terça-feira, 22 de junho de 2010

Tempos


Naquela manhã, tudo era muito diferente. Acordei sem ser chamada repentinamente como sempre e por isso meu humor não me foi arrancado no meu primeiro suspiro. Com pouca claridade no quarto, caminhei até o banheiro e depois até a cozinha. Lembro-me que não tinha aquele cheirinho de café preparado na hora, nem algo queimando como, por exemplo, torradas. Nenhum zumbido, nenhuma “falação”, nenhuma “encheção” matutina. Sentei-me na mesa com aquelas pessoas, mas nada havia para comer. Levantei então e preparei um café meia boca. O café era uma das poucas coisas que permaneceu: o resto era tudo em cápsula. Sem nenhum “tchau”, sem nenhuma “até mais” e “bom dia” por parte daqueles seres, segui o resto das minhas 24 horas. No trabalho, ninguém cumprimentava perguntando se eu estava bem. Não havia brincadeiras, conversas e descontrações, tudo era metódico e perfeito. Parece que estávamos treinados para isso, mesmo que eu não me sentisse assim. No almoço, cápsula e a tarde, café sem leite, pois leite era algo que as pessoas não precisavam mais, como de nenhum animal. Logo após o serviço, o lazer era apenas assistir em grandes telões nas ruas ou shoppings filmes que retratavam um pouco do mundo passado, que já fora vencido. E a noite, dormir para esperar novamente tudo aquilo. Naquele dia, pensava em quantas vezes sonhei com esse mundo perfeito e seres perfeitos. Mas de algum modo como não me sentia bem no mundo em que tinha vivido cheio de problemas, ali também não era tão perfeito quanto pensava, e mais uma vez, não me sentia parte dali. Sem nome, sem identidade. Dormi. “ACORDA”, chamaram-se brutamente, de forma a me assustar e tirar meu humor. Acordei com aquele cheirinho de café feito na hora pão torrado. Segui até a cozinha, encontrei minha família, cobrando para eu tomar o café da manhã porque senão isso e senão aquilo. Fui para minhas atividades diárias onde mesmo que tenha recebido muitos “não” e pouco sorriso, recebia também agradecimentos, brincadeiras e consideração. Após meu dia, tinha lugares para freqüentar, onde podia sorrir dançar e me distrair. À noite, quando ia dormir, mesmo aos trancos e barrancos, mesmo diante das justiças e injustiças, eu sonhava em um dia que não teria mais tudo aquilo ali. E assim, sabia que no outro dia era desse mesmo jeito que queria acordar.


Bianca Nascimento

Um comentário:

Anônimo disse...

aloha
por um momento me senti num mundo futurista, sendo tudo perfeito e dentro da medida, (comida em capsulas...aaahhhh), mas tbem acordei, vamos viver o que temos hoje, por mais que tenhamos batalhas diárias mas que tenha descontração, alegria, choro, e não apenas a companhia do silêncio...
que gostoso um café da manhã com a mãe cobrando para tomar junto com ela e a familia...ah tempos bons...

excelente texto Bih...

beijos