse à jovem foi:
- Com este seu talento você mudará muito de time!
Naquele instante as palavras da professora do Jardim de Infância vieram na cabeça da garota e ela deu um lindo sorriso.
Depois de três anos jogando pelo Clube Bom Começo Darcy teve a proposta de jogar num clube melhor chamado Nacional Para Sempre. Depois de um ano, a adolescente foi convidada para participar do time de futebol feminino pelas Olimpíadas. Antes das atletas entrarem em campo a comissão organizadora tirou sangue e recolheu as urinas delas para fazer exame antidoping. No primeiro jogo Darcy fez três gols e seu time ganhou. Porém, de noite, a moça foi comunicada que os cientistas da comissão acharam grande quantidade de hormônio masculino em seu sangue e a impressa espalhou a fofoca de que a jogadora poderia ser, na verdade, um homem. Então uma das colegas da atleta perguntou:
- Será que você é daquelas pessoas que mudou de time?
Darcy não respondeu nada apenas lembrou-se da sua professora do Jardim de Infância que, também, citou a expressão “mudar de time”. Deste jeito um sorriso apareceu nos lábios da jogadora.
Por causa de toda esta confusão, uma ginecologista foi chamada para fazer um exame detalhado na atleta. Depois da consulta, a médica escreveu um laudo afirmando que Darcy era hermafrodita, ou seja, ela apresentava características dos dois sexos.
Após esta revelação, jornalistas de todo o mundo chegavam perto da moça e diziam coisas como:
- Com relação à sexualidade para que time a senhora joga?
- A senhora é heterossexual, bissexual, pansexual ou assexuada?
Desta maneira Darcy sempre respondia:
- Com relação ao sexo e aos sentimentos eu sempre jogo no time do meu coração.
Depois de toda esta reviravolta nenhum time do mundo quis mais contratar a jovem. Só um clube chamado Coloridos Definidos interessou-se pela atleta, mas o diretor disse:
- Nós temos interesse em contrata-la desde que você defina seu sexo, ou seja, faça uma operação para ficar mulher ou para ser homem.
Assim a jovem disse:
- Neste momento, eu não quero mudar de time. Pois fiz isto a vida inteira.
- Hoje desejo lutar pelos direitos dos hermafroditas. Pois precisamos assumir a nossa condição sexual e mostrarmos ao mundo que somos gente como qualquer pessoa.
Desta maneira ela lutou pelos direitos dos hermafroditas, dando palestras e lutando pelas cotas desta categoria. Algum tempo depois esta pessoa montou um time de futebol só com seres humanos hermafroditas.
Dez anos depois Darcy notou que a sua pele começou a desbotar. Então, ela foi até ao dermatologista, que constatou que esta mulher sofria de vitiligo, uma doença cutânea caracterizada pela despigmentação das partes da pele gerando manchas pálidas. Deste jeito o médico comentou:
- Diante desta situação, sugiro que a senhora faça operações plásticas, iguais a do cantor Michael Jackson, para tornar a pele cada vez mais branca.
A moça exclamou:
- Jamais farei isto!
- Pois tenho orgulho da minha etnia afro-brasileira e da cor da minha pele. Eu posso mudar de time, mas nunca mudarei a minha raça e muito menos a força do meu pensamento.





Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 22 de junho de 2010

Tempos


Naquela manhã, tudo era muito diferente. Acordei sem ser chamada repentinamente como sempre e por isso meu humor não me foi arrancado no meu primeiro suspiro. Com pouca claridade no quarto, caminhei até o banheiro e depois até a cozinha. Lembro-me que não tinha aquele cheirinho de café preparado na hora, nem algo queimando como, por exemplo, torradas. Nenhum zumbido, nenhuma “falação”, nenhuma “encheção” matutina. Sentei-me na mesa com aquelas pessoas, mas nada havia para comer. Levantei então e preparei um café meia boca. O café era uma das poucas coisas que permaneceu: o resto era tudo em cápsula. Sem nenhum “tchau”, sem nenhuma “até mais” e “bom dia” por parte daqueles seres, segui o resto das minhas 24 horas. No trabalho, ninguém cumprimentava perguntando se eu estava bem. Não havia brincadeiras, conversas e descontrações, tudo era metódico e perfeito. Parece que estávamos treinados para isso, mesmo que eu não me sentisse assim. No almoço, cápsula e a tarde, café sem leite, pois leite era algo que as pessoas não precisavam mais, como de nenhum animal. Logo após o serviço, o lazer era apenas assistir em grandes telões nas ruas ou shoppings filmes que retratavam um pouco do mundo passado, que já fora vencido. E a noite, dormir para esperar novamente tudo aquilo. Naquele dia, pensava em quantas vezes sonhei com esse mundo perfeito e seres perfeitos. Mas de algum modo como não me sentia bem no mundo em que tinha vivido cheio de problemas, ali também não era tão perfeito quanto pensava, e mais uma vez, não me sentia parte dali. Sem nome, sem identidade. Dormi. “ACORDA”, chamaram-se brutamente, de forma a me assustar e tirar meu humor. Acordei com aquele cheirinho de café feito na hora pão torrado. Segui até a cozinha, encontrei minha família, cobrando para eu tomar o café da manhã porque senão isso e senão aquilo. Fui para minhas atividades diárias onde mesmo que tenha recebido muitos “não” e pouco sorriso, recebia também agradecimentos, brincadeiras e consideração. Após meu dia, tinha lugares para freqüentar, onde podia sorrir dançar e me distrair. À noite, quando ia dormir, mesmo aos trancos e barrancos, mesmo diante das justiças e injustiças, eu sonhava em um dia que não teria mais tudo aquilo ali. E assim, sabia que no outro dia era desse mesmo jeito que queria acordar.


Bianca Nascimento

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tema da Semana: Mudando de time
Liberdade

6 horas da manhã
Num pulo só, acorda para surfar
Vê o sol nascer
Sentado na prancha
Adentro do mar

Sublime como as ondas
O céu azul sutilmente se propaga no ar
O sol a brilhar
A natureza a se exaltar

Estilo largado
Sorriso na cara e alma lavada
O mar a desafiar
E a coragem a se propagar
Astúcia, agudeza de espírito

Mente, corpo, objeto e natureza formam-se um só
Entram em plena sintonia, importando apenas a onda, a prancha e você
Equilíbrio
Contato íntimo e direto com a natureza
Sensação de liberdade

A remada em busca da onda
O vento na cara e cara com a coragem
Coragem essa, alimentada pelo prazer posteriormente retribuído
Sagacidade

Concentração, dinâmica, consciência
Autoconhecimento, reflexão e essência
Respeito consigo mesmo e confiança
A liberdade sim, se alcança.





