terça-feira, 30 de junho de 2009

Pérolas sobre o O.B.



Ta aí um assunto que desconheço na prática. Até hoje nunca precisei usar um OB, consequentemente, nunca precisei me incomodar com o fio dele. Mas, procurando saber mais um pouco sobre o desastre de se perder o fiozinho do O.B. e também o que falam sobre esse produto, achei alguns comentários sobre isso que vale a pena conferir:

*Preferi não identificar nenhuma*

Anônimo:
Com medo da cordinha arrebentar, todo OB antes de usar eu coloco uma gotinha de super-bonder, cola quente e na falta desses, até ribite. Eu pergunto, será que um desses componentes das colas, ou o metal do ribite pode causar algum dano na minha mucosa vaginal? “

O que vocês acham?
Olha essa

Anônimo:
Eu tenho 14 anos, sou virgem e nunca tinha usado o.b. Peguei emprestado da minha mãe quando a menstruação chegou mas eu num sabia colokar, e tinha muuita vergonha de pedir ajuda a alguém, e tentei sozinha, mas só que o tamanho do o.b. era super. Colokei lá normal, e a cordinha que tinha eu peguei e cortei com uma tesoura, aí, uns dois minutos depois, começou a jorrar sangue, e eu preocupada, porque o o.b. tava lá dentro e num tava (ou melhor) não está adiantando nada! Alguém poderia me ajudar, vocês acham que meu hímen estourou? Eu num sou mais virgem?! Eu tô com medo de falar pra minha mãe sobre isso. Beiiijos para vocês: *Ajuuda plizz.

Tadinha, ajudem esta moça, tirem a tesoura da mão dela ou ela vai acabar cortando o próprio hímem!



Próxima, por favor!

Anônimo:
Gente, eu tô de saco cheio desses absorventes externos, mas eu sou virgem... E tô cum uma dúvida... esse absorvente rompe o hímen? E se tah, rompe, dooi pra rompe esse troço?

Arrrrg! :s

Anônimo:
Será que perdi a virgindade?
Gente... Eu queria começar a usar o.b. e fui comprar e só tinha o medio. Eu já tinha usado o mini e quando fui colocar e tirar esse doeu muito. Será que perdi a virgindade?

Será? Será?

Anônimo:
Gente, vocês podem me ajudar em uma dúvida? Em face da crise financeira e de algumas mulheres de baixa renda, há alguma possibilidade do o.b. usado ser lavado, fervido e reaproveitado?

Essa foi pra fecha o pacote, literalmente!

Bom, estes foram alguns comentários que vi no Orkut, as pérolas do Orkut mesmo sobre o o.b., mas tem muita coisa pior por aí. E para estas meninas dos depoimentos, descobri o significado de o.b. para elas ......O.B.: ONDE BOTEI?!


Beijos


Bianca Silva

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Tema da Semana: Cadê o fio do meu OB?

Vivendo e aprendendo



Não vou poder falar muito sobre esse assunto, afinal eu nunca usei um OB, mas mesmo assim resolvi me arriscar. Caso eu fale alguma bobagem vocês fiquem à vontade para me corrigir.

Estava em busca de alguma história com alguém que pudesse me render um bom post, mas nada! Falaram-me sobre tudo, mas ninguém falou sobre a cordinha do OB estourar. Eu não sabia mais o que fazer, estava quase desistindo de escrever quando uma luz brilhou no fim do túnel: procurar no google.

A principio achei a idéia meio tosca, mas era minha última esperança. Ao escrever algumas palavras mágicas, cheguei aos grandes centros de perguntas (os answers....) , nunca achei que dúvidas como aquelas pudessem ser solucionadas em um site. Na realidade, eu achava bem mais fácil ligar para um ginecologista e perguntar, mas, como estava lá, me restou aproveitar.

Um caso em especial me chamou a atenção. Uma moça, de não-faço-idéia-de-idade, perguntou o que ela faria, pois já estava com seu OB há 15 dias preso (a cordinha havia arrebentado) e não sabia se ele ainda iria conseguir sair sozinho ou se ela teria que mandar tirar. Realmente, eu fiquei um pouco abismada, afinal até eu, que nunca usei um, sei que 15 dias são 15 dias. Muitas respostas foram dadas a esta moça, mas uma delas me chamou mais a atenção. Uma pessoa que preferiu não se identificar, disse, delicadamente (e passo para vocês o que ele realmente gostaria de falar), que ela era uma porca que não sabia nem se cuidar, afinal ela podia fazer aquela situação piorar. Realmente, era tudo o que eu quis dizer para ela: COMO UMA PESSOA EM PLENA E SÃ CONSCIÊNCIA (ACHO), CONSEGUE FICAR COM UM ABSORVENTE INTERNO POR TANTO TEMPO?

Eu realmente queria ter um conhecimento de causa para poder falar, mas já que não tenho, uma coisa eu já posso passar: nada de esperar que seu OB saia no xixi, ouviram mocinhas? Qualquer coisa fiquem em posição ginecológica e peçam para alguém puxar. Vivendo e aprendendo.


Ingrid Moraes

domingo, 28 de junho de 2009

Pausa para balanço





Aproveitando que o blog ontem ultrapassou a marca dos 500 posts, o que não é pouca coisa, chegou o momento de dar uma geral no que rolou neste período de 15 meses, afinal eles renderam o equivalente a mais de mil páginas impressas, um livro de volume considerável, isso sem contar o montante de fotos, ilustrações, links e vídeos. Neste um ano e um trimestre, o blog publicou textos ininterruptamente, não ficando nenhum dia sequer sem um post inédito. E contou com a participação de diversas colunistas, todas ligadas a áreas referentes a comunicação, arte e conhecimento.

Entre Desaforadas oficiais e Desaforadas X (que colaboram eventualmente) tivemos 36 colunistas, são elas:

· Adriana Amaral

· Adriana Lopes

· Aletéia Ferreira

· Andréa Penteado

· Bianca Silva

· Camila Souza

· Carolina Noronha

· Danielle Baliero

· Day Araújo

· Fabiane Cristina

· Fabíola Flores

· Flavia Falcão

· Flavia Kadowaki

· Ingrid Moraes

· Isis Barczak

· Josiany Vieira

· Juliana Zattoni

· Letícia Etchevery

· Letícia Mueller

· Luciane Fernandez

· Luciana Longhi

· Luciana Malon

· Lu Oliveira

· Maria Jaqueline

· Mary Palaveri

· Mazé Portugal

· Mônica Wojciechowski

· Paula Diniz

· Sheylli Caleffi

· Soraia Nogueira

· Suzane Gaentzel

· Thábata Gulin

· Thaisa Bogoni

· Verônica Pacheco

· Yaskara Pedrotti

Deste time, logicamente merecem destaque Bianca Silva, Ingrid Moraes, Letícia Mueller e Luciana Malon, que são as atuais Desaforadas oficiais. Com a freqüência com que escreve para o blog, Camila Souza também pode praticamente ser considerada oficial (falta apenas ela assumir o posto). Já os sábados passaram a ser reservados para Desaforadas X, o que têm rendido até mesmo a publicação de dois posts por vez, como ocorreu no dia 25 último.

Temos também uma mascote, a C’est La Vie, criada pela Editorial Design. Aqui está ela em algumas poses de um ensaio sensual:











E olha só a quantidade de temas semanais já abordados nestas páginas virtuais (eles estão dispostos por ordem de entrada no blog, para facilitar a consulta no caso de você desejar acessar algum):

* Mulher na presidência

* Homem pra casar

* Os opostos se atraem

* Sexo virtual

* Metrossexualidade

* Ponto G

* Assim não dá pra gozar

* Se o Big Brother fosse lá em casa

* Visita à sex shop

* Fetiches

* Dúvidas íntimas

* Sexo ao pé do ouvido

* Xavecos infalíveis

* T em bold e com letra maiúscula

* Traidinha arriscada

* Tabus

* Como vibra

* Tecnologias do prazer

* Bolsa feminina

* Sex and the City

* Coitus interruptus

* Pulando a cerca

* Mó viagem

* Sem sair do lugar

* Voyeurismo

* Ser fashion

* Saia justa

* Moda inverno

* Vícios

* O que é ser sexy

* Insinuante demais

* Hmmmm...

* Triângulo amoroso

* Ai, que ódio

* Amor platônico

* Homem proibido

* Vida saudável

* Vida chata

* Cara-metade

* Agora é que são elas

* Vaidades íntimas

* O amor, seja como for

* Despedida de solteira

* Meias verdades

* Amizade colorida

* Sex symbols

* Moda íntima

* Prova de fogo

* Pé na jaca

* Minha galeria

* Melindres familiares

* Porres inesquecíveis

* Bebidas afrodisíacas

* Baseado em fatos reais

* Blog Action Day

* Feriados

* Água na boca

* Revelações bombásticas

* Falsidade

* Mulheres na web

* Pitis

* Sexo e comida

* Gula

* Meu divã é outro

* Os olhos falam

* Palavrão, eu falo, porra!

* Como fazer sem deixar rastro

* Eu me comportei mal durante o ano

* No colo do velhinho

* Resoluções de ano novo

* Perdendo a linha

* Vexames

* Meu ginecologista é a cara do Brad Pitt

* Exame de consciência

* Músicas com nomes de pessoas

* Imaginação fértil

* Revelações

* E depois a histérica sou eu

* As cores e seus efeitos psicológicos

* Primeira vez

* Inveja

* Isso me irrita

* Lendas urbanas

* Sai de retro

* Traidinha básica

* Felizes para sempre

* Pessoa certa na hora errada

* Vítimas da moda

* Na hora H

* Dia D

* Banheiro feminino

* Liberdade antes que tardia

* TPM

* Insônia

* Futebol é coisa de mulher

* Poderes sobrenaturais

* Relacionamento entre pais e filhos

* Menarca

Mais recentemente passamos a intercalar uma semana de tema livre com uma semana de tema fixo, e isso na verdade aumentou ainda mais a gama de assuntos, pois nas ocasiões em que ficou aberto à escolha das Desaforadas falou-se de amor à distância, novelas, inspiração, auto-sabotagem, festas juninas, nanismo e até da malfadada loira fantasma (isso só para citar o que rolou na última semana).

E o que vai rolar daqui pra frente? De temas, vai pintar a listinha a seguir, com os assuntos dispostos pela ordem em que entrarão no blog:

* Cadê o fio do meu OB?

