quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Erguer-se com esperteza, atacar com prudência


Vai dizer que você nunca pensou em como conseguir chegar ao tão idealizado “topo”. De qualquer forma alguma coisa o faz mover-se em direção a algo sonhado, esperado, formatado. Nem importa o que é o mais alto, pode ser uma carreira profissional, a compra de uma casa, o casamento dos sonhos, um vídeo-game de última geração. Mas você quer chegar lá, às vezes sem nem saber onde é “lá”.


Gurus do sucesso pessoal aproveitam-se dessa pequena lascívia humana e lançam a semente que dita os segredos para que o obstinado ser alcance o objetivo maior da sua vida... naquele momento. Sim, porque objetivos mudam, vez que fases mudam, experiências mudam, partes de um todo são dilaceradas em pequenos fragmentos de indecisões que fazem o destino tornar-se cada vez menos provável. Mas, há quem acredite que algumas dicas auxiliem na conquista dessas metas, mormente intangíveis, realmente alcançadas.


Eu não sou guru, não quero ser, mas creio que começar o ano com o pé direito ajuda em muito na definição dele. Do tipo, sente, pense o que deseja ter, ser para este ano e, meu... corra atrás. Nada cai do céu, mas se você jogar uma energia boa... ajuda pacas. Por isso, separei umas idéiaz, com “z” pra dar uma ênfase, e repasso com todos os meus votos de que você, pessoa que ainda não sabe por onde começar, possa mudar o sentido da tua vida. Lá vai:


1. Conheça a si mesmo e o que adora fazer. A menos que pense só nos outros e daí só nascendo de novo mesmo;


2. Não queira fazer tudo. Mudar o mundo é para mártires. Avalie o que se adapta mais ao que te interessa em particular;


3. Suas metas tem que ser compatíveis com seus sonhos e seus sonhos compatíveis com o que está disposto a abdicar por eles... pode crer;


4. Alivie sua fonte de tensão. Mas não nos amigos, na mulher, nas crianças ou no cachorro. Prefira um saco de boxe ou o trabalho mesmo;


5. Se aceite, aceite teus defeitos e exalte tuas qualidades, com humildade que é bom e todo mundo gosta;


6. Assuma que a primeira de todas as pessoas a ter pensamentos mesquinhos é você e, preferencialmente, corrija-se em alguns pontos negativos sobre isso;


7. Mime-se, descanse, relaxe. Pow, faz bem e com a cabeça fria qualquer um resolve muito melhor seus problemas, experiência própria. Ou seja, saiba “meter o pé, quando for necessário e prudente;


8. Mantenha um bom conceito sobre si mesmo. É melhor que ter um mau conceito e descobrir que os outros compartilham disso. Bah, que “looser”, daí né;


9. Pense na comunicação. Se você nunca resolveu problemas na infância está na hora de revelar o que realmente sente. Deixa de ser dominado;


10. Por fim, apesar de ter outras tantas idéias: Tome uma decisão. É melhor tomar uma decisão errada, do que evitar por medinho do futuro. Garantias de 100 por cento não existem, ok?


Enfim, pra começar 2011 na energia, recomendo: Se agilize, sem passar por cima de ninguém, tenha respeito pelas pessoas e respeite-se a si mesmo e seus limites. Mantenha-se calmo, o máximo possível, seja solidário e compre flores de vez em quando. Faz bem.


Feliz Ano Novo!!!

Angelica Carvalho

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010



Réveillon Diferente Todos os Dias




Quero um réveillon novo e diferente todos os dias...

Com um pingo de tristeza em nuvens de alegrias!

Em vez de roupa branca vestirei coloridas...

Porque as cores curarão minhas feridas!



Todos os dias, terei um Réveillon...

A cada segundo surgirá um ano bom!

Soltarei fogos de artifício a cada anoitecer...

Na hora da meditação profunda do meu ser!



Com as minhas lágrimas farei champanhas...

Para brindar ao que aprendi a cada dia!

Com meus braços escalarei montanhas...

Para encontrar a fé com harmonia!



Num oceano de dificuldades...

Pularei sete ondas no mar!

Nas espumas das caridades...

Poderei de tudo superar!



Quero um réveillon novo e diferente todos os dias...

Com um pingo de tristeza em nuvens de alegrias.





Luciana do Rocio Mallon


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Maioridade




Lembro-me das primeiras coisas que ganhei na infância, uma delas, um par de patins roxo e preto. Vivi minhas primeiras aventuras com eles. Depois, sonhei com as primeiras sandálias da Xuxa, aqueles tênis que brilham no escuro e por ai vai. Mas o que nós, mulheres, jamais vamos esquecer é do nosso primeiro par de sapatos. Não importa se foram botas ou sapatos finos. O que realmente importa é que eles foram também um dos sinais mais significativos para a nossa entrada na juventude, pois com eles fomos e ficamos mais poderosas, mais bonitas e mais adolescentes do que nunca. E assim, mais e mais pares vinham, todos com seus significados e histórias por onde pisaram.

Assim como meus sapatos, já sonhei com muitas coisas em minha vida que, de alguma forma, marcariam as mudanças que aconteciam nela. Sonhei com a carteira de motorista, pois ela é também um dos principais marcos para a entrada da maioridade. Sonhei com a faculdade, com as festas na casa dos colegas, sonhei com os meninos da faculdade, tudo isso marcando o início da minha autonomia e de que eu “já era grande” quando na verdade sempre estamos crescendo.
Sonhei com o primeiro namorado, com a primeira viagem, com o primeiro “Eu Te Amo”.Tudo isso como prova que eu também já estava “apta” para amar e ser amada, quando isso na verdade pode demorar anos e anos para acontecer de verdade.


Nesses vinte e um anos, vivi muitas coisas boas e ruins e muitas das quais sonhei, ainda não tive a oportunidade de viver. Ao mesmo tempo em que virei uma profissional, ao menos ganhei o primeiro molho de chaves para entrar em casa quando chegar tarde. Muitas coisas se passarão e sempre irei criar meus próprios símbolos que marcarão todas as fases e etapas conquistadas em minha vida.

Enquanto isso espero o molho de chaves e um par novos de sapato: as chaves que me permitiram abrir muitas portas na vida e os sapatos, dessa vez mais altos, para enxergar o mundo como um todo.




Bianca Nascimento

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Semana de Tema Livre


Desejos de Ano Novo



Amor
Bondade
Carinho
Determinação
Esperança

Gratidão
Honestidade
Inspiração
Justiça
Know how
Lealdade
Mansidão
Nobreza
Otimismo
Perdão
Querer bem
Riso
Solidariedade
Ternura
União
Virtude
Wonderland
Xodó
Ying Yang
Zelo


Fernanda Bugai com ajuda de Jennifer Manfrin

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O início de todas as coisas




O lugar estava entulhado de coisas. Pessoas se moviam de um lado para outro em um ritmo frenético, apressadas com os ponteiros do enorme relógio de quase dois metros de altura. As estantes estavam cheias e no chão, era impossível andar sem pisar em algo. Vozes ordenavam para outras vozes, que nada ouviam a não ser os seus próprios pensamentos, que em uníssono, gritavam:
- Corram porque o tempo está acabando!
Ninguém conseguia ajudar ninguém, tanto era o trabalho a se fazer. Se algo se perdia no assoalho, o certo deveria ser esquecê-lo e partir para outra ação, mas isso era impossível. Tudo deveria ser feito com minucioso cuidado. Nada poderia ser deixado para trás.
Era assim à décadas, milênios. Desde que a sociedade se entende por gente.
O galpão parecia um ninho de formigas elétricas, angustiadas e ansiosas. Nem um ponto sequer ficava imóvel. Se os cadarços desamarravam, que assim os deixassem. Se o nariz escorria, que escorresse em paz. Se a fome fazia arder o estômago, que agüentasse por mais alguns minutos. Não havia mais nada a se fazer, a não ser correr, e deixar tudo preparado.
Só havia tempo para desviar os olhos para os relógios, que naquele dia, lutava contra todos ali presentes. Estava rápido demais. Parecia haver algo de errado. Mas todo ano era assim. Só restava-lhes correr ainda mais.
O tempo era curto, cada vez mais curto.
Sem pedir licença, e sem nenhum constrangimento, o relógio bate meia-noite.
O silêncio reina. Todos voltam-se para ele, constatando se os seus olhos confirmavam a informação.
Sim, já era meia-noite.
O chefe aparece à porta, de braços cruzados. Tem pouquíssimo tempo para examinar se está tudo ok.
Sim, está. Sempre está.
Abrem-se as portas do enorme galpão. Lá fora, um céu aberto repleto de estrelas, e mais nada. Um vento forte invade o lugar. Sinal de dever cumprido. Os trabalhadores respiram aliviados.
Com uma palavra mágica, ainda desconhecida, Papai-Noel chama suas renas, e com alguns ajudantes e seu trenó, sai céu a fora. Feliz, pois o mundo que servia ainda não havia acabado.
Começava o Natal.


