quarta-feira, 23 de junho de 2010

Darcy E Suas Mudanças De Times


Darcy era uma menina afro-brasileira, muito esperta e nascida em uma favela. Mas ela diferente, pois era masculinizada, porém tinha uma sensibilidade muito feminina. Aos dois anos de idade ganhou sua primeira bola de futebol de dona Sálvia, uma vizinha idosa, que pensava que esta garota era um moleque. No primeiro instante em que Darcy olhou para a bola, ela apaixonou-se pelo objeto e logo começou a fazer brincadeiras como embaixadinhas e chutar no gol. Quando Sálvia viu a criança demonstrando estas habilidades, a anciã comentou:
- Esta criatura mudará muito de time na vida.
Quando esta garota completou cinco anos de idade, foi matriculada no Jardim de Infância de uma creche. Então, no primeiro dia de aula, a professora fez a chamada. Quando chegou a vez de Darcy, a mestra exclamou:
- Darcy!
A menina respondeu:
- Presente!
Ao ouvir a voz da menina, a mestra comentou:
- Com este nome, você é menina ou menino?
- Cuidado para não mudar de time, hein!
Darcy não respondeu nada, apenas deu deliciosas gargalhadas e depois disse em voz alta:
- Mudar de time parecer ser algo muito engraçado!
Após estas palavras, todos na sala de aula deram boas risadas.
Apesar de ser diferente, Darcy nunca sofreu bullying na escola, pois era muito boa atleta em todos os esportes, fato que garantia a admiração de todos. No primário ela jogava futebol com os meninos. Então Stéfany, a professora de Educação Física, vendo o potencial da garota montou um time de futebol feminino no “contraturno” e chamou a menina para ser capitã do time quando ela ingressou no ginásio.
No campo de futebol do colégio, um olheiro viu o talento de Darcy e chamou a adolescente para estudar, gratuitamente, na escolinha de futebol do clube chamado Bom Começo e a primeira frase que ele disse à jovem foi:
- Com este seu talento você mudará muito de time!
Naquele instante as palavras da professora do Jardim de Infância vieram na cabeça da garota e ela deu um lindo sorriso.
Depois de três anos jogando pelo Clube Bom Começo Darcy teve a proposta de jogar num clube melhor chamado Nacional Para Sempre. Depois de um ano, a adolescente foi convidada para participar do time de futebol feminino pelas Olimpíadas. Antes das atletas entrarem em campo a comissão organizadora tirou sangue e recolheu as urinas delas para fazer exame antidoping. No primeiro jogo Darcy fez três gols e seu time ganhou. Porém, de noite, a moça foi comunicada que os cientistas da comissão acharam grande quantidade de hormônio masculino em seu sangue e a impressa espalhou a fofoca de que a jogadora poderia ser, na verdade, um homem. Então uma das colegas da atleta perguntou:
- Será que você é daquelas pessoas que mudou de time?
Darcy não respondeu nada apenas lembrou-se da sua professora do Jardim de Infância que, também, citou a expressão “mudar de time”. Deste jeito um sorriso apareceu nos lábios da jogadora.
Por causa de toda esta confusão, uma ginecologista foi chamada para fazer um exame detalhado na atleta. Depois da consulta, a médica escreveu um laudo afirmando que Darcy era hermafrodita, ou seja, ela apresentava características dos dois sexos.
Após esta revelação, jornalistas de todo o mundo chegavam perto da moça e diziam coisas como:
- Com relação à sexualidade para que time a senhora joga?
- A senhora é heterossexual, bissexual, pansexual ou assexuada?
Desta maneira Darcy sempre respondia:
- Com relação ao sexo e aos sentimentos eu sempre jogo no time do meu coração.
Depois de toda esta reviravolta nenhum time do mundo quis mais contratar a jovem. Só um clube chamado Coloridos Definidos interessou-se pela atleta, mas o diretor disse:
- Nós temos interesse em contrata-la desde que você defina seu sexo, ou seja, faça uma operação para ficar mulher ou para ser homem.
Assim a jovem disse:
- Neste momento, eu não quero mudar de time. Pois fiz isto a vida inteira.
- Hoje desejo lutar pelos direitos dos hermafroditas. Pois precisamos assumir a nossa condição sexual e mostrarmos ao mundo que somos gente como qualquer pessoa.
Desta maneira ela lutou pelos direitos dos hermafroditas, dando palestras e lutando pelas cotas desta categoria. Algum tempo depois esta pessoa montou um time de futebol só com seres humanos hermafroditas.
Dez anos depois Darcy notou que a sua pele começou a desbotar. Então, ela foi até ao dermatologista, que constatou que esta mulher sofria de vitiligo, uma doença cutânea caracterizada pela despigmentação das partes da pele gerando manchas pálidas. Deste jeito o médico comentou:
- Diante desta situação, sugiro que a senhora faça operações plásticas, iguais a do cantor Michael Jackson, para tornar a pele cada vez mais branca.
A moça exclamou:
- Jamais farei isto!
- Pois tenho orgulho da minha etnia afro-brasileira e da cor da minha pele. Eu posso mudar de time, mas nunca mudarei a minha raça e muito menos a força do meu pensamento.





Luciana do Rocio Mallon

Um comentário:

Anônimo disse...

Em relação ao futebol, lembrei de minha juventude. Desde pequena gostava de futebol, mas sofri certo preconceito. Sempre atuei como goleira, participava de campeonatos.Certa vez um professor de futebol me convidou (junto com uma colega) para fazer um mês de graça de futebol no Colégio Positivo, onde eu estudava e se eu fossemos boas mesmo, daria desconto na mensalidade do curso de futeba. Meu pai me deu uma chuteira feminina...só que eu levava ela escondida porque minha mae e minha tia (que fazia a cabeça dela) não concordavam deu fazer futebol, achava coisa de menino...e entao eu fiz escondido. Nessa epoca fazia futebol e teatro no colegio. Só que um dia ela viu a ponta da chuteira na mala e brigou muito cmg e entao desisti de tudo. Mas mudei pro Estadual aqui do Paraná e lá jogava partidas a tarde com uma colega com meninos mesmo...era meu lazer amava mto mas sofri mto preconceito por parte de familiares mesmo.O único que me apoiava era meu pai e nós assistíamos futebol sempre juntos...queria ser jogadora profissional....hoje nem ligo mais.

Mas pelo menos nunca tive problemas em relação a minha sexualidade. Aco que o preconceito vem mais da propria família muitas vezes do que das pessoas de fora.


Beijos


Bia