* Músicas para transar

* Os naturistas estão chegando

* Esconde-esconde ou pega-pega

* Animais de estimação

* Esportes preferidos

* Brincadeiras infantis

* Atleta sexual

* Esse tal de orgasmo múltiplo

* O que é sexo e o que é amor

* Músicas que marcaram nossa infância

* Surra de amor

* Só uma vezinha

Quanto ao fato de alguns dos temas serem, digamos, apimentados, eles coincidem com o que marca a nossa enquete virtual até a data deste post: a grande maioria (68%) quer ver assuntos ligados a sexo no blog, seguida por comportamento (26%) e artes (21%).

No mais, temos uma comunidade no Orkut (http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=45102969) e o blog foi recentemente convidado para ingressar também em um portal que será lançado no semestre que vem. Agora também estamos no twitter como “desaforadas”, siga para saber informações e novidades.

De momento é isso, mas vem muito mais por aí. O que vai ser? Imprevisível. Mas, no mínimo, divertido. Parabéns, Desaforadas.


Mario Lopes

sábado, 27 de junho de 2009

As Desaforadas estão completando hoje 500 posts. E a marca vem acompanhada de uma postagem dupla: a debutante Mary Palaveri e a Desaforada X Camila Souza. Um brinde ao blog e que venham mais 500 posts pela frente.

Até que ponto as novelas são ficção?



Para sobreviver hoje em dia, precisamos viver um pouco na ilusão, sonhar mais, porque a realidade às vezes machuca. Por isso, muitos vivem em um mundo de ilusão, não 100% do tempo, mas vivem, por medo de encarar a realidade. Mas a questão é saber qual a relação que as novelas têm com esse momento de cada um.

As novelas foram feitas para entretenimento, ficção, mas não é o caminho que elas percorreram. Hoje é possível ver como os temas abordados fazem parte do cotidiano da nossa sociedade, vamos ressaltar o tema da esquizofrenia do Tarso (personagem do Bruno Gagliasso na novela “Caminho Para As Índias”). O comentário é geral, seja na roda de amigos, no ponto de ônibus ou nas emissoras de rádio e TV: todos falam sobre o assunto, uns com mais conhecimentos, outros nem tanto, uns sobre a doença, outros sobre a reação da família, outros sobre o preconceito, outros questionando se a doença é mesmo assim, mas todos comentando e se envolvendo com o assunto.

A novela ajudou a esclarecer sobre a esquizofrenia, tornando-a mais acessível à sociedade, exibindo o tema com clareza para os pacientes e as famílias, para que possam agir juntos. Hoje encontramos famílias mais esclarecidas, digo isso porque minha família está passando um desses momentos, por causa de uma tia. Os próprios médicos explicavam com receio a doença, falavam em particular com as famílias. Hoje a mídia está aberta para um diálogo total, graças à novela “Caminho das Índias”, que aborda o tema e abre espaço para chegar com mais clareza aos telespectadores. E aos médicos, esse crescimento das informações os levou para os meios de comunicação, para falar e explicar sobre a esquizofrenia.

A doença não tem cura, mas tem controle seguindo o tratamento correto.
Vemos então a importância que essa novela tem, em dialogar com a sociedade, a preocupação da autora em informar em ricos detalhes o assunto.

Se é ficção ou realidade, isso depende da forma que assistimos à novela, muitos assistem apenas como diversão ou passatempo, outros assistem como forma de aprendizado e informação. É evidente que não podemos afirmar que as novelas são 100% ficção, nem 100% realidade, como tudo na vida, depende do ponto de vista de cada um, eu assisto de uma forma e vocês assistem de outra.


Mary Palaveri
Semana difícil


Domingo, 21 de junho
Após uma semana atribulada de provas na faculdade, faço uma pequena mudança na minha rotina. Tenho o hábito de fazer os textos para as Desaforadas nos finais de semana. Mas eu queria descansar, e por este motivo, optei por adiar a tarefa - já que estou de férias. Pensei: “Ah, eu ainda tenho a semana toda para fazer o texto”. Se eu soubesse o que a semana me reservava...

Segunda feira, 22 de junho
Passo o dia pensando “sobre o que escreverei?” No final, a enxaqueca corta os meus pensamentos. Tento voltar de onde parei, mas tive um tremendo de um “branco”. “Será que esses lapsos de memória são característicos dos bipolares?”, “Será que é efeito colateral da medicação?” Tento encontrar respostas, em vão.

Terça feira, 23 de junho
Dia de euforia. Um turbilhão de idéias surge ao mesmo tempo. Imediatamente anoto todas elas em um caderno que separei exclusivamente para registrar estes “insights” – caso contrário, esqueço tudo em questão de minutos.

Quarta feira, 24 de junho
Dia de constantes variações de humor. De manhã eufórica, à noite depressiva. Diante da tela do computador, só consigo enxergar o branco do Word e nada mais. Fecho o Outlook, o MSN, o Orkut na tentativa de manter um mínimo de concentração. No máximo abro o Internet Explorer para o caso de ter que fazer alguma pesquisa.
As primeiras palavras e frases começam a surgir. Chego ao ponto de iniciar 2 textos diferentes ao mesmo tempo. Mas, quem disse que eu consegui concluir algum? O cansaço não demora a chegar, parece que estou carregando uma melancia na cabeça. Aliás, o cansaço mental é mil vezes pior do que o cansaço físico.
Deixo para terminar no dia seguinte. Esse é o mal da procrastinação. Preciso mudar isso. Só preciso saber como.

Quinta feira, 25 de junho
Mais um dia de preocupações me tira todo o senso criativo (se é que tenho algum). As palavras aparecem soltas, espalhadas; como se fossem peças de um quebra cabeça esperando para ser montado. Durante 2 horas, tento juntar, organizar, sintetizar; mas não chego a um resultado concreto e satisfatório.
Uma sensação de total impotência toma conta de mim. Porra, não dá para entender como é que eu não consigo fazer um simples post semanal, ainda mais de tema livre. O nervosismo é inevitável. Minhas mãos tremem e as lágrimas, até então contidas, escorrem em gotas grossas pelo meu rosto. Cinco minutos depois, choro compulsivamente. A impressão que eu tenho é de que eu estou ficando cada vez mais burra. Não me conformo com a situação. Um tempo depois, ainda chorando, vou dormir mal à beça, mas com a esperança de que o dia seguinte seria melhor e de que a semana terminaria bem.

Sexta feira, 26 de junho
Confesso que estava quase desistindo de escrever e ligando o botãozinho do FODA-SE. Mas cá estou, escrevendo este texto minúsculo sobre um sintoma enfrentado por aproximadamente 80% dos bipolares, e que atrapalha tanto a vida da gente. Concentração vai, concentração vem, o post sai, alguns gostam e eu sempre acho que ficou uma porcaria. Sem contar aquela sensação chata de que eu podia ter feito algo melhor.

Camila Souza – muito chateada...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Epitáfio

Nos últimos tempos, ela nada lia ou escrevia. Estava com sua mente isolada em um mundo vazio que a levou inconscientemente a uma hibernação mental. Ela sentia seu cérebro como que congelado e seu maior medo era que com o menor sopro da inspiração, o calor de sua ânsia degelasse seus emaranhados encefalados, e no lugar do que antes havia um cérebro, aparecesse uma geléia de neurônios. Ela tinha medo de nunca voltar a ser como era.
Não tinha tempo para pensar. Vivia um ano difícil que a impedia de fazer coisas que realmente contribuíssem para o seu acúmulo de idéias. Na verdade, ela até pensava, mas só naquilo que milhares de “vestibulandos” eram obrigados a saber para passar na mais injusta prova seletiva dos culturalmente programados. Afinal, seu sonho era ser escritora e não via utilidade prática em ter o conhecimento da forma de reprodução dos pinheiros ou da sinfilia das formigas. Também ignorava o uso prático das assombrosas matrizes, com seus milhares de cálculos para chegar a resultados imaginários. A ela não interessava o grau de inclinação da Terra em relação ao sol, ou o modo de produção de civilizações que a muito tempo não existem. Aprendia as fórmulas das substâncias e de todas aquelas minúsculas partículas que formam partículas ainda mais minúsculas. Esforçava-se para entender leis da física, mas algumas delas se negavam a ser entendidas por ela. Eram tantos assuntos que a sua caixa de memória já estava saturada.
Mas não pense que isso serviu como empecilho para seus estudos. Ela “entendia” a matéria mesmo sem entendê-la e resolvia os 120 exercícios diários, sempre com uma margem de acerto superior a 90%. Não sabia como acertava as questões. Só sabia que o início da realização do seu sonho dependia de todo esse seu sacrifício.
Assistia a todas as aulas, não faltava às revisões e aulas extras. É lógico que tudo isso era um fardo que a deixava cansada e deprimida, mas ela aprendeu a curar sua doença com o menor dos males: as aulas de Português, aproveitava os 45 minutos dedicados a esta matéria para respirar e guardar ar para que conseguisse sobreviver a todas as outras “inimigas”. As palavras, letras, verbos e textos eram como que seus alicerces, não podia perder o estímulo por elas ou se não fracassaria em qualquer projeto de sua vida.
E assim, ela se manteve durante todo o ano. Sentia como se estivesse sendo programada por conhecimentos irrelevantes e, a cada mês, olhava para si mesma e via-se como mais uma “bitolada”. Ela perdia sua essência. Para completar seu quadro, previa a injustiça a que seria acometida, vendo pessoas que apenas estudavam realmente um ano de sua vida (aquele) passarem no vestibular, enquanto ela, que desde a primeira série se esforçava e tirava boas notas, sendo reprovada.
Tudo isso acontecia junto com o seu pensamento de que não era mais a mesma. Sentia-se vazia. As boas idéias, os ventos que antes sopravam tão frequentemente e que se confundiam com sua respiração, ficaram escassos. Perdera o hábito da leitura e, consequentemente, os seus recursos linguísticos antes originais e inovadores, tornaram-se monótonos e repetitivos.
Nas poucas horas livres, seu maior anseio era escrever, mas tinha ojeriza de que as suas suspeitas se mostrassem verdadeiras. Não! Ela não aceitava isso! Queria ser escritora, nada mais. Mesmo tendo consciência de que só com muita dor na mão de tanto amassar papéis, dor de cabeça na busca da palavra certa, horas perdidas com idéias que a princípio pareceram boas, mas que no decorrer da escrita se mostravam péssimas... Só com muito sangue ela seria uma boa escritora. Sim, ela sabia disso.
Mas, tinha medo da dor... Da dor e da simples idéia de senti-la. Tinha medo da frustração por si mesma, preferia deixar as coisas assim, sem sonhos alcançados, mas pelo menos sem grandes derrotas.
Com medo de cair, ela se negou a chegar ao topo e sentir a glória da vitória. Ela abdicou do seu papel de ser ela mesma, e quis deixar um legado aos que não tem medo de perder, nem ganhar.
E aqui jaz seu primeiro, último e único texto.