Letícia Mueller

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Acredite




- Ab, Ben, Ruach Acadsch... Pronto crianças. Agora podem dormir sossegadas. Nenhum monstro sairá debaixo da cama.
- Mamãe, tem certeza. Eu tô com medo.
- Calma Nina. Não precisa ter medo de nada.
- Como sabe, mamãe? Como sabe que o monstro não vai vir nos meus sonhos de novo esta noite?
- Porque as palavras que acabamos de recitar são mágicas, querida.
- Mágicas? Como assim? Elas podem me dar um jogo novo?
- Rss, hoje não Biel. Mas quem sabe um dia, se você as disser com muita fé.
- Nossa, mamãe. E como sabe disso?
- Eu sei porque sempre que eu estou com alguma coisa pra ser resolvida penso muito no que quero e termino dizendo essas palavras.
- Ah, mãe, eu não acredito nisso.
- Pois deveria acreditar, Biel. Sabe o que essas palavras significam?
- Não.
- Significam “eu criarei aquilo que falo”. Então seu significado se torna, de certa forma mágico e poderá realizar seu desejo mais profundo. Só que para isso, é preciso acreditar. Acreditar muito e sempre que necessário deve lembrar dessas palavras para que se tornem verdadeiras e reais.
- E como vamos saber que deu certo?
- Amanhã você vai me contar. Eu tenho certeza que não virão sonhos ruins pra você. Não nesta noite, mas você precisa dessa certeza. E para isso, deve fazer o que seu coração desejar.
- Então, vamos falar de novo, mamãe. Vamos?
- Claro, Nina. Vamos falar em nossa língua agora?
- Sim.
- Pai, Filho e Espírito Santo... Amém.

FELIZ NATAL !!!



Angélica Carvalho

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010


Simpatia para uma vida toda






Todos nós passamos por situações difíceis e complicadas em nossas vidas, e a forma como as enfrentamos varia muito de pessoa para pessoa. Há algum tempo, eu me deparei com uma pessoa que não acreditava mais na vida. Nada para ela tinha mais significância, simplesmente nem a mais bela flor tinha beleza para ela, pois a considerava somente uma planta bonita, que nasce, cresce mas morre assim como todos nós. Não acreditava sequer na sua própria beleza, tanto externa como interna. Já não emitia mais o som de sua doce voz com ninguém, já não conseguia caminhar de forma alinhada. Eu pensava no que fazer: pensei em convocar os espíritos a seu favor, fazer alguma simpatia, levá-la em algum templo, mas de alguma forma, sentia que nada a despertaria de volta ao mundo, se já nem os remédios e terapias faziam isso.
Certa vez, ela resolveu abrir seu lábios e entoar algumas palavras. Contou tudo o que sentia, e eu ouvia com tristeza por ouvir coisas tão tristes e sem saída, até então. Lembro-me que fui a única pessoa no mundo com quem ela fez questão de se abrir. E o que dizer nessa hora?Lembro-me até hoje das duas palavras mágicas: “Tenha fé”. E assim ela fez, faz e até hoje utiliza esse ritual, essa prece, esse mantra, essa terapia da fé em sua vida.



Bianca Nascimento

terça-feira, 21 de dezembro de 2010


Abracadrabra e a Cigana Brunette



No século dezoito, havia um lindo acampamento cigano que rodava o mundo inteiro. Neste clã havia uma cigana chamada Brunette, que tinha a pele morena escura e cabelos negros muito lisos. Um certo dia, esta caravana desembarcou numa vila do Brasil e fizeram seu desfile de apresentação pelas ruas do local. Então Paulo, o filho de Dinorah que era uma mulher com fama de benzedeira e que carregava a lenda de esconder uma cabra milagrosa em casa, colocou os olhos em Brunette e se apaixonou por ela.

Naquela mesma noite os ciganos armaram a tenda do circo e se apresentaram. Depois do espetáculo Paulo aproximou-se de sua amada cigana, fez uma declaração de amor e começaram a namorar às escondidas.

Alguns dias depois Brunette começou a sentir enjôos e o seu pai, o cigano Bruno, levou a garota para o Kaku, uma espécie de mago do clã, examina-la. Deste jeito descobriram que a jovem estava grávida de um homem não cigano e seu pai disse:

- Como castigo você será expulsa do acampamento e será vendida como escrava no mercado. Afinal, com a sua pele muito morena você poderá fazer o papel de mucama muito bem. Para isto colocaremos um turbante na sua cabeça com a finalidade esconder os seus cabelos lisos.

Assim este homem vestiu sua filha de escrava e foi vende-la ao grande mercado da região. Naquele dia, Paulo se dirigiu ao mesmo lugar para comprar especiarias e se espantou ao ver a sua amada a venda. Deste jeito ele aproximou-se e perguntou:

- O que está acontecendo, Brunette?

Como um raio, o pai da jovem interrompeu:

- Estou vendendo esta escrava e ela está proibida de dar um “piu” aqui neste local.

Paulo pensou em comprar a garota para casar com ela depois. Mas percebeu que não teria dinheiro suficiente para isto. Então ele foi até a sua casa, explicou a situação e pediu ajuda financeira a sua mãe, que comentou:

- Não tenho dinheiro suficiente para comprar esta suposta escrava. Porém posso trocar a jovem pelo meu bem mais precioso: a cabra Abacadabra!

Desta maneira o rapaz falou:

- Mas este animal mágico é o seu bem mais precioso!

- Acho melhor eu arranjar outra maneira de libertar a minha amada.

Mesmo assim a “curandeira” foi até o mercado e tentou fazer a troca:

- Meu senhor, gostaria de trocar esta escrava por esta linda cabra mágica?

O cigano olhou o animal de cima abaixo e disse:

- O bicho parece muito saudável e forte.

- Esta cabra dá muito leite?

- Qual é o nome dela?

A senhora respondeu:

- Ela oferece litros de leite por dia e este líquido é capaz de curar muitas doenças.

- O nome dela é Abracadabra. Se um dia o senhor estiver em apuros basta gritar o nome desta cabra e uma mágica acontecerá. Afinal, o nome dela é um talismã usado por muitos místicos, que significa: “não me firas”.

Desta maneira Bruno exclamou:

- Aceito a troca!

Então eles fizeram o escambo e Paulo marcou seu casamento com Brunette.

Naquele mesmo dia, os ciganos desmancharam suas tendas e partiram com suas carroças para a estrada. Porém no meio da viagem eles foram surpreendidos por bandidos que tentaram lhe tomar tudo. No meio da confusão, Bruno olhou para a cabra e exclamou:

- Abracadabra, salve a gente agora!

De repente este animal se multiplicou em mil e os vários bichos que saíram de dentro da cabra começaram a atacar os bandidos com seus chifres mortais. Assim Abracadabra salvou a caravana de ciganos.



