sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Triplo SeXXX


Sim, as maiores putarias do mundo rolam em Hollywood... E eu, uma singela “donzela”, semi virgem, fui estudar Artes Dramáticas em Los Angeles aos 18 aninhos. Imaginem alguém que era parte do grupo de jovens da igreja, que escrevia peças de teatro sobre freiras, criada com amor e zelo em uma cidade do interior do Brasil, princesinha do papai...
Quando chegou na época de vestibular, mamãe me perguntou: “minha filha, você vai prestar vestibular para Medicina ou para Direito”? Eu, em crise, respondi: “nenhuma das opções anteriores. Mamãe, papai, quero ser atriz! Quero ir pra Globo, quero ser uma estrela de Hollywood”!
Eu já fazia teatro amador há cinco anos, e meu pai, um taurino pé no chão me disse: “Minha filha, se você realmente quer isso da sua vida, não tem problema, você pode estudar teatro, mas não no Brasil, porque aqui, nesse ‘meio’ só tem putas, drogas e viados”. Eu já falava inglês desde os quatro anos de idade, mamãe era “teacher”. Com 15 anos, eu já era “teacher” também, então, para onde ir senão para os meus queridos “States”? Já tinha ido quatro vezes, feito intercâmbio, estava totalmente inteirada no “american style”, mal sabia eu que, em Hollywood, tudo era muito diferente...
Fiz a audição e com muita honra fui convidada a ingressar na Academia Americana de Artes Dramáticas – Campus Hollywood (tem outro em New York). Muitos se formaram por lá: Grace Kelly, Danny DeVitto, Robert Redford...
Eu estava nas nuvens, porém, papai disse: “Minha filha, esse curso é muito caro, pagarei tudo à vista, e não restará um só centavo para a sua sobrevivência, então, você terá que arrumar alguém para dividir o apartamento, e também um emprego para pagar suas despesas”.
Seguindo os conselhos de papai, uma semana antes de começarem as aulas eu fui até a Academia e visualizei um “roommate board” aonde as outras criaturas miseráveis que iam ser meus colegas postavam anúncios procurando alguém para dividir o apartamento, a casa, o quarto e até a cama.
Imaginem que eu fui “abduzida “pelo anúncio da mais biscate pessoa, com o sonoro nome de “Mara Marini”, canadense, moça de família, já havia alugado um apartamento de um quarto e buscava alguém para “dividir a sala”. Sim, eu iria dormir na sala. Gostei porque como toda boa pessoa comodista, o tal apartamento ficava a apenas uma quadra de distância do Campus.
Em questão de uma semana, eu e Mara Marini já éramos, assim dizendo no bom inglês, “ best friends”...
Foi tudo maravilhoso, nos dávamos muito bem, Mara era ambiciosa, gostosa, bonita, oxigenada da cabeça aos pés, louca, dizia que usaria sua bu... para chegar aonde quisesse, mas não dava de primeira, apenas chupava. Mara era a rainha do boquete. E tinha a maior cara de vagabunda. Eu a amava (não num sentido gay, não gosto de loiras, hehe), mas gostava das histórias que ela me contava. Eu nunca tinha ouvido falar em ecstasy, mal e mal tinha cheirado cocaína uma única vez (e bem pouquinho) porque morria de medo de morrer. E como todo pobre mortal, tinha fumado uns baseadinhos com um namoradinho drogado. Em Hollywood, maconha era capim. Ninguém com algum tipo de glamour fuma maconha em Hollywood. Cocaína no mínimo. Heroína, Cristal e o queridinho Ecstasy...
Eu estava lá havia apenas três meses e não saia nunca, até porque pra sair tinha que ter 21 anos, então eu era a CDF, ficava em casa comendo e estudando enquanto a canadense fogosa, que também tinha 18 anos, saia todas as noites com a sua “fake id” muito mal falsificada por sinal.
Um dia, Mara chegou em casa às sete horas da manhã, contando que tinha ido numa festinha, e que havia tomado ecstasy, e que lá pelas tantas tinha feito um striptease pra toda a galera da festa.
Eu me horrizei com tal fato, mas quis saber mais. Ela me falou então de um tal de Vin Diesel, que era um ator que ela havia conhecido no Canadá durante uma filmagem, que tinham trocado telefones e que, desde que ela havia chegado em Hollywood, ele ligava pra ela e ela de vez em quando (quando ele ligava) ia na casa dele. Para “dar” pra ele.
Uau, entendi perfeitamente o uso da expressão “Buddy call”. Toda vez que ele ligava, ela ficava igual uma doida, se arrumava no bom “pretty woman style” , chamava um táxi e ia.
Certo dia, porém, ela me disse, “Honey, do you remember Vin”?
“Hum... ah, yes, Yes”... Eu disse.
“He wants to meet you”.
Ah, Deus Pai, o tal atorzinho comedor da Mara queria me conhecer? Por quê?
Daí, ela me explicou que haveria uma festinha na casa dele e que ele queria que ela levasse umas “pretty girls”, porque haveria uns amigos dele lá e...
A minha curiosidade de repente ficou do tamanho da minha coragem... Topei.
Coloquei a roupa mais sensual que tinha, mini saia, blusinha branca decotada, cabelos compridos soltos e perfumados, salto oito, morena, brasileira, cintura fina, quadril Carla Perez, linda.
Fomos eu, Mara e Davida (uma colega nossa do curso de teatro: negra exuberante, ex -chefe de torcida, abertura total, contorcionismo e fartos seios, eram suas dádivas). Lá estávamos nós, as três a caminho da orgia. Let's go!