Bruna Roveda

domingo, 20 de junho de 2010

Rebecca


Seu sorriso em larga escala magnetizava os clientes, desviando a atenção das exageradas cifras de consertos de arruelas que se tornavam verdadeiras reengenharias da sonda lambda. Rebecca se insinuava em pose sedutora entre chaves de roda e correias dentadas, entre a graxa dos mecânicos e a saliva dos visitantes. E seu corpulento dono e admirador nunca a desprezava, apesar do progressivo amarelado da imagem que nem mesmo uma boa camada de verniz UV protegeria da fuligem dos motores engasgados pelo mau combustível e pela irregular troca de óleo. Tratava-a com a mesma deferência com que a mãe e a avó se devotavam a Santa Edwiges, só faltando beijar a imagem quando chegava na oficina às oito da manhã. Romildo tinha certeza que jamais teria uma mulher como aquela em suas mãos calejadas, pois seu corpo robusto e desajeitado já se confundia com o estado de ferrugem dos veículos que reabilitava para as ruas. Sentia-se um geriatra das quatro rodas, só Rebecca insuflava jovialidade naquele ambiente de tédio regado a óleo diesel. Há seis meses arrancou discretamente a página de uma revista da sala de espera do dentista e a batizou de Rebecca. Colou-a com fita durex na parede enquanto repetia seu nome com a boca inchada pela perda do dente siso. O apelido pegou, os colegas passaram a chamá-la de Rebecca, tratando-a como integrante ilustre daquele painel repleto de divas de revistas masculinas. Tentou mudar seu nome quando a esposa quis tornar homônima a filha recém-nascida, mas já era tarde, ninguém iria se referir a ela como Cassandra ou Ilza. Acrescentou um “c” na sua musa de papel para diferenciá-la de seu anjo de fraldas, escrevendo o nome com pincel atômico na base da foto para que ficasse flagrante que não se tratavam da mesma pessoa. Mas Rebecca também gerava gozação de mecânicos e visitantes, e isso por um motivo simples: não estava nua. Enquanto as demais escancaravam seu sexo em poses ginecológicas, Rebecca era contida, recatada e... vestida. Aliás, excessivamente. Usava um vestido amarelo, flor da mesma cor no cabelo e até luvas. Certo, sua bunda e coxas ficavam à mostra, mas estava de calcinha, o que para o grupo era algo absolutamente inconcebível. Uma afronta. Se pelo menos fosse fio dental... Entravam em consenso quanto ao fato de ser aquela uma homenagem aos borracheiros, pois a moça estava trocando um pneu. Ao fundo havia um cartaz com texto em inglês que nunca entraram em acordo se era anúncio de churrascaria ou de posto de gasolina. Mas não entendiam, com tantas mulheres totalmente nuas e desinibidas, o que havia de interessante naquela moça onde se cobria praticamente tudo. O que Romildo viu naquela imagem que o fez furtá-la da mesa de centro de seu dentista, cuidando para dobrá-la sem amassar, escondendo-a dentro do casaco durante todo o tratamento de seu dente sádico e colando-a bem ao centro do painel das Rainhas da Graxa? Seria ela parecida com uma ex-namorada? Ou quem sabe o alento de seu olhar extasiante lhe aliviou de tal forma da dor cravada na mandíbula que resolveu deixá-la de prontidão na parede para o dia em que precisasse novamente de sua anestesia estética? Ninguém sabia e ninguém entendia. Por diversas vezes tentaram substituir Rebecca por uma Shirley de piercing clitoriano ou uma Isadora inflada de silicone, mas Romildo nunca o permitiu. Ao ficarem cientes de tanto apreço, os colegas passaram a usar Rebecca como motivo para fazer troça com Romildo: Tércio ameaçava de utilizar aquela página furtada no dia em que faltasse papel higiênico de novo na oficina; Ciro costumava alardear que iria devolver a imagem ao dentista, pois era seu legítimo dono; Sidney batucava com o torquímetro de estalo na parede, fazendo de conta que a qualquer momento iria acertar com a ferramenta na imagem de Rebecca (sempre batucara ali, mas, depois que a moça de cabelos pretos havia sido fixada naquele ponto, o propósito deixou de ser musical e passou a ser sádico); e Joelson era o mais cruel, costumava brincar de “emprestar a Rebecca”, dizendo que iria levá-la para dar uma voltinha no banheiro, mas que ela voltaria intacta, “só que meio grudenta, sabe?”, arrematava rindo sem deixar o cigarro cair do canto da boca. Romildo o achava o mais asqueroso do quarteto, constantemente limpando as mãos e a nuca numa toalhinha com bordado do Perna Longa que nunca lavava e fazendo comentários sexistas das mulheres que passavam pela frente da oficina, sempre com seu bordão de que “essa é boa pra aliviar a pressão”. Romildo pensou em emoldurar Rebecca em um sanduíche de vidro, mas o serviço da vidraçaria era caro e seria motivo de escárnio ainda maior de seus pares, pois achariam excessiva frescura. Os mecânicos acabaram se conformando com a obsessão de Romildo, sendo que, com o tempo, aliviaram as brincadeiras e ninguém mais se arriscava sequer a tocar na imagem de sua musa. Uma coisa todos da oficina admitiam: o rosto de Rebecca era, de fato, de uma energia hipnótica, tratava-se de um desenho que ninguém conseguia encontrar paralelo na vida real. Acreditavam que, das mulheres que conheciam, apenas a “Ruivosa” poderia lhe oferecer rivalidade nos traços da face e na sinuosidade do corpo: era uma vizinha que morava em casa de parede contigua à oficina, e sempre reclamava do barulho dos equipamentos usados nos reparos automotivos. Invejavam Romildo por ele ser o único que conhecia sua casa por dentro, já que eventualmente era chamado para consertar o chuveiro ou algum eletrodoméstico da irritadiça e bela mulher. Mas a inveja acabava por aí. Todos consideravam Romildo um troglodita acéfalo (logicamente não usando esses termos, mas sim seu significado). Os mecânicos sabiam estar naquela profissão por carência de dotes intelectuais, mas Romildo era, para todos, aquele que nasceu para a função e não sairia dela nem com 50 anos de supletivo. Porém, também sabiam admitir que era o mais trabalhador de todos. O único que ficava depois do expediente reparando os carros que deixara pendentes de algum conserto e que o dono necessitaria na manhã do dia seguinte. E foi, por reconhecimento a tantas horas extras não pagas, que Seu Jair, o dono da oficina, premiou Romildo com um presente absolutamente insuspeito no dia em que completou dez anos de casa. Ao final do expediente, chegou na oficina um carro tripulado por uma mulher que, ao sair, revelou-se idêntica a Rebecca: usava o mesmo vestido amarelo, a flor no cabelo, as luvas brancas nas mãos e o salto alto nos pés. Ostentava o mesmo penteado, a mesma maquiagem, o mesmo tom negro nos cabelos, tudo. Foi ovacionada de imediato por todos os mecânicos, que logo parabenizaram Romildo pela década de bons serviços prestados, e saíram sem mais delongas para deixar o homenageado a sós com seu presente. No banco de trás do Maverick vermelho em que a pseudo-Rebecca chegou, fizeram um sexo rápido e sem se despirem. Ambos pareceram cumprir tabela para a função que contratante e colegas mecânicos lhes atribuíram. Enquanto levantava a calcinha branca e acendia o cigarro fora do carro, Rebecca cover se aproximou da imagem que inspirou a confecção de seu traje e indagou qual o motivo de tanta admiração por aquela mulher, ao ponto de seus colegas, para enviarem a referência à costureira, terem de fotografar a pin up por saberem não poder tirá-la daquele posto que era seu santuário. Foi então que Romildo resolveu fazer sua revelação. Descolou do durex aquela página já enrugada pelo tempo e deixou surgir um pequeno buraco na parede. A prostituta deu o cigarro para Romildo segurar e se aproximou, fechando um olho e encostando o outro no orifício. Foi quando avistou, do outro lado, a “Ruivosa”, a vizinha pela qual todos os colegas mecânicos salivavam, tirando a roupa para tomar banho. Um ritual que se repetia sempre no mesmo horário, sempre depois do expediente da oficina. Romildo explicou que tinha medo que os demais mecânicos descobrissem aquela passagem secreta para o paraíso, pois iriam botar tudo a perder com fofocas, alarde na vizinhança e até cobrança de ingressos para quem quisesse apreciar. Então, teve uma ideia quando estava no dentista, usando a imagem da pin up para camuflar sua conexão com aquele universo dos sonhos. Ele percebeu ser possível avistar a vizinha pela oficina quando, ao ir em sua casa para consertar o chuveiro, notou o som do torquímetro de estalo de Sidney sendo batucado do outro lado da parede. Com um estudo de angulação adequado, uma furadeira e o encontro de uma posição que não ficasse na linha dos olhos da vizinha, foi só partir para o trabalho braçal e voilà! Admirada com a engenhosidade do mecânico, a falsa Rebecca recuperou seu cigarro daquela mão de dedos grossos, deu a última tragada, prometeu guardar segredo e foi embora a bordo do Maverick. No dia seguinte, os mecânicos mal abriram a oficina e já foram indagando Romildo sobre a aventura da noite anterior com sua musa da parede. Ele sorriu timidamente e desconversou, indo até o portão de entrada para continuar a beber seu resto de café enquanto apreciava o trânsito. Ao seu lado, Joelson equilibrava o cigarro no canto da boca quando passou à frente da dupla a “Ruivosa”. “Essa é boa pra aliviar a pressão!”, disse ele enquanto esfregava a toalhinha do Perna Longa no rosto e nas mãos, a mesma na qual Romildo aliviava a pressão todos os dias após o expediente.

Mario Lopes

sábado, 19 de junho de 2010

Múltipla Escolha


Qual é a sua?


Guardar dinheiro pra viajar
ou torrar sem se preocupar


Estar perto de quem gosta
ou ter todos em sua volta


Ouvir pra entender
ou falar sem parar


Ser de verdade
ou fazer de conta


Uma cerveja antes do almoço
ou uma soneca depois


Mensagem virtual
ou abraço real


Mudar pra melhorar
ou insistir sem conseguir


Frio tomando vinho
ou calor tomando cerveja


Buscar a paz
ou perseguir a ilusão


O que você quer
ou o que os outros querem


Ganhar menos fazendo o que gosta
ou ganhar muito sem curtir seu trabalho


Sorvete na casquinha
ou no palito


Colocar você e tudo que compreende sua vida em primeiro
ou se deixar pra depois tentando agradar a todos


Nossas escolhas dizem o que somos, o que gostamos e queremos.
Podem aproximar, ou afastar.
Momentos.
Eu já fiz as minhas... pois agora diga quem você é.





Liliana Darolt

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Trevisan em Poucas e Boas


Chico sai de casa, deixando família e lugar na mesa para trás, em busca de uma cidade chamada Nápoles. Passa a vida em Curitiba, às margens do Rio Belém, sonhando com o local, se esgueirando da realidade, contraindo tifo, pneumonia e tristeza e morando de pensão em pensão.
Tudo isso em apenas 3.585 caracteres, muito bem utilizados por Dalton Trevisan no conto “A Pensão Nápoles”, extraído do livro “Em Busca de Curitiba Perdida” (Rio de Janeiro: Record, 1992, 90 páginas, R$ 28,00). Não fosse a narrativa densa e envolvente, a história passaria despercebida, mas é justamente o incômodo causado pelas entrelinhas que leva à reflexão e à ânsia de uma releitura imediata. O conto de apenas uma página é multiplicado pelo próprio leitor e caso se transcrevam todas as teorias, pensamentos e emoções geradas durante a leitura, um romance poderia ser escrito.
“A Pensão Nápoles”, como todos os contos de Trevisan, é econômico em palavras, mas não em complexidade. Chico, o personagem que vive em razão de um único sonho, passa sua vida a correr atrás do inexistente e a buscar o que não tem volta. Porém, quando enfermo e em estado de delírio, ele é tomado por uma sanidade às avessas que o faz enxergar o cerne dos problemas de sua vida e a, pouco a pouco, enxergar a verdadeira realidade. Mas talvez já fosse tarde demais.
Chico parece uma criança fantasiada em uma vida medíocre de adulto. Uma vida suja, depressiva, triste e ilusória, de alguém que sabe que errou e continua persistindo no erro, mais por falta de opção do que por outro motivo.
Mais do que apenas mais uma obra de Trevisan, a Pensão Nápoles é um aviso aos sonhadores para que mantenham os pés no chão, saibam exatamente o porquê de seus sonhos e tomem cuidado para não serem ultrapassados por eles na estrada da vida.
É um estudo literário sobre um simples cidadão que por um erro infantil, teve sua vida naufragada pelos próprios anseios.
“A Pensão Nápoles” é um passatempo para se refletir, por horas e horas.



