quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Sobre a Morte de Patrick Swayze



Dia 14 de setembro de 2009 o ator Patrick Swayze faleceu de câncer no pâncreas. Foi uma perda lastimável porque ele era um artista polivalente: ator, cantor, compositor, poeta e dançarino. Além de ser uma pessoa persistente. Pois, até o ano passado, mesmo doente, ele insistiu em participar do seriado policial The Beast.
Patrick Swayze atuou em três filmes que marcaram a minha adolescência: Dirty Dance, Gosth e Matador de Aluguel.
Em Dirty Dance ele fez papel de professor de dança, em uma colônia de férias, que se envolve com uma sócia, a qual ele transforma em excelente bailarina. Este filme me marcou porque toda adolescente sonha em viver um amor de verão recheado de glamour. No final, o personagem de Patrick não fica com a garota da colônia de férias, fato que dá razão para o ditado que afirma que romance de férias não tem futuro, mas deixa marcas para a vida inteira. Sem falar que, nesta película, um dos temas é a música She ‘s Like The Wind, cantada pelo próprio Swayze. A letra desta canção compara a amada com o vento, que seduz ao mesmo tempo que faz estragos.
Em Ghost seu personagem é assassinado e seu fantasma volta para proteger a esposa. Nesta obra foi trabalhada uma forma diferente de divulgar o Espiritismo, com criatividade e humor. Ora, a questão espiritual mexe com qualquer adolescente e por isso este filme marcou a minha juventude e até hoje é um dos meus prediletos.
Já no filme Matador de Aluguel, há uma cena em que o personagem de Swayze costura a própria pele sem sentir dor. Isso nos faz lembrar da situação do ator antes de morrer. Pois foi como se ele costurasse a própria pele tentando lutar contra a doença através da força de vontade para trabalhar.
Soube através da imprensa que o corpo dele foi cremado. Bem, Patricik Swayze já foi para outra dimensão, mas o seu trabalho e persistência ficarão para sempre na memória das pessoas que admiram a verdadeira arte.

Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Pelados nus com a mão no bolso




Se Eva não tivesse comido aquela bendita maçã tanta coisa seria diferente. O mundo seria nu até hoje e as pessoas seriam mais felizes sem roupa. Sabe aquele mundo fútil da moda? Não existiria mais e as pessoas não seriam julgadas pelo tipo de roupa que usam. A higienização seria maior pois as pessoas iriam se preocupar muito mais com seus corpos de uma maneira melhor. Nosso organismo iria se adaptar aos diferentes climas e algumas doenças, como a gripe, estariam extintas. O lema dos centros de estéticas passaria a ser:”Deixe seu corpo e sua saúde em forma” ou seja, as pessoas no mundo nu pensariam mais na saúde e seriam mais saudáveis.

Ei, vocês, mulheres, sabem aquelas cantadas baratas como “ah,um peixão desse na minha rede”?Isso não incomodaria mais vocês, afinal, essa malícia não iria existir. As pessoas então se apaixonariam pelo interior das outras e não pelo exterior como a maioria hoje faz. Porém, sabem aquela lei da atração que rege o desejo intenso e a curiosidade escondida por trás das roupas no íntimo das pessoas? Também não existiria mais. Pensando por esse lado, Eva, obrigado por ter abocanhado com tudo aquele bendite fruto!

Bianca Silva

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Semana de tema livre

Acabou o sossego


18 setembro - sexta feira - 18h30
Estava eu, a caminho da faculdade, fazendo a via crucis na estação Sé (quem anda de metrô em SP sabe do que estou falando). Espremida no vagão feito sardinha em lata, tentava ler um livro quando um cidadão sem o mínimo de bom senso (e de bom gosto também, diga-se de passagem) liga o celular no último volume sem usar o fone de ouvido, e coloca um funk. A “melodia” ecoa, competindo com avisos de chegada nas estações dos alto-falantes do trem: “Vai quebrando, vai quebrando e descendo até o chão...”

Fiquei putíssima com tamanha falta de respeito. Minha vontade de quebrar, sim... aquele maldito aparelho só para não ter os meus ouvidos lesionados por aquele lixo musical (se é que aquilo pode ser chamado de música. Os funkeiros que me perdoem).

O pior de tudo é que o cara se achava o tal, quando resolveu “dançar”, tentando movimentar os braços e as pernas no meio da muvuca. Se bem que eu acho que ele estava a fim mesmo era de se aproveitar da superlotação para ficar no esfrega-esfrega com alguma menina...

Não demorou muito para acabar o sossego e o clima ficar pesado. Os outros passageiros também estavam incomodados com a situação, mas ninguém tinha coragem de dar um chega-pra-lá no sem noção (ih, rimou! rs). Somado às conversas das pessoas, a barulheira ficava cada vez mais insuportável. Tanto quanto encarar calor e gente fedida nos coletivos no fim do dia.

- Puta que pariu, meu ouvido não é pinico!

Não deu para ficar calada. Também não faço idéia se falei alto demais, ou se o meu tom de voz foi muito agressivo, pois as pessoas mais próximas se viraram na minha direção. Algumas sorriam, enquanto outras me olhavam assustadas. Estas provavelmente pensaram: “essa menina é maluca”. Nem dei importância. O importante é que a minha indignação deu resultado. O cara, super sem graça diante do que eu falei e dos olhares dos demais usuários, não teve outra alternativa senão desligar o celular.

Aí sim, finalmente pude respirar aliviada. Ninguém merece ouvir algo de que não gosta.

Ouvir música alta no ônibus, no trem e no metrô virou modinha, sim, mas vale lembrar que o uso de aparelhos sonoros nos coletivos é proibido por lei.

Música (seja ela de qualidade ou não) é boa, mas em volume alto faz mal para os tímpanos e sem o fone de ouvido, faz mal para a educação.


Camila Souza

domingo, 27 de setembro de 2009

Versões Adultas



Sexta à noite, cinco garotas, cerveja, um apartamento e uma brincadeira: inventar uma brincadeira. As brincantes são: Ana Linhares, Carolinni Tauscheck, Ana Paula Silva, Fernada Lima e Luciana Calçado. Primeira tentativa: começam a criar uma história a várias mãos. A narrativa acabou não tendo prosseguimento, não que fosse desinteressante a odisséia de um casal que viaja bêbado no meio da noite para o litoral e transa dentro do carro, estacionado na areia, enquanto a maré sobe arriscando levar o veículo para dentro do mar. Mas não houve a devida empolgação. Partiu-se então para outras tentativas. A próxima correspondeu a jogos eróticos, tendo por primeira ideia a dublagem de filmes pornôs e a segunda tracejar um caminho pelo corpo feito com chantily, sendo que a outra pessoa deveria percorrê-lo com a língua e de olhos vendados. Mas ficou muito em cima da ideia da Bia, postada na terça-feira aqui no blog. Por fim, chegou-se na proposta definitiva: transformar brincadeiras de crianças em brincadeiras adultas. Vamos às dez selecionadas.

Gato mia
A brincadeira na versão infantil: uma pessoa entra na sala escura, com todas as demais escondidas, e, ao encontrar alguém, toca a pessoa e pede “mia, gato”, tentando adivinhar que é a partir do som de sua voz.
Gato toca
A brincadeira na versão adulta: uma pessoa fica para fora da sala e as demais se escondem no escuro em seu interior. A pessoa entra e tem de apalpar (intimamente) as demais para identificar quem é.

Esconde-esconde
A brincadeira na versão infantil: alguém conta até 30 enquanto os demais se escondem, tendo de ser encontradas por quem fez a contagem. A cada vez que alguém consegue sair do esconderijo antes de ser encontrado, corre até o pique e bate “31 meu!”, ficando livre de ser pego.
Acha-acha
A brincadeira na versão adulta: esparrame objetos pela casa (totalmente escura) e se esconda, sendo que alguns desses objetos terão o seu aroma. Seu(ua) parceiro(a) deverá encontrar você sabendo distinguir pelo olfato quais são os objetos que consistem em pistas reais, ou seja, os que têm seu cheiro.

Casamento atrás da porta
A brincadeira na versão infantil: uma pessoa vira de costas para as demais e outra indaga “quer com esse?... Ou com esse?...”, e assim por diante, apontando aleatoriamente cada um dos presentes, até que um deles seja aceito. Então, a pessoa de costas dirá o que quer com essa que foi apontada (beijo, abraço, aperto de mão), sem saber quem é, devendo então executar o que desejou.
Sacanagem atrás da porta
A brincadeira na versão adulta: a mecânica é a mesma, só que com opções mais calientes (chupar, pegar, bulinar).

Telefone sem fio
A brincadeira na versão infantil: alguém fala uma frase cochichada a outra pessoa, sendo que esta deverá rentransmiti-la a outro participante (também cochichando) e assim sucessivamente, até se chegar a uma última da fila que deverá falar a todos o que ouviu, para que possam conferir em que frase a transmissão ouvido a ouvido resultou.
Telefone fio terra
A brincadeira na versão adulta: uma pessoa cria uma frase daquilo que quer fazer com outra. Então, fala a frase cochichada para um dos participantes, que fala para a próxima e assim sucessivamente, porém cada uma incrementa adicionando alguma outra ação a mais. Quando chegar na última pessoa (que é aquela com quem o participante inicial gostaria de transar), esta terá de recitar tudo o que foi falado no telefone sem fio. Se errar, o primeiro da ponta deverá ditar com quem ela irá praticar o desejo que foi errado ou omitido.

Pega-pega
A brincadeira na versão infantil: alguém corre atrás dos demais, sendo que ao tocar em um dos participantes, delega a este a incumbência de ser perseguidor.
Pega-e-tira
A brincadeira na versão adulta: na hora que toca na pessoa, ela deve tirar uma peça de roupa, a ser escolhida por quem a tocou. E assim consecutivamente, até ser tirada toda a roupa dos brincantes.

Passa-anel
Um participante passa suas mãos pelas dos demais integrantes, sem se saber em qual delas foi depositado um anel. Outro participante deve adivinhar em que mãos o anel ficou.
Passa-anal
A brincadeira na versão adulta: Tem de descobrir em quem foi introduzida uma bolinha de pompoarismo. O prêmio? Bom, pelo nome da brincadeira já dá para adivinhar.

Cobra-cega
A brincadeira na versão infantil: alguém fica no centro de olhos vendados e tem de tocar nos demais para passar a vez de ficar de bobo na brincadeira.
Cobra-ereta
A brincadeira na versão adulta: uma pessoa de olhos vendados fica no meio das demais (todos nus) e tem de tentar tocar uma delas. Na hora que conseguir pegar uma das pessoas, sendo uma mulher pegando um homem, ela deverá provocar uma ereção nele; se for homem pegando mulher, ele deverá estimular em si mesmo uma ereção “usando-a”. Se não houver sucesso, quem estava de olhos vendados continua na função.

Dança da cadeira
A brincadeira na versão infantil: dança-se caminhando ao redor de cadeiras, sendo que não se tem o mesmo número delas para a proporção de pessoas brincando (uma a menos). Ao parar a música, todos devem sentar e quem não conseguir sai fora, até que reste apenas uma pessoa.
Dança do colinho
A brincadeira na versão adulta: os homens ficam sem roupa sentados e as mulheres dançam ao redor, também sem roupa. Quando pára a música, sentam-se no colo dos homens, e vale o mesmo da brincadeira original: ganha a que sentar por último. Essa terá o direito de culminar o ato sentada no parceiro que restou com ela.