Letícia Mueller

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Atração a 160 km


Sou nova neste blog e ainda não publiquei nenhum texto aqui. Ou seja, é minha estreia (com muito orgulho). E, para debutar, resolvi tocar em um assunto que ainda não vi contemplado em nenhum dos posts. Ou melhor, até já vi, só que sem uma abordagem de relato pessoal, isto é, sem um depoimento real. Muitas das colunistas daqui falaram sobre amor e sexo, mas tudo tangível, palpável, tudo ao alcance das mãos e dos lábios. Mas quero compartilhar a minha história com vocês, a qual é bem recente, tendo pouco mais de um mês desde seu início, e que vai para um campo um tanto etéreo, volátil. Estou falando de envolvimento virtual, de affair com alguém que mora a 160 km de distância.

Comecei por um mero acaso, em contato via MSN sem a mínima pretensão de tomar a proporção que tomou. Era, a princípio, para ser apenas uma nova amizade. Mas, como diria aquela música do Peninha, tudo “foi crescendo, crescendo e me absorvendo”. Não vou entrar em detalhes aqui. Apenas relatar, por cima, o que se passou e o dilema que isso me gerou. Nossas ferramentas de contato são as teclas do computador. Nossas bocas e ouvidos exercitamos via-celular. E nossos olhos são a webcam (dele porque eu ainda não tenho a minha). Também nos comunicamos por fotos, mas não vem ao caso. O fato é que, da primeira vez em que nos falamos por telefone, parecia que nos conhecíamos há séculos. E tudo foi tão rápido que já nos tornamos íntimos na primeira semana. Nossos canais de relacionamento são meramente tecnológicos, e usamos mais palavras do que qualquer outro recurso em nossos contatos – nunca nos tocamos e é estranho como conseguimos “estimular” um ao outro dessa forma tão intensa. Até quando eu estou no banho a gente se conversa.

Na verdade, tive uma idéia interessante para relatar o que aconteceu e o que está acontecendo – o formato de entrevista. E o entrevistador, adivinha, pedi para ser o próprio homem dos 160 km de distância. Ele topou. Sendo assim, entrei no MSN com ele e disse para me perguntar tudo o que quisesse. O resultado da entrevista publicaríamos aqui no blog. E deixaríamos no ar a questão: será que eu saio do plano virtual e visito essa figura? Quase fui até ele em dois finais de semana, mas hesitei. Continuo no dilema. Acho que a entrevista e o meu relato servirão como reflexão sobre essa atração platônica, via web, que tirou nós dois do prumo da noite para o dia. Aqui vai o bate-papo:

CARA A 160 KM diz:
Você esperava, no começo, que fosse acontecer essa atração mútua?
Adriana Lopes diz:
Não, claro que não.
CARA A 160 KM diz:
E o que você acha que gerou isso?
Adriana Lopes diz:
O jeito sedutor.
CARA A 160 KM diz:
Mas como você acha que alguém pode usar de sedução estando a 160 km de distância? Não seria bem mais fácil se fosse pessoalmente?
Adriana Lopes diz:
Estando a distância, tem todo esse jogo de sedução, palavras escritas, conversas pelo celular, a voz que me encanta, essas coisas, e dá asas à imaginação.
CARA A 160 KM diz:
Houve algum momento em que você se sentiu mais fisgada neste jogo?
Adriana Lopes diz:
Sim, houve.
CARA A 160 KM diz:
Qual?
Adriana Lopes diz:
Foi justamente quando ouvi sua voz, quando me ligou da primeira vez.
CARA A 160 KM diz:
E por que isso? Pelo tom de voz? Pelo que foi dito?
Adriana Lopes diz:
Pelo tom da voz.
CARA A 160 KM diz:
Mas não foi dito nada de excitante na ocasião, foi?
Adriana Lopes diz:
Não, nada mesmo.
CARA A 160 KM diz:
E a experiência do chuveiro, você tem coragem de relatar?
Adriana Lopes diz:
Ah, não né. Só posso dizer que foi como se eu já o conhecesse e tivesse você lá comigo, falando aquelas coisas ao pé do meu ouvido.
CARA A 160 KM diz:
Acha melhor quando conversamos por telefone ou por msn?
Adriana Lopes diz:
Os dois, porque por msn te vejo na cam, e por telefone porque ouço sua voz
CARA A 160 KM diz:
Você tem medo de me encontrar pessoalmente?
Adriana Lopes diz:
Medo acho que não. Eu tenho muita vontade de te ver, e ao mesmo tempo uma auto-proteção no sentido da decepção: vai que eu não sou o que você imagina ou, vai que você é exatamente o que eu imagino. Daí ferrô, meu lindo. rs
CARA A 160 KM diz:
Por quê? Você tem medo de se apaixonar?
Adriana Lopes diz:
Tenho, claro.
CARA A 160 KM diz:
E acha que isso será ruim?
Adriana Lopes diz:
Não ruim, mas e a reciprocidade disso tudo?
CARA A 160 KM diz:
E não está havendo reciprocidade?
Adriana Lopes diz:
Até onde estamos, sim.
CARA A 160 KM diz:
Que bom. Mas você não acha que eu corro os mesmos riscos que você?
Adriana Lopes diz:
Sim, mas e você tem medo disso?
CARA A 160 KM diz:
Não. Eu deixo rolar. Você já viu que eu não tenho medo de me aventurar, né?
Adriana Lopes diz:
Já vi, sim.
CARA A 160 KM diz:
Você não tem medo de que eu seja um psicopata ou algo do gênero?
Adriana Lopes diz:
Pensei nisso, sim.
CARA A 160 KM diz:
hahahahahahahahahahaahhaahahahahahha
Tipo um maníaco sexual?
Adriana Lopes diz:
Sim.
CARA A 160 KM diz:
Você acha que o que nos atrai é meramente tesão?
Adriana Lopes diz:
Ainda não sei.
CARA A 160 KM diz:
Há algo entre nós que para você seja motivo de repulsa?
Adriana Lopes diz:
Creio que não.
CARA A 160 KM diz:
Você acha que será tímida comigo ao vivo?
Adriana Lopes diz:
Acho que não.
Você já chegou a sonhar com este encontro?
Adriana Lopes diz:
Literalmente em sonho não, mas imagino esse encontro de várias maneiras, imagino cenas e detalhes de nós dois.
CARA A 160 KM diz:
Como por exemplo...
Adriana Lopes diz:
Como o nosso primeiro beijo, nossos olhares, o que sentirei, o que causarei em você... também penso que ao te ver terei aquela coisa de pele, entende?
CARA A 160 KM diz:
E depois que rolar esse encontro, você vai narrá-lo no blog?
Adriana Lopes diz:
Quem sabe...

Continua?...

Adriana Lopes com a colaboração de alguém a 160 km

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O Que Há Por Trás das Festas Juninas Escolares


Todos sabem que festa junina é uma manifestação cultural , em que celebramos os seguintes santos : São João , Santo Antônio e São Pedro . Neste tipo de festa , são vendidas guloseimas , como : pamonha , pinhão , batata quente e bolo de milho . Sem falar , que existem brincadeiras , como : pau – de- sebo , pescaria e quadrilhas . Bem , as festas que sempre me causam desconfianças são : as festas juninas realizadas em escolas particulares . Pois , sempre desconfiei que estas instituições lucram muito com este tipo de festa . Afinal , as prendas e as doações dos alimentos são feitos pelos próprios alunos . Eu estudava num colégio particular de freiras e gostaria de relatar alguns fatos a este respeito :

1982 : 2 º Série : Mês de Maio
A professora falou :
- Mês que vem teremos festa junina . Portanto : crianças, tragam prendas e alimentos . Afinal , a turma que trouxer mais prendas e alimentos ganhará um troféu de honra ao mérito .

Como eu tinha 8 anos e era inocente , me esforcei ao máximo para trazer prendas e alimentos . Afinal , eu gostaria que a minha turma ganhasse o troféu . A festa junina passou ... e nada do prêmio !

As férias de julho passaram ... e nada do prêmio ! O dia dos pais passou ... e nada do prêmio ! Então , perguntei para a professora :
- Professora , a nossa turma foi a vencedora das doações da festa junina ... Então , onde está o troféu ?
A professora , respondeu : - Bem , este assunto pertence à direção . Então , passou setembro , outubro e novembro . Porém a nossa turma nunca viu o prêmio .

1983 : 3º Série : Mês de maio .
A outra professora disse :
- No próximo mês , a nossa escola realizará mais uma festa junina . Assim , a direção da escola pede para que vocês tragam : prendas e alimentos . Pois a turma que trouxer o número maior de prendas e alimentos , ganhará uma viagem para Foz do Iguaçu .

Então , como eu tinha vontade de conhecer Foz do Iguaçu , eu me esforcei para trazer muitas prendas e alimentos . Novamente , a minha turma foi a vencedora no número de doações . Assim , a festa junina passou ... Vieram as férias de julho ... Chegou o dia dos pais ... Surgiu a primavera ... E o prêmio da turma continuava em silêncio . Até , que em outubro , eu perguntei :
- Professora , quando a turma receberá o prêmio pelas doações de festa junina ? Quando viajaremos para Foz do Iguaçu ?
A professora respondeu :
- Por favor , não atrapalhe a aula !

1984 : 4 º Série : Mês de Maio : A mestra comentou :
- Alunos , estamos próximos da festa junina . Então , tragam muitas prendas e doem muitos alimentos . Afinal , o dinheiro arrecadado com as doações do evento , servirá para a construção de um grande ginásio de esporte e a turma que trouxer o maior número de doações , ganhará um diploma de “ Honra Ao Mérito “ .

Então , mais uma vez eu me esforcei para trazer o maior número de prendas . Assim , novamente , a minha turma venceu . A festa junina passou ... Passou agosto ... Passou setembro .... Passou outubro ... Então , perguntei para a mestra :
- Professora , quando irão começar a construir o ginásio de esportes ?
A mestra respondeu :
- Brevemente , brevemente ...

Bem , hoje estamos em 2009 , visitei esta mesma escola semana passada e não vi ginásio de esportes nenhum. Em relação ao diploma de “ Honra Ao Mérito “ , realmente eu ganhei um ... Ganhei um diploma de burra e de idiota , pois só agora notei que a escola em que estudei usou mentiras e ilusões para fazer que os alunos doassem prendas e alimentos , através de promessas fantasiosas . Então , me diga leitor :
- Você já estudou numa escola destas e já passou por algo semelhante ?

Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 23 de junho de 2009

Superação


“Ninguém acreditava que um anão ia ter tanto trabalho assim no teatro”, diz Cláudio Castro.