Pensão Nápoles

Desde que aportou a Curitiba, às margens do rio Belém, sempre nas unhas o barro amarelo. Para ser feliz deveria, menino, ter pescado lambari de rabo vermelho. Sonhava fugir para outra cidade – ah, Nápoles!
Escriturário, noivo, bigodinho, morou em todas as pensões: Primavera, Floriano, Bagdá. Definhava ora na sórdida espelunca de nome pomposo, ora na salinha escura do escritório, a espirrar entre o pó dos papéis. Eterna promessa de ano seguinte aumentarem o salário – não podia esperar mais um ano. Perseguia o voo das moscas, contava as rugas da testa do gerente, errava as contas e, ao receber a correspondência, indagava ao carteiro:
– Alguma carta de Nápoles?
Sabia o que era – o chamado das janelas. Em vez de partir, mudava de emprego, noiva, pensão. Respondia ao primeiro anúncio de – Precisa-se moço lugar de futuro. O futuro? Outra rua de Curitiba, plátanos antigos na calçada, solteironas à janela, rio Belém dos quintais miseráveis, um moleque atrás do lambari de rabo vermelho.
A salvação era casar, escapulir para o outro lado da cidade, onde o rio não chegasse – com as chuvas alagava os quintais, cobria os sapatos de lama, os sapos coaxavam na cozinha. Irrompia, sem aviso, sob os pés dos amantes distraídos. A prefeitura ignorava-lhe o curso subterrâneo; rio de pobre, não fora o Belém, com que água as mães dariam nos piás o banho de sábado?
Trinta anos, magrinho, bigode preto, Chico fugia do rio. Era moço triste. Naufragou com seus trastes na pensão Nápoles, não a escolheu pelo nome. Condenado às pensões baratas que margeiam o rio, partilhando o tifo preto do rio Belém e agora sem emprego. Diante de uma janela, o vento da viagem arrepiava os cabelos do peito magro:
– Na minha idade, já viu, o que Alexandre Magno...
O outro olhava-o com espanto.
Não fosse o rio... – em cueca na cama, limpando sob a unha uma sombra de barro.
Com o tifo até a noiva perdeu, ele sempre noivo! Não conseguia dispensar uma noiva na sua solidão. Breve namoro, entrava na sala, elogiava o café com rosquinha. Domingo era certa a galinha com vinho. Uma casa para se abrigar à noite, em vez de correr na garoa. Moço sem futuro, a noiva devolvia o anel.
Depois do tifo preto a pneumonia. Tardes alucinantes de febre, Chico se lembrava do pai. Severo, não admitia riso. Quando fugiu de casa imaginou que nem lhe desse pela falta. Nunca escrever, informando o endereço, na ronda das pensões. Tarde demais soube que o velho não deixou retirar seu guardanapo da mesa. A mãe colocava mais um prato, assim viesse todos aqueles anos almoçar e jantar em casa. De noite, o pai subia ao quarto do rapaz: Chico, Chico, você voltou? Morreu antes que o filho visitasse a família. Agora sonhava com o velho, ao lado da cama: Chico, veio para casa, meu filho?
Se ao pai matou, às noivas mal não fez. Oh, as noivas de Chico – a todas amou! Nem uma entendeu que não queria ser enterrado com os pés no rio Belém. Propunha fugirem para outra cidade. Qual das ingratas confiou no seu amor? À noite rondava-lhes a casa, todas dormiam, esquecido na garoa fria.
Em junho é a garoa o céu de Curitiba. Sob a janela de uma ex-noiva começou a espirrar. A dona da pensão Ali Babá não o quis com aquela tosse. Escondido dos hóspedes, retirado para a enfermaria coletiva. Aquecia-se atrás da vidraça no raio de sol, os serventes abandonavam uma cama vazia no pátio – que fim levou o doente?
Depois do tifo preto e da pneumonia a pensão Nápoles. O nome não o deixava dormir.
– Se embarcasse na Santa Maria, na Pinta, na Niña?
Cuspia lá da janela, cuspia sangue contra o rio.
– Não tem mar, Chico, na tua Curitiba.






Letícia Mueller

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Resiliência


Me peguei pensando sobre minha vida e nas coisas que realizei, no que poderei realizar, nas dificuldades que passei e que todos passamos todos os dias e, em uma conversa com um amigo, surgiu a palavra resiliência. Curiosa palavra que tem um siginificado,mas várias vertentes. E eu tentei me encaixar em pelo menos uma delas e fui ao dicionário procurar em qual. Então comecei uma autoanálise para recordar quem eu sou e assim ter um ponto de partida.
Em um breve resumo – mas breve mesmo porque com 36 anos muita água já passou debaixo dessa ponte - eu lembrei que era boa em português, mas era aluna mediana, lia pouco. Peguei o gosto pela escrita devido a minha imaginação fértil, típica do mundo de fantasias do sagitariano e se minhas redações eram boas, achei que um dia poderia escrever muito melhor. E fui fazer um curso na área de humanas, me tornando uma boa radatora, uma redatora mediana, ter que trabalhar me impossibilitava de exercer minha vocação, se é que me entendem.
Saí da cidade, tive uma vida mal planejada que resultou em uma volta apressada, me descobri dona de casa com dois filhos quando menos esperava. Passado algum tempo, eu descobri que muitas coisas que eu não tinha feito, eu ainda poderia fazer, se parasse de colocar desculpas no que eu não podia ser. E então, meti o pé em tudo, acabei um casamento, comecei a estudar de novo, comecei uma nova vida, passei por difíceis provas, chorei, sofri, não lembrava mais o que era ler um bom livro, o que era escrever um bom texto. Depois superei tudo isso, comecei em um bom trabalho, fiz novas amizades, conheci outros lados da vida, comecei e recomecei várias vezes e finalmente descobri: sou uma pessoa resiliente.
Resiliência é uma palavra que a psicologia tomou emprestada da física e pode ser definida como a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas, como choque ou estresse, sem entrar em surto psicótico. Tá,tudo bem, eu sou um pouco surtadinha às vezes, mas estamos falando de grandes surtos, ok? Job (2003), estudou a resiliência em grandes empresas e diz que se trata de uma tomada de decisão entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer ao se deparar com um contexto de pressão, ou seja, tais conquistas face essas decisões propiciam forças para que a pessoa enfrente a adversidade. Na natureza, é aquela plantinha que insiste em crescer no meio do lixo e que por mais sufocada que pareça estar, retira do solo somente o que precisa para crescer e, mesmo cercada por podridão, transforma-se em uma linda flor – que eu quero me tornar um dia. Na real, é um exercício de superação.
Posso falar de resiliência organizacional, psicológica, ambiental, natural, o significado geral é: capacidade de superar o distúrbio imposto por um fenômeno externo, ou seja, o que você teoricamente não pode controlar.
Em minha modesta opinião, acredito no acreditar. Meus esforços se concentram na convicção de que posso controlar meu destino e que depende de mim chegar ao que desejo. Ok, já quebrei a cara pensando assim e se existe predestinação, então posso estar errada e talvez tenha que recomeçar tudo de novo. Mas tá, e daí? Já recomecei tantas vezes, mais uma será só mais uma e além do mais se estou aqui contando tudo isso é sinal de que resiliência não mata, ajuda a viver.
Ou não né, você pode ficar aí se lamentando o resto da sua pobre e triste vida e como diz um personagem do cinema, famoso por punir pessoas que não dão valor às suas vidas: “This is your choice”.

Angelica Carvalho

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Meus Dias



Os meus dias foram quase todos passados entre lençóis

Os lençóis sempre amassados

O amasso geralmente prolongado

Um prolongamento interminável

Vivendo a antítese de um término previsto

Pois as coisas boas são assim, acabam.

As ruins também, mas levam mais tempo.

A representação mais verossímil do que pode ser a minha vida amorosa, é o meu quarto.

Quase sempre tropeço nas coisas que eu mesma deixei cair pelo chão

Minhas gavetas transbordam inutilidades que não tenho coragem de me desfazer

Meus lençóis já ficaram sujos por todo tipo de líquido

E bato cinzas em um coração de porcelana.

É tudo tão desorganizado, e ainda que eu tente colocar alguma ordem, é inútil.

Haverá sempre coisas desconexas, largadas ao chão, objetos descartáveis, sujeira e cinzas por toda parte.

Serei sempre viciada nos prazeres mais secretos, que as vezes revelo

Nas frases inacabadas, acrescentando sempre meu próprio final

Nos amores que me deixam calos nos olhos

Nos sorrisos presos nas pontas dos dedos

E nos pensamentos, que quando calados, exalam pecado.