Estátua
A brincadeira na versão infantil: joga-se uma bola para cima e, quando ela cair, uma pessoa deverá pegá-la e gritar “estátua!”. Todos param instantaneamente, a pessoa pega a bola e dá três passos para tentar acertar alguém.
A brincadeira na versão adulta: os homens correm, sendo que quem jogou a bola (mulher) pode escolher qualquer um e usar seu corpo para ser feito dele o que bem ela quiser. Se lhe causar uma ereção, ele sai da brincadeira e ela volta a prosseguir com os demais.

Forca
A brincadeira na versão infantil: desenha-se uma forca e, ao lado, tracinhos correspondentes ao número de letras de uma palavra. Uma pessoa tem adivinhar que palavra é e, cada vez que erra, desenha-se um pedaço de um corpo na forca até que seja formado por completo, significando que o adivinhão perdeu o jogo.
Forca na cama
A brincadeira na versão adulta: cada vez que se é enforcado, uma parte do corpo é algemada: primeira vez mãos, segunda pés e, por fim, os olhos são vendados, para se fazer depois o que bem se quiser com o “enforcado”.

Nota: claro, com o perdão da redundância, essas brincadeiras não passam de uma brincadeira, algumas exigem um verdadeiro esforço de gincana. Mas o exercício de criá-las foi divertido. E se alguém levar a sério alguma das modalidades e quiser praticar, por favor, que nos escreva para contar do resultado. Vai que temos uma mistura de Nero com Coringa lendo o blog...


Mario Lopes

sábado, 26 de setembro de 2009

De Neanderthal a Lara Croft



Brincar é uma atividade inerente ao ser humano (menos ao grupo dos mal-humorados – soube que não existe consenso na comunidade científica se de fato eles pertencem ao gênero Homo, por isso tomei a liberdade de utilizar a generalização).
E assim é desde os primórdios. Nossos ancestrais pré-históricos brincavam até quando trabalhavam – afinal uma caçada a um mamute, a um bisão ou a um smilodon podia facilmente converter-se num legítimo jogo de pega-pega (e então trocavam-se os papéis: o humano ora era caça, ora caçador).
Como ainda demoraria alguns milênios para que as crianças pudessem divertir-se horas em frente ao seu monitor, o jeito foi apelar para a criatividade. Dessa forma, os ossos da última refeição acabaram virando um jogo que a maior parte das pessoas (as ditas normais, pelo menos) conhece: as “cinco-marias” – a vantagem é que o brinquedo era altamente acessível, podia ser transportado para qualquer lugar e, para desespero das progenitoras, podia ser usado contra a peste do irmão mais novo que insistia na desonrosa tarefa de ganhar sempre. Além das cinco-marias, as bolas de gude, feitas de pedra, ossos ou argila eram sucesso entre as crianças pré-históricas.
A maior parte das mulheres (e alguns homens também) teve como brinquedo preferido, uma boneca. Exercitar o instinto maternal precocemente: cuidar, dar banho, amamentar, levar para passear – a boneca é a nossa primeira filha. Até que inventaram a Barbie, e a boneca virou mulher. E brincar de boneca é tão antigo que as meninas egípcias, há cinco mil anos, já tinham a sua. Ocasionalmente, as perdiam nas tempestades do Saara ou no sarcófago da avó – decerto, na tentativa de promover um encontro de gerações...
Já para os homens, o brinquedo preferido, sem dúvida nenhuma – é a bola. Normalmente, antes mesmo de articular palavra, os instintos masculinos clamam por um jogo de futebol. Alguns homens levam isso tão a sério que mesmo depois de crescidos continuam tão arraigados a esse costume que praticamente permanecem como na infância – sem articular palavra, clamando por futebol.
Há 6500 anos, os chinesinhos jogavam bola feita de crinas de animais e a dos japonesinhos era feita de bambu. Os chineses, como todos sabem, foram muito criativos ao longo da história e assim um dos seus armamentos utilizados para a sinalização virou brinquedo de criança, alguns séculos mais tarde. E, graças a Deus, eu não estou me referindo à pólvora, mas... à pipa.
Que atire o primeiro peão quem nunca jogou “Banco Imobilário” – jogos de tabuleiro fazem sucesso entre a criançada há muito tempo: o mais antigo foi encontrado na Mesopotâmia, e data era 4000 a.C. O xadrez existe na Índia desde o século V. Em tempo: o Banco Imobilário foi criado por um desempregado norte-americano, em 1934 (decerto estava louco para ficar rico, para fugir da falência).
Lembra do pião? Se você não conhece, corra para a Feirinha, que você encontra: não é tão antigo quanto aqueles encontrados na Babilônia, há 3000 a.C, mas tem a mesma função, ficar rodando, rodando, rodando...
Todo mundo quer alcançar o céu... no jogo da amarelinha. Mas na Roma antiga, as crianças pulavam sobre sacos feitos com pele de bode, untados com azeite. (Bom para passar rasteira naquele adversário escorregadio).
Enfim, brincar é saudável e divertido – em todas as idades. Algumas pessoas crescem, amadurecem e envelhecem sem deixar a essência de lado. São aquelas em cujo semblante o sorriso resplandece, espontâneo, luminoso. Brincam com as situações, divertem-se, na medida do possível. Pulam corda, cama elástica, bungee jump. Respiração ofegante, articulações doendo, nada disso importa. Mas também há os que não se permitem peraltices. Trabalho e seriedade. O resto é brincadeira de criança. E você, o que acha?
Independe, se não acha, procure, lembra? Esconde, esconde.... ah, não é do seu tempo... sei, vídeo-game, né? Geração Street Fighter, Tomb Raider e outros joguinhos. Sabe, você deveria perder um pouco do seu tempo e empinar uma pipa, papagaio, pandorga que são a mesmíssima coisa, amarrar um barbante em um carrinho de madeira, andar de carrinho de rolimã, curtir o vento e o tempo, curtir sua infância, pois infância não tem idade, é um estado de espírito... mas se você deixar, ela passa por você sem que se perceba e aí pronto... envelheceu.


Rubia Carneiro

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Fluxo de pensamento



Não vou me esquecer tão logo o quão arrebatadora foi aquela paixão. Alimentada pela distância, saciada por curtíssimas ligações semanais, ela fora o motivo de minha loucura, da qual aos poucos estou me curando.
Ele morava longe, quase em outro estado, e eu, bem na capital. Nós já no conhecíamos, da época em que ele ainda morava a apenas algumas quadras de minha casa, mas nosso vínculo só floresceu quando o destino achou que, para que nos amássemos, ele deveria ir para longe de mim. E lá foi ele.
Não dá pra lutar contra o destino. Não que ele decida tudo ou mais do que nós, pois se assim fosse, não haveria livre arbítrio. A vida é minha, eu faço o que quero com ela, mas, mesmo assim, parece que tem algo sempre me induzindo a alguma coisa. Isso pode ter infinitos nomes: coincidência, inconsciente, atração, Deus, sobrenatural... mas no vulgo, é sempre o destino.
Aliás, o destino às vezes parece estar mais presente em minha vida do que eu mesma. Canso de ouvir frases de auto-punição, tais quais: “era pra ser assim”, “nada ocorre por acaso”, “ deve haver um motivo para isso ter acontecido”. Sempre tentamos achar uma razão para tudo que acontece, quando a resposta está bem ali, debaixo do nosso nariz. Eu sou responsável por tudo, por mais que eu ainda seja agnóstica e acredite em uma força superior. O destino não vai me dar o que quero, se eu não correr atrás. Mesmo que eu ganhe na loteria, o quesito sorte ou azar é apenas uma consequência de uma atitude minha: ter comprado um bilhete.
E com minha loucura não foi diferente: eu era a principal culpada pelo seu início. Movida por algo que eu chamava de amor, eu já era mais ele do que eu própria. Mudei meu jeito de ser para agradá-lo e todas as minhas atitudes diárias eram tomadas com o pensamento voltado para ele, e com a preocupação do que ele pensaria de mim. Eu, inconsciente, havia virado uma marionete em suas mãos, e mal ele sabia o quão bom titereiro era.
Cordas frágeis e invisíveis me faziam agir como se fosse outra pessoa, mas a favor daquele que me manipulava. Tal qual um boneco, eu apenas obedecia e enganava aos que me viam e ainda acreditavam que aquela ainda era eu, apenas um pouco perturbada.
Aquele amor malévolo me possuía de forma arrebatadora, até que, por preguiça ou qualquer coisa que o valha, meu mestre resolveu me libertar. Até hoje ele me consome, e ainda não sou capaz de agir com total originalidade, pois ainda restam alguns poucos fios do passado. Às vezes, me vêm alguns lapsos de lucidez, como agora, em que não me acho muito diferente dos que assistem televisão 22 horas por dia.
Cada um arranja a prisão que merece, ou pensa que vive livre.
Pena que só pensa, tal qual eu... que acabo sempre lembrando daquela paixão arrebatadora, alimentada pela distância, saciada por...
Droga, fiquei louca de novo.



Letícia Mueller

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Brincadeira tem limite


Arremessar bolinhas e aviõezinhos de papel, “tacar” pedaços de giz, colar um papel com a clássica frase "me chute" nas costas dos colegas são brincadeiras muito comuns principalmente entre os (pré) adolescentes. Eu mesma, no ginásio, andava com a turma mais bagunceira do colégio e fazia tudo isso, confesso. Em contrapartida, também há quem pratique brincadeiras nada saudáveis. Brincadeiras que, ao invés de provocar risos e descontração, geram ofensas e humilhações. Qual o limite entre a "zoeira" e o marginalismo? Difícil definir.
Tanto que, no ambiente escolar atual, casos de agressões verbais ou até mesmo físicas aos professores são constantes e, o pior, são encaradas como se fossem normais. Todo mundo sabe, todo mundo vê, mas não há quem tome a iniciativa de fazer algo para interromper esse ciclo de agressões. Os professores se calam por medo de represálias. Os alunos também têm medo dos colegas, e por isso se calam. A direção geralmente é omissa ou (quando muito) aplica uma punição branda demais.
Um caso bem conhecido aconteceu no ano passado. Três alunos foram expulsos de uma escola por colarem uma professora na cadeira usando uma cola de secagem rápida em Campinas (SP). A “brincadeira” provocou queimaduras de primeiro grau na docente, já que a substância corroeu a calça e feriu a pele. O dano só não foi mais grave porque ela usava uma calça jeans, o que diminuiu a absorção da cola. Em depoimento, um dos alunos que participaram da “brincadeira” disse ter feito-a simplesmente porque não gostava da professora. Em resumo, o que era apenas para ser uma "brincadeirinha inofensiva" virou caso de polícia.
A raiz do problema não está na escola, mas no âmbito familiar. Os pais, principais pilares e referências do indivíduo, ocupados demais em prover o sustento da casa, negligenciam sua responsabilidade em educar seus filhos, jogando-a para a escola. Sem referências e sem noção do que é respeito, limites e autoridade, perde-se o controle sobre eles, que fazem o que querem, quando querem, a hora que querem. Os efeitos só são sentidos mais tarde, na fase adulta.
Educar é uma tarefa conjunta, que deve ser exercida pela família e pela escola. Educar não é sinônimo de passar a mão na cabeça o tempo todo. Envolve impor limites e a punição, sim, quando (e se) necessária.
A partir do momento em que se acabar com a impunidade, sabendo que terá que arcar com as consequências dos seus atos, duvido muito que o aluno não pense duas (ou até mais) vezes antes de fazer uma brincadeira de mau gosto. Até onde vai o desrespeito? Brincadeira tem limite.