O ator Cláudio Castro, famoso “Claudinho”, artista do teatro Lala Shenaider, em Curitiba, teve o ápice de sua carreira em 2008, mesmo tendo começado a atuar há 16 anos. Não fez do nanismo uma barreira para crescer como profissional. É vencedor do prêmio VMB, como webhit do ano de 2008, dado pela MTV Brasil com o clipe “A Dança do Quadrado”, vídeo com mais de 14 milhões de acessos no Youtube. Em 2007, junto com um grupo de sete amigos, gravou o vídeo “Perigos do Orkut”, que ficou entre os 30 melhores no Festival do minuto Brasil. Agora, juntamente com Cadu Scheffer, realizou o sonho de montar um grupo dedicado a essa atividade; nascendo assim a produtora Mama Djo Djo. Segue uma entrevista com este pequeno grande ator.

Como você iniciou sua carreira?

“Iniciei minha carreira em 1994, digamos que por acidente. Estava em uma reunião acompanhando um amigo e o produtor me viu e perguntou se eu gostaria de fazer teatro.Topei na hora e estou até hoje. Já se passaram 15 anos” .

O nanismo foi uma dificuldade no início dela?

“Sim, ninguém acreditava que um anão ia ter tanto trabalho assim no teatro a não ser em peças infantis. Usei isso como incentivo e venci tudo e todos. Hoje sou um dos atores que mais trabalha com teatro no Paraná e no Brasil”.

Quais e quantos trabalhos você já fez?

“Já fiz mais de 53 peças teatrais e cinco programas de televisão, incluindo uma mini-serie na rede globo com Selton Mello e Ney Latorraca. Também atuei na inesquecível “Dança do Quadrado”, no Youtube, com mais de 14 milhões de acessos”.

Ganhou prêmios com algum deles?

“O Premio MTV de melhor webhit 2008 com a “Dança do Quadrado”.

Como foi contracenar com artistas como Selton Mello e Ney Latorraca?

“Não é porque você é famoso que você tem que pisar na cabeça do ator desconhecido e eles foram muito legais comigo, sabiam que era a primeira vez que eu trabalhava na Globo e que ainda estava em estado de choque pela novidade e a grandeza do projeto”.

O que aprendeu?

“Humildade é tudo na vida de um artista”.

E destas tantas atuações, quais mais te marcaram?

“'O Sistema', na Rede Globo aonde cheguei no ápice da minha carreira como ator e com reconhecimento nacional. A peça “A gorda e o Anão”, o vídeo “Ah, não! War?”, no Youtube, com esse vídeo fiz a Dança do Quadrado e conheci o Antonio Tabet, do site Kibe Loco, e também minha participação na serie "O Sistema" que foi aumentada”.

A Peça “A gorda e o Anão” te marcou por quê?

“Foi nela o meu grito de liberdade através da comédia. Consegui dizer o que sinto e do que gosto ou não gosto sem perder a razão, falei o que sempre quis dizer, mas através da comédia e sem ofender as pessoas”

E no site Kibe Loco, qual foi o segredo do sucesso do vídeo?

“Trocando e-mail com o Antonio Tabet, dono do site, pedindo para ele ajudar em uma votação do vídeo “Ah não! War?”. Ele não ajudou, mas adorou o vídeo e cinco meses depois entrou em contato para eu produzir a Dança do quadrado”.

E produções próprias, têm vontade?

“Talvez um dia eu dirija uma peça, mas não sei quando e o que. Prefiro ser apenas ator. A vida de produtor e diretor não é minha praia”.

Então, como ator, qual mensagem deixa para os iniciantes no mundo artístico?

“Não desista nunca! Não seja um cabeça dura e faça o que pintar pela frente desde teatro na igreja até A Paixão de Cristo. Também não seja um fanático por uma causa ou classe. Lute pelos seus sonhos mesmo que 99% das pessoas digam que é burrice. Quebre sua cara, mas nunca se arrependa dos seus erros e sim das coisas que você não tentou fazer ou lutar. Se por um acaso você seja agraciado pela fama rapidamente, cuidado: todas as nuvens um dia acabam e o chão da terra é muito duro. Para eu estar onde estou hoje tive que ralar muito e me levantar de muitos tombos que a vida me deu. Seja um sonhador e realize seus sonhos sempre, e nunca odeie o Teatro Lala Schneider, pois um dia você ainda vai deixar seu currículo lá!”.

Esta foi a entrevista que fiz com o ator Claudinho, um exemplo de que não importa quão pequeno você se ache, sua força sempre pode ser maior.


Bianca Silva

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Semana de tema livre

Loiras Fantasma

Uma das coisas que mais me impressiona são as estórias sobre loiras fantasma. Nunca entendi o motivo de tanta perseguição. Hoje estava lendo sobre lendas urbanas e acabei nesta estória. Pode parecer não ter sentido mas quem nunca pensou: Será que isso realmente aconteceu?

Existe uma lenda eslava que diz que quando uma loira é assassinada em um lugar público, a sua alma fica rodando a Terra em busca de outra loira que será morta da mesma forma trágica. O conto abaixo é baseado nesta lenda.

Alessandra era uma jovem loira de 23 anos, que morava em Curitiba e estudava Serviço Social em uma faculdade particular. No dia 2 de janeiro de 2006, esta moça teve um pesadelo estranho: ela sonhou com uma mulher loira, dentro de um barzinho, que disse:

- Oi, sou Adriana. Eu tinha a sua idade quando morri assassinada dentro de um bar. Estou aqui para avisar que você terá o mesmo fim.

Naquela madrugada, Alessandra acordou assustada no meio do sono. Na noite de três de fevereiro, ela sonhou com a mesma loira, que falou:

- Olá, voltei... Você já sabe que eu tinha a mesma idade sua quando morri? Eu desencarnei no ano de 1996. Eu estava num bar com amigos, na cidade de São Paulo, quando um bando de psicopatas entrou e atirou nas pessoas.

Naquela noite Alessandra acordou assustada novamente. Então, acendeu a luz do banheiro, tentou se olhar no espelho. Mas em vez de ver a sua própria imagem, a moça viu a outra loira, Adriana, toda ensangüentada. Alessandra soltou um grito de horror. Assustada, a estudante foi ao psiquiatra, que lhe passou alguns remédios de tarja preta.

Na noite de quatro de março, Alessandra voltou a ter pesadelos com Adriana, que disse:

- Este é o último mês que você sonha comigo. Pois em abril, você morrerá da mesma forma que eu: se divertindo num barzinho com os amigos. Em 1996, se não tivessem tirado a minha vida, eu iria me formar em Odontologia. Até mais.

Após este pesadelo, Alessandra ficou alguns dias sem ir a barzinhos. Até que, em meados de abril, ela aceitou o convite de seu amigo, Rogério, para se divertir num bar com música ao vivo no bairro chamado Alto da XV. Estava indo tudo bem, até que, no meio da festa, houve uma briga: um rapaz armado tentou atirar em outro moço. Porém o tiro atingiu Alessandra. Segundo seus amigos, a sua última frase, antes de morrer, foi esta:

- Adriana, você tinha razão... Agora, você pode me buscar!

Eu não sei se acredito, mas por via das duvidas continuo ruiva


Ingrid Moraes

domingo, 21 de junho de 2009

A porra da menarca


Não sabia como limpar aquilo. Não sabia se ficaria o cheiro. Não entendia como apareceu de repente. Como foi “sujar” a roupa de cama sem aviso daquele jeito. Cledevaldo era um garoto do interior, nascido e criado em um chácara distante da cidade, quase sem amigos, indo para a longínqua escola só por obrigação e nem tendo acesso à TV, visto que sua mãe era uma ferrenha católica radical avessa a qualquer mínimo indício de imoralidade. Não se casou depois que enviuvou e passou a tratar as coisas do sexo como bestiais e capazes de legar pontos para o inferno mesmo quando só ocorridas em pensamento. Mencioná-las então, nem pensar. Seu puritanismo se iniciou no momento em que o pai de Cledevaldo faleceu, quando o garoto contava apenas cinco anos de idade. Ela jurou que jamais teria outro homem e passou a isolar o filho de possíveis tentações da carne, mesmo quando sua idade lhe permitia ter apenas tentações pelas tetas de nega e outros doces do armazém do seu Zafiro (homem que tinha muito gosto pela mãe de Cledevaldo, mas nem se entusiasmava em se aproximar por saber que se lhe oferecesse uma simples “teta” de nega poderia ser tratado como um pervertido). Por conta de tantos tabus em nome da religião, na casa de Cledevaldo as partes corporais limitavam-se a existir apenas do umbigo para cima ou dos joelhos para baixo. E agora, aos 11 anos de idade, ele não sabia o fazer com aquele jato molhado de cheiro e consistência esquisitas que seu pênis esguichara no meio da noite.

Como não poderia contar para sua mãe, deu um jeito de esconder a roupa de cama até que secasse e correu para a casa de Janaína, menina um pouco mais velha (e na adolescência dois anos são uma diferença abissal) e tentou tirar respostas para aquele episódio aparentemente sem sentido. Janaína morava numa chácara próxima, Cledevaldo só foi de bicicleta pela pressa. Ela era filha do Jorge leiteiro, um alcoólatra que sobrevivia do trabalho dos filhos e da esposa. As crianças tinham uma educação um tanto quanto negligente pelo excesso de tarefas, mas Cledevaldo achava que Janaína poderia saber mais de coisas de sexo, pois era muito falante e um dia lhe mostrou um catecismo do Carlos Zéfiro, cheio de desenhos pornográficos que Cledevaldo nunca entendeu direito. Chegando na propriedade de Jorge leiteiro, empenhou-se em encontrar Janaína num momento em que a menina estivesse a sós, e não foi difícil, pois ela já cruzava o cercado das vacas voltando da ordenha com um balde de metal cheio de leite. Cledevaldo se pôs à frente de seu caminho e pediu socorro urgente para sua dúvida. Curiosa, Janaína colocou o balde no chão e se sentou no mato à beira da picada sem se importar com o risco de sujar o vestido nos rastros de estrume. O adolescente contou (com um pouco de timidez e cerimônia) do esguicho que o surpreendera na cama há questão de algumas horas, e que não sabia o que era. Não se sabe se por inocência ou por maldade, mas Janaína disse ao garoto que sabia muito bem o que era aquilo, que se chamava "menarca", que ela própria deveria estar à vésperas de também ter líquidos saindo de seu sexo, que era normal e teriam de passar a vida convivendo com a situação, pois ocorreria mais vezes. Cledevaldo se desesperou, pois acreditava que aquilo tinha a ver com prazeres proibidos, afinal tivera um sonho bom antes do ocorrido (e era com Janaína, mas não se atreveu a contar). A caipirinha então lhe deu uma solução: explicou que as pessoas costumam usar uma espécie de protetor de sexo chamada “bisorvente”. Ela se levantou e pediu para que ele esperasse, deixando-o de vigia do leite branquinho que descansava no balde metálico. Voltou então com uma caixa de Carefree e tirou um exemplar de dentro da embalagem. Cledevaldo observou-o sem entender, tateando o produto e olhando para Janaína desconfiado. A menina explicou que ele deveria comprar aquilo com freqüência mensal, que o problema poderia voltar a aparecer e ele precisava estar preparado usando aquele “bisorvente”. Deu de presente o exemplar a Cledevaldo e pediu licença porque já era tarde.