Jéssica Ferreira

terça-feira, 15 de junho de 2010

Estrelas Terrestres


Certa vez, de tantas vezes, observei as mesmas estrelas. Eu sabia que eram sempre as mesmas, pois rodeavam a lua de uma forma estratégica todas as noites. Minhas indagações e sentimentos também eram os mesmos. Por que estou aqui? Quem fez tudo isso ai?E ao mesmo tempo, sentia a beleza daquelas estrelas e a luz lunar entrarem em meu peito, a ponto deu pensar também se não estava tudo ao contrário, se minha casa não era lá, pensava eu do quintal de minha casa terrena. Meus pensamentos, por mais limitados que fossem pela minha condição humana, tentavam imaginar o que aquelas estrelas e a lua observavam no mesmo momento em que me viam também. Quantas lágrimas, perdas, mortes, vitórias, injustiças, fome e doença não estariam vendo neste exato momento. E mesmo vendo tudo isso, elas continuavam brilhando, a lua às vezes sorria quando minguante, e eu chegava a ter inveja de tamanho brilho e beleza em meio de tanta dor e injustiça que estava tendo no mundo. Queria ser como elas, brilhar como elas ou estar com elas? Na verdade, queria voltar para casa, longe disso tudo, ser abrigada novamente por um além em que eu pudesse ser outro tipo de ser, que não o humano. Ao mesmo tempo, me dei conta que eu já era como as estrelas: quantas vezes observei, em meio a escuridão, pessoas dormindo na rua, crianças pedindo moeda, doentes terminais, das guerras e crianças morrendo de fome, governos tiranos que construíram parte de nossa história. E eu nunca pude fazer nada, apenas assistir. Porém, a lua e as estrelas viram todas as desgraças desde o começo da humanidade, quando eu ainda nem sabia o que era o viver. Quantas vezes queriam emitir sua luz e invadir o coração dos desesperados. Mas não dependia delas e sim das pessoas que não as viam com tamanho poder e beleza. Mas assim como eu, um ser dentre outros bilhões de humanos, as estrelas ao lado da lua, em meio a trilhões de outras como elas, não deixaram de brilhar, não deixaram sua luz apagar e como a lua, em meio de tantas fases, não deixou a sua fase de sorrir.


Bianca Nascimento

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Semana de Tema Livre

Fascínio


Tomei gosto por um romance imoral,

Nada além disso.


Um crime passional,

Sem nenhum compromisso.


Você, ser adorável

Latente e lactante.


Carismático e sarcástico

Volúvel e vulnerável.


Ácido como “doce”.

Doce como “bala”


Prosa de dia, à noite,

poesia de rima rara.


Cada acorde

da tua música insana,

e a tua voz rouca

de quem acaba de acordar,

faz essa balzaquiana

lembrar da tua boca e chorar

mais alto que a harmônica.


Você que me deixa insone,

Me faz perder o rumo e some.

Envolveu-me como num amplexo,

Esse destino irônico.

Entorpeceu minha alma...

aflorou meu mal patológico.

Deixou uma tristeza calma.

De morrer de amor platônico,

pra viver esse caso complexo.



Juliana Biancato

domingo, 13 de junho de 2010

Recheio Surpresa



Os efeitos colaterais começaram no domingo. Uma indigesta contra-indicação surgida apenas um dia depois da Festa de Santo Antônio. Naquele sábado de Dia dos Namorados, Jandira compareceu à paróquia do Abranches certa de que conseguiria sua medalhinha na fatia de bolo de pão de ló. Seu passaporte para casamento certo, com as bênçãos do santo que cansara de mergulhar de cabeça para baixo no aquário do irmão mais novo. Seus 25 anos já anunciavam a ameaça de uma vida de solteirice e lamúria, segregada pelas quatro irmãs, sendo uma delas três anos mais jovem e já gozando de núpcias coroadas com um sobrado de três quartos no Bairro Alto. Faria todo o necessário para reverter aquela sina que se tornara motivo de chacota nas festas de família. Trapacearia se fosse necessário. E o foi. Esfarelou sua fatia de bolo com o garfinho de plástico até as migalhas não deixarem dúvida de que a tão cobiçada medalhinha não constava entre os itens do recheio. Mas eis que uma colega de súplicas ao seu lado se distrai, deixando à mostra o dourado da medalhinha escapulindo por aquele amarelo pálido da massa misturado ao mingau de abacaxi. Aproveitando-se da tagarelice da desavisada moça com suas amigas, Jandira pinçou discretamente a relíquia sagrada com as pontas dos dedos, jogando-a rapidamente em seu pratinho de plástico. Antes que alguém a flagrasse ou lhe desse voz de prisão, Jandira tratou de gritar e vibrar, erguendo o pequeno objeto com a mesma convicção da moça que pega o bouquet da noiva no dia do casamento. Logo foi parabenizada pelas demais e tratou de sair de fininho, deixando sua vítima a cavar seu doce inutilmente.
Chegando em casa, Jandira beijou diversas vezes a medalhinha, solitária em seu quarto, deitando na fria cama de solteira e guardando seu pequeno objeto do desejo dentro do bojo esquerdo do sutiã. À noite dormiu como criança, mas não sem antes repassar pela memória todo o biotipo do futuro pai de seus filhos. Indagava-se de qual seria a cor de seus olhos, sua formação escolar, a fonética do sobrenome complementando seu Souza, a semelhança com este ou aquele artista de cinema, se teria barba ou apenas um par de espessas costeletas... zzzzzzzzzzzzzzzzz.
O pretendente enviado por Santo Antônio chegou realmente com grande brevidade, logo na missa das dez. Sentara dois bancos atrás de Jandira, olhando-a de forma absolutamente indisfarçável. Mas não era parecido com nenhum dos modelos que desfilaram por sua passarela mental na noite anterior. Um homem rude, de traços grosseiros, dedos grossos, pálpebras pesadas, pele árida e cheia de sulcos profundos mesmo parecendo ser ele de pouca idade, cabelo empastado pela brilhantina, narinas excessivamente abertas formando duas crateras no meio da face, uma barba semi-grisalha e de pêlos mal distribuídos, orelhas de abano e uma dentição avantajada, que Jandira de imediato associou aos equinos que cavalgara temerosa na chácara de seu tio Osvaldo. Evitou de olhá-lo para não parecer que lhe estava dando trela. Mas a curiosidade para confirmar se estava de fato sendo fitada por ele, somada à estranheza com aquela aparência tão aquém de suas expectativas (complementada pelo figurino que faria ruborizar o estilista de Genival Lacerda), a fez virar-se mais de uma vez para trás, deixando a estranha figura crente de que se tratava de um eco a seu olhar apaixonado.
Os dias se passaram e o homem da igreja começou a perseguir Jandira. Ele esperava por sua saída de casa, indo atrás dela até o ponto de ônibus e aguardando Jandira adentrar no coletivo a caminho do trabalho. No começo, mantinha certa distância, mas não tardou a deixar de lado a preocupação em ficar desapercebido. Em pouco tempo já tomava a condução junto com Jandira. Logo sentava-se a seu lado. Dias depois, ensaiou uma conversa, perguntando as horas em dada ocasião, comentando do frio em outra, e assim foi, sem receber dela a mínima pelota. Pelo contrário. Jandira cogitou com a família de pedir proteção policial. Mas todos se colocaram desfavoráveis à ideia, pois descobriram que o obcecado pretendente era um feirante pacato e humilde cujo passado não encontrava qualquer episódio que depusesse contra a fama de bom rapaz. Apenas borrava seu histórico uma recente desventura amorosa, o que era absolutamente tolerável, visto que sua aparência certamente não propiciava grandes êxitos no campo afetivo (ficava óbvio para todos que, se houve alguma frustração romântica em sua vida, certamente é porque alguma mulher o rechaçara). Pelo visto, Jandira era a mulher que poderia lhe apagar essas infelizes cicatrizes na memória.
Cansado daquela abordagem infantil, Sandoval (este era o nome do feirante) resolveu logo se declarar. No pior lugar e na pior situação: dentro do ônibus, numa manhã chuvosa de segunda-feira. Jandira apenas se levantou e apertou a campainha para descer no próximo ponto, voltando para casa no meio do dilúvio e perdendo o dia de trabalho. Chorou e implorou para que não atendessem a porta se ele batesse. Foi convencida de que aquele não era o fim do mundo. E que até seria interessante se Jandira desse alguma chance a Sandoval, afinal Santo Antônio não podia ter errado tanto. Ela já estava com certa idade, e o moço tinha passado ilibado. Poderiam ao menos ser bons amigos.
Jandira então aceitou a companhia de Sandoval até o ponto de ônibus todos os dias. Também aceitou de saírem eventualmente para pegar um cinema no shopping, tomar um sorvete ou simplesmente caminhar pelo Parque São Lourenço. Aos poucos foi conhecendo o lado de Sandoval que ficara ofuscado pelo reluzir de seus dentes desproporcionais que saltavam por entre os lábios. Comovera-se com o passado triste do feirante, órfão de pai e mãe ainda menino. E se identificara com os sonhos de um dia comprar casa em Praia de Leste. Estavam longe de se tornarem íntimos, pois Jandira permanecia escorada em sua barricada de reservas, resistente a se envolver com alguém tão incompatível com suas pretensões conjugais. Mas na família o falatório era geral, com as irmãs brincando que aquilo já era namoro e o irmão mais novo se arriscando a tirar Santo Antônio do aquário, visto que sua missão estava a caminho de ser cumprida.
Cansada de hesitar entre o namorico e a embromação, Jandira deixou-se beijar numa noite de terça-feira, quando escoltada do ponto de ônibus para casa. Apenas se deu ao trabalho de esticar os lábios na direção de Sandoval, que mal acreditou em tamanha sorte trazida pelo destino, correspondendo de imediato ao apelo daquela boca fazendo bico, entregando-se enquanto os olhos fechados pareciam dizer “não me importo, Sandoval, faça o que quiser”. Aquele primeiro contato foi o estopim para uma reação de proximidade e planos que correu de forma acelerada. Quando se deram conta, já estavam sentados no gramado do São Lourenço escrevendo a lista de convidados para o casamento, enquanto apreciavam o lago, as ovelhas e outros casais de mãos dadas.
Alugaram a sede social da paróquia do Abranches, que comportaria facilmente os cerca de 50 convidados. A cerimônia foi seguida de churrasco e dança gauchesca protagonizada pelo marido gaiteiro da irmã mais velha. Dançaram a “Valsa do Imperador” e passaram a gravata para ser dada em pedaços aos convidados em troca de uma módica quantia para colaborar com a lua de mel (que, claro, seria passada em Praia de Leste). Mandaram fazer um bolo redondo de dois andares, com glacê formando um par de corações bem no alto. Sandoval estourou a champanhe, depois cruzando taças para o brinde e as fotos tiradas pelo irmão do noivo. Jandira cortou o bolo, distribuindo as primeiras fatias aos familiares mais próximos e depois voltando à sua mesa, pois às suas costas estava a churrasqueira e começava a sentir seu vestido ficar defumado. Recebeu também ela sua fatia de bolo, tratando logo de engolir um bocado para certificar-se de que o sabor era fiel ao que a vizinha doceira tanto enaltecera na hora de oferecer o confeito para a cerimônia. Mas, ao invés de doce, sentiu um sabor amargo que desceu áspero pela garganta, fazendo-a ficar tonta de imediato, desfalecendo em frente a todos os convidados, nem dando tempo para chamarem uma viatura do Samu.
Dois dias depois do sepultamento, descobriram a autoria do assassinato. Era obra da moça de quem Jandira roubara a medalhinha de Santo Antônio. A ex-noiva de Sandoval.