Camila Souza

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Primeira Cueca A Gente Nunca Esquece



Na minha adolescência, sofri por ter problemas hormonais. Em 1988, eu morava em Brasília, mas, em 1989 , minha família foi transferida para uma cidadezinha do interior do Paraná, de apenas 5.000 habitantes. Lá, foi difícil me adaptar, pois as pessoas eram fechadas e um tanto preconceituosas. Na época, eu pesava 80 quilos e, devido aos meus problemas hormonais, eu era masculinizada. Por isso, não demorou para que surgissem as piadas e os deboches. Eu era chamada de Orca, A Baleia Assassina. Sem falar de que sempre cantavam aquela musiquinha quando eu passava:

- Maria sapatão, sapatão...

Como eu estava longe dos padrões de beleza exigidos pela sociedade, não consegui arranjar paqueras e nem namorados naquela época, o que aumentava mais a desconfiança das pessoas sobre a minha sexualidade. Uma vez, resolveram fazer a famosa brincadeira de amigo secreto no final do ano. Até que chegou o esperado dia. A brincadeira foi muito mal organizada, já que as colegas começaram a trocar presentes entre si sem nenhuma presença de um organizador adulto. Quando chegou a minha hora de receber o presente fiquei ansiosa. Recebi uma pacote vermelho com gatinhos desenhados. Então, todas as meninas começaram a gritar:

- Abre! Abre! Abre!

Eu abri e vi que meu presente era uma cueca preta e suja. Então, chorei e fui para o banheiro. Agora vejo que aquela cueca preta e suja estava preta de violência e suja de preconceito. Nunca mais me esqueci deste dia, porém vejo que ganhei uma espécie de vitória. Emagreci, com o tempo fiquei mais feminina, fui para a capital do Paraná e virei uma pessoa de prestígio na cidade de Curitiba. Enquanto as minhas colegas preconceituosas da cidadezinha do interior se casaram e ficaram com os corpos menos atraentes. Pois é: a primeira cueca a gente nunca esquece.



Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Brinca pra vê


Não é de hoje que ouço sobre casais que caíram na rotina, tanto de amor quanto de sexo. Alguns apelam, mandam flores, tentar reconstruir a situação, imploram, choram, brigam ou tentam dialogar. Mas muitos partem para a inovação no sexo, tentando buscar uma maneira diferente de sentir prazer e uma nova emoção no relacionamento, no desejo e no amor. As brincadeiras sexuais são comuns hoje em dia nos relacionamentos. Em entrevista ao site da Terra, a sexóloga Rachel Copelam afirma que, mesmo quando a paixão esfria, e consequentemente o desejo sexual também, nem tudo está perdido. “Sua relação pode ser mantida por muito mais tempo desde que você quebre a rotina”, explica. Há uma série de técnicas básicas e conselhos práticos para que vocês se transformem em amantes mais que perfeitos”, completa. E cá entre todos nós: sexo faz parte e é essencial.

Em algumas lojas que não são específicas do assunto já é comum observarmos nas prateleiras “apretechos” que visam animar o relacionamentos. Como aqueles já famosos dadinhos que contém posições diferentes. À medida que se joga os dados, eles vão ditando qual a próxima situação sexual que será realizada. Há quem garanta que estes pequenos dados podem fazer uma grande diferença na hora da relação. “É legal porque você conhece mais o corpo do seu parceiro e vice-versa”, conta um estudante que prefere não ser identificado. ”Você encontra os pontos de excitação, explora todas as possibilidades, seja com a boca, língua, mãos, enfim... e não vai com sede ao pote”. Além dos dados, há outros recursos. Um é utilizar gelo ou gel amortecendo para relaxar os músculos dos órgãos sexuais ou em outras partes do corpo. Há gel hoje no mercado que serve para esquentar as partes genitais e outro para esfriar, causando assim uma maior excitação.

Brincadeiras e Dicas
Organize uma festa só para vocês. Prepare a festa e deixe claro que você faz questão de receber muitos presentes, principalmente os sexuais. Antes de começar a ação, façam uma avaliação do desempenho de vocês no passado, combinem o que deve ser esquecido e aprimorem as técnicas que deram certo.

Façam amor na cozinha
Escolha um menu bem caseiro. Enquanto vocês apreciam a comida, vá esquentando o clima com carícias. Coloque tempero na refeição com beijos e mordidinhas. Um bom vinho ajuda muito na ambientação para o sexo.

Cine erótico
Incorpore as cenas de cinema na sua vida sexual. Vocês podem, inclusive, imitar as posições e representar com as mesmas falas dos personagens.

Recorra ao "livro
"Não é à toa que o Kama Sutra é o mais famoso livro que ensina posições para o sexo. Procure, e experimente, claro, aquelas que mais combinam com o casal. Não limite-se e faça o parceiro se libertar de possíveis pudores para que juntos vocês tenham uma prazerosa noite de amor.

Jogo de confiança
Vende seus olhos e diga que ele pode fazer o que quiser com você. A ideia desse jogo é que o mistério irá aumentar ainda mais seu tesão. Em seguida, troquem os papéis.

Desperte seus sentidos
Um cubo de gelo e uma bebida quente serão seus melhores aliados. Passe o cubo de gelo pela boca antes de começar a percorrer o corpo dele com os lábios. Depois tome algo quente e vá alterando as sensações.

Luz, câmera e...
E por que não? Use velas, essências e o que mais for necessário para criar um cenário erótico. Atreva-se e faça sua performance da forma mais natural possível. Esqueça da câmera e deixe a imaginação rolar solta. O vídeo pode servir de inspiração para um próximo encontro.

Fonte: Terra




Bianca Silva

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Tema da semana: Brincadeiras

Cuidado antes de brincar


Compartilhar o humor. para mim, parece ser o estágio mais avançado de uma relação de intimidade. Se você viajar pelo mundo e ouvir as diferentes piadas que as pessoas fazem sobre as condições políticas e econômicas de seu países vai compreender mais sobre esse país do que se estivesse estudado a história.
A piada diz tudo da relação que o indivíduo tem com o mundo. É um convite para ver a vida por um ângulo particular, por um filtro especial, que recria o lugar das coisas e permite uma leveza de viver. A reflexão sobre a vida acontece distraidamente, enquanto você está “cagando” de rir, se divertindo.
Existem momentos para cada tipo de humor e cada tipo de brincadeira. Claro, isso no universo adulto, porque para a criança o brincar pode ser, facilmente, como um caixa eletrônico 30 horas. Elas esbarram nos limites umas das outras e seguem em frente com naturalidade.
Brincar é não romper com a infância, não perder a curiosidade de olhar para a vida como se fosse a primeira vez.
Mas como a subjetividade do brincar é construída a partir das relações de uma pessoa com outras, pode ser que, por vezes, essa construção imagética comum a determinadas pessoas seja mal compreendida, interpretada como ofensa por outras. Quando a pessoa não percebe com quem está brincando perde a oportunidade de conhecer o humor profundo “do outro” e pode esbarrar com todos os mecanismos de defesa que ficam na superfície.
A criança que não brinca não se prepara para o mundo. Brincar antes de tudo é praticar viver com outros, com as diferenças com a diversidade.
Mas tem que ter cuidado, antes de brincar é preciso enxergar. Olhar dentro, conhecer aquele outro ser humano. Esse conhecimento pode durar segundos ou a vida inteira. E, tenha certeza, se você conseguiu enxergar o outro com clareza, é porque já sabe muito bem quem você é. Portanto brinque muito porque pode se perder tudo nessa vida, menos o bom humor!





Patrícia Ermel

domingo, 20 de setembro de 2009

O Medo De Ser Ruim Por Ser Tão Bom


De novo, Paula declinou do convite de Fernanda para sair beber e decantar as mágoas numa happy hour. Desligou o telefone chateada por mais uma vez recusar aquele encontro, mas estava realmente impossibilitada e, mesmo que pudesse, estava tão cansada que só sairia se fosse mesmo para decantar as mágoas (as quais ela estava em condições de suportar). Precisava priorizar o trabalho, mesmo quando fora do horário de expediente. Foi contratada como psicóloga de Recursos Humanos há pouco tempo, mas já era o suficiente para se dar conta de que sua vida passaria a ser eternamente atribulada por conta dos inúmeros compromissos agendados por aquela diretoria de homens carrancudos em seus ternos de velório. Tinha de ser psicóloga principalmente para negociar prazos, e também diplomata para agradar toda a hierarquia e advogada para defender seus pontos de vista, porém, seria remunerada apenas por uma única função. Tudo bem, já teve a experiência de se virar em duas como acadêmica e mãe, fazer o diabo a três ou a quatro não seria problema. Seus dias agora eram regidos pela agenda do Outlook. Seu companheiro e sua filha cada vez mais se transformavam em “clientes externos”, que atendia na medida do possível, quando não era convidada para algum evento ou jantar solene. Logo ela que achava a rotina abjeta, se obrigava a lhe ser submissa como um hamster correndo na rodinha de arame. Apesar disso, sentia-se de certa forma realizada, como agente intelectual naquele prédio do centro pulsante da capital.

Numa reunião com o presidente, antes de ir na analista e depois de um business lunch, conheceu o novo gerente de comunicação. Um primeiro encontro essencialmente prático devido à urgência de desenvolverem uma nova campanha de endomarketing. Apenas trocaram seus endereços eletrônicos e combinaram de se conversar melhor depois. O depois aconteceu com grande brevidade: ao chegar em sua mesa, Paula viu na tela do PC um convite para aceitá-lo no MSN. Novamente, um primeiro contato virtual prático, trocando informações de interesse da empresa. De súbito, a conversa pareceu passar para um tom mais pessoal.

Entrepreneur fala:
Tenho uma pergunta p t fazer...

Foi quando travou tudo. Era vírus. Paula tinha certeza. Mexeu o mouse, deu enter, deu esc, deu ctrl + alt + del. Nada. Mas antes de chamar o técnico, abaixou-se para verificar se tinha deixado seu pen drive na entrada USB (agora poderia estar contaminado). Viu então à sua frente um par de tênis, subindo o olhar até o rosto de seu interlocutor de web. O novo gerente de comunicação também estava em posse de um pen drive. Sem pedir licença, introduziu-o na outra entrada USB. Com delicadeza a puxou pelo antebraço, afastando-a na cadeira de rodinhas e buscando espaço para mexer na sua máquina. Digitou algo, viu surgir na tela uma pop-up do anti-vírus, instalou-o. Perguntou a ela se alguém havia lhe enviado um e-mail intitulado: “Rapunzel apaixonada”, ao que ela respondeu “ahan”. Ele balançou a cabeça com pesar, nem precisando perguntar se ela abriu o anexo. Disse que teria de esperar o anti-vírus fazer seu trabalho e que depois voltaria para reformatar a máquina. Antes de sair, ainda lhe disse com jeito de censura: “romântica”, atenuando seu tom de acusação com um sorriso acolhedor. Ela até se esqueceu de indagar qual pergunta ele queria fazer pelo MSN.