Luciana do Rocio Mallon

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Tema da Semana: Abracadabra


Sincrético










Valquíria era uma velha e sabia sacerdotisa, sempre cultuou a mãe natureza e tudo que ela pode nos oferecer. Apesar de velha e cansada ainda acreditava no homem, acreditava no bem humano e na possibilidade de um mundo justo e sereno, onde todos pudessem ser livres e felizes.
Valquíria mantinha acesa a chama da esperança, mesmo sabendo que era tão somente seu coração que a matinha, quando se deparava com o mundo real, além daquela redoma natural, onde homens matam uns aos outros e sacrificam os animais por vaidade, sabia Valquíria que essa vaidade também era secular, tal como sua crença e suas origens. A deusa mãe sempre foi respeitada, cultuada e amada, os solstícios marcavam grandes eras, um tempo de fé, de paz, de amor e de alegria, a cultura, a fé, a religião, o trabalho e o lazer nunca foram pré-estipulados, mas entrelaçados dando um, vida ao outro, mesmo assim a evolução humana não trilhou por este caminho, o ódio, a inveja, cobiça, vaidade, a intensidade do mal fizeram crescer, sempre e muito, de uma maneira extraordinária que atravessou séculos de construção da sabedoria, do amor e da união.
Foi necessário unificar, agora trabalho, religião e lazer tem seus horários exatos e determinados, tudo foi sincretizado, a Deusa Mãe por vezes deu lugar ao Deus ouro, ao Deus Poder ao deus dinheiro, os solstícios são luzes de lamparinas que se acendem em lojinhas mercantis por todos os cantos, as culturas, essas já não são tão evidentes, não se sabe se o povo tem ou não tradição de onde vem, quiçá para onde vai, sincretizou-se, mistificou-se, unificou-se, mercantilizou-se e surgiu o natal, de um lado a grandiosa e não sem honra tentativa de unir todos num povo só, uma só crença um só amor uma só adoração, por outro, no entanto que tomou suas proporções meteóricas a tentativa de demonstrar o poder, de compra, de mando, de auto-afirmação.
As crenças antigas foram deixadas de lado, dando lugar à fábulas urbanas e comerciais, o mundo se prepara e é dada a largada para a temporada do Natal, o solstício? Ah, o solstício ficou para a geografia, para a física ou para os místicos doidões, o importante é aquele senhor, velhinho, gordinho, vestido de vermelho que estimula a compulsão, São Nicolau? Bem, esse fica para a história, para a literatura ou qualquer outro fanático.
Vendo tudo isso, Valquíria preferiu manter-se na sua redoma, mantendo suas tradições, talvez únicas, dando seguimento ao seu povo e a sua história, acreditou no sincretismo, acreditou na unificação, acreditou na possibilidade de mudança do homem. Aceitou o menino na manjedoura, porque acreditou, que uma família, uma vaca, um burrico, algumas ovelhas, três magos e uma estrela, são a mais bela história de um nascimento que se pode ter, aceito e abençoado pela Deusa Mãe a fim de salvar a humanidade, a fim de fazer nascer a luz, a serenidade, a humildade, a paz, manter acesa a chama do amor, a esperança da vitória do bem e divino, e assim renascer a todo solstício, nos 25 de dezembro de cada ano, ao longo de todos os séculos como num gesto de abracadabra.



Fernanda Bugai

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Auto-controle Presenteável



Meiri odiava amigos secretos e parece que quanto mais fugia deles, mais eles surgiam.
Era amigo secreto na páscoa, no natal, no carnaval, nas férias de julho, no ano novo, no dia da árvore...ufa.
O pior é que ainda não aprendeu a negar sua participação na brincadeira. Uma vez até tentou, e conseguiu, ficou de fora do sorteio e não presenteou e nem recebeu nada de ninguém. Um alívio. Mas depois que todos revelaram quem pegou quem, ela foi tão excluída e debochada por não ter participado que decidiu que aquele era um fardo que teria de carregar para o resto da vida.
O que a incomodava no inevitável amigo secreto não era o fato de ter que dar presentes a quem não conhecia ou não gostava, e nem timidez ou a preguiça por ter de pensar em como revelar quem sorteou. Nisso ela até que se saía muito bem. Aliás, era uma das melhores e sempre extraía boas risadas dos colegas. E sobre pegar alguém que não gostasse, isso não se aplicava a ela, pois em toda sua vida, nunca deixou de simpatizar com alguém.
Também não a perturbava a escolha do presente. Ela tinha seus métodos e buscava conhecer ainda mais seu amigo para dar-lhe o objeto perfeito, fosse ele um livro, uma peça decorativa ou uma roupa. Examinava por dias e dias o seu sorteado até ter certeza de que o escolhido seria um dos ganhos mais inesquecíveis da vida do felizardo.
No âmago de Meiri, o que realmente a deixava aflita e acabava com a brincadeira que até aquele momento não lhe era tão angustiante, vinha depois da sua revelação.
Ela passava semanas pensando, estudando e analisando os desejos de seu amigo até ter absoluta convicção de que o que planejava dar faria um imenso sucesso.
Porém, ao olhar a expressão no rosto do seu amigo secreto após dar o que lhe foi delegado, Meiri murchava como uma criança que vira o sorvete cair no chão. Nunca um sorriso, um brilho nos olhos, um abraço ou um obrigado foram capazes de convencê-la de que o presente fora perfeito e muito adorado.
Ela simplesmente não conseguia enxergar alegria, admiração ou surpresa nos seus amigos presentados.
E isso doía-lhe tanto, que ela passava horas chorando amargurada, se sentindo culpada por ter dado algo inútil. E isso só acontecia nos amigos secretos.
Com o tempo aprendeu a lidar com a situação, e sempre que ia dar sua lembrança no momento da revelação, fechava os olhos, virava o rosto ou fixava o olhar em outra direção para não notar o semblante do seu amigo secreto. Mas até aquele momento, nunca deixou de escolher minuciosamente o que dar.
Uma certa vez, porém, cansada do desgaste emocional e psicológico que a brincadeira lhe causava, ela mudou sua tática e escolheu um presente aos léus. Nem mesmo viu quem havia pego, e foi na loja mais próxima escolher um presente “unisex”.
No momento da revelação, ela olhou rapidamente para o papel em suas mãos, descobriu quem era o seu amigo oculto, e suando frio, mas ainda sim curiosa por ver a sua reação, ela tomou coragem para ver rosto do colega Gilberto ao receber o embrulho vermelho de fitas douradas.
Gilberto abriu o pacote, e ao ver uma simples caixinha enfeitada com pérolas e inteira trabalhada em bronze, não conseguiu conter sua emoção e rapidamente, deu um abraço apertado e carinhoso em Meiri. A pequena caixa era idêntica a que a sua falecida mãe usava para guardar pequenas bijuterias, e que se perdera nas poeiras do esquecimento.
Ela, sem reação, retribuiu automaticamente ao abraço. Sem carinho, sem afeto, maquinalmente.
E, tirando o fardo do seu caminho, desistiu dos amigos secretos, limitando-se aos conhecidos, previsíveis e enfadonhos amigos conhecidos.



Letícia Mueller

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mulher Insatisfeita




Uma mulher insatisfeita...

Busca a alma perfeita...

Mas, ás vezes exige demais...

Até da inocente paz!



Quando está frio...

Sente arrepio...

E reza pedindo um lindo Sol...

Quando acelera no farol!



Quando faz um Sol bonito...

Seu coração fica aflito...

E reclama do calor...

Espalhando horror!



Quando faz uma tempestade...

Ela sente medo de verdade!

Quando vem a secura...

Ela chora de amargura!



Uma mulher insatisfeita...

A si mesma rejeita...

Por isto, nunca será a princesa eleita.



Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 14 de dezembro de 2010



5 Sentidos




Não digo isso por maldade nem nada, mas tenho que falar: o ser humano realmente não sabe viver!E quando digo viver, é no sentido sexual da coisa. Muita gente, homens e mulheres, acabam criando numa relação sexual uma espécie de perfeição a ser cumprida, com começo, meio e fim como os filmes hollywoodianos melosos e sem uma puta graça ou um pingo de realidade. Sim, tem gente que cria o “sexo” perfeito e pensa que atingi-lo é o correto e que isso o trará prazer, quando na verdade, esse final sexual feliz onde os dois têm orgasmos múltiplos e são felizes para sempre é tão entediante como o jogo do Brasil na Copa, onde todos esperam que vá ganhar e no final, diante de todas as expectativas, eles brocham. É assim com a gente também.


O relacionamento bom é aquele imprevisível ou mesmo que planejado nos mínimos detalhes, ainda assim surpreendente. O que acontece é que não devemos nos esquecer de algo que comumente não existe em muitas relações amorosas e por conseqüência sexuais: usar os nossos cinco sentidos. Se não fosse para usar o ouvido, a gente nem precisava ter, não ? Nós, mesmo que humanos, ainda assim somos animais e temos instintos sexuais. Assim como o galo empina seu peito e canta para a galinha, assim como os leões rugem mais alto, os pássaros dançam exibidos e os lobos cheiram de longe o prazer de suas fêmeas nós, animais, queremos ouvir, sentir, cheirar e degustar o prazer.