Passou o tempo e Cledevaldo fez da compra do “bisorvente” um ritual mensal. Adquiria uma caixa e colocava uma unidade dentro da cueca, passando assim seus dias e noites. A ejaculação seguinte demorou mais de um mês para ocorrer, mas, quando veio, Cledevaldo agradeceu por estar preparado: olhou para seu Carefree ensopado e riu com cara de esperto, satisfeito pelo conselho salutar de Janaína. Como apenas tocava em seu pênis para se lavar e urinar, seguindo os conselhos da mãe de limitar ao máximo o contato com as partes íntimas, não descobriu o que era a masturbação, fazendo com que o acúmulo de esperma voltasse a ser expulso com certa frequência, e sempre o Carefree estava lá para protegê-lo de novo vexame. Já que quase não se comunicava com outros adolescentes, nunca comentou do “bisorvente”, como também não ouviu quase nada sobre ejaculação involuntária – mesmo porque sua mãe o orientara a fugir de assuntos relativos a sexo. No mercadinho da cidade, ninguém estranhava o adolescente comprar sua mensal caixa de Carefree, pois achavam que estava fazendo a feira do mês para a mãe. E desde muito cedo Cledevaldo já ganhava seu próprio dinheiro, trabalhando de ajudante de bóia-fria na fazendo do seu Antero. Assim sendo, foi levando a adolescência tendo sempre dentro da cueca uma unidade de Carefree que o deixava feliz e sequinho, conforme dizia o slogan do comercial que ele nunca assistira na TV.

Mas Cledevaldo um dia recebeu uma proposta para virar seminarista. A mãe fez muito gosto pela ideia do padre Nicolau e tratou de ingressar o menino na escola de padres apenas dois meses depois do convite (ao qual o próprio Cledevaldo não teve a chance de manifestar seu real interesse). Da noite para o dia, passou a conviver com muitos garotos da sua idade, só que ainda residia em seu íntimo um estilo pouco sociável de ser e agir, o que não o tornava enturmado com os colegas. Encerrado o primeiro mês de seminário, Cledevaldo constatou desesperado que só lhe restava uma última unidade de Carefree na embalagem. Não sabia como deveria proceder. Tinha medo que os padres fossem radicais como sua mãe e o punissem se falasse algo relativo a sexo. Também não criara intimidade com os colegas para lhes pedir um “bisorvente” emprestado. Foi então com as mãos trêmulas que, em um momento no qual ficou solitário no quarto coletivo, depositou seu derradeiro Carefree entre seu pênis e a cueca. A operação foi vista à distância por Inácio, um seminarista que também estava lá a contragosto. Ele observou Cledevaldo fazendo tudo de costas, conseguindo apenas ver que se tratava de uma caixinha de Carefree e que o produto estava sendo aplicado por dentro da roupa íntima. Como só avistara a bunda de Cledevaldo e o rapaz quase não tinha pêlos, Inácio apressou-se em fazer deduções entusiasmadas: aquele garoto na verdade era uma garota. Sim, claro, o que mais explicaria o uso do Carefree? Além do mais, Cledevaldo não tinha barba naqueles seus 13 anos de idade, os cabelos eram um pouco compridos (fato que o seminário estudava corrigir com brevidade) e não tinha o gestual rude de um garoto que veio do mato. Como Inácio estava há meses sem ver mulheres que não fossem as freira do convento situado na praça da matriz, ficou imediatamente excitadíssimo com a situação. Só não sabia como proceder. Agora entendia porque Cledevaldo não se misturava com os demais seminaristas e falava tão baixinho ao ponto de quase não se poder ouvir sua voz - tudo para esconder sua identidade secreta. Só não conseguia explicar o que uma garota fazia disfarça de menino no seminário, mas isso pouco importava. Supôs ser uma moça que, como tantos lá, precisava ingressar na vida clerical para ter um destino mais digno do que o naturalmente permitido por sua origem humilde. Pronto, estavam somadas todas as constatações necessárias. Agora era com ele.

Nas aulas e missas, Inácio olhava para Cledevaldo com gula, não vendo a hora de poder se declarar para aquela intrusa e compensar os tantos meses de jejum sexual, posto que viera de sua cidade por imposição dos pais, ao perceberem que o rapaz havia virado o terror do colégio onde estudava, trocando sexo oral e outros favores libidinosos por CDs piratas do grupo Calypso. Numa dada noite, no alojamento coletivo, Cledevaldo se revirava na cama por não saber como poderia sair e comprar seu Carefree. Vendo a cena do seminarista insone, Inácio caminhou até sua cama pé-ante-pé agachando-se e revelando a Cledevaldo, aos cochichos, que sabia seu segredo. Cledevaldo de início levou um susto, mas depois ficou aliviado, percebendo poder ter ali um aliado em sua causa ingrata. Pediu então a Inácio que lhe fizesse um favor, que conseguisse para ele um “bisorvente”, já que os seus estavam acabando. Relembrando seus tempos em que praticava escambo tendo por moeda favores sexuais, Inácio se apressou em afirmar que sim, que lhe traria uma caixa cheinha de Carefree. Cledevaldo sorriu agradecido, ouviram então sons no corredor e Inácio correu para seu beliche, temendo ser flagrado. Os dois dormiram então satisfeitíssimos, mas por causas bem diferentes.

Nos dias seguintes, Inácio se viu na necessidade existencial de cumprir com aquela missão. Não tinha dinheiro e já cogitava roubar um supermercado, mas sem chance, todos tinham câmeras, até a farmácia era dotada do equipamento. Não convivia com mulheres, não ia na casa de ninguém. Até que lhe surgiu a arriscada solução. Inácio tratou de pular por uma das janelas laterais do convento da praça da matriz. Sabia que freiras eram mulheres santas mas que menstruavam do mesmo jeito, então não seria difícil encontrar o que procurava. Entrou em um dos aposentos, abriu gavetas e armários cuidadosamente até encontrar o que procurava, tendo ainda a sorte de ser da marca que Cledevaldo gostava. Tinha apenas umas quatro unidades, mas já estava de bom tamanho. Muito empolgado mas ainda tendo a noção do perigo, se apressou em sair dali, pulando novamente a janela e correndo para o seminário. À noite, enquanto todos dormiam, foi novamente furtivo até a cama de Cledevaldo e lhe entregou a caixinha que até então escondera debaixo do travesseiro. Feliz como nunca, Cledevaldo apressou-se em abri-la, tirando de dentro uma unidade, descolando com habilidade a fitinha adesiva e aplicando o produto por baixo das cobertas naquele mesmo instante. A operação foi acompanhada por Inácio de olhos arregalados, já não se aguentando por dentro das cuecas. Cledevaldo tirou a mão novamente para fora das cobertas e a estendeu para cumprimentar Inácio agradecido. Os dois trocaram então um cumprimento firme de cumplicidade, mas mal conseguindo se olhar nos olhos devido à escuridão. Cledevaldo achou que era o momento de avançar, mas depois declinou da ideia por não querer parecer afoito e interesseiro. Além disso, temeu que Cledevaldo oferecesse resistência pelo fato de estar “menstruada”. Inácio foi para sua cama e adormeceu esperançoso, cheirando a própria mão.

O ritual prosseguiu daquela forma: Inácio roubando o convento, Cledevaldo usando do fruto do furto. Só que Inácio foi se aborrecendo com o tempo, pois Cledevaldo nem ao menos lhe dava um beijinho de agradecimento. Além do mais, quem tinha poder ali era Inácio, pois poderia a qualquer tempo denunciar Cledevaldo, revelando que ele na verdade era ela. Foi então que Inácio se revoltou e decidiu que iria dar o bote, dane-se. Em uma certa noite, os seminaristas ficaram se revezando no banho antes do jantar: eram duas as unidades sanitárias, ambas dotadas de quatro chuveiros, todos separados por cabines individuais, com portas de plástico duro jateado, permitindo a quem está de fora observar a silhueta de quem está dentro. Cledevaldo e Inácio eram os últimos da fila. Chegando a vez deles, Cledevaldo entrou em seu box e foi tirando a roupa, num strip-tease de visão turva que deixou Inácio praticamente sem controle. Quando Cledevaldo ficou completamente nu e ligou o chuveiro, Inácio abriu a porta, vendo-o de costas e se jogando para agarrá-lo num impulso incontrolável. Assustado e sem entender a situação, Cledevaldo pôs-se a gritar e a socar Inácio, com os dois caindo para fora do box, rolando no chão de ardósia. Os demais seminaristas logo chegaram ao recinto, com o padre Selmar e outros dois cléricos também se aproximando apressados. Inácio então parou de tentar imobilizar e tapar a boca de Cledevaldo. Mas foi aí que ele quem teve o maior susto de todos, ao ver que sua musa tinha pinto. Gritou e se afastou de costas até ficar no canto do banheiro, encolhido e tapando os olhos com as mãos, deixando todo o resto do grupo a olhá-lo sem entender.

Os padres isolaram os dois rapazes dos demais seminaristas e trataram de fazer um pente fino de seus pertences. Foi assim que Inácio foi expulso por pederastia sem nunca ter gostado de homem e Cledevaldo foi expulso por roubo de absorventes sem nunca ter menstruado. Hoje, Cledevaldo já é um adulto, casado com Janaína, tendo três filhos homens e prezando por ensinar a eles tudo sobre sexo. Inclusive sobre as funções de um “bisorvente”. Sendo a principal delas poder livrá-lo de virar padre.


Mario Lopes

sábado, 20 de junho de 2009

A borra da menarca


No início do século passado, havia em Angicos, um dos mais modestos e áridos vilarejos da caatinga sergipana, uma menina de 11 anos chamada Jucelina que protagonizou uma breve e marcante história responsável por torná-la uma lenda local. Quando ocorreu sua menarca, abandonou correndo suas brincadeiras no pátio de chão batido da casa de sua avó, indo chorosa ao encontro de sua mãe e deixando as primas a olhá-la assustadas pelas frestas de janelas e portas no humilde casebre de pau-a-pique. A mãe limpou-a com um pedaço de pano e explicou à menina que agora ela já podia dar a luz. Jucelina não entendeu mas achou graça na mancha vermelha que estampou o pano, dizendo que se parecia com uma ponte torta. A mãe mal deu bola à observação da filha. Porém, menos de uma semana depois, toda a comunidade se viu isolada do resto do mundo por conta da queda de sua única ponte, matando e ferindo uma caravana de passantes que visitavam parentes vinda do semi-árido cearense.