Os dias se seguiram e os dois foram se tornando cada vez mais próximos por conta das atribuições coincidentes que as atividades profissionais lhes atribuiam. Como o expediente não podia se restringir ao ambiente da empresa, devido à grande carga de trabalho, prosseguiam com suas conversas por MSN à noite, fazendo alguns acertos adicionais sobre prazos e tarefas, colaborando mutuamente em tarefas mais complexas. Naqueles diálogos, ele ainda achava tempo para lhe indicar livros, ajudar a resolver problemas de informática e recomendar destinos de viagem, esticando o bate-papo virtual por horas. A atenção dada a ela era tanta que não teve como não desconfiar que havia ali um homem interessado na mulher mais do que na profissional. Mas afastou aquele pensamento, acreditando estar sendo maliciosa e maldosa quanto às intenções de seu novo colega de trabalho.

Quando percebiam que a carga de atividades estava excessiva, combinavam logo no final do dia que prosseguiriam com o trabalho em algum café ou restaurante, fazendo ajustes necessários e se preparando para o dia seguinte, afinal estavam às vésperas de uma importante convenção. Começaram a perceber afinidades e coincidências em seus históricos pessoais e perspectivas. Não teve como evitar de pensar até que ponto iria toda aquela sintonia. E ela se indagava se o gerente de comunicação estava inventando informações para cativá-la ou se realmente era verdade tanta conciliação de interesses. Se fosse alguma invenção, aquilo seria sinal certo de assédio.

Da forma terna e calorosa com que ele lhe falava, até mesmo a leitura de um simples memorando parecia um recado de segundas intenções. Passou a aguçar seus sentidos, na busca por identificar se estava lidando com um profissional carinhoso nas relações interpessoais ou com um homem tentando seduzi-la. Até as pequenas palavras pareciam agora reservar alguma mensagem subliminar.

Entrepreneur fala:
Isso é trabalho para uma mulher acima dos padrões. Como você.

Não foi o elogio no MSN que despertou nela alguma desconfiança (mesmo porque ele vivia falando maravilhas sobre sua performance, ao ponto de indicá-la como analista, já que Paula também tinha interesse em clinicar e sub-locava o espaço de uma amiga também psicóloga), mas sim aquele ponto seguido por “Como você”. Ela estava sendo muito sexista ou aquele “Como você” tinha realmente uma mensagem de duplo sentido no ar? Não, puro delírio, claro. Ele apenas quis enfatizar, não seria vulgar a este ponto.

Certo dia, ele chegou no trabalho com um par de ingressos para uma peça que entraria em cartaz na próxima sexta-feira. Embora Paula tenha hesitado um pouco no primeiro momento, não teve como recusar: era elenco global e as poltronas estavam num ponto de visibilidade muito privilegiada. Pegou o telefone, mas já sabia que seu parceiro não se importaria com mais aquela saída pós-trabalho, e ele odiava teatro, aquela oportunidade de ver uma peça com companhia era rara. Como também era rara a companhia para ir no cinema, no shopping, nas festas... Já sua filha ficaria com a avó no final de semana, saindo de casa no início da noite de sexta. Sendo assim, topou o programa cultural, recebendo um sorriso de agradecimento de seu proponente.

Jantaram antes da peça em um bar metido a moderninho, com decoração chamativa e pratos criativos no cardápio. Enquanto escolhia o que iria comer, Paula pensava se era o momento certo para indagar o que ele queria lhe perguntar no MSN naquele dia em que seu computador travou. Mas teve medo de qual seria a indagação. E mais ainda do que poderia dar de resposta. Ele a desconcentrou dos pensamentos e das iguarias do menu ao se revelar editor de um jornal de poesia, algo que para ela era coisa de hippie desocupado. “Escrevo hai kais libertários”, disse enigmático, explicando logo em seguida que seus pequenos versos eram subversivos à métrica clássica daquele gênero de poesia. Convidou-a a escrever para o jornal, mas ela riu e afirmou nunca ter escrito um único poema na vida. “Quer escrever a quatro mãos?”, ele perguntou. Calada diante da proposta, só saiu de seu olhar de transe com a chegada da garçonete com o bloquinho na mão à espera do pedido.

A peça era sugestiva demais para ter sido escolhida ao acaso, acreditava ela. Tratava da consumação de um affair proibido entre um homem e uma mulher, até aí tudo em comum com uma enormidade de outras histórias. Não fosse o fato de a protagonista da peça estar previamente envolvida com uma relação conjugal em ruínas. Muitos dos diálogos pareciam alfinetadas direcionadas a ela própria, como se alguém houvesse espionado a intimidade de seu lar (e de seu quarto) para escrever o roteiro. Não se sentiu ofendida, nem poderia. Muito provavelmente, a escolha da peça era mais uma daquelas tantas coincidências que estavam colecionando. Nada mais. Ficou inquieta durante todo o espetáculo, mexendo pernas e braços, abaixando e subindo na poltrona. Explicou depois a seu colega que ela costumava ficar assim sempre que assistia a uma peça, e, realmente, era comum se inquietar mesmo. Mas, daquela vez, ela própria teve dúvida do real motivo de sua agitação.

Naquela noite, ao chegar em casa, Paula não entrou no MSN. Ficou com medo do rumo que a conversa poderia tomar, suscitado pelo frescor do tema da peça que acabaram de assistir. O que mais a incomodava não era tanto a dúvida de estar ou não sendo assediada, mas sim que acabasse ficando com vontade de que suas suspeitas tivessem fundamento. Resolveu então pegar algo na cozinha para comer e apenas acessar seus e-mails antes de dormir. Encontrou então uma mensagem recém enviada por ele, contendo um breve poema.

Da elegância helênica os gestos bardos
Que do fardo o trono amena
E de distante recôndito ensejo
Ao amor desavisado acena

No dia seguinte, nada comentou sobre os versos. Tentou interpretá-los por conta própria e chegou a algumas conclusões: ele a havia chamado de elegante e trabalhadora (“fardo” e “trono” indicavam labuta e recompensa), mas que esmoreceu ao se deparar com a oportunidade secreta de se lançar a um “amor desavisado”, ou seja, um caso de última hora e insuspeito. Se fosse isso mesmo, Paula estaria lisonjeada pela parte que lhe cabia, mas também indignada por ele estar tão auto-confiante. Não havia dado margem para aquele pensamento. Precisava se precaver, pois os versos daquele confiado denunciavam estar próximo o bote. Bem fizera de deixar o e-mail na pasta de mensagens recebidas ao invés de excluí-lo, aquilo poderia futuramente consistir em prova de assédio sexual. Mas e se o poema não fosse de autoria dele? Havia dito admirar Baudelaire ("Esse sim é um homem que você deveria levar pra cama todas as noites", afirmara em certa ocasião, brincando ser íntimo de seu autor de cabeceira). Se fosse realmente obra pronta, ela pagaria um enorme mico judicial, pois automaticamente deixaria de ser a musa inspiradora dos versos. Por outro lado, se fosse original, aquela seria a primeira vez na vida em que se tornara a diva de um poeta. A inquietante constatação a fez esboçar um leve e incontrolável sorriso.

Despertou de suas reflexões por um chamado de seu colega no MSN, parabenizando-a pela aprovação da estratégia de contratação de colaboradores temporários para a convenção.

Entrepreneur fala:
Isso é mérito reservado a mulheres excepcionais.
Entrepreneur fala:
Como você.

De novo aquele incômodo “Como você”. Só podia ser coisa da cabeça dela, estava sendo implicante. Desde quando um gentleman como ele faria uma insinuação sacana assim? Censurou-se por pensar nele como um gentleman. Mas ele era. E também sacana. Revelou certa vez (de novo com aquelas suspeitas de segundas intenções no ar) que é um colecionar de receitas sexuais da revista Nova para apimentar a vida íntima. Por que afinal disse aquilo? Paula não lembrava ao certo qual foi a deixa que havia dado para que lançasse tal comentário, mas mesmo assim já se sentia culpada. Estavam se tornando íntimos demais e em muito pouco tempo. Agora, achar que o “Como você” era uma insinuação, isso realmente não fazia sentido. Mas então... por que dessa vez ele separara o “Como você” não só por um ponto, mas também por um enter, como se fosse um parágrafo à parte?... Bobagem, estava imaginando coisas, aquilo não era próprio de um poeta. Ou era?

Aquela indagação inquietante foi interrompida por uma ligação do presidente pedindo refações para pontos cruciais do plano de contratação da equipe temporária que iria trabalhar durante a convenção. Todas para amanhã. “Já conversei com o novo gerente de comunicação e ele mesmo deu algumas idéias”, afirmou. Mal ela desligou o telefone quando o autor das tais idéias chegou à sua mesa afirmando que precisariam se encontrar após o expediente para conversar sobre mudanças em pontos cruciais no plano de comunicação. "Todas para amanhã". Aquilo era pretexto ou esmero excessivo? E por que ele falou diretamente com o presidente? Será que foi chamado ou pediu audiência? Será que já chegou com as idéias ou elas surgiram no decorrer da conversa com o big boss? Bom, era mesmo atribuição dele analisar e estudar mudanças em tudo que envolvesse comunicação (e as falhas pareciam insidir sobre a divulgação da contratação), não tinha obrigação de se reportar diretamente a ela e talvez estivesse com medo de feri-la ao revelar que desaprovava parte do trabalho. Não estavam competindo, pois pertenciam a áreas extremamente distintas. Talvez ele estivesse apenas criando outra oportunidade de encontro sob um verniz de pretexto profissional. Sem respostas, aceitou o convite para o encontro, pois no restante do expediente realmente não iria ter tempo para pensar naquelas mudanças.

Encontraram-se em um sushi bar, mas não se deram ao trabalho de levar seus notebooks. Apenas conversaram e rascunharam as medidas a serem adotadas. Tudo com muito pragmatismo, sem qualquer desvio da conversa para o lado pessoal. Até o momento em que sentiu, por baixo da mesa, a perna de seu colega encostando-se na dela. Poderia ser apenas um toque casual. Ou não. A perna dele agora mexia-se suavemente, para cima e para baixo. Poderia ser apenas um reflexo involuntário. Ou não. Na dúvida, Paula olhou para seu relógio e alegou ter de conversar com sua filha sobre algo importante ainda naquela noite, sacando da carteira e chamando o garçom antes mesmo de devorar seu quarto sushi de kani. Ele não a deixou pagar.

Novamente evitou abrir o MSN quando chegou em casa. E novamente foi até a cozinha pegar algo para comer, já que interrompera seu jantar na metade. Fragilizada, percebeu virem à tona seus instintos de menina ao abraçar um pote de farinha láctea que resolveu comer às colheradas. Sua filha já estava dormindo. Sentiu-se culpada por não ter chegado antes. A enxaqueca estava voltando, certamente por fundo nervoso. Acessou sua conta de e-mail. Outro poema a esperava, vindo do mesmo remetente.

A adaga impaciente e esguia
Corre o fio por entre seus brincos
Contorna a pérola a buscar segredos
Resquícios cochichados e inconfessos

Não teve como não se sentir obrigada a comentar aquilo logo que começou o expediente da manhã seguinte. Não queria ficar fazendo leituras pessoais, já estava por demais preocupada com aquele jogo para ficar supondo e interpretando. Cansou das entrelinhas. Apesar de determinada, fez rodeios: abriu a conversa questionando o que ele queria lhe perguntar pelo MSN no dia em que sua máquina travou. Ele apenas respondeu que não lembrava. E pareceu muito sincero. Talvez fosse ator além de poeta. Em seguida, ela perguntou se ele estava inspirado para o tal jornal de poesia. O gerente de comunicação tirou de sua gaveta um exemplar da última edição, presenteando-a e voltando a fazer o convite para que também escrevesse. Diante do silêncio da colega, encorajou-a afirmando que eles já faziam poemas no dia-a-dia, pois poesia nada mais é do que interpretar sinais. “Interpretar sinais”, ela pensou, mais uma insinuação entre tantas do repertório. Ele continuou com seu raciocínio entusiasmado, afirmando que poesia é um ato libertário, que no lirismo das palavras você pode ser o que quiser, sem culpa. Ela contestou. Ele contra-argumentou: “estou me imaginando agora sequestrando você. Vai mandar a polícia me prender?”. Ficou desconcertada com o raciocínio. Mas mais ainda com sua curiosidade em saber para qual cativeiro ele a estava levando em seus pensamentos. Paula esqueceu o que queria perguntar e voltaram para suas mesas. Minutos depois, ela recebe nova mensagem no MSN.