Às vezes os casais nem sabem, mas pequenos detalhes dos cinco sentidos fazem a diferença: uma respiração mais ofegante e discreta ou gritos de loucura, um olhar mais provocante desde o restaurante até chegar em casa, uma apalpada generosa ou uma acariciada gostosa naquele lugar sem seu parceiro menos esperar, um gosto mais doce ou mais forte como o licor nos lábios ou mesmo um cheiro gostoso no cangote fazem toda a diferença antes, durante e depois da relação ou do relacionamento em si. Todos eles fazem parte. Não adianta ser uma baita de uma mulher ou um homem cheiroso, mas que não tem a pegada. Ou sempre ter um gostinho de menta na boca, mas não saber dar aquela olhada. Ou pior, fixar tanto o olhar, mas não ter coragem de tocar no outro. Para sentir amor, tesão, paixão e emoção é preciso misturar de tudo um pouco, desinibir-se e acreditar que somos animais, cheios de instintos que precisam ser colocados de uma vez por todas à flor da pele!


Bianca Nascimento

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Semana de Tema Livre


Longa espera



O medo de Jéssica sempre foi a solidão, desde criança teve medo de ficar sozinha no quarto, em casa, dentro do carro. Jéssica sempre foi uma garota meiga e carismática, talvez esse medo de se sentir sozinha a fizesse gentil, afinal, pessoas se deixam conquistar pela gentileza.
Sempre buscou agradar aos pais, tios, avós e amigos, muito prestativa, ótimas notas, vários cursos, sempre solícita e solicitada. Ocorreu um tempo em que os amigos aprontaram todas, conheceram o suposto lado bom da vida, enquanto Jéssica estava lá, fazendo a maionese de domingo, assistindo um filminho com a mãe no sábado de noite, cursinhos pré-vestibular durante a semana e festinhas no feriado não eram sua melhor dobradinha, preferiu as Ongs, preferiu os projetos sociais.
Jéssica lutou pela vida, em suas infinitas facetas, lutou desde cedo e sempre, em projetos sociais, formou-se assistente social, teve sorte na vida, pode patrocinar causas próprias, pela vida animal, pela vida vegetal, pela vida humana, seja qual fosse, era a vida que brilhava aos olhos de Jéssica. Essa insegurança reprimida, esse medo da solidão a fizeram querer bem a vida acima de tudo, na sua opinião, uma pessoa que se mantém vida e não deixa a chama da esperança de apagar, é sempre uma boa companhia. Os anos foram passando, sua juventude foi se perdendo e Jéssica sempre muito querida e gentil por todos que tiveram oportunidade de passar por seu caminho, na luta pela vida Jéssica esqueceu da própria, não se casou, não teve filhos, chegou um momento que a luta pela vida dos pais perdeu por w.o, tem coisas que por mais que queiramos são inalcançáveis, a longevidade eterna é um exemplo.
Tudo bem, Jéssica sabia que nem seus pais, nem ninguém viveriam para sempre, um pedaço do seu coração se foi com eles, mas não se sentia tão sozinha, entre asilos, orfanatos, abrigos e recantos, Jéssica passava todo seu tempo e todos seus dias o amor, a fé e a caridade foram objetivo de sua vida, e quantas vidas Jéssica salvou, foram tantas crianças tiradas das ruas, foram tantas árvores mantidas em pé, tantos animais protegidos e cuidados, na sua velhice Jéssica já havia perdido as contas, de quantas pessoas passaram por sua vida, não se orgulhava, tão pouco ostentava seus méritos e realizações, apenas manteve ao longo de sua vida a sensação de missão cumprida, de espírito puro e tranqüilo. Jamais dormiu coma luz pagada, jamais passou uma noite sozinha, deixou esta vida no dia da comemoração da casa de abrigados que levara seu nome, em meio à festa e a gratidão de muitas pessoas, deixou ainda ensinamentos de humildade e compaixão, não em palavras, mas em atitudes, e é isso que devemos aprender hoje e levar para nossas vidas.
Bate o sino do recreio, a professora de literatura fecha seu livro de contos, o silencio é quebrado pela ávida espera do intervalo, quando no corredor os comentários dentre todos os alunos da oitava série era o exame de matemática no dia seguinte.




