domingo, 21 de junho de 2009

A porra da menarca


Não sabia como limpar aquilo. Não sabia se ficaria o cheiro. Não entendia como apareceu de repente. Como foi “sujar” a roupa de cama sem aviso daquele jeito. Cledevaldo era um garoto do interior, nascido e criado em um chácara distante da cidade, quase sem amigos, indo para a longínqua escola só por obrigação e nem tendo acesso à TV, visto que sua mãe era uma ferrenha católica radical avessa a qualquer mínimo indício de imoralidade. Não se casou depois que enviuvou e passou a tratar as coisas do sexo como bestiais e capazes de legar pontos para o inferno mesmo quando só ocorridas em pensamento. Mencioná-las então, nem pensar. Seu puritanismo se iniciou no momento em que o pai de Cledevaldo faleceu, quando o garoto contava apenas cinco anos de idade. Ela jurou que jamais teria outro homem e passou a isolar o filho de possíveis tentações da carne, mesmo quando sua idade lhe permitia ter apenas tentações pelas tetas de nega e outros doces do armazém do seu Zafiro (homem que tinha muito gosto pela mãe de Cledevaldo, mas nem se entusiasmava em se aproximar por saber que se lhe oferecesse uma simples “teta” de nega poderia ser tratado como um pervertido). Por conta de tantos tabus em nome da religião, na casa de Cledevaldo as partes corporais limitavam-se a existir apenas do umbigo para cima ou dos joelhos para baixo. E agora, aos 11 anos de idade, ele não sabia o fazer com aquele jato molhado de cheiro e consistência esquisitas que seu pênis esguichara no meio da noite.

Como não poderia contar para sua mãe, deu um jeito de esconder a roupa de cama até que secasse e correu para a casa de Janaína, menina um pouco mais velha (e na adolescência dois anos são uma diferença abissal) e tentou tirar respostas para aquele episódio aparentemente sem sentido. Janaína morava numa chácara próxima, Cledevaldo só foi de bicicleta pela pressa. Ela era filha do Jorge leiteiro, um alcoólatra que sobrevivia do trabalho dos filhos e da esposa. As crianças tinham uma educação um tanto quanto negligente pelo excesso de tarefas, mas Cledevaldo achava que Janaína poderia saber mais de coisas de sexo, pois era muito falante e um dia lhe mostrou um catecismo do Carlos Zéfiro, cheio de desenhos pornográficos que Cledevaldo nunca entendeu direito. Chegando na propriedade de Jorge leiteiro, empenhou-se em encontrar Janaína num momento em que a menina estivesse a sós, e não foi difícil, pois ela já cruzava o cercado das vacas voltando da ordenha com um balde de metal cheio de leite. Cledevaldo se pôs à frente de seu caminho e pediu socorro urgente para sua dúvida. Curiosa, Janaína colocou o balde no chão e se sentou no mato à beira da picada sem se importar com o risco de sujar o vestido nos rastros de estrume. O adolescente contou (com um pouco de timidez e cerimônia) do esguicho que o surpreendera na cama há questão de algumas horas, e que não sabia o que era. Não se sabe se por inocência ou por maldade, mas Janaína disse ao garoto que sabia muito bem o que era aquilo, que se chamava "menarca", que ela própria deveria estar à vésperas de também ter líquidos saindo de seu sexo, que era normal e teriam de passar a vida convivendo com a situação, pois ocorreria mais vezes. Cledevaldo se desesperou, pois acreditava que aquilo tinha a ver com prazeres proibidos, afinal tivera um sonho bom antes do ocorrido (e era com Janaína, mas não se atreveu a contar). A caipirinha então lhe deu uma solução: explicou que as pessoas costumam usar uma espécie de protetor de sexo chamada “bisorvente”. Ela se levantou e pediu para que ele esperasse, deixando-o de vigia do leite branquinho que descansava no balde metálico. Voltou então com uma caixa de Carefree e tirou um exemplar de dentro da embalagem. Cledevaldo observou-o sem entender, tateando o produto e olhando para Janaína desconfiado. A menina explicou que ele deveria comprar aquilo com freqüência mensal, que o problema poderia voltar a aparecer e ele precisava estar preparado usando aquele “bisorvente”. Deu de presente o exemplar a Cledevaldo e pediu licença porque já era tarde.

Passou o tempo e Cledevaldo fez da compra do “bisorvente” um ritual mensal. Adquiria uma caixa e colocava uma unidade dentro da cueca, passando assim seus dias e noites. A ejaculação seguinte demorou mais de um mês para ocorrer, mas, quando veio, Cledevaldo agradeceu por estar preparado: olhou para seu Carefree ensopado e riu com cara de esperto, satisfeito pelo conselho salutar de Janaína. Como apenas tocava em seu pênis para se lavar e urinar, seguindo os conselhos da mãe de limitar ao máximo o contato com as partes íntimas, não descobriu o que era a masturbação, fazendo com que o acúmulo de esperma voltasse a ser expulso com certa frequência, e sempre o Carefree estava lá para protegê-lo de novo vexame. Já que quase não se comunicava com outros adolescentes, nunca comentou do “bisorvente”, como também não ouviu quase nada sobre ejaculação involuntária – mesmo porque sua mãe o orientara a fugir de assuntos relativos a sexo. No mercadinho da cidade, ninguém estranhava o adolescente comprar sua mensal caixa de Carefree, pois achavam que estava fazendo a feira do mês para a mãe. E desde muito cedo Cledevaldo já ganhava seu próprio dinheiro, trabalhando de ajudante de bóia-fria na fazendo do seu Antero. Assim sendo, foi levando a adolescência tendo sempre dentro da cueca uma unidade de Carefree que o deixava feliz e sequinho, conforme dizia o slogan do comercial que ele nunca assistira na TV.