Entrepreneur fala:
Só escrevo a 4 mãos se for com uma mulher lírica por natureza.
Entrepreneur fala:
COMO VOCÊ.

Mais uma vez aquela brincadeira. Agora, além de separadas por ponto e em outro parágrafo, as duas palavrinhas suspeitas vinham em caixa alta. Por que a ênfase? Da próxima vez viriam coloridas? Na outra em bold? Depois em corpo 18?

Passou o dia desconcentrada. Como podia estar recebendo cantadas nas entrelinhas sem conseguir afirmar se eram sinais inocentes e despretensiosos ou estratégicos como mísseis teleguiados? Logo ela, profissional da psique humana, da comunicação e do comportamento. Seria tudo devaneio seu? E por que aquele petulante estava ocupando sua mente tanto assim? Ela estava convivendo com homens bem vestidos e charmosos no mundo empresarial, desaprovava os trajes daquele gerente de comunicação por seu jeito esportivo, casual demais para o ambiente formal onde estavam inseridos. Mas, por outro lado, aquilo garantia que ele tinha personalidade, e isso muito a atraía. Sua atenção estava aguçada para assuntos que nunca despertaram seu interesse, como o caso de uma colega que ela descobriu ter um amante há sete anos - era quase o tempo que ela tinha de casada. Por que não se mostrou indignada quando soube daquela revelação? Aquela cara de santinha a enganara muito bem. Quando deu cinco da tarde, fugiu do expediente alegando que a enxaqueca piorou, mas queria mesmo era evitar um convite de última hora para que trabalhassem juntos até mais tarde.

Em casa, nem acessou seu e-mail, muito menos o MSN. Ficou se revirando na cama, sem saber como agir. Pensou em contar ao seu companheiro. Mas ele era indiferente demais, neutro demais. Ao ponto de ela achar que precisaria de um amante para salvar seu casamento. Mas trair, jamais. Onde já se viu. Pensou no que ele faria se soubesse da suspeita de assédio de um colega de trabalho. No máximo, socaria uma parede ou quebraria algum objeto da casa. Poderia até acusá-la de ter dado margem para o assédio. Ou ainda achar que ela estava inventando aquela história só para se valorizar. Ou que estava “viajando na maionese”, se achando A gostosa, pois todas as provas eram um tanto sutis. Os poemas eram apenas poemas, caso fossem considerados provas consistentes a polícia deveria prender Stephen King por assassinato em massa e Mario Puzzo por formação de quadrilha. As insinuações eram de interpretação excessivamente subjetiva. As horas adicionais de trabalho foram de fato de trabalho. A peça com mensagem subliminar, o “Como você”, o convite para escreverem juntos, a perna roçando na sua e tantas outras deixas não poderiam entrar no pacote de indícios irrefutáveis, seria o mesmo que acusar uma amiga de lésbica por receber dela um convite para assistir a um show da Maria Bethania. Mas mais do que o incômodo daquelas dúvidas externas, o que realmente a deixava sem chão eram os impasses internos: na verdade, ela tinha medo que de fato acontecesse, temia que as coisas se misturassem e envenenassem a relação de coleguismo e de uma cumplicidade que ela, legitimamente, gostaria de ter com ele pela vida toda (certa de que a recíproca era verdadeira). E a paúra das paúras era a de que acabasse sendo ruim por ser tão bom. De que esta relação paralela fosse tão melhor que a oficial que Paula jamais conseguiria se abster dela. Para evitar aquele pesadelo seria mais prudente abrir mão do paraíso? Logo afastava aquele dilema pensando no aspecto mais premente: confirmar se estava ou não sendo assediada. Já se via tentada a sair na marra daquele estado de dúvida, perguntando diretamente a ele: “afinal, você quer me comer, é?!” Enfim, ela queria mesmo era uma prova cabal. E a teve. No dia seguinte.

Ao abrir sua conta de e-mail, logo que chegou em sua mesa, percebeu haver mensagem do suspeito colega, mas resolveu acessá-la apenas no final do expediente, pois estava com a agenda excessivamente carregada e não queria perder tempo. Conteve sua curiosidade. E sua resistência prosseguiu no decorrer do período, tendo passado todas aquelas horas se esquivando do suposto sedutor de golpes perversos em sua sutileza. Quando já se aproximava o horário de ir embora, notou que teria de levar um bocado de trabalho para casa, mas deu-se ao luxo de sucumbir à sua curiosidade: clicou na mensagem e a leu atônita.

Maculada a libido clama
Suplica a sanha do gozo
Implora e forja a verdade
Torna o medo prazeroso

“Libido”, “gozo”, “verdade”, “medo”, “prazeroso”. Estava tudo ali. Não era mais possível prosseguir com dúvidas diante de uma série de evidências tão claras em um mesmo texto. Era óbvio que ele a estava convidando ao sexo sem culpa, a descarregar seu tesão e a deixar os sentimentos falarem mais alto que seus receios e sua conduta moral. Nenhuma outra interpretação era possível para aquelas linhas. E que se dane se o autor não fosse ele, estaria então usando de criação alheia como porta-voz de uma mensagem pessoal. Ela teria de tomar uma providência em definitivo. Ligou para a recepção e perguntou do paradeiro do gerente de comunicação, recebendo então a informação de que estava no hall de entrada. Paula levantou-se e caminhou determinada, pronta a dar uma resposta fulminante: “Ah, seu trabalho é interpretar sinais? Então interprete isso”, diria ela levantando o dedo médio em frente ao rosto do imoral. Se ele negasse o assédio, ela simplesmente dispararia o e-mail para a presidência e daí a ginástica para justificar o conteúdo seria bem exaustiva.

Chegando no hall de entrada, Paula deparou-se com o gerente de comunicação ao lado de uma moça bonita e elegante. Ele apressou-se em apresentá-la, era sua namorada, e, em seguida, pediu a Paula um milhão de desculpas, pois havia lhe enviado e-mails com poemas por engano. Ela e sua namorada tinham o mesmo nome, e ele se atrapalhou na hora de selecionar o destinatário. Sem reação, Paula viu o casal trocar um beijo e sua homônima ainda recomendar: “liga não, ele vive aprontando confusão. Ainda bem que essa foi com uma pessoa sensata”, e ele arrematou: "Como você".

Paula voltou até sua mesa, desligou o PC, apreciou a repartição toda vazia e silenciosa, tamborilou com os dedos sobre o mouse pad e sacou o telefone. Ligou para Fernanda aceitando o convite de sair e beber.


Mario Lopes

sábado, 19 de setembro de 2009

Cultura é para todos

Hoje, com o avanço tecnológico, muitos têm acesso a cultura. Até mesmo através daqueles grupos voluntários, que vão aos locais menos favorecidos para deixar algo de bom.
Faz algumas semanas, aconteceu em minha cidade a feira anual do livro, onde várias escolas montam um espaço e fazem suas homenagens, divulgando o que os alunos desenvolveram nas escolas em relação a arte. Mesmo sendo gratuito, e em local aberto, não foi muito frequentado como deveria ser, poucos se interessam. Aí eu faço a seguinte constatação: a cultura é para todos, mas nem todos vão atrás da cultura. Muitas vezes escuto comentários de que boa parte das pessoas não têm acesso a cultura, mas como que não têm? E quando têm, não prestigiam. É desanimador. As pessoas precisam criar oportunidades, ir mesmo atrás do conhecimento.
O interessante é que ninguém precisa ter o mesmo grau de cultura, basta compreender e ser compreendido, o suficiente para formar um diálogo. Cada um corre atrás daquilo que é mais interessante para cada um, caminhos diferentes a serem percorridos.
Entre os homenageados da feira, estava um escritor nascido na cidade, sendo que três de seus irmãos estavam presentes, entre outros familiares. O caminho destes irmãos iniciou no mesmo lugar: a casa em um bairro humilde nesta mesma cidade, filhos de pai coveiro e de mãe do lar (e ainda lavava os túmulos do cemitério, para aumentar a renda familiar). Nesse mesmo caminho, os filhos foram instruídos a estudar, porém cada um tinha seus objetivos: um queria ser médico, outro engenheiro, as mulheres antigamente eram criadas para serem do lar, cuidar da casa e dos filhos, e uma das irmãs seguiu esse objetivo, e o outro irmão queria ser um pai tão bom quanto o o dele. Eu afirmo que este último conseguiu o que pretendia porque ele é o meu pai, o meu herói, minha riqueza, minha maior faculdade, meu diploma de pós e doutorado, esse homem tem um conhecimento da vida, tem o dom dos acontecimentos, sabe os melhores caminhos e nos conduz a ele.
O irmão escritor e médico é um dos orgulho da família, mas jamais deixou de retornar ao caminho que o levou a ser o que é, sempre nos ensinou o caminho da cultura, dos bons livros, da boa leitura.
Acredito que ter acesso a cultura é isso, mesmo que estejamos no mesmo caminho com tantas outras pessoas, cada uma tem um objetivo diferente, almejam coisas contrárias, cada um carrega a bagagem de conhecimentos adquiridos, no decorrer de suas vidas, com familiares, amigos e professores.
Afirmo então que a única coisa que temos, que nunca ninguém conseguirá tirar de nós é o conhecimento. Tudo o que aprendemos é nosso, podemos passar adiante, mas nunca ninguém conseguirá arrancar isso de nós, uma vez aprendido é para sempre.
A cultura é assim, aprendemos, buscamos, batalhamos para adquirir mais conhecimento, esse é o maior bem de todos os tempos.
Agradeço às pessoas que em minha vida passaram e deixaram um pouco delas comigo, e levaram um pouco de mim com elas. É assim que funciona.


Mary Palaveri

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Auto-retrato da pequena, porém grande, Menina


Não sou do tipo que se enquadra no atual padrão, mesmo porque, saber que não sou “convencional” não me parece uma coisa ruim. Aliás, até aprendi a conviver com o espelho e sempre me enxergar nele desde a sola dos pés até o último fio de cabelo.
Pois é, meus grandes 153 centímetros já fazem parte de mim. E, acredite, há quem pense nisso não como defeito, mas como uma característica única e imutável.
De fato, sou relativamente pequena, mas incrível e metricamente proporcional. Perdoe minha altivez, mas lembro uma grande mulher, uma enorme miniatura de mulher pronta para ser empalhada e colocada em uma redoma para contemplação. Boneca de luxo.
Sorte para alguns, azar para outros tantos, é o meu axioma que não harmoniza com a primeira impressão. Quero que me admirem pela essência e não pela matéria, o que é um grande paradigma, pois acho quase impossível que algum homem esteja preparado para uma mulher que vive em uma terceira geração mental. Talvez, até prefiram minha mãe, que, apesar de “cinquentona”, vive na crise de adolescente tardia.
É por essas e outras que dou razão aos grandes psicólogos que dizem que tudo está acontecendo mais rápido, as gerações estão velozmente adiantando-se ou andando de marcha-ré. Lá em casa, já até houve um retardatário.
Isso tudo me fez lembrar da última vez em que fui a um bar. O segurança me olhou dos pés à cabeça, em uma ação que obviamente levou apenas uma fração de segundo, e não hesitou em dizer:
- A identidade, por favor.
Virei as costas e me lembrei que tamanho não é documento.
É... melhor não esquecer mais a carteira em casa.