Numa terra ávida por milagres, para muitos aquilo pareceu ser um sinal de talento premonitório da menina. Tia Juméria recordou de uma família árabe cuja matriarca afirmava poder ver o futuro pela borra do café. Não tardou a vislumbrarem ali um possível paralelo. Para tirar à prova os supostos poderes de Jucelina, tia Juméria se prontificou a cuidar da menina na época de seu sangramento e a tirar dela uma nova leitura visual da mancha que se formaria em seu paninho de higiene.
No mês seguinte, sem entender muito o que se passava, Jucelina apreciou o borrão e apenas disse que estava vendo algo parecido com um passarinho chorando. Passaram-se dias de especulação na comunidade, alguns dizendo que Jucelina seria enfim vista por todos como apenas uma menina sem poderes, e outros tentando fazer suposições sobre o que a figura de sangue representava: seria o Espírito Santo triste com o vilarejo? Ou então um pássaro de mau agouro trazendo maldição para seus habitantes? Nem uma coisa, nem outra. Quando caíram os primeiros pingos de chuva depois de uma estiagem que se arrastava por meses, todos entenderam o que as lágrimas de um animal aéreo significavam.

Um grupo de céticos ainda estava inconformado com a santificação à qual a menina estava passando por duas simples coincidências. Mas as leituras da borra íntima davam sinais de que iriam prosseguir, e a mancha do mês seguinte foi percebida por Jucelina como uma flor murcha. Cinco dias depois, falecia de tifo a jovem mais bonita de Angicos e região. Juciara foi velada e sepultada com a presença de grande parte do vilarejo, mas o que mais se conversava nesses encontros era mesmo a nova façanha de Jucelina.
A crendice só crescia mais e mais, e toda previsão encontrava depois algum fundamento natural ou fabricado por alguém da população. Quando, por exemplo, ela viu na mancha uma vaca sem uma das patas, as beatas perceberam a lógica premonitória de que uma das vigas que sustentavam o teto da igreja deveria estar cedendo. E, de fato, havia uma realmente carcomida por cupins, colocando em risco os fiéis e o pároco.

Assim, a comunidade toda passou a viver em função das menstruações de Jucelina. Todo mês, aguardavam as regras apreensivos em frente à sua casa. E sempre encontravam alguma lógica para suas leituras de menina-mulher. As colheitas e até matrimônios passaram a ser guiados pelos sinais surgidos em cada sangramento. Em dada ocasião, sua menstruação demorou a ocorrer, suscitando desconfianças na população quanto à sua pureza ter sido rompida e ela estar grávida. Mas logo desceu o sangramento e voltou o ritual de leitura da borra no pano de limpeza íntima.

Mas, tempos depois, quando a comunidade já estava acostumada com o ritual e sufocavam a menina de presentes, aconteceu uma surpresa desconcertante para todos. Ao ver a mancha formada, Jucelina, com os olhos vidrados e ao mesmo tempo lúcidos, disse pela primeira vez aquilo que para todos deixara de ser óbvio: “estou vendo sangue”, ela disse. Tia Juméria tentou nova chance, mas a menina agora só conseguia ver o que todos viam: sangue. Repetiu e repetiu tanto aquelas palavras que todos se convenceram de que Jucelina havia perdido seus poderes. Voltaram para casa revoltados, carregando debaixo dos braços seus presentes, porcos e galinhas. A cidade adormeceu sob o manto frio de decepção.

No dia seguinte, foram despertados por Corisco e seu bando, que fizeram naquele pedaço do sertão sergipano o extermínio de toda a população, num episódio que ficou reconhecido na posteridade como a mais fulminante sanha do cangaço. E também a mais sangrenta.


Mario Lopes

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Natal Vermelho


Eu não imaginava até onde poderia chegar a oposição entre o corpo e a mente. Não com 11 anos.
Era dia 19 de dezembro e eu estava, com meus pais, na casa de minha avó, antecipando o Natal, pois viajaríamos no outro dia de manhã e só voltaríamos no início do ano seguinte. Já havíamos passado por quase todas as etapas do ritual natalino: rezamos, cantamos e nos cumprimentamos em frente ao enorme pinheiro de Natal, quase centenário, do qual minha avó cuidava com esmero há tantos anos que nem meu pai saberia contar.
Ao pé da árvore, pacotes coloridos incrementavam a decoração e aumentavam a curiosidade de desvendar o conteúdo de cada um deles. Segui meus instintos infantis e abri primeiro os presentes maiores. Ganhei novos exemplares pra minha coleção de Pollys e ansiava acabar de abrir os outros presentes para ir logo brincar com minhas novas bonecas. Não estava errada. Os pequenos pacotes eram roupas de todos os tipos: vestidos pra reveillon, conjuntos leves para o verão e biquinis. Como toda mãe que se preze, a minha quis logo me levar ao lavabo para que provasse aquele amontoado de chatices.
Quis acabar logo com aquilo, e fui correndo experimentar as roupas. Todas serviram, mas ainda faltavam os biquinis. Tentei convencer minha mãe de que eles serviriam perfeitamente, que eram lindos, parecidos com os outros que eu tinha, etc... Mas não teve jeito. Tirei a blusa e provei a parte de cima da roupa de banho. Eu mal usava sutiã. Olhei pra minha mãe, e falei:
- Pronto, perfeito.
Quis me vestir rapidamente, colocar a blusa por cima do biquini, e ir de encontro com minhas bonecas, mas minha mãe, ainda mais ágil, me estendeu a parte de baixo, prolongando a minha angústia:
- Toma filha, veste isso e você está livre.
Amuada, obedeci. Despi-me e lá estava algo que, primeiramente, me fez gargalhar. Uma mancha avermelhada contrastava com os ursinhos azuis da minha calcinha. Olhava para aquilo meio hipnotizada pela dúvida, quando ergui o pescoço até alcançar o rosto de minha mãe, e vi seus olhos marejados em lágrimas. Olhei de novo para a mancha, e minha reação foi, de pronto, pedir desculpas. Até hoje não sei se ela me ouviu. Seu olhar perdia-se num vazio que nunca compreendi e me envolveu a tal ponto que lacrimejei por achar que havia algo de errado comigo. Sentei no mármore gelado, sem nem mais pensar em Pollys, biquinis ou qualquer outra coisa que o valha. Foi nesse instante, em que ela sentou ao meu lado e me envolveu em seus braços, que ouvi a verdade sobre o que estava ocorrendo.
Apesar de já ter estudado aquele assunto nas aulas de ciência, não imaginava que aconteceria comigo, ainda mais tão cedo. Vivia meu primeiro conflito interno de menina mulher. A natureza havia me pregado uma peça, ou cometido um terrível engano. Uma menina, de 11 anos, que acabara de ganhar bonecas e estava louca pra ir brincar, não estava apta para entender que poderia gerar outra criança. A tristeza era tanta que me sentia culpada, e tinha medo da reação da minha família.
Dos meus avós, eu tinha medo que eles pensassem que haviam me dado os presentes errados, ou que eu não havia sido sincera ao agradecê-los. Das minhas amigas, eu tinha medo da rejeição, pois em uma fase em que ser semelhante aos outros é tudo, eu seria a única que estava passando pela tal transição. Do meu pai, vinha o maior medo: de perder o trono de menininha para mim mesma e quebrar a sua expectativa eterna de que eu fosse para sempre a sua criança.
Meu medo? Um sentimento de culpa por achar que havia feito algo errado, de não ter dado provas suficientes à natureza de que não estava pronta para aquilo e a fatídica descoberta de que não tinha controle sobre meu corpo. Afinal, eu era uma criança, e aquilo não estava certo. Não fazia sentido. Eu me sentia egoísta por pensar que poderia ter filhos, enquanto havia milhares de casais pelo mundo lutando para conseguir o que eu desprezava, a possibilidade de tê-los.
Cheguei ao ponto de querer ocultar de mim mesma a verdade. Limpava-me até não haver mais nenhum vestígio, ação que consumia meio rolo de papel higiênico. Eu gastava por dia, em “purificação”, mais de dois rolos de papel.
Fiquei cega para meninos. Não os olhava, apenas sentia a presença, e a evitava.
Não tinha mais a liberdade de entrar na piscina na hora em que bem entendesse, e em mim aflorou um pudor até então desconhecido. Já não me despia em frente a outras crianças no vestiário e olhava para minha calça de minuto a minuto, temendo um acidente que me levasse à humilhação já latente.
Essa foi a primeira experiência em que comprovei que a mente não tem idade, mas o corpo sim. E aí ficou a dúvida... o que eu era? Uma menina ou uma mulher?
E uma mulher já passada da menopausa? Ela pode ser mais jovial que uma moça no auge de seus 20 anos. O que elas são afinal? O que faz com que a chamem de velha ou jovem?
O que define o que somos? O que os outros vêem? Ou o que pensamos?
Platão já dizia: “O corpo é a prisão da alma”.


Letícia Mueller

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A passagem

Não há muito que falar sobre menarca, é tudo muito repetido, ao mesmo tempo que acontece de forma diferente com cada uma.
O que eu não concordo é que as pessoas consideram primeira menstruação com passagem para vida adulta, e não é.
Eum por exemplo, menstruei aos 11 anos (um horror!), eu sabia o que era, mas eu não queria. Sentia-me envergonhada, nem sabia como contar para minha mãe. Fui contar para ela já na segunda vez. Queria morrer quando percebi que ela tinha contado para meu pai. E como eu soube? Quando ele chegou do trabalho me viu na rua brincando e disse: “Vem pra casa, você já tá moça para ficar ai na rua!” Ah! Sim... Eu queria cavar um buraco e entrar nele.
O tempo passou e essa mesma frase voltou a se repetir, dessa vez eram as tias, as avós... Todas me cobrando comportamento adulto. E eu ficava muito brava por que eu queria ir para a rua continuar brincando. E continuei, mas evitei brincar muitas vezes para não ouvir a ladainha.
Naturalmente, aos 13 anos fui me interessando por outras coisas. Naquela época eram os meninos, como não queria que meus “pretendentes” me vissem na rua brincando de bola, eu parei de jogar e depois não era mais interessante.
A “passagem” tem que acontecer naturalmente.