Mas Cledevaldo um dia recebeu uma proposta para virar seminarista. A mãe fez muito gosto pela ideia do padre Nicolau e tratou de ingressar o menino na escola de padres apenas dois meses depois do convite (ao qual o próprio Cledevaldo não teve a chance de manifestar seu real interesse). Da noite para o dia, passou a conviver com muitos garotos da sua idade, só que ainda residia em seu íntimo um estilo pouco sociável de ser e agir, o que não o tornava enturmado com os colegas. Encerrado o primeiro mês de seminário, Cledevaldo constatou desesperado que só lhe restava uma última unidade de Carefree na embalagem. Não sabia como deveria proceder. Tinha medo que os padres fossem radicais como sua mãe e o punissem se falasse algo relativo a sexo. Também não criara intimidade com os colegas para lhes pedir um “bisorvente” emprestado. Foi então com as mãos trêmulas que, em um momento no qual ficou solitário no quarto coletivo, depositou seu derradeiro Carefree entre seu pênis e a cueca. A operação foi vista à distância por Inácio, um seminarista que também estava lá a contragosto. Ele observou Cledevaldo fazendo tudo de costas, conseguindo apenas ver que se tratava de uma caixinha de Carefree e que o produto estava sendo aplicado por dentro da roupa íntima. Como só avistara a bunda de Cledevaldo e o rapaz quase não tinha pêlos, Inácio apressou-se em fazer deduções entusiasmadas: aquele garoto na verdade era uma garota. Sim, claro, o que mais explicaria o uso do Carefree? Além do mais, Cledevaldo não tinha barba naqueles seus 13 anos de idade, os cabelos eram um pouco compridos (fato que o seminário estudava corrigir com brevidade) e não tinha o gestual rude de um garoto que veio do mato. Como Inácio estava há meses sem ver mulheres que não fossem as freira do convento situado na praça da matriz, ficou imediatamente excitadíssimo com a situação. Só não sabia como proceder. Agora entendia porque Cledevaldo não se misturava com os demais seminaristas e falava tão baixinho ao ponto de quase não se poder ouvir sua voz - tudo para esconder sua identidade secreta. Só não conseguia explicar o que uma garota fazia disfarça de menino no seminário, mas isso pouco importava. Supôs ser uma moça que, como tantos lá, precisava ingressar na vida clerical para ter um destino mais digno do que o naturalmente permitido por sua origem humilde. Pronto, estavam somadas todas as constatações necessárias. Agora era com ele.

Nas aulas e missas, Inácio olhava para Cledevaldo com gula, não vendo a hora de poder se declarar para aquela intrusa e compensar os tantos meses de jejum sexual, posto que viera de sua cidade por imposição dos pais, ao perceberem que o rapaz havia virado o terror do colégio onde estudava, trocando sexo oral e outros favores libidinosos por CDs piratas do grupo Calypso. Numa dada noite, no alojamento coletivo, Cledevaldo se revirava na cama por não saber como poderia sair e comprar seu Carefree. Vendo a cena do seminarista insone, Inácio caminhou até sua cama pé-ante-pé agachando-se e revelando a Cledevaldo, aos cochichos, que sabia seu segredo. Cledevaldo de início levou um susto, mas depois ficou aliviado, percebendo poder ter ali um aliado em sua causa ingrata. Pediu então a Inácio que lhe fizesse um favor, que conseguisse para ele um “bisorvente”, já que os seus estavam acabando. Relembrando seus tempos em que praticava escambo tendo por moeda favores sexuais, Inácio se apressou em afirmar que sim, que lhe traria uma caixa cheinha de Carefree. Cledevaldo sorriu agradecido, ouviram então sons no corredor e Inácio correu para seu beliche, temendo ser flagrado. Os dois dormiram então satisfeitíssimos, mas por causas bem diferentes.