Fernanda Bugai

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Precisamos de um Milagre




Tinha alguma coisa esquisita se passando lá no céu.
Todos estavam parados olhando. Era intervalo, e marmanjos e criançinhas se misturavam no enorme pátio do colégio religioso. Cada um, com seu pescoçinho erguido, olhando para as nuvens e tentando decifrar o que acontecia no alto de suas cabeças.
Freiras, professores e professoras, coordenadoras, a tia da cantina, a mocinha da limpeza, o inspetor, o segurança... não tinha um que não mantivesse seus olhos colados no firmamento azul e branco que os cobria.
O que acontecia lá no alto? Ninguém saberia dizer e nem ousava tentar.
Limitavam-se a deixar a boca aberta, o queixo caído e os olhos arregalados, como se aquilo já bastasse como explicação. Não havia o que falar.
O certo seria que todos tivessem saído em disparada no momento em que tudo começou. Afinal, o barulho que se sucedeu à explosão deixaria qualquer pessoa normal com os pelos arrepiados e o coração em disparada, tamanho o desespero.
Mas então, porque aquela calma?
Mesmo depois de um susto em que alguns até chegaram a desmaiar, o povo mantinha-se atento as movimentações aéreas.
A coisa estava realmente esquisita. Do céu azul com nuvens que estamos habituados a ver, restava apenas alguns restolhos. Tudo estava se transformando em um cenário tão absurdo e surreal que talvez não fosse possível nem em filme.
Os espectadores assistiam a tudo de uma maneira um tanto inusitada. Em silêncio absoluto, eles mal se olhavam para checar a opinião do outro e averiguar se alguém ali estava com medo. Geralmente é assim que as pessoas entram em pânico, vendo as outras amedrontadas.
Ouvia-se uns ruídos, mas eles também vinham do céu, assim como qualquer movimentação visível. As coisas estavam tão diferentes que parecia que até aquelas pessoas, ali paradas olhando os acontecimentos, mudavam de alguma maneira.
A cada nova nuance adquirida pelo firmamento, um novo sentimento reinava nos corações dos espectadores, fossem eles idosos como a diretora do colégio, ou imaturos como as criançinhas do pré.
Depois da explosão, a atmosfera ficou negra a ponto de não se conseguir enxergar um palmo à frente do nariz. Ninguém se moveu.
Quando aos poucos as luzes foram novamente aparecendo, o céu, de início azul com poucas nuvens, foi tomado por uma revoada que em um ritmo lento, alterava as cores daquele imenso firmamento.
Um som baixo, quase inaudível, vinha lá do alto. Um zum zum zum tão discreto, que a menor das distrações passaria despercebido.
Ninguém ali procurava entender ou buscar explicações, tão forte a admiração e o encantamento pelo que estava acontecendo. Era como um ato de respeito calar o pensamento, e apenas observar.
Passaram-se várias horas e todos permaneciam ali, calados e estáticos, movendo apenas as pálpebras dos olhos e as narinas. Não havia o menor sinal de cansaço. A senhora com problema de coluna parecia ter esquecido sua doença, e a menina com a perna engessada exibia uma força descomunal. O pátio estava cada vez mais apinhado de gente.
Os pais, avós, irmãos, amigos e responsáveis que foram buscar os seus filhos no colégio surpreenderam-se todos de imediato diante do céu alterado, e como que hipnotizados, juntaram-se ao resto do pessoal e ergueram seus pescoços até onde a natureza permitisse.
Cada vez mais, o céu exibia o que parecia ser um quadro experimental de um artista nervoso, e ao mesmo tempo feliz. Era como se as cores tivessem sido colocadas por um pincel com vida própria, frenético e ansioso, nas mãos de um pintor harmonioso e contente. Um combate entre a arte e o artista, em que ao invés de lutarem um contra o outro, agregavam-se e produziam beleza.
Fora do colégio, já era noite, quase 22h00. Lá dentro, os relógios obedeceram o tempo, e deixaram de funcionar. Mas não fez diferença. Ali, ninguém pensava em horas ou seria capaz de mover seus olhos para outra direção que não fosse o céu.
Quando foi chegando perto da meia-noite, o som que vinha lá do alto foi aumentado lentamente.
Pequenos pontos de luz foram aparecendo em diversos locais do céu, e aos poucos, foi se tornando visível o que afinal estava fazendo com que tudo aquilo estivesse acontecendo.
A música, cada vez mais alta, emocionava a todos. Sinos e instrumentos de cordas harmonizavam com o movimento feito pelas luzes que se acendiam cadenciadamente, como se o maestro do espetáculo fosse uma brisa suave.
Os espectadores, pela primeira vez em horas, começavam a se excitar. A curiosidade fazia o sangue das veias agitar-se e os corações estavam prestes a explodir de ansiedade.
A canção tornou-se reconhecível. Era uma bela melodia natalina, universal, linda. Até o mais dos insensíveis e desumanos se emocionavam com ela.
As crianças buscavam as mãos dos seus pais em meio à multidão. Aquele era um momento para ser compartilhado em família, com seus eternos. Algo inacreditável estava para acontecer, e todos sabiam disso.
A platéia antes estática e calma se movia com impaciência, buscando todos ficarem próximos das pessoas amadas.
A música tocava cada vez mais alto, e por mais que os sons de sinos e violinos fossem incrivelmente reais, a única coisa que se via ao olhar para o céu eram os pontos de luzes e as cores suaves que o enfeitavam.
De repente, os sinos pareceram se agitar e os violinos calaram-se. As luzes do céu se apagaram, e o céu voltou a ficar negro. O badalar era estonteante e soava como se anunciasse a chegada de algo de outro mundo.
Os filhos apertavam as mãos de seus pais, e os pais, apertavam ainda mais as mãos dos seus filhos. Todos os olhares continuavam voltados para o céu.
Até que tudo ficou mudo. Um silêncio arrebatador percorreu o pátio, aumentando ainda mais as expectativas.
Foi então que, subitamente, quando todas as luzes do céu se acenderam, surgiu na imensidão uma das figuras mais populares dos sonhos infantis.
Medindo quase dois metros de altura - e uma barriga tão grande quanto ele próprio - trajando roupas felpudas de um vermelho vivo com as mangas em um branco alvo, um gorro caindo ao lado da cabeça e uma barba branca brilhosa e milenar, o famoso Papai Noel apareceu.
Com seu trenó inteiro enfeitado, e as nove renas – incluindo a do nariz vermelho – o bom velhinho gargalhava ao ver a expressão de espanto de todos. Depois de mostrar seu belo talento em guiar um trenó levado por renas encantadas, ele estacionou seu veículo na imensidão, e com um pulo, saltou para fora, parando bem no meio do pátio do colégio.
Com as mãos sobre a cintura e o peito estufado, Papai Noel mirou cada um dos presentes, exibindo uma expressão de alegria por poder estar ali, pela primeira vez.
As crianças mais novas batiam palmas entusiasmadas, já pensando que presente pedir; os adultos se olhavam entre si, como se hesitassem em acreditar no que seus olhos mostravam; as crianças um pouco mais velhas cutucavam seus irmãos e tiravam sarro, lembrando de quando lhes fora dito que Papai Noel não existia.
Porém, todos em uníssono, compartilhavam do mesmo sentimento de encantamento e magia por estarem próximos a uma figura tão respeitosa, querida e polêmica: o Papai Noel.
O senhor de barbas brancas e roupa vermelha ficou parado assim por algum tempo, apenas observando os que ali estavam presentes, sem falar uma palavra.
Uma menininha Julia explicou para o irmão que o Papai Noel não sabia falar português porque vinha do Pólo Norte.
- Então como ele entende as nossas cartas?
- Os anõezinhos que traduzem para ele seu derdis.
- Mas então porque ele não trouxe um tradutor para falar com a gente?
A menininha calou-se, sem resposta.
Quase todos os adultos esperavam por uma espécie de sermão do bom velhinho, algo criticando o capitalismo e relembrando o espírito natalino. Alguns achavam que ele falaria sobre aquele papo de nunca deixar de ser criança e acreditar em contos de fadas.
Pensando nisso, um jovem estudante confessou pra seu colega:
- Cara, Papai Noel eu meio que sempre acreditei. Mas que ele não me peça pra acreditar em fada dos dentes. É bichisse demais, e outra, não faz sentido nenhum.
- E um velho barbudo e pançudo viajar pelo céu com 9 gazelas faz sentido?
Silêncio.
Uma senhora, também admirada com a aparição, lembrou-se de um ocorrido na sua infância, quando ainda menininha, ela discutia com dois meninos da escola que não acreditavam mais em Papai Noel.
- Ele existe sim! Eu sei, eu já vi!
- Para de ser mentirosa, todo mundo sabe que quem dá presente pra gente é o pai e a mãe.
- Não é seu burro! Eu vou provar!
Ela chamou os dois amiguinhos para irem dormir na sua casa, e juntos, eles ficaram escondidos em baixo da mesa, bem em frente à lareira, esperando o velhinho aparecer.
Lembrando do quanto rezou para o papai do céu fazer o Papai Noel aparecer, e de que foi tudo em vão, a senhora decidiu que, assim que o velho de vermelho começasse a dar o seu discurso, ela tiraria satisfações com ele. Porque afinal, ele não aparecera 50 anos antes?
Algumas famílias se abraçavam emocionadas, olhando bem para aquele homem e pedindo em mente que ele os abençoasse.
Quando, enfim, a expectativa era muito e todos esperavam pelo discurso do Papai Noel, ele respirou fundo, acenou para uma criança, deu um pulo e subiu em seu trenó.
Os sinos foram aos poucos ficando mudos e as luzes que formavam praticamente uma constelação no céu se apagavam lentamente. Sobre o olhar indignado de muitos, triste de outros tantos, e de encantamento da minoria, o Papai Noel foi embora sem dizer uma palavra.
A magia se desfalecera, e o público foi indo embora como se tudo não tivesse passado de uma peça de teatro. Só faltavam pedir o dinheiro de volta.
- Que absurdo esse homem! Que falta de educação! Só porque eu queria dar uma palavrinha com ele.
-É sempre assim né. Esses caras da alta nunca dão atenção para gente como nós.
- Exatamente. Isso que eu só ia pedir pra ele dar um toque no meu chefe pra ele dar uma aumentadinha no meu salário.
A senhorinha agarrou a mão da neta e saiu resmungando:
- Velho desgraçado, na próxima eu te pego seu miserável.
Perto ao portão de saída, outro pai olhou para sua mulher, e ainda meio desnorteado, falou:
- A gente tá é precisando de um milagre. Só desgraça, meu deus do céu.
Enquanto isso, ainda encantados e com os olhos marejados em lágrima pela emoção, a pequena Julia, de mãos dadas com a mãe e o irmão, olhou para ele e disse:
- Mano, acho que Papai Noel sabia falar português sim.
-É, também acho.
E deixaram o pátio, não sem antes acenar para o céu com um sorriso inocente nos lábios.