Letícia Mueller

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Jeito moleque


Não isso não é só nome de grupo de pagode

É o que recheia a carcaça de mulher forte, madura e cheia de atitude.
Quando está no alto de seus saltos, o que ela queria mesmo é estar com os pés descalços pulando amarelinha. Chegar ao céu é bom demais, e relembrar quantas vezes chegou lá é uma brincadeira mental maravilhosa.

Cada vez que se recorda de como era bom os tempo de moleca, bate aquela vontade de jogar tudo pro alto e voltar a jogar bola na rua de casa, com os meninos da vila. Era muito gostoso, interditar o trânsito da rua pacata em que as partidas aconteciam. O futebol não era unanimidade. Brincar de queimada era muito divertido, mesmo indo pra casa roxa de tanta bolada que levava.

Na época do “Vou de taxi”, daquela loira angelical que era o hit dos anos 90, a brincadeira preferida era parar o recreio da escola e fazer coreografias. Um show a parte. HAHAHAHAHAHA, como é bom lembrar dos micos e, principalmente, ver como o tempo passa. Ainda bem que era tudo brincadeira.

Não sei se o seu jeito moleque era consequência de achar as coisas de mulherzinha muito chatinhas e cheias de regras de conduta: cuide da casinha, faça comidinha, cuide dos filhinhos... Ou se, na verdade, era uma pretensão para ficar mais perto dos meninos. Os bonecos do Rambo a fascinavam. Quantas vezes apanhou do seu irmão por raptar o helicóptero camuflado.

Acho que, por uma determinada época, esse estilo másculo fez parte de suas brincadeiras. Como era gostoso brincar de exército na fazenda. Munido de cordas, salgadinho e balas, ela e o irmão saíam desbravar o “campo de batalha”. Nada muito feminino, e quantas vezes ele a deixou perdida nesse campo só para sacanear. Afinal essa menina precisava saber que essa brincadeira era coisa de macho.

O quanto foi bom não ter tido acesso ao mundo digital na sua infância. O calor do empurra-empurra com os colegas, a adrenalina de estar na rua ou a sensação de perdida no campo, isso nenhum jogo de computador ou vídeo game poderiam ter lhe dado. Como foi bom ter sido criança nos anos 80 e 90...

Recordar é viver. Lembrar que a vida é feita de momentos e que esses momentos não podem perder a ternura da inocência de quando se era criança é fantástico. Conseguir dominar a rotina e se sentir no céu é fabuloso. Não importa a idade, não importa se a adrenalina chega quando você pára e se recorda dos bons e divertidos momentos vividos. O que importa é se dar a liberdade de descer do salto, tirar a carcaça e libertar aquele moleque que está escondido aí dentro.


Heloísa Garrett

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Diferenças Entre Assexualidade, Castidade e Frigidez


Há alguns meses, dei uma entrevista a um programa de televisão sobre assexualidade. O clímax da reportagem foi quando falei sobre as diferenças entre assexualidade, castidade e frigidez. Como muitas pessoas me perguntam sobre este assunto e o vídeo não se encontra no Youtube, resolvi escrever um texto abordando este tema.


Assexualidade é a característica de uma pessoa que não possui o desejo sexual e não se importa com isto. Exemplos: a cantora Susan Boyle e a atriz Jodie Foster, que confessou não sentir desejo sexual e, por isso, a mídia desconfia que seus filhos nasceram de inseminação artificial.


Já castidade é a privação voluntária do prazer sexual, como no caso dos padres que fazem voto de castidade. São Paulo comentou muito sobre isto nos seus textos. Reza a lenda que o próprio santo castrou-se para ficar sem desejos eróticos. Aqui está o principal conflito da questão: o fato de a pessoa prestar voto de castidade não significa que ela não tenha desejos carnais. Afinal castidade é diferente de assexualidade.

Já no caso da frigidez, a pessoa pode possuir atração sexual, porém, não consegue sentir prazer no auge do ato carnal. Muitas vezes a frigidez é causada por fatores orgânicos, como, por exemplo: anemia, problemas da tireóide e até depressão. Por isso é fundamental que a pessoa que tem este distúrbio procure um médico.




Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Você acredita em vampiro?



Certa vez, um homem me lançou esta pergunta, de um modo frio e direto, como um vampiro. Respondi que sim, que acreditava em vampiro. Ele me olhou, analisou e me pediu para que falasse então sobre eles.
-Falar sobre vampiros? - indaguei-o.
- Então você também acredita neles? - perguntei.
Sem resposta, continuei a conversa.
–Você quer que eu fale de vampiros? Pois bem, eu te digo então que você pode ouvir, ler e ver diversas teorias sobre vampiros, mas a verdade é só uma: vampiros somos nós mesmos!
Com cara de deboche, do tipo “o que esta pessoa está dizendo”, ficamos por cinco segundos quietos, acho que ele precisava de um tempo para pensar e colocar as idéias no lugar diante da minha constatação.
–Não acredita? Vou provar - disse.
- Todos nós precisamos de sangue para viver (sem exceção), alguns de nós possui verdadeira aversão ao alho, a cruz (alguns não podem nem ouvir falar em Deus), outros não conseguem nem se enxergar no espelho.
Há também aqueles que traçam sonhos e planos como se fossem seres imortais e pudessem viver eternamente; que adoram uma sedução e um mistério ou simplesmente são assim, adoram a noite e preferem dormir de dia, outros que até possuem dentes afiados e uma vontade de morder e beijar o pescoço de sua vítima (digo, da pessoa que está se envolvendo). Mas no fundo, algumas pessoas são vazias e desiludidas, vivem sozinhas, vagam pela escuridão de suas ilusões, acordam nos caixões dos seus medos e simplesmente voam em seus pensamentos, buscando algo que possa lhes fazer bem.
Recebi daquele homem um olhar confuso e de certa identificação com o que eu falei. Não precisava dizer mais nada. Naquele momento os dois sabiam o que era verdade e que no fundo todos nós, mesmo que vampiros, merecemos a liberdade e a felicidade, mas que nem todos têm coragem de beber o sangue diretamente da fonte e voar com liberdade como alguns daqueles que a possuem.
- Obrigado - ele me disse.
-Agradecer por quê? - perguntei.
- Por ter me feito sentir pela primeira vez igual.


Bianca Nascimento Silva

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Semana de tema livre

Epidemias

A H1N1 já produziu a fobia social do álcool em gel, das máscaras, dos diagnósticos errados, já deflagrou a precariedade do sistema de saúde (que não é nenhuma novidade) e, como a aviária e tantas outras no decorrer da história, é só mais uma epidemia. Mata muita gente? Mata. Infelizmente quem está na base da cadeia capitalista. As classes mais pobres.

O governo se mobiliza e seguimos adiante. Para a epidemia de roubos com o dinheiro público nada se faz a não ser colocar nos meios de comunicação todos os dias de forma a tornar tão natural quanto ir ao banheiro. A epidemia do roubo político com o dinheiro público não é nenhuma novidade mas estamos tão adestrados a submissão, tão esperançosos de um salvador que nos liberte de todo o mal, que preferimos nos mobilizar para ver o último capítulo da novela, que encerra a epidemia das referências distorcidas da Índia.

Tem a epidemia das celebridades, das fofocas, do consumo desvairado de alimentos e bens inúteis, das guerras, dos celulares, da tecnologia, dos últimos sites de relacionamento e informação e, infelizmente, não conseguimos fazer dessas epidemias alguma coisa para fazer o tempo parar e reverter a inversão térmica do planeta, as queimadas e a destruição do nosso ecossistema.

A esperança é que nesse cair de elementos epidêmicos, a epidemia do bom senso possa tomar forma e passar de um pra um, matando sim aqueles que não aderem a uma política mais humanista, mais profundamente ecológica e, portanto, espiritualizada.

Espalho aqui todos os germes do amor próprio, o vírus do amor ao próximo, as bactérias do respeito e da dignidade que já vem com uma mutação de ética e moral elevadas. Espero que pegue!


Patrícia Ermel

domingo, 13 de setembro de 2009

O Mais Radical Dos Esportes


Todo esportista é um sadomasoquista. Sádico porque esporte implica em vencer alguém, humilhar um oponente, causar dor no nocaute fulminante, na raquetada sem dó, na ultrapassagem impiedosa – mesmo que ferir não seja a intenção principal, ela ocorre necessariamente. Masoquista porque as condições para a prática de qualquer esporte são severas, não respeitando finais de semana, mau tempo ou indisposição, ignorando as preces da carne e as lamúrias da alma – “no pain, no gain”, já dizia o famoso ditado do povo mais competitivo do mundo. Considerando que a vida também é um esporte (o maior de todos, tendo até um livro discorrendo sobre o assunto: “Se A Vida É Um Jogo, Estas São As Regras”, de Chérie Carter-Scott), chegamos à constatação de que todos temos algo de sadomasoquista. E essa nossa vocação de machucar e sofrer se estende para as mais diversas modalidades, algumas um tanto aconvencionais: tem gente que entra na disputa para deter recordes, de número de tatuagens a quantidade de cigarros fumados de uma única vez; outras praticam os desportos do cotidiano: ser o mais rico, chegar na praia mais rápido que qualquer outro carro na rodovia, responder o maior número de e-mails possível no final do dia. Praticamos inúmeras pelejas com outros competidores e com nós mesmos ao longo de um dia e no decorrer de uma vida. Mas, de todos os esportes, um é o que mais assusta por ser o único que transforma aliados em opositores: o heartbreaking.

Não há um nome exato para o esporte (ao menos não na língua portuguesa), mas ele consiste em conquistar e arrasar corações desavisados. É o único esporte capaz de gerar, nos derrotados, reações sérias e instantâneas de depressão profunda, anorexia nervosa, perturbação mental e até de homicídio e atentado contra a própria vida. Difícil afirmar se o maior número de adeptos é do sexo masculino ou do feminino, mas abordemos como personagem de estudo a mulher, visto que a quantidade de filmes e referências em outras artes, como na música e na literatura, fazem parecer que ela é, de fato, o grande pivô das históricas trágicas, em que corações são pisados com salto agulha por puro deleite. Para fazer uma abordagem com certo grau de cientificismo, escalamos para debate quatro estudantes da área de comunicação social, são elas: Carolinni Tauscheck, Fernanda Lima, Luciana Calçado e A. P. L., que preferiu não se identificar por motivos que ficarão mais claros ao longo deste texto. Sendo acadêmicas de um curso que tem como principal alvo de estudo o comportamento humano (e, principalmente, por serem mulheres), certamente têm condições de discorrer sobre o assunto com certa desenvoltura. De outro lado, temos uma assumida heartbreaker concordando ou discordando das afirmativas, vamos chamá-la de Débora para não criar nenhum desconforto, seja por parte dela ou de alguma vítima que venha a ler este texto.