Para descontrair, piadas sobre menstruação que a Camila Souza me mandou:

Mariazinha, a irmã mais velha do Joãozinho, estava tendo a
sua primeira menstruação. Apavorada, sem saber a razão de
todo aquele sangue, corre pelos corredores à procura do irmão.
- Joãozinho, Joãozinho, socorro, me ajuda!!
- Calma, calma, maninha. O que foi?
- Olha só!!! Estou sangrando!!! O que será isso, Joãozinho???
Joãozinho sentiu-se embaraçado no primeiro momento... Pensou
um pouco... Usou toda a sua experiência (estava no auge dos sete
anos). Levantou o vestido da irmã, abaixou a calcinha... Analisou
todas as possibilidades e, finalmente, concluiu:
- Olha... eu não entendo muito bem disso, mas acho que
arrancaram o seu saco.

A garota de programa vai fazer uma consulta médica. Durante a anamnese, o médico pergunta:

- A senhorita calcula quanto entre uma menstruação e outra ?

- Quanto, - ela repete - em torno de R$ 2.500 a 3.000.

Domingo à tarde, sem nada para fazer, Deus resolve ir visitar Adão. A certa altura da conversa Ele pergunta:
— E a Eva?
— Ela não está muito bem, Senhor! Sabe... aqueles sangramentos que ocorrem todos os meses.
— Sim, mas cadê ela?
— Ela foi se lavar no rio!
— No Rio?
— Não, no rio!
— Droga! Agora não vou mais conseguir tirar aquele cheiro dos peixes!

Apavorada com sua primeira menstruação, Eva vai bater à porta do seu Criador.
- Deus! Deus! Deus!
- O que foi, mulher? - perguntou Deus, abrindo a porta.
- Estou com um defeito seríssimo!
- Impossível! Sou um perfeccionista ao pé da letra. Fiz tudo perfeito!
- Olha... estou vazando! Acho que o parafuso da minha xoxota está espanado! Olha só quanto sangue escorrendo no meio das minhas pernas.
- Ha! Ha! Ha! - E Deus começou a gargalhar! - Isso não é nada, sua boba! Eu explico. É que o cérebro, enquanto trabalha, consome algumas partículas de sangue, então para suprir esse consumo, Eu criei um órgão que produz esse sangue adicional, que, quando não é usado, sai pela vagina.
- Ué... não entendi!
Então, Deus suspirou e concluiu que nem tudo o que Ele havia criado era perfeito!

Beijos


Fabiane Cristina

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O ritual


O dicionário define menarca como a chegada da primeira menstruação na adolescente . Mas toda mulher sabe que a menarca possui um significado mais profundo . Afinal , ela é um tipo de ritual de passagem da infância para a adolescência , uma espécie de fim de ciclo que causa temores e expectativas .
Dias atrás , eu estava conversando com um grupo de amigas sobre o dia da nossa primeira menstruação . Cada garota reagiu de uma forma diferente . Por isto , elas acharam interessante que eu fizesse um texto sobre este assunto e colocasse na Internet , desde que mudasse os nomes reais delas . Achei uma boa idéia e resolvi escrever esta matéria .
Desde os meus cinco anos de idade , minha mãe fala sobre menstruação comigo . Ela sempre me mostrava os seus absorventes higiênicos e dizia que as “ regras “ trazem cólicas e sensação de cansaço . Minha mãe explicava que um dia estas “regras” chegariam para mim , que eu deveria estar preparada e que a idade para este sacrifício chegar , pela primeira vez , seria dos 10 aos 17 anos .
Aos 10 anos de idade assisti a primeira versão do filme Carrie , a Estranha e a cena que mais me marcou foi a parte em que a protagonista menstruou na escola , não entendeu o que aconteceu e que por isto virou motivo de chacota no colégio em que estudava . A partir deste dia , passei a rezar para que a minha menarca não viesse na escola .
Em abril de 1986 , aos 12 anos de idade , num domingo , após brincar de bonecas fui ao banheiro . Lá notei que a minha calcinha branca apresentava uma mancha cor de terra . Logo pensei que isto fosse resultado de uma dor de barriga , talvez eu tivesse defecado e não percebido nada . Naquele exato momento minha mãe abriu a porta do toalete e percebeu que se tratava da minha primeira menstruação . Ela me deu um absorvente higiênico e tratou de telefonar para os parentes mais próximos contando a novidade .
Dei graças a Deus por minha menarca não ter vindo na escola . Porém difícil mesmo foi colocar o meu primeiro absorvente higiênico . Como estava nervosa , não li o manual de instruções e coloquei a parte “autocolante” em meus pêlos pubianos . Na hora de tirar o absorvente , doeu muito e tive alguns pêlos arrancados . Depois , tratei de ler o manual da embalagem com mais cuidado e aprendi como se coloca uma “modess” corretamente .
O pior foi a sensação que veio depois que coloquei o meu primeiro absorvente , pois chegou uma sensação de medo . Fiquei com temor de perder a minha infância , de não poder mais brincar de bonecas e de ser obrigada a me comportar de uma forma adulta . Comecei a chorar desesperadamente . Mas conversando com minha avó notei que isto era tremenda besteira e que eu não deveria parar de fazer as coisas de que eu gostava só porque tive minha primeira menstruação . Também pensei que seria difícil andar de absorvente naqueles dias dentro do colégio e tive medo de que as pessoas percebessem . Porém logo notei que isto era besteira também .
Quando veio a menarca da minha amiga Márcia , ela estava numa aula de ginástica, vestida com lycra branca . No meio do exercício suas colegas falaram :
- Márcia , sua menstruação vazou ...
Assim a menina foi correndo ao banheiro . Primeiramente ela pensou que aquilo fosse resultado de alguma espécie de machucado , pegou um “modess” emprestado e depois percebeu que tratava – se da menarca mesmo . Ao contar para a sua mãe do fato , aconteceu a mesma coisa que ocorreu comigo : sua mãe telefonou para os parentes mais próximos e contou a novidade .
Quando Paula teve sua primeira menstruação aos 13 anos de idade agiu com naturalidade . Num dia ensolarado , logo ao acordar , viu uma mancha vermelha em sua cama . Desde os seus quatro anos de idade , ela sonhava em ficar menstruada . Uma vez , aos cinco anos , ela chegou a colocar um absorvente higiênico escondido da sua mãe e foi ao jardim de infância assim .
Através deste texto percebemos que a menarca é algo importante para toda adolescente . Por isto a garota deve receber a orientação necessária em casa e na escola para que ela esteja preparada para enfrentar esta nova fase .


Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 16 de junho de 2009

A segunda foi pior!


Aquela sala de aula para mim era inocente assim como minha vida parecia-me. Nada de dores, nada de preocupações e incômodos. Eu era como uma ovelha branquinha (que ia ser manchada em pouco tempo). Naquela manhã nada, mas nada mesmo podia me atingir! Mas atingiu, em cheio! Senti assim, como se fosse o frio que se sente com a descida de uma roda gigante... mas eu estava ali mesmo, sentada na cadeira da sala. Porém, não entendi aquilo e continuei minhas tarefas. Chegou a hora de responder no quadro... fui lá na frente e, quando virei... percebi que uma amiga olhava para mim. Caramba, eu estava na sexta série, nem passava pela minha cabeça essas coisas! Sentei e ela me deu a notícia fatídica. Peguei e esperei todos saírem e amarrei minha blusa na cintura. Lembro-me que fiquei assustada e tentei imaginar que aquilo não estava acontecendo comigo. Mas a segunda vez foi pior!
Estava na aula, dia frio de rachar e aquela coisa veio, mas muito, muito em cheio, pior e dez mil vezes mais avassaladora! Eu me lembro que novamente coloquei a blusa na cintura e todo mundo muito bem agasalhado e só eu lá, afirmando não estar com frio! Fui até o banheiro e lá quase desmaiei quando vi a cena. Homens agradeçam o corpo de vocês! Nunca queiram ver a menarca de uma menina ao vivo e a cores pela primeira vez! Mulheres, vocês me são as únicas que entendem o que eu digo!

Sabe como eu vejo a primeira menstruação de uma menina?
É como se ela pudesse calçar um salto alto mesmo que ainda
não tenha corpo de adulta, mas passa a ter mente e a alma de
uma mulher!


Bianca Silva

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Tema da semana: Menarca

Mulher eu?


Marcella estava na casa de uma amiga quando percebeu que algo de errado havia acontecido, aos 11 anos e meio. Era uma menina bem moleca, gostava de jogar bola, falar mais que a boca, vídeo-game, comer muito e dar muita risada. Todos os seus amigos a chamavam de amigão, e ela mesma acreditava ser uma menina meio menino. Estava vendo filme e conversando quando chegou à conclusão de que havia feito o número um, como pode? Uma menina de 11 anos e meio fazer xixi na calça? Ainda mais na casa de uma amiga. Indignada e envergonhada, Marcella levantou da cama e foi ao banheiro na ponta dos pés, mas uma coisa diferente aconteceu, ela verificou e não era xixi, era sua primeira menstruação. Chorou e não sabia o que fazer, nenhuma de suas amigas tinha passado por isso, para quem ela ia pedir ajuda? Enrolou papel higiênico e decidiu fingir que nada havia acontecido. Passou a tarde conferindo e conseguiu chegar até o fim do dia sem nada dar errado. Chegou em casa e não sabia mais o que fazer, contou para sua mãe e pediu segredo absoluto. Sua mãe chorou muito e disse que agora ela era uma mulher. Marcella foi dormir e decidiu tentar levar sua vida normalmente, no dia seguinte toda a sua família sabia, e todas as suas tias ligaram para dar os parabéns para a nova mulher da família. Marcella decidiu abandonar a tentativa frustrada de se esconder, e tentar conviver com essa nova fase de cólicas, e TPM. A única coisa que não conseguia era entender se agora só por isso tinha realmente virado uma mulher.


Ingrid Moraes

domingo, 14 de junho de 2009

Macho que é macho vai na parada gay



Três amigos conversavam numa mesa de bar sobre suas aventuras de infância, gabando-se dos feitos corajosos que viveram desde os tempos de meninice. Alberto recordou da vez em que apostaram quem iria passar uma noite toda no cemitério, Everton emendou com o dia em que aceitaram o desafio de entrar no quintal da bruxa vingativa do bairro, e Sidney voltou a narrar o episódio em que perderam a virgindade no puteiro em que os homens da cidade juravam que as putas capavam com os dentes quem broxasse.