Leticia Mueller

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010


Fora de Órbita



Oi, meu nome é Ana, tenho 17 anos e vou contar a história de um infeliz da minha escola. O Clécio. Clécio é um cara idiota. Idiota mesmo, do tipo tapadão, daqueles que não tem boca pra nada, é mandado pela mãe e freqüentemente puxa assuntos sobre o tempo. De aparência meio exótica poucos atrativos físicos, cheio de manias e que só não era virgem porque passava as noites da semana decorando cantadas pra chegar nas meninas. Um dia, por pena, uma delas resolveu fazer uma caridade. Enfim, um verdadeiro paspalho.
Filho de pais quadrados, tinha uma família devota da Igreja. Estudou em bons colégios, freqüentou aulas de línguas, música e jogou no time de críquete do clube. Até os 13 anos era até que bonito, chamava a atenção pelos olhos cor de jaboticaba, pele branca e jeito tímido. Se concentrava mais nos estudos, gostava de ajudar as pessoas mas não era muito sociável. Na verdade dava a impressão que faltava coordenação pra falar e respirar ao mesmo tempo. Tinha uma paixão: as estrelas. Passava horas olhando pro céu e contando pontos luminosos, estudando a posição dos planetas e tentando descobrir um jeito de ir pra Marte. Não seria má idéia, ele era quase um ET mesmo de tão idiota.
Um dia avistou Marina, uma daquelas meninas que anda com sainha de prega, meia até o joelho, duas maria-chiquinhas e geralmente está com um pirulito enorme nas mãos. Sim, ela existia. Cada olhar seu era como se o tempo andasse lentamente, seu sorriso era como o nascer do sol, seu andar como uma marola carregando a areia para a praia e essa descrição dele sobre ela sempre me dá enjôo. Clécio babava por ela e como tocava violão, não tardou para que a moça, que gostava de música, também percebesse seus talentos.
Em uma tarde, logo após a aula de Filosofia, Clécio estava sentado debaixo de uma árvore, lendo revista (devia ser de mulher pelada), quando deu de cara com as pernas da Marina. Lentamente olhou pra cima com cara de bobo mesmo (essa foi a primeira de uma série) e disse meio gaguejando: “Oi”. A doce, sedutora e insuportável Marina ajoelhou-se lambendo seu grande pirulito e respondeu: “Oi Clécio. O que acha de sair comigo essa noite pra ver as estrelas?” Lógico que o paspalho aceitou, na hora, até parou de babar pra perguntar que horas poderia pega-la. Foram até o observatório local e passaram duas horas falando de estrelas, universo, planetas e afins até Marina pular indecentemente nos braços de Clécio que, como todo idiota, ficou sem saber o que fazer. Restou-lhe beijar a moça que o fez ir até o céu com seus carinhos.
Começaram a namorar e ainda hoje passam a noite observando estrelas. Eu nunca vi nada nesse idiota, inclusive na época em que ele corria atrás de mim dizendo que queria olhar as estrelas comigo. Não sei o que pode ter de tão bom em ficar olhando estrelas e ouvir o quanto você é amada, e nem sei muito menos qual o gosto daqueles pirulitos coloridos. Sei que Clécio é um idiota, idiota mesmo, do tipo tapadão, do tipo que fica orbitando na minha cabeça, do tipo melhor amigo, melhor parceiro, do tipo que eu odeio... do tipo que eu amo.


Angelica Carvalho

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010


Marciana e os Extraterrestres



Era uma vez, uma menina chamada Marciana que morava em Curitiba. Na escola, por causa do seu nome, os coleguinhas faziam piadas dizendo que ela era uma extraterrestre.
Até que um belo dia, esta criança perguntou para sua mãe:
- Meu nome é Marciana, pois nasci em Marte?
A mulher respondeu:
- Você se chama Marciana porque é a junção do nome do seu pai, Márcio, com o meu nome que é Ana.
Após escutar esta explicação a menina ligou o rádio e escutou o refrão da seguinte música:
“- Alô, alô, Marciano...
- Aqui quem fala é da Terra!”
Logo a menina refletiu:
- Será que existe vida em outros planetas?
Então, ela ligou a televisão e viu um trecho do seriado Jornada das Estrelas e pensou:
- Eu tenho orelhas pontudas e cabelos cortados iguais ao do Doutor Spok. Mas minha mãe falou que não sou de outro planeta. Bem pelo menos não tenho nenhum dedo verde igual ao do ET do filme que ganhou o Oscar.
Uma vez, a idosa que morava ao lado da sua casa mudou-se e chegou um novo casal naquela residência. No mesmo dia, dona Ana comentou com o seu marido:
- Márcio, um casal estranho morará na casa ao lado.
Então o marido comentou:
- Descobri que a mulher é barriga-verde e o homem é pé-vermelho. Sem falar que o nome do homem é Astar e o da mulher é Andrômeda.
Logo Marciana, assustou-se e pensou:
- Nossa!
- Estes dois devem ser extraterrestres. Se a mulher é barriga-verde talvez ela seja de Marte e o homem pé-vermelho deve ser destes monstros parecidos com o famoso Pé-Grande americano.
A garota sempre espiava os vizinhos e ás vezes até usava binóculos para isto. Depois de meses vigiando o casal, ela refletiu:
- Eu nunca vi a moça de biquíni ou de calça cós-baixo.
- Será que ela tem mesmo a barriga verde?
- O pior é que nunca vi o homem sem sapatos ou tênis.
- Acho que a mulher não usa roupas que aparecem a barriga porque ela deve ser mesmo esverdeada e o homem só usa calçados fechados porque tem, realmente, o pé-vermelho.
Uma semana antes de Marciana completar seis anos de idade, surgiu na TV um seriado chamado Alf, o ETeimoso, que falava de um alienígena que foi adotado por uma família americana. Então Marciana, gritou:
- Que bom se eu ganhasse um boneco do Alf como presente de aniversário!
- Este personagem é interessante, pois parece uma mistura de Tamanduá com cantor brega!
Logo chegou o dia do aniversário de Marciana. Alguns amigos e conhecidos já estavam na festa da garota. Quando de repente a campainha soou. A aniversariante abriu a porta e deu de cara com o casal de vizinhos estranhos. Dona Andrômeda deu uma caixa embrulhada num papel de presente para a menina, que agradeceu, abriu o regalo ali mesmo e exclamou:
- Um boneco do Alf, o Eteimoso!
Assim a garota perguntou:
- Dona Andrômeda, a senhora deve conhecer o Alf de verdade. Já que a senhora veio de outro planeta e tem a barriga verde,né?
Desta maneira a mulher explicou:
- Bem, eu não vim de outro mundo. Eu nasci no estado de Santa Catarina e aqui no Paraná as pessoas costumam chamar os catarinenses de barriga-verde.
- Vou até erguer a blusa para provar que o meu ventre tem a mesma cor que o seu.
Marciana assustou-se e falou:
- O seu Astar é de Santa Catarina também?
- Meu pai disse que ele tem o pé vermelho e não a barriga verde.
Este vizinho, que estava escutando toda a conversa, comentou:
- Eu vim do Norte do Paraná e em Curitiba o povo costuma chamar as pessoas, da região onde morei, de pé-vermelho.
Marciana deu um sorriso. Então o tempo passou, esta criança cresceu e virou fã da série Guerra nas Estrelas. Na sua adolescência ela vivia mandando cartas para Arc, o extraterrestre que tinha uma coluna na revista Veja e na idade adulta virou pesquisadora de Ufologia chegando até a viajar para Varginha com a intenção de entrevistar o extraterrestre que morou lá, mas não conseguiu contato com o alienígena. Mesmo assim até hoje um pensamento paira na cabeça desta jovem:
- Os extraterrestres estão chegando!


Luciana do Rocio Mallon


terça-feira, 7 de dezembro de 2010


Diário de um marciano


Eu vim de um mundo muito diferente daqui. Notei que neste lugar, as pessoas são muito esquisita: elas tem a mesma estrutura de corpo, mas no entanto, tentam ser uma diferentes e melhores que as outras. Alguns fazem uma tal de plástica, para puxarem ainda mais suas faces, cortam um pedaço da barriga ou alguns destes seres colocam líquidos viscosos nas estruturas frontais dos seus troncos chamados seios (tinha medo daquilo estourar!). A maioria deles também tinha pelos no corpo, mas os raspavam de maneiras diferentes ou totalmente.
Percebi que estes seres são muito incomuns: suas espécies eliminam umas as outras. Os humanos denominados racionais eliminam os animais, que são denominados irracionais, na intenção de se manterem vivos. No entanto, possuem uma natureza farta, mas nada quase adquirem dela em sua alimentação, e continuam explorando os animais. Aqueles que não concordam com isso, são considerados chatos ou “fora da casinha”. Mas os humanos pagam para outros humanos matarem estes animais, do contrário, jamais caçariam e morreriam de fome.