Como é o esporte?
Nenhuma das quatro convidadas conhece uma legítima heartbreaker, nem se assumiu como tal. Também não souberam definir categoricamente qual o perfil da esportista ou como se pratica a modalidade. O que ficou em consenso é que toda mulher tem um pouco (ou um muito) de “arrasa corações”. Fernanda, por exemplo, relatou com grande naturalidade sua experiência com um rapaz que a amava, sendo que a recíproca não era verdadeira. Sem qualquer constrangimento ou trauma de consciência, deixou claro que o usou apenas por prazer, mesmo sabendo ser ela uma paixão não correspondida do pobre e esperançoso rapaz. Chegava a ir com ele para motéis pedindo a uma amiga que lhe ligasse em dado horáro, fingindo ser sua mãe ordenando que voltasse para casa, a fim de escapar do seu escravo-amante. Com o desembaraço e frieza com que relata este episódio, Fernanda parece ser uma garota indiferente à dor das pessoas com as quais se relaciona, mas este, ela garante, foi um episódio isolado. Porém, só para se ter melhor noção do perfil da autora do relato, ela consegue convencer a todos que não entende nada de baralho para, logo que se inicia o jogo, mostrar-se expert no jargão do carteado e na arte de blefar. Ou seja, é sim capaz de ela ter se divertido com a situação de usar seu apaixonado como joguete, afinal dissimulação é, possivelmente, uma das maiores habilidades de uma heartbreaker. E o mais curioso: isso não a torna uma pessoa cruel, talvez apenas inconsequente.
Já Débora é mais prática na definição do esporte: “simples, é conquistar, usar, colocar na prateleira e partir para o próximo quando não tiver mais serventia”. Não foi precisa na explicação do que vem a ser ter “serventia”, apenas complementou dizendo que é “tipo quando enjoa”. Na verdade, a conversa com Débora indicou que a modalidade é praticada de forma muito mais intuitiva do que planejada e meticulosa como muita gente costuma achar – talvez uma concepção residual do estereotipo de femme fatale fria e calculista tão disseminado pelo cinema. Há até um “q” de inocência no modus operandis e nas justificativas, conforme foi se constatando na investigação de seu comportamento padrão ao longo da conversa. Mas é difícil fazer essas afirmativas de forma cabal, posto que (conforme já dito) ser dissimulada é possivelmente uma forte característica desse tipo de esportista, ou seja, pode estar apenas enganando a torcida.

Qual o prêmio?
Orgulho e prazer. Quase sempre nesta ordem. No caso de Fernanda, o prazer veio antes, ela garante, mas isso é uma exceção à regra – não esquecendo o fato de que ela não é uma típica heartbreaker (apesar de ter todos os predicados necessários para a prática). Luciana afirma que não está só no ego e no tesão a recompensa da heartbreaker: ela faz também para conquistar presentes, viagens e privilégios, como, por exemplo, maior chance de ascensão hierárquica em uma empresa, seja por dominar a fome de um macho poderoso ou por poder lhe chantagear. Carolinni (conhecida por Carol entre as amigas) vai além: ela acredita que a heartbreaker, de alguma forma, tem de tangibilizar e “documentar” suas façanhas, e o faz colecionando lembranças dos amores arrasados, como bilhetes apaixonados, fotos de viagens juntos e outros souvenirs que vai acumulando ao longo do tempo.
Débora concorda com as afirmativas do quarteto, e complementa frisando que uma arrasa-corações gosta de causar intriga e de ver homens brigando por ela, mas não casais, “daí já é baixaria”, conclui. Outro fator que faz uma heartbreaker ter aversão a brigas de casais está, provavelmente, no fato de que este conflito pode significar que irá sobrar para ela no final das contas...

Qual o perfil da praticante do esporte?
Há mulheres que têm volatilidade afetiva: ora amam, ora odeiam. Mas isso não corresponde às motivações de uma heartbreaker, pelo simples fato de que ela não é movida por estímulos descontrolados, e sim por uma noção real de que tem uma tarefa sádica a cumprir. Nessa obsessão, o quarteto manifestou-se favorável à ideia de que ela é uma pessoa que já amou mas não foi amada, portanto quer se vingar em cima de todos os homens. Luciana afirmou nunca ter se apaixonado, colocando-se assim sem opinião formada a respeito dessa possível vida pregressa infeliz das heartbreakers. E também talvez seja esse um dos motivos de ela própria não ser adepta do esporte. Outros pontos consensuais entre as garotas do quarteto: heartbreakers são geralmente mulheres inteligentes (mais do que bonitas); por dedução, são boas de sexo; muito vaidosas; não ambicionam viver um grande amor; geralmente são cultas e refinadas; e nem sempre são bem sucedidas profissionalmente – o que pode explicar a colocação feita anteriormente de que são capazes de usar o esporte como jogo de poder. Não souberam precisar se arrasa-corações são mais hetero, bi ou homo, só se sabe que este comportamento ocorre em todas as opções sexuais, entrando aqui o depoimento de A. P. L.. Quando tinha 18 anos, ela começou a namorar uma menina que conheceu pela web, e que morava próxima à sua avó. Bonita, esbelta e “carne nova no pedaço”, A. P. L. usou de seus charmosos olhos azuis para ficar com diversas garotas, pois estava se iniciando no universo gay. Chegou inclusive a ter um affair com uma miss, incitando ciúmes na namorada. O romance acabou e ela encontrou então um namorado hetero, mas A. P. L. exercitou, na homossexualidade, seu lado heartbreaker tanto quanto Fernanda (vide relato da primeira questão). Neste ponto é que ela entrou em uma tese que aponta para a possibilidade de as arrasa-corações terem um tipo de “vacina” contra a paixão: A. P. L. jogou no debate a teoria de que toda mulher só ama de fato uma única vez na vida, sendo que seu comentário recebeu aprovação de Carol e indiferença de Luciana e de Fernanda. A. P. L. disse que sua primeira namorada foi efetivamente a única pela qual se viu capaz de fazer loucuras, e que essa febre não mais se repetirá em sua vida. Se isso valer para toda mulher, como ela acredita, então não é tão difícil ser heartbreaker, posto que os riscos de perder o controle de seus romances, tornando-se dominada ao invés de dominadora, é praticamente inexistente.
Débora não entendeu a teoria de que mulher só ama uma vez na vida e preferiu nem entrar nos méritos. Mas riu quando indagada se o comportamento heartbreaker é mais presente no universo hetero, bi ou homo – a pergunta a fez recordar de uma frase de Claudia Raia no filme “Os Normais 2” que acredita resumir tudo: “toda mulher é bi, só que umas aproveitam e outras não”. Brindou com o copo d’água que estava bebendo e fechamos assim essa terceira pergunta do pacote, vamos à próxima.

Quem são os aliados/oponentes mais comuns de quem é heartbreaker?
Costumam pegar homens casados para não se prenderem, visto que as chances de relacionamento com compromisso se reduzem bastante. Luciana acredita que solteiro sustenta mais o ego da heartbreaker porque ele pode vir atrás dela sem tanto temor de ser pego (já que não há ninguém no seu pé para puni-lo por pular a cerca). Carol acha que heartbreakers atacam do office-boy ao chefe, embora este último seja mais visado. Ela e Luciana concordam que as arrasa-corações não gostam de caras “bananas”, em especial na cama. Por mais que o prazer venha depois do orgulho, continua sendo um item bastante importante na ordem do dia.
Débora entendeu que a colocação aliados/oponentes se refere ao mesmo personagem, ou seja, a homens que se tornam partners para logo depois serem jogados na sarjeta gritando lamúrias e impropérios pelo resto da vida; mas ela também acredita que há aliados e oponentes separadamente. Como aliados, ela alfineta sem dó: “não há melhor aliada para uma heartbreaker do que uma esposa que não faz de tudo na cama”; também coloca as amigas como importantes agentes de prospecção, apontando homens vulneráveis e ajudando em esquemas de encontros, sedução e despiste de namoradas inconvenientes. Já como oponentes ela sai do aspecto pessoa física para cair no pessoa jurídica: empresas com restrições pesadas a relacionamentos afetivos no ambiente de trabalho, religiões de normas severas e todo o “blá-blá-blá dos mais machistas que acham que mulher que toma a iniciativa é vulgar e não merece atenção. Vulgar, eu?! Vai tomar no cu!”, caindo numa gargalhada logo em seguida.

Onde se pratica o esporte?
Carol acredita que a heartbreaker sai em vários lugares e estuda o perfil da vítima antes de abordar e seduzir. Ela prossegue neste raciocínio garantindo que a web também pode ser um bom canal, através da visualização de perfis no Orkut, por exemplo. Luciana é enfática em afirmar que a arrasa-corações frequenta vários tipos de círculos sociais, indo de rodas de pagode a bailes da alta sociedade.
“Ah, qualquer lugar é lugar”, assegura Débora, sustentando que esse raciocínio de toda heartbreaker se deve ao fato de que homens (e mulheres) infelizes pela solidão ou por relacionamentos frustrantes estão por toda parte. Ela nem quis entrar nos méritos de web e outros meios alternativos, voltando a balançar a cabeça e a reafirmar que “qualquer lugar é lugar”, concluindo: “quer saber onde encontrar alguém? Pega um copo e encosta na parede que cola o seu apartamento no do seu vizinho. Todo mundo gosta de sexo e todo mundo tem algum tipo de problema afetivo. Só não se deixa seduzir quem gosta de sofrer”.

Qual o ponto fraco de quem está neste time?
O quarteto acredita que, apesar de toda a postura auto-confiante e de seu modo de agir frio e técnico, a heartbreaker não é imune a arrasa-corações do sexo masculino. Neste sentido, o homem auto-confiante é praticamente uma kryptonita contra seus superpoderes. No entanto não são seres que podem desfilar sem medo em frente a uma heartbreaker: homens bem resolvidos são um desafio maior e mais estimulante. Eles apenas geram temor pelo medo de envolvimento.
Tentando sair pela tangente, Débora disse que o “homem que se basta” (como ela preferiu definir) é “um belo de um troféu”, mas que a característica dele que mais incomoda não é a auto-confiança e sim a determinação: “odeio o cara que diz ‘não vou mais te ligar’ e não liga mesmo. Isso corta a minha possibilidade de blefar, eu não posso dizer ‘se sair daqui não volte nunca mais’ porque eu sei que se ele sair não voltará mesmo, e isso não porque eu ordenei, mas porque ele manda em si mesmo. Aliás, tem homem que adora provar que pode, que se garante, desse tipo eu quero distância”.

Quais as regras do jogo?
Praticamente, a regra é não ter regras. Mas há comportamentos da heartbreaker que são padrão por evitarem complicações no meio da peleja. Ela não chega a se envolver com a família da vítima, por exemplo, no máximo é apresentada à mãe do coitado, mas não frequentará sua casa, muito menos levará uma sobremesa para o almoço de domingo da sogra em potencial. Embora as quatro não tenham explicado o motivo desta postura, ele é um tanto evidente: além de fugir de envolvimento, a heartbreaker sabe que pode ser desmascarada por irmãos ou pais de seu macho-alvo, daí sua ojeriza à exposição no círculo familiar. Outra regra fundamental é a de que é preciso buscar informações que indiquem a facilidade de arrasar um determinado coração: a heartbreaker investiga e adéqua-se ao universo do outro para depois trazê-lo para seu mundo pessoal. Por fim, também é importante ter um bom timing: quando percebe que a vítima está muito na dela, sai fora e a deixa a ver navios.
Saber o momento certo para puxar o carro é a regra mais desafiante para a heartbreaker, acha Débora. “Conquistar e seduzir não é o bicho. Mas sair com elegância deixando o cara sem chão, não protelando demais nem antecipando em excesso a decisão de dar no pé, ah, isso sim é que aponta se a guria é mesmo profi no assunto”.