Enquanto as risadas feneciam após esgotarem o repertório de façanhas, Alberto indagou sobre o estilo de vida que adotavam no presente: os três casados, cultivando a barriga, sem novas aventuras, sem nada a comemorar ou acumular em fatos que gostariam de relembrar no futuro, estavam sendo os “sem-história”, e em nada mais lembravam os moleques e adolescentes sempre dispostos a tudo. Sidney concordou, mas também lembrou que aqueles eram tempos que não voltariam mais, foi uma fase, e que nem haveria mais desafio no mundo que pudessem encarar: já não tinham mais idade, há muito que invadiram o campo do proibido e provaram para si mesmos e para o mundo que não temiam nada, que eram macho-chos. Foi aí que Everton, até então acompanhando a história em hipnótico silêncio, contemplando as parcas borbulhas que se levantavam do fundo de seu copo de cerveja, resolveu se manifestar: disse que também concordava com Alberto, que se tornaram aventureiros aposentados, mas que ainda tinham, sim, de provar a si mesmos e ao mundo que eram de fato os macho-chos de outrora, e que, para isso, precisavam cruzar o último limite. Os dois colega ficaram em silencioso aguardo, esperando pela revelação daquele desafio que estava sendo proposto.

- Participar da parada gay.

Sidney e Alberto não se contiveram: enquanto o primeiro gargalhava achando tratar-se de uma galhofa do amigo, o outro conferia o fundo vermelho dos olhos de Everton, certificando-se se ele havia bebido demais. Sem se exaltar, Alberto revidou comentando desconcertado algo que para ele era mais do que óbvio: parada gay é coisa de... baitolas. Mas então veio a justificativa:

- Não, tem de ser muito macho para ir na parada gay. Ir em jogo de futebol no estádio, em boteco, em zona, isso qualquer projeto de macho faz. Comer bolinho de carne vencido, andar na Ipiranga de madrugada, beber whisky batizado com metanol em boate, isso tudo é coisa de frouxo. Se somos machos e não temos medo de nada, este sim é o desafio dos desafios. Vamos ficar entre três milhões e meio de boiolas. Vamos cruzar a Paulista de ponta a ponta no meio daquele exército de queima-roscas. Vocês têm medo?

A dupla se entreolhou sem saber o que responder. Acharam graça assegurando que se garantiam, que nunca nem ao menos tiveram amigo gay e não seria naquele momento que iriam ter medo do “inimigo”. Mesmo que em uma horda de milhões devidamente aparamentados em seus saltos plataforma e montados em poderosos trios elétricos que faziam tremer os Portinari do Masp. Sidney apenas sugeriu que fizessem antes uma estratégia para que a empreitada fosse bem planejada, quando então Everton o interrompeu dizendo que não haveria planejamento porranenhuma, que a parada gay estava acontecendo naquele exato momento e eles deveriam se deslocar para lá sem demora. Alberto fitou seu Orient: 15h15 daquele domingo; depois correu os olhos pela mesa repleta de cervejas e alertou que era perigoso.

- Tá com medo?

Diante da indagação de Everton, Alberto apenas se apressou em beber numa única talagada o que restara de cerveja em seu copo, limpando a boca com as costas da mão e levantando-se pronto para ir à luta.

Meia hora depois, estavam os três em meio à monumental muvuca gay, a maior do mundo. Caminhavam de peito estufado, sem dar trela ao assédio, brincadeiras e provocações. Cruzavam dragqueens colossalmente montadas sem retocar o olhar de afronta. Não abriam a boca, apenas seguiam em frente numa marcha silenciosa que contrastava com os anababescos decibéis de música eletrônica despejados pelos carros de som. Não havia chuva de purpurina, serpentina ou confete que os afetasse. Apenas desviavam o olhar de beijos na boca e outras cenas que consideravam excessivamente repulsivas, mesmo para seus resistentes estômagos de macho-chos.

Como a cerveja acumulada era muita, a bexiga de Everton pediu arrego. Não viu por perto nem banheiros químicos nem bares de portas abertas. Teve de pedir informações à única figura aparentemente hetero que encontrara no caminho: um policial (não, não era um clone do Vilage People como pensara inicialmente). Acabou sabendo pelo homem da lei de que dentro dos trios elétricos havia instalações luxuosas, contendo inclusive suítes com sanitários. Macho que é macho mija na rua, alegaram os outros dois. Mas ele não poderia mijar impunemente no meio de milhões de pessoas, corria até o risco de ser linchado caso o jato atingisse uma meia arrastão desavisada. Ouvira que bichas estocavam giletes nas gengivas, e ele presava muito por segu pingolim para correr um risco desses. Sem aguentar mais, correu para dentro de um dos trios elétricos enquanto seus amigos montaram guarda na porta, de braços cruzados e pose de maus. Minutos depois, Everton surge no alto do imenso veículo, vestido de sunga e asas de anjinho, ladeado por dois go-go boys esmerilhados em suas musculaturas. Everton e Alberto ficaram contemplando-o lá embaixo sem entender, boquiabertos com a cena do amigo dançando e esgueirando-se pelo corpo dos saradões. Everton lhes lançou um olhar gatiado e um beijo, num misto de ternura e despedida. Mesmo sem entender, mas já conformados pela baixa, Alberto e Sidney seguiram pela procissão de pederastia.

A dupla havia entendido que aquela era uma cilada, só podia, era o Everton querendo assumir e sem saber como, trazendo os dois colegas para dentro do purgatório luxuriante do qual fazia parte. Mas macho que é macho não arreda de um desafio, portanto resolveram prosseguir até o fim do trajeto, mesmo porque aquela era a direção de suas casas. Já haviam cruzado meia passeata quando veio em direção aos dois amigos uma serpente chinesa gay: várias bichas fazendo trenzinho debaixo de uma lona multicolorida, tendo à frente uma cabeça de boneco gigante que lembrava um leão excessivamente maquiado. Aos poucos foram sendo cercados pelo estranho brinquedo coletivo. Ficaram em posição de alerta, virados de costas um para o outro e já se preparando para o confronto. As voltas dadas pela serpente, aliadas ao mantra hipnótico do poperô, lhes davam uma sensação de vertingem progressiva. Quando Sidney olhou para trás, Alberto havia sumido. Gritou pelo nome do amigo sem obter resposta. Viu então a serpente se afastando e, ao final dela, alguém levantar a lona: era Alberto, agora com o rosto borrado de uma maquiagem mal feita, agarrado na cintura do parceiro à sua frente e mandando um beijo de adeus ao amigo. Alberto era agora o rabo da serpente.

Solitário em meio à multidão de bibas, Sidney ficou raciocinando com sinapses relâmpago para tentar entender o que acontecera. Deduziu que aquela era uma cilada de Everton e Alberto, claro, os dois queriam trazê-lo para aquele universos de prazeres bizarros mas sem saber como convidá-lo. “Aqueles dois nunca me enganaram”, pensou. Agora já associava a cumplicidade da dupla na infância como puro troca-troca. Sidney passou a acelerar o passo. Quando se deu conta já estava correndo. Ou melhor, tentando correr, pois seus passos eram sufocados pelo contingente de gays que brotava da terra aos milhões. Já não conseguia mais passar, estava preso enquanto o touch-touch martelava seus tímpanos. Seu rosto agora era pressionado entre tetas fartas de silicone e espartilhos lantejolados. Não tinha para onde fugir. Aos poucos era sufocado. Aos poucos era tragado e absorvido. Não havia escapatória.




22h47, Avenida Paulista. Os últimos remanescentes da passeata já dão traços de fraquejar e levantar dos meio-fios para pegar o rumo de casa. No chão, um mar e purpurina, leques, adereços e preservativos. Um tampo do bueiro se abre e Sidney vai saindo aos poucos de dentro dele, ainda trêmulo e com o olhar ressabiado, fazendo uma varredura visual de toda a Paulista. Ele fica em pé, limpa-se, batendo os braços para tirar a sujeira daquele bueiro fétido. De repente, alguém põe a mão em seu ombro e ele se vira. É a “bruxa vingativa do bairro”, a mesma cujo quintal o trio invadira na infância.


Mario Lopes

sábado, 13 de junho de 2009

Homens... quem os entenderá?


Juro por tudo de mais sagrado que já tentei de tudo para entender esse grande mistério chamado HOMEM. Desde ler sites e livros sobre o assunto até conversas com psicólogos, enfim... “N” formas para tentar decifrar a mente deste ser que mais parece de outro mundo.
Se você acha que eu estou exagerando, pense comigo e veja como o homem é um ser contraditório...

Se transamos no primeiro encontro somos fáceis.
Se preferirmos esperar um pouco mais, estamos fazendo “cu doce”.

Se a mulher dá no primeiro encontro, ela não serve para um relacionamento sério.
Se a mulher enrola para dar, ou dá em qualquer outro encontro que não seja o primeiro, esta sim serve para um relacionamento sério – com a ressalva de que levará uns chifres periódicos, é claro... (afinal, arroz com feijão enjoa né)!

Se a mulher é liberal, faz de tudo na cama e realiza aquelas fantasias que vocês guardam a sete chaves, ela é devassa.
Se ela é mais tradicional, não gosta de determinadas “modalidades” ou não realiza todas as suas fantasias, é careta, antiquada.

Se transamos apenas por puro e simples tesão, ou se sabemos separar sexo de amor somos independentes demais.
Se transamos apenas com amor somos dependentes demais.

Se gozamos demais, somos ninfomaníacas.
Se gozamos de menos (ou simplesmente não gozamos), somos frígidas.

Se tivemos muitos parceiros no passado, somos vadias.
Caso contrário, somos mal amadas, mal comidas.

Se a mulher tem uma personalidade expansiva e conversa com todo mundo, é “dada”.
Se tem um jeito mais recatado, e prefere ficar na dela, é “parada”.

Se tocamos no assunto “compromisso”, somos encalhadas no auge do desespero.
Se tentamos ser românticas e carinhosas, somos melosas.
Se elogiamos vocês com freqüência, somos sonsas.

Se pedimos mais atenção de vocês, somos grude, chiclete.
Se não pedimos tanta atenção assim de vocês, somos frias.

Se demonstramos ciúmes, somos possessivas.
Caso contrário, somos desinteressadas.

Se falamos que somos fiéis, somos mentirosas.
Se dizemos que a essência é mais importante do que a marca do carro ou o montante da conta bancária, somos mentirosas.

Se a mulher é bem revolvida (emocionalmente e financeiramente) assustamos vocês.
Se a mulher é mal resolvida (emocionalmente e financeiramente) assustamos vocês. Pior: não se oferecem sequer para ajudá-la a mudar este quadro.

Se falamos demais, somos tagarelas.
Se falamos de menos, somos mudas.

... e depois ainda dizem que nós mulheres é quem somos complicadas!



Camila Souza
... sem muita inspiração e nem paciência para escrever, rs