Mario Lopes

sábado, 12 de junho de 2010

Bonitinho, Mas Ordinário



Este pode não ser o tipo de texto que você gostaria de estar lendo em pleno dia dos namorados, mas é sempre bom manter os olhos bem abertos para ver se seu namorado não é apenas mais um desses bonitinhos ordinários.
Sábado, finalmente o fim de semana chega e Júlia mais que tudo quer relaxar, esquecer e se livrar por pelo menos dois dias de suas obrigações e seus problemas diários. Opa, na verdade ainda há um probleminha do qual ela não se livrará: seu namorado!
Então, para saber sobre, logo de manhã Júlia liga para ele e pergunta:
- Bom dia amor! Tudo bom? E ai, quais os planos para hoje?
E o espertinho que já tinha se programado responde:
- Então amor, combinei de ir ver um jogo hoje a tarde na casa do Paulinho. Só não te chamei pra ir junto porque só vai ter homem e as namoradas dos pias nem vão também.
Júlia só responde:
- Hum, sei.
Logo em seguida, Matheus responde já finalizando a conversa:
- Mas, assim que eu chegar em casa, te ligo e a gente combina algo pra hoje a noite, tudo bem?
Ela responde:
- Ta, pode ser...
Duas horas e meia da tarde, Matheus e seus três amigos, Cauã, Paulinho e Thiago entram no carro rumo a um churrasco de faculdade do curso de Direito. Chegando lá, se depararam com mais amigos, um monte de cerveja e mulher bonita.
Cauã faz comentários com a galera do tipo:
- Hoje deixamos as mulheres em casa! Hahaha
Todos riem.
Matheus, com certo medinho, já alerta quem os viram:
- Galera, só uma coisa, nossas namoradas nem sonham que a gente ta aqui. Então, se alguma delas ou alguém relacionado a elas perguntar ninguém sabe de nada, beleza?!
Festa open bar e os quatro entortando o caneco. A cada mulher bonita que passava à frente deles, um olhar direcionado para a bunda era aplicado. Ato masculino típico de homem desavergonhado. Secadas e mais secadas continuavam pairando no ar, acompanhadas de cantadas infames nada criativas.
Oito horas da noite, final do “churras”. Seus demais amigos (solteiros por sinal) convidam-os a estender a noite em uma festa na casa de um outro amigo.
- Partiu todo mundo agora pra casa do Carlão!? Altas gatinhas amigas dele, de arquitetura...
Sem falar nas que a gente já conhece, né?
Paulinho se anima:
- É uma boa, hein?!
Thiago brinca com Paulinho:
- Ihhh, olha o cara! A Manu não vai gostar nada, nada disso. Hahaha E nem a Paty! Hahaha
Seus amigos solteiros continuam insistindo:
- Isso ai Thiago, chega de Paty por um dia! Aproveitem que já estão sem elas e bora lá!
- É, qualquer coisa joguem outro migué nas patroas!
Enquanto isso, Júlia entra no MSN e um amigo convida ela e suas amigas para uma festa mais tarde na casa dele.
- Oi linda! Vai rolar uma festa aqui em casa hoje à noite. Chegue ai com suas amigas!
Júlia lê a mensagem, mas não lhe da muita moral, pois havia combinado de fazer algo com Matheus.
- Valeu o convite Fê! De repente a gente aparece ai então!
Retornando ao “churras”, os quatro entusiasmados, quase aceitando a proposta, se entreolham.
Matheus, sem mais delongas, diz:
- Partiu!
Cada um liga para sua respectiva namorada com a mesma desculpinha:
- Oi amor, tudo bom? Como foi seu dia?
- Oi. Bom e o seu?
- Bom também, ficamos lá vendo o jogo, jogando poker e tomando cerveja. To quebradaço!
- Hum.
- Se importa se agente sair outro dia? Ir amanhã pegar um cineminha, algo do tipo? Você escolhe!
Ironicamente elas respondem:
- Tudo bem, sem problemas. Eu já esperava isso de você. Você deve estar mesmo muito cansado... Pode ir dormir!
Com certa pressa para desligar, sem notarem a ironia da resposta, dizem:
- Que bom que você me entende, amor. Amanhã a gente se fala! Te ligo! Beijos!
Aliviados com a facilidade que tiveram em “despachar” as namoradas, retornam à euforia e partem para outra festa.
Indignadas, Júlia, Manoela, Patrícia e Victória trocam mensagens no MSN e resolvem sair juntas sem dar as mínimas satisfações aos mesmos devido ao “bolo” que levaram. Arrumam-se e vão para a festa de Felipe, amigo de Júlia.





Bruna Roveda

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Falatório



Eugênia e Alfredo estavam embaixo dos lençóis, mantas, colchas e edredons, no dia 12 de junho, Curitiba. Conversavam sobre a vida, simplesmente. Já passava das duas da manhã:
- Ai Alfredo, é tanta coisa que a gente vive né. Dava até pra escrever um livro.
- É...
- Pior que dava mesmo... da minha vida, da sua vida... da nossa vida. É Alfredo, que tal? Vamos escrever nossa história?
- Uhum.
- Vai ser demais... e outra né, hoje em dia todo mundo já escreveu um livro. Britney Spears, Kelly Osbourne, Miley Cirus... até a Paris Hilton, dá pra acreditar?
- Hum… até dá amorzinho, recebendo muito dinheiro qualquer um escreve pra outra pessoa e passa os créditos pra ela.
- Ai credo, você realmente acha que alguém seria capaz de...
Alfredo a interrompe:
- Acho. E também, que diferença faz? O livro deve ser um lixo do mesmo jeito.
- É, sei lá. Mas e o nosso? Vamos escrever mesmo, né?
Alfredo já começava a pestanejar.
- Uhum, claro que vamos amor.
Eugênia batia palmas e dava pulinhos na cama.
- Que massa amoor! Acho que vai se o primeiro livro escrito por um casal né?
Alfredo achou melhor não falar o que tinha acabado de pensar.
- Talvez seja sim, sei lá, diz ele, seguido de um longo bocejo.
- Vamos ficar famosos... como será que pode começar o primeiro capítulo?
Eugênia fecha os olhos, concentrando-se, quando de repente, dá um berro:
- NOOSSA! Tive uma idéia de gênio! Vamos começar contando como a gente decidiu escrever um livro sobre a nossa história.
Alfredo já estava de olhos fechados e a boca levemente aberta.
- Pode começar assim ó: “numa noite fria de inverno, em pleno dia dos namorados, nós tivemos uma grande idéia. Para selar nosso grande amor, resolvemos escrever um belíssimo livro, e ...
Ela olha para ele, irrita-se, chega bem perto de seu ouvido, e grita:
- ACORDAAA!
Alfredo dá um pulo e brabíssimo, diz:
- Ai meu Deus, que saco isso Eugênia. Só porque eu to de olhos fechados não significa que estou dormindo.
- Ah é? Então do que eu estava falando?
- Do primeiro capítulo, selar amor, etc..
- É...
Eugênia novamente fecha os olhos para se concentrar.
- Mas e... Ai, saco. E o desfecho? Tem que ser maravilhoso, não pode ser simplesmente um “The End”. Afinal, é o primeiro capítulo né? Tem que causar um impacto, dar um “tchãn” no leitor.
- Claro que não pode... Meu Deus.
Em pensamento, Alfredo fala para si mesmo:
- Ela deve ser pior que a Paris Hilton...
Eugênia fica indignada:
- Ah é? Então, porque você não dá uma idéia melhor? Se não, se continuar desse jeito, seu nome não vai nos créditos.
- Nossa, que tragédia.
Ela dá uma grande bufada, e vira para o outro lado, ajeitando-se para dormir.
Alfredo começa a pegar no sono, quando se lembra de algo, e fala no ouvido de Eugênia, todo dengoso:
- Amorzinho, você esqueceu do que me prometeu ontem?Hãn?
Ela não se mexe.
- Ei, não adianta fingir, eu sei que você tá acordada.
- Ai Alfredo, mas com esse clima? Você é todo grosso, estúpido.
- Ô benzinho, desculpa, mas é que às vezes... você né.. sabe?
- Não sei não Alfredo. E outra, nada a ver fazer agora... os dois com sono.
- Quem disse que eu to com sono?
- Você dormiu enquanto eu falava!
- Mas meu Deus Eugênia, nós estávamos desde às 10 da noite deitados, prontos para começar... e não sei que santo baixa em você pra você não parar de falar um segundo, sem parar, sobre qualquer assunto. Da onde essa idéia de escrever um livro? Eu estava só esperando você parar de falar pra gente namorar um pouquinho, mas sua língua tá sempre tão ocupada, enrolando um assunto atrás do outro. Que saco isso, Eugênia!
- Mas é que... Ai Alfredo, ontem eu estava uma pilha né... louca pra transar. Mas também, vendo aquelas lingeries maravilhosas, qualquer mulher fica. A gente se empolga sabe? Dia dos namorados é fogo, literalmente. Toda loja tem...
- Chega, mulher! Fala de uma vez, você quer ficar de papinho, ou namorar bem gostoso?
- Sabe o que eu não entendo? Essa obrigação de ter que transar no dia dos namorados... não faz sentido nenhum. E se eu tivesse menstruada? E se... Sei lá, todas as camisinhas do mundo tivessem acabado? Todo mundo ia querer...
Alfredo ronca, e acorda às 10 da manhã com a voz de Eugênia ainda falando sobre lingeries, dia dos namorados, sexo, Paris Hilton, “the end”, torta de queijo, pesadelo, Egito, e assim por diante.