Nos dias seguintes, Inácio se viu na necessidade existencial de cumprir com aquela missão. Não tinha dinheiro e já cogitava roubar um supermercado, mas sem chance, todos tinham câmeras, até a farmácia era dotada do equipamento. Não convivia com mulheres, não ia na casa de ninguém. Até que lhe surgiu a arriscada solução. Inácio tratou de pular por uma das janelas laterais do convento da praça da matriz. Sabia que freiras eram mulheres santas mas que menstruavam do mesmo jeito, então não seria difícil encontrar o que procurava. Entrou em um dos aposentos, abriu gavetas e armários cuidadosamente até encontrar o que procurava, tendo ainda a sorte de ser da marca que Cledevaldo gostava. Tinha apenas umas quatro unidades, mas já estava de bom tamanho. Muito empolgado mas ainda tendo a noção do perigo, se apressou em sair dali, pulando novamente a janela e correndo para o seminário. À noite, enquanto todos dormiam, foi novamente furtivo até a cama de Cledevaldo e lhe entregou a caixinha que até então escondera debaixo do travesseiro. Feliz como nunca, Cledevaldo apressou-se em abri-la, tirando de dentro uma unidade, descolando com habilidade a fitinha adesiva e aplicando o produto por baixo das cobertas naquele mesmo instante. A operação foi acompanhada por Inácio de olhos arregalados, já não se aguentando por dentro das cuecas. Cledevaldo tirou a mão novamente para fora das cobertas e a estendeu para cumprimentar Inácio agradecido. Os dois trocaram então um cumprimento firme de cumplicidade, mas mal conseguindo se olhar nos olhos devido à escuridão. Cledevaldo achou que era o momento de avançar, mas depois declinou da ideia por não querer parecer afoito e interesseiro. Além disso, temeu que Cledevaldo oferecesse resistência pelo fato de estar “menstruada”. Inácio foi para sua cama e adormeceu esperançoso, cheirando a própria mão.

O ritual prosseguiu daquela forma: Inácio roubando o convento, Cledevaldo usando do fruto do furto. Só que Inácio foi se aborrecendo com o tempo, pois Cledevaldo nem ao menos lhe dava um beijinho de agradecimento. Além do mais, quem tinha poder ali era Inácio, pois poderia a qualquer tempo denunciar Cledevaldo, revelando que ele na verdade era ela. Foi então que Inácio se revoltou e decidiu que iria dar o bote, dane-se. Em uma certa noite, os seminaristas ficaram se revezando no banho antes do jantar: eram duas as unidades sanitárias, ambas dotadas de quatro chuveiros, todos separados por cabines individuais, com portas de plástico duro jateado, permitindo a quem está de fora observar a silhueta de quem está dentro. Cledevaldo e Inácio eram os últimos da fila. Chegando a vez deles, Cledevaldo entrou em seu box e foi tirando a roupa, num strip-tease de visão turva que deixou Inácio praticamente sem controle. Quando Cledevaldo ficou completamente nu e ligou o chuveiro, Inácio abriu a porta, vendo-o de costas e se jogando para agarrá-lo num impulso incontrolável. Assustado e sem entender a situação, Cledevaldo pôs-se a gritar e a socar Inácio, com os dois caindo para fora do box, rolando no chão de ardósia. Os demais seminaristas logo chegaram ao recinto, com o padre Selmar e outros dois cléricos também se aproximando apressados. Inácio então parou de tentar imobilizar e tapar a boca de Cledevaldo. Mas foi aí que ele quem teve o maior susto de todos, ao ver que sua musa tinha pinto. Gritou e se afastou de costas até ficar no canto do banheiro, encolhido e tapando os olhos com as mãos, deixando todo o resto do grupo a olhá-lo sem entender.

Os padres isolaram os dois rapazes dos demais seminaristas e trataram de fazer um pente fino de seus pertences. Foi assim que Inácio foi expulso por pederastia sem nunca ter gostado de homem e Cledevaldo foi expulso por roubo de absorventes sem nunca ter menstruado. Hoje, Cledevaldo já é um adulto, casado com Janaína, tendo três filhos homens e prezando por ensinar a eles tudo sobre sexo. Inclusive sobre as funções de um “bisorvente”. Sendo a principal delas poder livrá-lo de virar padre.


Mario Lopes

8 comentários:

Anônimo disse...

Boa - tarde !
Parabéns pelo texto !
Amo estórias de seminários e conventos !
E as freiras ?
Não deram falta dos absorventes ?
Aahahahaha !
Tenha uma excelente semana !
Com carinho ,
Luciana do Rocio .

Unknown disse...

... "CDs piratas do grupo Calipso".
hauhauha
Ai Mario, desta vez você apelou, hein? hauhauha
Tô rindo até agora c/este texto, muito bom!
Bjs *

Anônimo disse...

Obrgado, Luciana. Beijo e excelente semana pra ti também. :-)

Mario

Anônimo disse...

hehe Mila, apela é quem compra CD dessa tralha. rsrs
Obrigado, beijo e supersemana pra ti também.

Mario

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Sem dúvida, não é apenas uma apelação, como também uma aberração.
... e viva o Heavy Metal e o Rock N'Roll! hehehe

Anônimo disse...

Hmmm... heavy metal, Mila?... Há controvérsias, mas as deixemos para um próximo post. rs
Beijo.

Mario

Anônimo disse...

Esqueci de responder uma coisa à Luciana: as freiras deram falta dos absorventes, sim. Tanto que o Cledevaldo foi expulso do seminário por isso. :-)
Beijo e, novamente, excelente semana pra você.

Mario