Além disso, os humanos também se eliminam entre si mesmos. Eles usam os mais diversos artefatos para isso: faca, revólver, veneno, ou na base da “porrada” como ouvi dizer. Outras formas de morrer é a máquina que inventaram chamada carro que ao mesmo tempo que traz benefícios pela comodidade em se locomover, causa acidentes e mais pessoas morrem neles (prefiro minha nave!). O pior é que mesmo sabendo de tudo isso, eles continuam produzindo e confeccionando tais materiais, sempre argumentando ser uma tecnologia nova ou para um benefício maior que a própria vida deles. Notei que os seres humanos têm diferentes reações: alguns, mesmo quando são traídos, “passados para trás”, humilhados, enganados, exercem uma palavra muito bonita na prática chamada “perdão”. É um ato não exatamente de esquecer, mas de dizer que aceita o erro de outro ser humano e não o culpa por isso, mas este ato não acontece com muita freqüência por aqui. A maioria deles se vinga, quer ser melhor que o outro, mesmo quando são exatamente tão, mas tão iguais.

Também aqui existe algo que as pessoas lutam pela vida toda, muitas delas fazem até o que não gostam para ter isso: dinheiro. Algo inventado por eles mesmo também em nome do benefício, só lhes trazem na verdade malefícios. Isto porque muitos correm atrás dessa pequena nota de papel feia e fedida como verdadeiros cavalos num campo de grama verde. É até lindo de ver, mas no final, eles batem com a cara no tronco da árvore. Tem seres que até passam em cima um do outro por isso e outros que vendem seus próprios corpos. E o mais estranho disso é que aqueles que tem poucas dessas notas, não recebem nada daqueles que tem muitas, que geralmente ganham mais porque sabem cantar, são bonitos, aparecem numa tal de caixinha chamada TV ou por terem aqueles seios cheios do líquido viscoso e aparecerem numa tal de “Playboy” e por assim vai.

Há também os representantes destes seres. Ele dizem que vão acabar com os problemas de todos eles, mas criam novos a cada dia. Mas eles são os únicos que mesmo lá em cima no poder, não conseguem enxergar tais problemas e pensar em estratégias eficientes de solução para eles. Isto porque eles adoram ficar sentados horas e horas discutindo projetos de leis que no fim não servem para nada. Eu fiquei muito assustado com estes seres daqui. Os seres precisam de água e natureza para sobreviver, e são as coisas que mais destroem, precisam de amor e perdão e são as coisas que menos exercem. E são os únicos do universo que possuem uma arma que pode destruir toda a sua espécie de uma vez só. São os únicos que não acreditam em extraterrestre mesmo acreditando em Deus, que é um extraterrestre, pois também vive fora da Terra. E os que lutam contra tudo isso, são considerados loucos e lunáticos, simplesmente porque lutam pelo bem da própria espécie.

Talvez eles sejam da lua mesmo, lá é um lugar muito melhor que esse. Ouvi dizer que eles têm medo de nós, mas deviam ter medo de si mesmos. As espécies podem ser diferentes, mas o amor e respeito deveriam ser iguais para todas. Eu jamais quero voltar para esse lugar. Dizem que a Terra é um paraíso, mas não recomendo para ninguém. Daqui um tempo ela mudará e quem sabe será um lugar melhor, mas por enquanto, estou bem aqui, no sossego do meu lar onde não existe morte, dor e sofrimento. Assinado: Marciano.

Bianca Nascimento

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Tema da Semana: Alô, alô marciano


Terra Brasil chamando





“Alô alô marciano, aqui quem fala é da terra, pra variar estamos em guerra”, quando a eterna Elis Regina cantava estes versos, mal podia imaginar que em pleno século XXI as coisas assim continuariam, nem ela e nem mesmo a memorável Rita Lee.
Passamos por duas guerras mundiais, diversas guerras civis e territoriais, sempre assistimos tudo pelo noticiário e pelos livros de história, até que, como o destino não poderia falhar à nossa terrinha, estamos nós, em guerra interna, não digo uma guerra civil, mas o que é isso que acontece no Rio de Janeiro? O que foi a invasão do exército em um território de todos?
Pera ai, que história foi essa de os traficantes dominarem? Até onde sei quem “manda” num Estado são seus representando eleitos direta ou indiretamente, agora está assim, os detentores do poder querem retomar o poder que sempre foi deles e até então estava sob vistas grossas. Confesso que até agora não entendi direito qual é a estratégia disso tudo, sim, porque eu acho ótima todas aquelas pessoas do morro resgatarem sua dignidade e liberdade, mas vamos combinar que está tudo muito fantasioso e lúdico, afinal em um território com mais de trezentos mil habitantes, centenas de traficantes, a apreensão de trezentos e poucos quilos de cocaína e poucas dezenas de traficantes é uma resposta bastante baixa, não entra em minha cabeça onde foram parar os manda-chuvas do tráfico juntamente com suas matérias-primas, afinal, o exército sempre foi a força máxima de um Estado (foi assim que aprendi na escola), e os resultados até então são poucos.
Bom, pelo menos a iniciativa foi tomada, antes que os próprios marcianos resolvessem escutar nosso apelo de trinta anos. Pior se continuasse aquela situação e aquele universo paralelo, com ou sem teatro, alguma coisa, ainda bem, já foi feita, e espero mesmo que a continuidade seja dada, não para garantir a segurança dos gringos na Copa do Mundo, mas a segurança do nosso povo, do Rio, que faz parte do Brasil que é a terra de todos nós, nosso cartão postal e para que possamos cantarolar Gil: “o Rio de Janeiro continua lindo”.

Fernanda Bugai

sábado, 4 de dezembro de 2010


Releitura Divina




Fiz um talho no dedo ao calçar o sapato,
Abracei 4 pessoas sem olhar nos olhos,
Respondi de forma automática a uma pergunta comprometedora.
Então, percebi que era ansiedade.

Sonhei acordada por horas a fio
Com um encontro que tanto quero,
O amor que idealizo,
Um amigo que está distante.
Então, percebi que era carência.

Sofri à toa com um fracasso inexistente,
Com o cabelo desajeitado,
Com o jeans apertado.
Então, percebi que era só vaidade.

Comi até ficar satisfeita,
Falei só enquanto era ouvida,
Insisti até onde valia à pena,
Consenti quando pareceu sensato.
Então, percebi que era equilíbrio.

Almejei ter um carro hoje,
Um amor amanhã,
E a sabedoria no mês que vem.
Então, percebi que não era a hora.

Aceitei sem dor uma mudança de agenda,
Uma alteração nos planos,
A concepção de uma nova idéia.
Então, percebi que era luz.

Tracei novas metas,
Abandonei velhos desejos,
Olhei com outros olhos,
Me vi rodeada de respostas,
Senti com um novo coração.
Foi então que descobri: era Deus.



Sabrina Lima Moreira

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Um ode a máquina de Lavar Louças e outros Apetrechos