Letícia Mueller

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Anjos


De todas as relações humanas - e quando digo relação me refiro ao termo onde pelo menos duas pessoas trocam sentimentos sejam eles quaisquer – a talvez menos compreendida seja o tal do namoro. Sim, o namoro, aquele que deveria ser o básico, que deveria trazer os melhores momentos a dois, as melhores recordações, é o mais desconhecido pela maioria dos humanos. As palavras se transformam em armas e os amantes em artilheiros, fácil. Basta entrar em ação a tal da mentira, com sua ardilosa e transtornada mania de se meter nas relações.
E depois dela, o que parece um sonho, vai pelo ralo se desmanchando em lágrimas e dor. O mais perfeito homem, com suas gentilezas e carinhos, torna-se um assassino de corações, patético enganador, aproveitador e sedutor. A mocinha delicada, “mãe dos filhos dele”, doce e amável, torna-se uma vadia sem escrúpulos, manipuladora, cínica, mentirosa... mentirosa... O namoro não passou de enrolação ou o rolo que você achava que tinha virado namoro era só uma ilusão? Quantas vezes já viu, ouviu ou sentiu isso?
Não pretendo transformar as relações amorosas em quadros de morte e escravidão, ao contrário. Quero informar que vocês estão redondamente enganados sobre a definição de namoro. Estão abusivamente errados sobre o que significa ter uma relação feliz e estável. A começar pelo erro mais primário: estão à procura, à eterna procura de alguém que intitulem namorado(a) e que será responsável pelo seu sonho de felicidade. Acham que andando por aí pendurados no pescoço de alguém vão ter encontrado a tal felicidade e depois de exibi-lo(a) para todos os seus comparsas de balada, vão ser altamente invejados por parecerem tão... felizes.
Mas isso até ela começar a sentir ciúme de você, né gato garoto, porque daí vai ser a morte. Ou ele, começar a implicar com tuas roupas querida, e vocês passarem mais tempo discutindo em casa do que naquele compromisso que era para ser tão romântico. Realmente, os namoros dão errado porque começam errado. Melhor, na verdade não dão errado porque você nunca namorou, só acha que namorou, você teve foi um penduricalho a mais naquela coleção que costuma exibir por aí. Porque namorar, de verdade, eu vou explicar humilde, mas caprichosamente o que é. Muitos já devem ter lido por aí, ou sentido ou visto, mas sempre vale lembrar o que os humanos costumam esquecer.
O amor não é encontrado em frasquinhos, nem cai das nuvens. Ele não é fórmula e, portanto, não existe receita para ser feliz ou para ser amado. O amor está na tua cara, mais precisamente dentro de você. Não está em ninguém, não está em um pacote que inclui, buffet, noite de núpcias ou viagem para a Polinésia Francesa. O amor surge naturalmente, traz paz e não precisa sequer de contato físico. Não, não estou sendo hipócrita, claro que sei que os namoros são muito melhores pessoalmente, cheios de carícias, de loucuras e tudo mais. Mas não estamos falando de namoro, certo? O (falso) namoro ficou no parágrafo anterior, se me permitem e nem sinto falta dele.
Estamos falando de amor. O que acontece de verdade, o que certamente você vai viver uma ou duas vezes, no máximo, na sua vida inteira, que vai viver incondicionalmente. E que nunca vai esquecer. Você pode passar por tudo, até se casar com outra pessoa, ter filhos, mas aquele amor... nunca você vai esquecer. Vai ter as melhores recordações, vai passar mais tempo perto daquela pessoa do que de qualquer outra, vai tê-la em cada pensamento ou momento bom e o melhor: vai ser retribuído por tudo isso, sem pedir, sem esperar. Vai ter alguém que o amará da mesma forma, que terá por você o mesmo carinho, o mesmo amor, sem que seja preciso dizer isso o tempo todo, sem que seja necessário se verem todos os dias, sem que ele(a) te traga um pingo de dor. Você vai sentir saudades... isso vai.
Esse amor é lúcido, é calmo. Esse amor nunca espera nada, por isso só te traz alegria. Você vai ter a certeza de que um ser superior te enviou um anjo. Para te salvar e cuidar de você, para te entender. Entender quem você é, o que deseja e até onde pode chegar. É alguém que vai estar eternamente ao seu lado te apoiando em tuas decisões. Alguém que vai se preocupar pouco com você, mas não por displicência e sim, porque confia plenamente em você e em tua capacidade. Vai passar mais tempo te amando do que vigiando seus passos e querendo você só para ele(a). Você será livre, amigo(a). E terá tua felicidade tão desejada ali bem pertinho de você, porque a distância física é só isso mesmo. Só física.
(Nota Mental: Eu amo um desses anjos e sou amada por ele e sou grata todos os dias por ter conseguido enxergar esse presente dos céus. Obrigada, anjo, declaradamente).
Enfim, particularmente prefiro química, sempre preferi e se estou contando tudo isso é porque já experimentei e sei que existe. Penso que o que o passado ensina, o presente revela e o futuro retribui. Quem aprende a amar com o lado bom do seu coração descobre que pode namorar, enrolar... mas que amar é muito melhor. Ainda dá tempo de rever o que faz diferença na sua vida. Prefira esta encarnação, ainda...


Angelica Carvalho

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Amar É Mais Que Namorar



Nessa minha vida, pude conhecer mulheres e meninas de todo o tipo. Algumas tive uma relação de amizade, outras foram só colegas. Ouvia e ainda ouço discursos diferentes de todas elas sobre homens e relacionamentos. Algumas, como eu era, entravam e entram em pânico quando se entra no assunto amor e namorado. Outras já ficam tristes e tem aquele discurso “ninguém me quer”, “ninguém me gosta”. Algumas se escondem atrás do “eu não preciso de homem”, mas bem que queriam ter um macho do lado.

Mas no fundo, o amor e relacionamentos são assim mesmo: cheio de contradições e interpretações. Porém, o que ouço muito as mulheres e alguns homens reclamarem é quando o cara ou a mulher ta namorando ou só ta enrolando. Às vezes tem pessoas que nem percebe, mas estão sendo mais “enroladas” do que amadas. Só que tirando as brincadeiras à parte, o assunto é serio: muitas pessoas se machucam com esta situação. Por mais que haja o amor, tem casais que vão se “acostumando” e o homem ou a mulher começa a enrolar para noivar ou casar. Ou aqueles que no início da relação, demoram para definir o “ficar” de namorar, podendo empurrar com a barriga esta não definição por algum tempo. Porém, um dos dois pode se sentir chateado com a situação, machucar-se com ela, achar que está sendo passado para trás ou que não há o amor suficiente para que o outro lhe assuma.

Por mais que haja amor mútuo, é preciso saber demonstrar este amor. Mostrar que se importa com a pessoa e que ela não lhe é apenas um projeto experimental no amor, para depois você decidir se quer algo mesmo ou não. As intenções devem ser claras a medida que o tempo for passando, assim como o amor.