Há dia melhor ou pior para se praticar o esporte?
Essa foi fácil porque veio ao encontro da indagação sobre lugar para a prática do esporte. Não há dia certo, a heartbreaker está o tempo todo agindo, se compatibilizando com a rotina de seus alvos, assim comentou o quarteto. Parece ser ilusória a noção de que sábados à noite são o ponto culminante desta prática esportiva, mesmo sendo este o período em que as pessoas saem para baladas à procura de aventura e romance.
“Isso mesmo”, concordou Débora, “todo lugar é lugar, toda hora é hora”. Ponto.

Quais os equipamentos para se praticar o esporte?
Outra questão de resposta simples e prática. Apetrechos indispensáveis: celular, estojo de maquiagem, perfumes, jóias e guarda-roupa refinado.
Para Débora é por aí, “ah, e claro: uma vizitinha na sex shop não faz mal a ninguém”, arremata enquanto ri de sua própria molecagem.

Quais os segredos de quem pratica com sucesso?
Foram disparadas frases soltas das garotas do quarteto, sendo agora difícil determinar a autoria de cada uma delas, aqui vão então as sentenças mais interessantes: “Ela não tem o auto-controle para não se envolver, simplesmente não acha o homem certo”; “Mas ela não quer achar o homem certo”; “Existe uma minoria que pratica esse esporte sem querer (de forma involuntária), a maioria sabe muito bem o que está fazendo”; “Ela dá a entender que não quer envolvimento, mas não explicita isso, não verbaliza, só para deixar o cara na esperança e depois puxar o tapete”; “Faz sexo bem feito, e ninguém manda nela, deixa o alvo pensar que manda”; “Nunca fala ‘eu te amo’, a não ser que seja como arma para gerar mais envolvimento; “Não coleciona por número, mas sim pela qualidade das relações”; “Ao identificar em um cara a presença de características de um homem que já tenha seduzido, vai usar as informações a seu favor para repetir o sucesso”; “Não se torna mal falada porque não divulga seus feitos, mas quando os conta a uma confidente passa-se por vítima. Só fala a verdade quando tem uma amiga igual a ela”.
Débora concordou com tudo, mas, ao ser perguntada sobre o que mais citaria como segredo de sucesso no esporte, disparou: “ah, você não quer que eu perca minhas cartas na manga, né?”.

Observação final

Ao final da conversa, Débora já pedia para parar porque aquele não era “um bom dia”. Visto que ela não tem problemas familiares ou financeiros, não é leviano afirmar que nossa “arrasa corações” possivelmente foi vítima de um rival à altura. Mas isso ela nunca iria confessar. Faz parte do jogo.



Mario Lopes

sábado, 12 de setembro de 2009

Atletismo Digital


Você pode nunca ter ouvido falar, mas pratica todos os dias (ou quase). Pare e pense: quanto tempo você dedica à internet todos os dias? Quantas horas você passa diante do computador? Quando vê um PC à sua frente, sente o desejo de correr até ele e ligá-lo? Recentes pesquisas revelam que o brasileiro é um dos povos que passam mais tempo na web, com a média de 71 horas e meia por semana. É tempo demais. Tempo este que poderia ser melhor aproveitado com leitura, passeios, entre outras atividades.

E ao contrário do que se possa imaginar, o atletismo digital (ou netmaratonismo) não é uma modalidade que se restringe somente a nerds ou viciados na web. Trancafiado em suas casas e escritórios, o homem moderno tem aderido cada vez mais a esse “esporte”, correndo freneticamente contra o tempo, saltando de um site para outro - da página de notícias para o Orkut, depois para o MSN, em seguida para o Twitter, e depois para as Desaforadas... rs
Entrando numa maratona para responder aos e-mails que não param de chegar (e lotar sua caixa de entrada), os scraps no Orkut; conversar com cinco pessoas no MSN ao mesmo tempo e ainda digitar um relatório, montar uma planilha e elaborar uma apresentação no menor espaço de tempo possível.

Às vezes, somos obrigados a praticar a modalidade de corrida com obstáculos, como conexão lenta, PC que insiste em travar quando três programas diferentes estão abertos no Windows, ao fazer download de arquivos pesados e cortes bruscos de energia. Tudo cronometrado. Horas, minutos, segundos, centésimos. Batemos recordes diários sem nos darmos conta.

O netmaratonismo, quando praticado corretamente, nos possibilita adquirir uma excelente saúde mental e intelectual. Também nos permite adquirir novas habilidades e aprimorar as já existentes, como digitação, idiomas, conhecer pessoas, troca de idéias e experiências, contato com culturas diferentes, além de momentos de descontração, que permitem a liberação de hormônios como a endorfina e a serotonina, responsáveis pelo prazer.

Por outro lado, como todo esporte, sua prática excessiva ocasiona sérios problemas à saúde - física, mental, psicológica e social; como lesões por esforços repetitivos (LER) como tendinites e bursites , fadiga, depressão crônica, diminuição dos reflexos e sentidos; falta (ou excesso) de libido, problemas de visão (como miopia e astigmatismo), perda de massa encefálica, atrofiamento mental, dificuldades de comunicação, relacionamento e integração no mundo real, etc.

Portanto, vamos praticar sim o netmaratonismo, mas com moderação.


Camila Souza, netmaratonista compulsiva

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Alpinismo Interno


Um típico vagabundo urbano, mas que ainda guardava alguns resquícios de seu passado nobre. Se fossem só os cabelos acinzentados sempre oleosos, ou a mesma calça jeans surrada de todo dia, não passaria de mais um mendigo, mas algo em seu rosto mostrava uma altivez atípica de pessoas do gênero. Não era apenas o trejeito, a fronte sempre erguida, e o olhar incisivo, pois senão ele não passaria de um metido, quase um louco, tendo em vista a sua situação. Era o nariz, ou talvez a boca, ou o conjunto disso tudo. Seus traços eram terrivelmente elegantes, a tal ponto que qualquer um que reparasse sentia-se inquieto no mesmo instante e imaginava se ele era um mendigo fantasiado de rico, ou um rico fantasiado de mendigo. Mera dúvida que em nada o incomodava. Aliás, se já antes não pensava na sua aparência, não o faria agora.

Desde o momento em que deixara sua antiga vida, dispõe-se a esquecer toda e qualquer mania que antes tinha, principalmente a de se preocupar com coisas desnecessárias. Deixou tudo para trás, justamente para alcançar o mais alto grau de iluminação possível, e agora sua vida se resumia a: nada.

E foi esse nada tão mal visto pelos leigos que lhe preencheu o vazio deixado pelo dinheiro. Ele percebeu que, se quisesse pelo menos levar uma vida perto de ser feliz, o poder com certeza não o ajudaria em nada. Não os poderes monetários e políticos, os quais não só já tinha, como já não fazia mais questão de ter, mas o supremo.

O verdadeiro e único poder que pouquíssimos alcançam, e que, quando atingido, garante uma vida plena e feliz, pacata e ao mesmo tempo densa.

Ele queria o poder sobre si mesmo, e sabia que só o conseguiria, se afastado das pessoas que o influenciavam negativamente. Porém, queria manter-se junto ao povo, ao mesmo tempo em que estivesse alheio a ele, e assim, resolveu se transformar em mendigo.

Enquanto outros trancafiavam-se em academias e escritórios, exercendo o dom de correr em círculos e atingir recordes em número de frustrações, ele, aos olhos alheios, perdia seu tempo fazendo nada.

Lutava pelo seu objetivo com veemência, dia após dia. Já não sofria com a miséria, não sentia fome ou sono. Passava horas acordado, mantendo a mesma posição.

E foi assim, estático, inerte, louco, que ele finalmente descobriu a beleza de não só ter o que se quer, mas ter a certeza de que quer o que alcançou e, sereno, sentado na calçada, ele não via mais o mundo dos outros, mas o seu mundo. Seus olhos divinos brilharam ao encontrar a verdade, mas, infelizmente, de tão ocupados com academias e escritórios, recordes e círculos, ninguém notou.


Letícia Mueller

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Hoje, excepcionalmente, está sendo publicado o texto de uma Desaforada X (Mary Palaveri), pois a Desaforada das quintas (Heloísa Garrett) teve um pequeno problema de saúde que a impossibilitou de escrever seu post. O texto da Mary é referente à semana do tema "Animais de Extimação". Melhoras para a Helô, e vamos ao texto da Mary.

Quando Uma Família É Adotada Por Um Cachorro


O comentário era geral, naquela semana só falavam do Obama, se ele seria mesmo o primeiro Presidente negro dos Estados Unidos. Todos os noticiários, e nós aqui no Brasil, pensando em como isso seria bom para nós. Pois bem, naquela semana meu pai nos trouxe um cachorrinho lindo, nós não queríamos, pois fazia menos de três meses que havíamos perdido uma cachorrinha atropelada. Meu pai trouxe mesmo assim, o cachorro chegou no mesmo dia em que o Obama foi eleito. Minha sobrinha então o batizou de Obama, e não é que pegou, ele já atendia pelo nome, era tão pequeno, e lindo.


Ele apareceu em um momento, em que todos precisávamos de um cachorro calmo, e que nos desse carinho. Ele é tão dengoso, tão amoroso, ele te abraça e deita no seu colo, ele te conquista no olhar, pede comida, consegue se divertir com uma tampa de plástico, correndo pelo corredor.
Quando estamos desanimados, ele pede para brincar e nos contagia com sua alegria, veio mesmo para alegrar nossa vida. É criança ainda, faz bagunças, e nos olha com aquele olhinho de quem fez arte, come os sapatos, estraga os tapetes, o sofá, e, falando em sofá, ele fez de um de dois lugares a cama dele - se alguém ali sentar, ele com educação manda sair, provocando a pessoa a fazer carinho nele e a brincar de jogar o ursinho para ele ir pegar. Ele é bem esperto, e ninguém resiste a esse cachorro.


É apaixonado pela minha mãe, deita quando ela vai dormir, e às seis horas já espera por ela na porta, antes mesmo de todos levantarem. Ele chama atenção quando ninguém fala com ele, sente ciúmes do Loro, quer ser o único, e conquistou esse lugar.


Cachorro é tão sensível, sente muito tudo o que queremos, e sabe do que gostamos. O Obama é incrível, se falasse perderia o encanto do olhar, do latir, porque só falta ele falar mesmo, é sentimental, mais que muitas pessoas que já conheci.


Come só um tipo de ração, e tem que colocar no chão, porque, se colocarmos no potinho, ele derruba para comer no chão, porque considera o potinho como seu brinquedo favorito.
Ele gosta de brincar de morder as nossas mãos, pede carinho, atenção, ele merece.
Uma coisa que ele não gosta é de beijo: se beijamos, ele logo morde fraquinho e late grosso, ele gosta é de abraço e cheirinho, aí ele fica todo mimado.


Obama e outros tantos cachorros, marcam nossas vidas e fases, mas o Obama é todo especial, bendita a hora que chegou e nos conquistou, somos felizes com sua vinda. Nasceu na rua, passou fome, e não perdeu o brilho no olhar, e sabe nos fazer felizes. Ele nos encontrou, não foi nós que o encontramos, ele nos escolheu.


Desejo que todos tenham um Obama em suas vidas, esse Obama já é meu, mas sei que outros com essa mesma alegria e sensibilidade estão espalhados por aí.

Mary Palaveri