Aos 10 anos, eu só lavava louça se queria, e quando era por desejo próprio, eu adorava pegar numa panela e esfregá-la até ficar tinindo. Sempre achei lindo esse negócio de ver a sujeira saindo e indo embora ralo abaixo com um simples esfregão e um detergente.
Varrer e passar pano no chão, nossa, era uma loucura. Como toda criança que se preze, eu tinha meu kit completo de limpeza, com vassoura, rodinho, pazinha, escova, balde, e nem lembro mais o que tudo. Eu sei que era completíssimo, digno de uma verdadeira camareira de hotel de luxo. Engraçado que eu gostava de limpar a casa só quando minha mãe também se empenhava com essa tarefa. Não tínhamos empregada por causa de péssimas experiências passadas, como roubos de cueca e louça importada.
Eu olhava para ela, minha mãe inspiradora, e memorizava os movimentos com memória cinematográfica, tentando reproduzir com minhas mãos infantis a mesma segurança e eficiência na hora de juntar toda a sujeira, colocar na pazinha e jogar no saco de lixo. Minha mãe devia achar uma graça, porque só ficava me olhando com ar de que está achando a maior fofura. Ela nunca me corrigiu, logo, eu sempre varria daquele meu jeito, espalhando poeira pra tudo que é lado e ainda com a proeza de conseguir uma insuportável dor nas costas em menos de cinco minutos.
Não sei até hoje que tipo de ficção eu e minhas amiguinhas tínhamos com essas brincadeiras de ser dona-de-casa. Que menina nunca sonhou em ter uma daquelas casinhas, com cozinha de mentira, uma caminha pras bonecas, uma mesinha pra tomar chá? E quem teve uma dessas deve lembrar que, apesar da bagunça, tudo ali dentro era cuidado e limpo de acordo com toda a capacidade e esforço que poderia se exigir de uma menina com menos de oito anos.
Daí a gente cresce, deixa de ser criança, doa todos esses brinquedos educativos, e, perde o apreço por ser dona-de-casa. Conheço muita gente que ama lavar louça, limpar a casa, arrumar o armário, desinfetar banheiro (Ok, exagerei). Mas e daí? Como é que se explica tudo isso?
Porque algumas mulheres amam cuidar da casa, e outras, como eu, tem plena certeza de que deveriam ter nascido homem pra simplesmente ficar deitada tomando cerveja e comendo amendoins?
Alguns acreditam, e pode até ser verdade, que é simplesmente o dom de cada um. Afinal, sem preconceito, quando você vê a sua diarista limpando a sua casa não dá uma sensação de alívio, de que seus móveis, seu chão e sua cozinha estão em ótimas mãos? Não dá a impressão de que aquela moça tem o dom pra aquilo?
Acho isso ótimo, e confesso que tenho um pouco de inveja. Na verdade, eu tenho é medo de não prestar pra nada. A única coisa prendada que sei fazer bem é arrumar a cama e preparar umas sobremesas. Mas, como uma casa não se resume somente a uma cama arrumada e, muito menos não se vive somente de doces e porcarias, acho que estou condenada a aprender, e logo, as magias e encantos de ser uma dona-de-casa.
Confesso que também não contribuo muito. Comprei há pouco mais de um mês atrás um conjunto de kit de limpeza (de novo) parecido com aquele que eu brincava. A única diferença é o tamanho, até porque ele é todo estampado com Poá rosa bebê. Uma graça. Brinquei com ele umas duas vezes, e já perdi o encanto. Minha mãe não estava lá pra eu imitá-la.
Toda minha louça do diário é estampada com bolinhas, mais pra eu me conformar na hora de lavá-la do que por beleza ou decoração. Mas também não adiantou. Há uns dias atrás, ganhei uma máquina de lavar louça de tanto reclamar pelos quatro cantos do mundo o quanto eu odiava lavar pratos e talheres (sim, copo e xícara até que vai, não me pergunte o porquê).
Sobre meus panos de prato, menina, são um luxo. Tenho até dó de usá-los. Assim, já justifico o fato de eu não secar a louça com o medo de estragar aqueles bordados, rendas e estampas maravilhosos. E minha unha, claro.
Para quem está lendo tudo isso, e está sentindo um ódio imenso pela minha madamisse, eu tenho só uma verdade que me desculpa de todo o pecado: a culpa não é minha, e sim da minha educação que me privou de conhecer os deleites de ser uma verdadeira dona de casa mirim. Minha mãe até hoje fala com veemência que me criou para a cultura, e não para a mão de obra. Ok, ok.
Peço minhas sinceras desculpas àqueles que se frustrarem ao irem minha casa, mas cruzemos os dedos. Talvez vocês tenham a sorte de eu já ter me convertido no que eu projeto ser, ou talvez eu ainda esteja com mais um super-fashion-desentupidor-de-vaso-sanitário-com-suporte-de-bolinhas-e-um-cabo-em-forma-de-cabeça-loira-de-corte-Chanel, ligando para minha mãe e tentando representar com movimentos às explicações em “Alien” que ela me dita, passo-a-passo, pausadamente pra eu não perder nada e alagar o apartamento.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010


EFEITO DOMINÓ




“Se tal ocorrência foi com efeito real, e até mereceu atenção do cronista, ela é indigna da História, contrária à intenção moral da pintura, e por consequência imerecedoura da contemplação dos pósteros”. Tal frase proferida pelo pintor Pedro Américo, autor da obra que celebra o Grito do Ipiranga, foi uma referência a narrativa histórica de Dom Pedro I em sua jornada, bem menos imponente que a retratada no quadro, rumo ao corte de laços entre Brasil e Portugal. Para o pintor, a versão era mais importante que a realidade dura, em cima do lombo de uma mula, e frágil em decorrência de possíveis problemas intestinais do Príncipe.
Lendo o livro de Laurentino Gomes, 1822, estou aprendendo uma história que não me foi mostrada na minha época de escola, mas que aparece todos os dias na minha vida, nos tombos históricos do país. Em suas palavras, “Começava ali a construção de um país mais imaginário do que real”. E foi mesmo, né. Aqui mais se falou do que se fez, mais se reclamou do que se modificou. Esse país rico em natureza, pobre em espécie, forte em idéias, debilitado em ações. Ong’s, projetos sociais, campanhas, voluntariado e o problema está sempre lá e parece cada vez maior.
Até que um dia, uns malucos resolveram descer o morro e “tacar fogo” no Rio de Janeiro, estopim para uma ação conjunta entre polícia, exército, comunidade, poder público. E foi ótimo ver bandido subindo o morro tentando se safar e levando chumbo. E sabe por que foi ótimo? Porque aquela certa sensação de poder, que até ontem tava na mão do tráfico, hoje começa a ser concedido ao povo livre. Pode ser uma visão romântica, mas pela primeira vez tive a certeza de que se alguém quiser, a coisa acontece. Longe de querer florear o quadro, como fez nosso amigo Pedro Américo, mas penso que se o primeiro passo demorou a ser dado, haverá compensação nos próximos. Esperamos que a atitude do Governador Sérgio Cabral em solicitar que o exército permaneça até julho de 2011 para a possível implementação do patrulhamento da Polícia Pacificadora seja para tornar real que o Rio tenha um pouco mais de PAZ.
Até hoje imaginamos um mundo melhor, como na letra de John Lennon, em que as pessoas teriam mais amor umas pelas outras. Acredito que não é mais tempo de ficar no idealismo, que partir pra prática é o que nos tornará melhores mesmo. Chega de ficar pirando em idéias coloridas, vamos plantar flores. Pare de mandar seu dinheiro pelo correio, compre um livro e vá ler uma história pra uma criança internada. Deixe de colar adesivos de combustível natural no seu carro e compre uma bike. Uma coisa puxa a outra, um hábito muda o habitat, como diz minha filha.
Está claro que a união das forças em prol de uma política única acaba com a falsa dicotomia entre a esfera federal e estadual. Meu total apoio para que as Cidades Maravilhosas, Cidades Ecológicas, Cidades Modelo, Cidades Tecnológicas, Cidades do Rock, enfim, mereçam seus títulos pelo melhor que puderem proporcionar por um planeta mais decente, humano e habitável, realmente.

Angelica Carvalho

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010


O Natal e os Vários Tipos de Mulheres




O Natal mexe com todo mundo...

De um jeito místico e profundo!

O Natal mexe com as criaturas...

Normais e repletas de loucuras!

Mas com o sexo feminino...

O Natal mexe sempre mais...

Com a força do destino...

Trazendo e tirando paz!

Para a mulher consumidora e consumista...

Comprar sempre é uma divertida festa...

No Natal, de presentes, ela faz uma lista...

Enorme, exagerada e nada modesta!


Ela faz uma via-sacra no shopping e nas feiras...

Em busca dos melhores e inesquecíveis presentes...

Na noite de Natal as consumistas são faceiras...

Atrás de olhares de inveja e nada inocentes!



Já, para a mulher cheia de fé e religiosa...

O Natal é momento de reflexão e prece...

Onde, a cada noite, a estrela maravilhosa...

Neste mundo chamado de Terra desce...


Para anunciar o nascimento de Jesus,

Que enche o universo de luz!

Já, para a mulher estressada o Natal...

Causa uma angústia fenomenal...

Pois, nesta época, ela trabalha a mais...

Para terminar as atividades e ter paz!

Mas sempre aparece um serviço de última hora,

Que não deixa a afobação ir embora!


Assim no Natal ela fica doente...

Em vez de permanecer contente!

Mas o importante é que no Natal...

Acontece uma magia sobrenatural...


Todas as mulheres voltam a ser crianças...

Montando árvores tão brilhantes e belas...

Assim as mulheres vestem-se com tranças...

Para colocar as meias de seda nas janelas.



Luciana do Rocio Mallon