Bianca Nascimento

terça-feira, 8 de junho de 2010

Princesa Maria da Fita E Seu Namoro Enrolado


Era uma vez uma princesa chamada Maria da Fita, herdeira de uma fábrica chamada Reino dos Carretéis. Aos sete anos de idade ela nutria uma enorme simpatia por um garoto chamado Marcelo, filho de Pedro que era sócio do seu pai. Então os dois começaram um namorico inocente, onde o garoto vivia repetindo:
- Quando eu crescer vou casar com você.
Depois de oito anos de paquera Marcelo pediu Maria da Fita em namoro no dia do seu baile de quinze anos.
A partir daquele momento o relacionamento dos dois parecia um jogo de pingue-pongue, pois era cheio de brigas e voltas. Toda a vez que o casal discutia, Marcelo encontrava-se com seus amigos, ia para a balada e curtia a mulherada. Porém, sempre uma semana depois, Maria pedia para reatar o namoro e o jovem cedia.
Ao completar trinta e cinco anos de idade, Maria da Fita ficou noiva numa surpresa que Marcelo fez no seu aniversário.
Porém, quando ela completou quarenta e cinco anos de idade passou a refletir:
- Poxa, eu gosto da mesma pessoa desde os meus tenros sete anos, namoro sério desde os quinze, fiquei noiva há dez anos atrás, hoje estou com quarenta cinco anos de idade e até hoje não me casei.
- Isto é sinal de que há algo errado na minha vida.
Após estes pensamentos, a mulher ligou para seu amado marcando uma reunião em sua casa. Quando o noivo chegou, ela perguntou:
- Por que não casamos até hoje?
- Isto é namoro ou enrolação?
Marcelo respondeu:
- Você sabe que o nosso país está em crise, por isto estou guardando dinheiro e isto leva muito tempo.
- Hoje à noite farei uma surpresa para você...
- Que tal nos encontrarmos na fábrica, quando não houver mais ninguém lá dentro, ao lado da máquina de enrolar fitas?
A moça respondeu:
- Sim!
Maria escolheu seu melhor vestido para encontrar o amado. Chegando ao local ela foi direto ao lado da máquina de enrolar fitas quando, de repente, sentiu uma pancada na sua cabeça e desmaiou. Quando acordou, viu que o seu corpo estava sendo enrolado pela máquina e tentou gritar, mas não conseguiu, pois sua boca já tinha sido enrolada por uma fita enorme. Por causa do aperto e da falta de ar, a pobre morreu sufocada.
Quando chegou ao inferno, ela viu uma bruxa que disse:
- Bem-vinda, Maria!
- Sou Débora a pobre menina que seu bisavô, Nuno, largou no altar ao saber que era bruxa e por isto rogou uma praga contra sua família.
A jovem ficou assustada e disse:
- Não estou entendendo nada.
A feiticeira falou:
- Você é uma pobre moça, que morreu sendo enrolada literalmente pelo seu namorado. Mas isto é uma praga de família. Sua mãe, por exemplo, nunca casou-se com o seu pai nem no civil e nem no religioso. Ele vivia dando a desculpa que não poderia casar-se porque a situação econômica, do mundo, estava difícil. O seu avô fez a mesma coisa com a sua avó dizendo que apesar de terem uma filha juntos, nunca poderiam realizar o matrimônio até que a situação financeira do país se estabilizasse. Porém tudo isto aconteceu porque seu bisavô não foi legal comigo. No século dezenove nós éramos namorados, mas eu escondia um grande segredo: eu era uma “strega”, uma bruxa de descendência italiana. Porém se as pessoas daquela vila soubessem desta minha situação não aceitariam o nosso casamento. Por isto conservei o segredo. No dia do nosso matrimônio, quando o padre exclamou aquela famosa frase:
“- Quem tiver algo contra este casamento fale agora ou se cale-se para sempre!”
- Bem naquele instante chegou Sílvia que gritou:
“- Eu tenho tudo contra esta cerimônia: pois Débora é uma strega, uma bruxa de descendência italiana muito perigosa!”
- Então seu bisavô ficou com medo e saiu correndo.
- Eu fugi da aldeia e um mês depois Nuno casou-se com Sílvia, que tornou-se mais tarde a sua bisavó.
- Assim fiz um feitiço e roguei uma praga para que todas as mulheres da sua família nunca se casem, apenas sejam enroladas como fita.
- Hoje você só sairá do inferno se ajudar, através da luz do seu espírito, toda a moça enrolada pelo namorado que fizer uma oração para o casamento se desenrolar.
Por isto, se você é uma moça que está sendo enrolada pelo amado que não deseja casar-se você deve rezar para a Maria da Fita que, com certeza, ela atenderá ao seu pedido bem rápido. Afinal toda a mulher merece ser amada e não enrolada.





Luciana do Rocio Mallon

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Tema da Semana: Namoro ou Enrolação

Seja otimista


Raciocinemos: todas as pessoas querem namorar, com exceção das que já estão comprometidas e daquelas que talvez nem queiram, mas a imposição social e os comentários das tias chatas praticamente às obrigam a namorar ou pelo menos pensar no assunto.
Agora supomos que você caro leitor, seja uma guria desesperada pelo namorado, pensando no namorado ou que conheça uma guria neste rol. Lá vêm as etapas. Etapa nº 01, encontrar um pretendente:
1- Em se tratando de nós mulheres, saímos desesperadamente de segunda a segunda, por conseqüência temos que dar conta de pelo menos 07 blusas, 05 calças e no mínimo 04 pares de sapato. Guarda-roupa: OK
2- Depois vem a depilação (afinal nunca se sabe), maquiagem, cremes, perfumes, acessórios e tudo e tal, que apesar de não parecer em uma semana são gastam e meus amigos leitores, custam caro, custa muito caro! Acessórios: OK
3- Baladas, se você estiver numa cidade grande tudo bem, você vai freqüentar lugares diferentes e encontrar pessoas diferentes (digo encontrar porque nem sempre você acaba conhecendo alguma pessoa), agora, se você se encontra em cidades pequenas o negócio é fazer o sinal da cruz, voltar ao item guarda-roupa porque então repetir qualquer coisa é crime (as pessoas reparam demais) e ir em frente. Nessa etapa você já gastou bons tostões com entradas e bebidas. Balada: OK.
4- Você precisa chegar até a balada, boteco, churrasquinho ou seja lá o que for direcionado ao requisito achar namorado. Então você vai ter que despender de tempo, paciência e/ou dinheiro para achar carona, pegar táxi, colocar combustível no carro. Condução: OK
5- Agora, depois de ter gasto uma nota preta com todos os itens acima citados, você precisa se dar ao trabalho de ir à caça, por que já se foi o tempo em que homens cortejavam mulheres, é, agora eles são disputados no palitinho, para não dizer no braço mesmo. Compute aí uma dose exorbitante de estresse. Achar o dito cujo: OK
6- Além de disputar a homarada, você tem que suportar aqueles caras bêbados, metidos, inúteis, chatos, velhos, arrogantes, nojentos, escrotos, porcos, fumantes e todos os tipos que certamente não fazem parte do pacote dos sonhos, até se chegar a um possível, outrora, quem sabe, quiçá, candidato a príncipe. Agüentar opções inválidas: OK
7 - Supomos também, e aqui estou sendo otimista, que em dois meses você encontre o dito cujo. Pretendente: Ok
Se você achou um sufoco até aqui, meu caro leitor, agora é que a coisa fica feia de vez!
Etapa nº01 cumprida começa a etapa nº02, inicio de namoro:
1- As amigas que te pedem a ficha completa do cara, das amigas que ainda estão nos itens acima exposto e querem que você volte pra lá, as amigas que te enchem de abobrinhas na cabeça, e todas as possibilidades existentes de “amigas”. Etapa especulação das amigas: superada
2 - Depois vem as apresentações, primeiro para as amigas, que algumas gostarão do cara, outras não, vão por o bedelho novamente, mas tudo bem, você é uma guria de fibra. Amigas: superada.
3 - Os amigos dele. Agora você vai conhecer os amigos do cara, muitos deles podem se confundir com aqueles elencados no item 06. Você como uma boa moça que é, fala baixo, sorri para todas as piadas imbecis que fazem com a sua pessoa, faz de conta que não vê o imbecil do melhor amigo do teu namorado analisando teu peito e tua bunda, e claro faz de conta que não escuta as perguntinhas idiotas do tipo: “você tem amigas para nos apresentar:”. Etapa amigos dele: superada.
4- Tua família. Depois de um mês inteiro convencendo teu namorado de conhecer tua família, ele então pára de dar desculpas e vai, você tem que programar um jantar informal de apresentação (como se isso fosse possível), advertir teu pai, tua mãe, teus irmãos, gato, periquito e papagaio de que não falem asneiras, se comportem bem, respeitem o moço, enfim pareça uma família normal e organizada (tenho dúvidas que alguma seja perfeita). E claro, depois que seu pai e mãe fazem mil perguntas do tipo noivado, rendimentos, casamento, cor do carro, nº de RG e CPF, enquanto você fica com uma cara de pombo e não engole nem uma ervilha por conta do nervosismo, você ainda tem que agüentar todos os comentários sórdidos da família e talvez as crises de ciúmes que os pais possuem. Tua família: superada.
5- A família dele. Melhor seria dizer, a mãe dele, sim porque geralmente pai e irmãos do namorado te cumprimentam, medem você dos pés a cabeça e vão fazer alguma coisa útil. Agora, a mãe dele não, meu amigo, essa é a pior parte. Existem dois tipos básicos de sogra: aquela que te odeia a primeira vista e desde o primeiro dia vai fazer da tua vida um inferno e aquela que te adora a primeira vista e vai ser um chiclete eterno. Esses dois tipos bases surgem na maioria dos casos de filhos rebeldes, filhos superprotegidos, filhos únicos, único menino na família, dentre outros. Nesse dia você tem de se portar muito bem, mostrar educação e elegância mentir que se interessa por tricô, crochê, bordado, ou dizer que você é extremamente bem sucedida, cheia de trabalho por isso não tem tempo para o artesanato. Tem que fazer de conta que adora aquela comida, por mais que você tenha espasmos na glote e te sirvam camarão. Muitos sorrisos. Muito bem vestida, sem estar vulgar. A boneca Barbie em pessoa. Família dele: superada.
Agora que vocês já se conhecem bem, já apresentaram as famílias, você já engoliu todos os sapos, rãs e pererecas possíveis e imagináveis, e é claro, por conseqüência já se passaram uns quatro ou cinco meses, enfim você merece o titulo de namorada feliz, guerreira e batalhadora, e também, guria de fibra que passou por tudo isso e ainda possui um namorado! Etapa nº03:
1- Como vocês já estão mais íntimos, e como ele já desabafou há 0 meses atrás tudo que ele não gostou da sua família e suas amigas, você se encontra vontade para dizer tudo que VOCÊ também achou da família e amigos dele. E é nessa ora meu bem, que você vai conhecer o namorado que tem, porque das duas uma: ou ele é de fato um cara bacana e te propõe meios de conviver com isso, porque abrir mão deles ele nem cogita, ou ele te mostra que é um imbecil, te fala várias bobagens você se sentindo ferida e magoada percebe que o teu super namoro não passou mesmo de uma enrolação e volta lá para a etapa nº 01 do início do texto.


Fernanda Bugai

domingo, 6 de junho de 2010

Hoje é dia de estreia no blog. Bruna Roveda é estudante de Design de Produto, faz teatro e ama tudo que se relaciona a música, cinema, moda e afins. Admira fotografia, anda de skate, toca teclado e adora viagens e comida japonesa. Seu debut é um texto de reflexão sobre a máxima socrática, responda à questão abaixo e leia o texto.

Até Que Ponto Conhecemos A Nós Mesmos?



O que gostamos, o que sentimos, o que queremos. Vivemos numa constante mutação, vivemos momentos e estes passam levando consigo a nossa até então visão das coisas, a qual hoje não é como a de ontem e certamente não será como a de amanhã. Somos seres evolutivos que em determinados momentos precisam “regredir” no tempo para melhor compreender certas coisas e então continuar evoluindo. Melhor dizendo, há vezes que necessitamos retornar às raízes para decifrar o presente. Decifrar... é o que temos procurado fazer com nós mesmos e com tudo que permeia ao nosso redor. Somos e seremos eternos estudantes em busca de respostas que vão sendo descobertas perante os desafios que nos deparamos. A vida é como um enigma, como caixinhas surpresas, sempre nos aguardando algo inesperado e o que fazer para lidar com o que possa nos aguardar? Dançar conforme a música, sem perder o ritmo e o fôlego ou entregar-se de vez à covardia de ser apenas mais um, apenas mais um perante muitos.




Bruna Roveda

sábado, 5 de junho de 2010

Ciência Em Tudo


Os ingleses são espertos. Em um estudo da University of Nottinggham Schools of Graduate Entry Medicine and Biomedical Sciences, eles constataram que alguns hábitos podem garantir 100 anos de vida. A lista para a longevidade é:


1- Praticar mais exercícios
Para algumas mulheres, estas palavras são sinônimos de terror. Motivos? Não gostam de freqüentar academias com homens, as academias estão caras, não conseguem fazer exercícios em casa.Porém, um simples espreguiçar diário já ajuda, pelo menos o começo.


2 - Coma aveia e linhaça
Às vezes a mulherada só põe a culpa na falta de tempo, mas comprar um pacote de aveia e linhaça e simplesmente jogar na comi como o yogurt, pode mudar muita coisa no organismo.


3 - Exercite o cérebro
Isso pode desde além de montar um quebra cabeça ou fazer uma palavra chave até mesmo ler um livro. Tente para ver!

4- Adote um animal de estimação
Quando você se permite amar um animal, e não comprá-lo para ganhar seu amor, você dá a amizade verdadeira ao melhor amigo do homem.

5 – Uma maçã por dia...
Simples. Sua sobremesa ao invés de doce pode muito bem ser uma maçã. E o melhor é que não há pecado nisso.

6 – Aprenda a perdoar
Às vezes, mesmo com razão, devemos perdoar as atitudes errôneas dos outros e os problemas que nos aparecem para que um dia, façam o mesmo com você.

7 – Durma o suficiente
Esta coisa de trocar a noite pelo dia não tá com nada. Além disso, as olheiras ficam bem pior. Cuida do seu cérebro e também da sua pele!

8 – Tenha um hobby
Ninguém precisa ter talento para nada. Apenas fazer o que gosta!

9 – Coma chocolate
Não exagere, mas também não deixe de comer. Chocolate é um alimento afrodisíaco e também estimulante, tanto sexual como também para liberar substâncias que deixa o ser humano alegre.

10 – Faça mais sexo
Apesar de muito tabu em cima do assunto, de muitas mulheres dizer que não tem homem no mercado hoje, é comprovado cientificamente que o sexo libera substâncias que causam bem estar no corpo. Pense que sexo é um remédio sem efeitos colaterais e de tratamento a longo prazo.

Se isso é certo ou não, o que importa é que nem tudo que é demais ou de menos não é bom. Todas nossas ações devem ser equilibradas, com o corpo e a mente. Assim, viveremos melhor no presente.



Bianca Nascimento

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Dia de Sair Mais Cedo


Há mais ou menos oito anos, em algum dia da semana, eu acompanhava junto com meus colegas o ponteiro dos relógios se arrastando lentamente sem nunca chegar no horário esperado. Nos mostradores, os números se misturavam com as meninas super-poderosas, o ursinho Pooh ou a Barbie, e no dos meninos, com o Homem-Aranha e os Power Rangers. Éramos crianças aflitas, porém contentes, pois naquele dia o tão esperado momento da professora dizer “até amanhã turma” , chegaria mais cedo do que o normal.
A própria professora estava feliz com isso. As outras turmas estavam, a escola estava, o bairro, a cidade, o país todo estava feliz porque iríamos embora mais cedo.
Era contagiante e inevitável. Aquele era o dia em que até o mais rabugento dos homens acordava com o coração batendo mais acelerado. Para mim, a data funcionava quase que como um Natal. As brigas e picuinhas eram provisoriamente deixadas de lado, famílias que não se viam há muito tempo aproveitavam para se reunir, contas e problemas eram esquecidos em razão de algo aparentemente “maior”... Na minha casa, até uma ceia era feita. Peru, chester e tender eram substituídos por pães de queijo, salgadinhos e por qualquer outra coisa que fosse prática e não exigisse muito trabalho.
Era dia de festa. Ninguém prestava atenção no que a professora dizia, se bem que talvez até ela não quisesse ser ouvida. Eu imaginava se não estava atrasada, se as coisas lá em casa já não estariam prontas e se quando eu chegasse, já não haveria mais nenhuma comida ou lugar no sofá para mim.
Quando após muita tortura, nós éramos dispensados, uma avalanche corria em direção aos portões da escola com a vista atenta, procurando pelo carro da mãe ou do pai. Ninguém se despedia de ninguém, bastava um grito forte de “AE” para que todos entendessem o recado, e entrassem o automóvel.
O trajeto para casa parecia mais longo do que normal. O trânsito ficava lotado, com pessoas businando, fazendo ultrapassagens perigosas e correndo para chegar logo em casa. O rádio ligado era uma escolha unânime entre todos. Nas calçadas, vendedores ambulantes fosforescentes pulavam e berravam frases animadoras e positivas, sempre com um imenso sorriso no rosto e o bolso que engordava um centímetro a cada meia hora.
Assim que eu chegava em casa, já ouvia as vozes e risada da minha família. Quando me viam, era uma festa:
“ Noossa, como você cresceu!” , da irmã da minha mãe.
“ Como foi a escola?”, do primo sério.
“ E esse cabelão comprido, não quer trocar comigo?”, do tio careca.
“ Gente, ela tá a cara do pai”, da tia avó.
E assim por diante. Mas, bastava um som, um único som, de menos de um segundo, para que o silêncio literalmente reinasse na sala. Os que tinham acabado de colocar comida na boca, agüentavam firmes e deixavam o alimento amolecer no céu da boca até terem a garantia de que se mastigassem, nada seria ouvido.
Em momentos estratégicos, eram permitidos alguns rápidos comentários, porém, sempre para expressar sentimentos, e nunca opiniões. Era uma regra, e quem a infringisse, seria duramente banido com um xingamento e até mesmo, dependendo da situação, do direito a cerveja e refrigerante.
Mas eu era esperta. Sentava-me no meu cantinho, com meu copo e meu prato abastecidos, e ficava de olhos vidrados, sem me mexer ou falar nada. Tenho orgulho disso até hoje, por nunca terem me tirado a Coca.
Para não torturar ninguém, tinham ainda os 15 minutos de pausa, em que o silêncio dava uma trégua e entrava novamente a gritaria. A única condição era: quem quiser conversar, que vá lá fora.
Eu sempre achei meio esquisitos os que não saíam da sala.
Imagina, ficar duas horas sem falar nada? Só gritando, reclamando, xingando e comemorando por pouquíssimos segundos? Credo.
Passado o tempo do intervalo, todos voltavam para o aposento, sentavam-se em seus devidos lugares e, ao menor ruído, eram repreendidos com o clássico SHIIIIIIIIIIII! Era hora de prestar atenção.
E tempo vai, tempo vem, bola vai, bola vêm, os pães de queijo minguavam e chegava o fim da festa. Alguns diriam que ela mal começara, e se despediam dizendo qual o próximo destino. Outros, ainda, até esboçavam um sorrisinho, mas bastava uma segunda olhada para notar seus olhares desanimados.
Mesmo com a taça em mãos, a festa chegava ao fim.
Uma semana depois, com a turma calada e a professora aplicando prova, eu me distraía com o esmalte descascado azul e amarelo, metade na minha boca e metade esperando pra ser roído.



Letícia Muller