Um táxi nos levou até o alto, “Hollywood Hills”, o bairro. Sabem as letrinhas de HOLLYWOOD, então, mais ou menos à esquerda era a mansão singela de Vin Diesel, que até então só era famoso pela “ponta” que havia feito no filme “O resgate do soldado Ryan”. Lembram do pobre soldadinho que morria chorando na chuva e pedia para entregarem uma carta ao seu pai? Era ele! Todo ogro, nariz imenso, braços mais ainda, malhado, voz rouca penetrante, cara de mau, simpático, transtornado, cheiroso...
Ele nos abriu a porta, com um “Hi”, que me deixou gelada.
Pensei: "Oh, Deus, aonde vim parar, e agora"? Adentrando a casa do astro, cujo vizinho não era ninguém mais ninguém menos que Ben Affleck (que infelizmente não estava na festinha), tento registrar em minha mente tudo o que vejo...
Velas, muitas velas de todos os tamanhos, iluminavam a grande sala branca com sofás pretos... Uma mesa de ferro com tampo de vidro, linda e chiquérrima, serviria mais tarde para o “Buffet”... (de drogas, é claro, porque em Hollywood as pessoas não comem comida, e sim..., e não fazem isto sóbrias).
Um mega som, com caixas de última geração, tocava uma música instrumental “motel style”, misturado com tecno.
Vin foi super querido comigo, me perguntou coisas do Brasil, Ronaldinho, futebol, carnaval ficou perguntando se eu sabia sambar, etc.
Estavam em três homens: Vin e dois amigos horríveis dele. E ainda uma garota, ruiva, cabelos longos e encaracolados, sardenta. Chantal, era seu nome.
Havia de tudo o que se quisesse, e o anfitrião disse para ficarmos à vontade, me recordo de apenas ter bebido champagne, fiquei longe das drugs. Na verdade fiquei com medo. Porque Mara já tinha me contado das outras festinhas e de como era “doloroso” para ela “dar” para ele. Imaginem!
O clima ia esquentando... E os amigos dele me cercavam... Quando olho em volta, as meninas tinham sumido! Eu fiquei em pânico e comecei e pensar como iria sair dali.
De repente, Davida surge só de lingerie na sala e me diz, que elas estão no banheiro, todas na banheira.
Na banheira? Hum...
“É, estamos nos depilando umas às outras na frente do Vin, ele está super excitado e disse que nunca foi tão bem servido: tem uma negra, uma loira, uma ruiva e agora ele quer a morena brasileira também... Toda depiladinha”.
Pensei que ia desmaiar quando ouvi aquilo, Davida estava completamente emboletada. Os amigos também. Mais pra lá do que pra cá, fizeram piadinha, dizendo que o show da depilação era exclusividade do anfitrião, mas que depois eles iam compartilhar “as belezas” na master bedroom suíte...
Depilação grupal? Ai, Deus, eu nunca tinha visto aquilo, fiquei imaginado a gillete passando de mão em mão, e alguém mais descuidado cortando outro alguém já emboletado demais pra sentir, e sangue tomando conta da jacuzzi... Ughhh! Não, obrigada. Resolvi que eu estava sobrando e que precisava deixar o grupo no 3 x 3.
Na velocidade de um raio, olhei para Davida, puxei-a para uma canto e disse: “querida, eu preciso ir, amanhã temos prova de dança e eu acabei de me lembrar que preciso costurar meu colã, e deixar todo o figurino pronto, além de ensaiar mais um pouco, pois estou com o joelho direito lesionado”.
Como toda boa chefe de torcida, Davida era uma profissional da arte da dança, e seu corpo escultural era um fiel instrumento dessa arte. Ela sorriu e disse: “ah, querida, se você não praticou o suficiente, vá pra casa e pratique, pratique 100 vezes, porque amanhã precisamos arrasar nesta dança”. E terminando de falar isso quase caiu em cima de mim e quase caímos em cima da vela-pedestal cor marfim que estava acesa atrás de mim...
Mais que depressa, pedi para ela explicar aos meninos minha situação e pedir o telefone emprestado para eu chamar um táxi.
Nesse momento, gemidos e sussurros eram emitidos no banheiro e na suíte. Os outros dois já estavam pelados e corriam em direção ao eco dos sons. Davida, com os olhos arregalados, passou a mão no telefone preto sem fio, que, graças a Deus, estava bem ali, na mesinha ao lado de um dos sofás e sabendo de cor o número do táxi (esclarecendo que, nos States, os telefones têm letras que correspondem aos números, sendo assim fica fácil lembrar mesmo estando em estado calamitoso...), discou 1-2-3 –o-t-a-x-i, e se despediu de mim. Eu me recordo de ir correndo em direção à pesada e possante porta da mansão, abrindo- a e batendo-a. E de ficar esperando cinco minutos por aquele santo taxista, naquela calçada de ladeira, em Hollywood Hills.
Cheguei em casa feliz por estar com todos os meus pêlos.
Papai, Hollywood é pior do que o Brasil... Mas valeu a tentativa...



Fabíola Flores é diretora de uma escola de inglês e Desaforada X

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Ossos do ofício


Na Assessoria de Imprensa, somos a ponte entre o cliente e a mídia. Conseguimos espaços gratuitos nos veículos de comunicação para construção da imagem institucional da empresa, marca, pessoa ou produto.
Mas nem tudo são flores, pois já me apareceu cada tipo aqui na Toda Comunicação. Esta história infelizmente é real, não citarei os nomes das personagens e nem do programa para manter a ética profissional.
Se não fosse trágico seria cômico, acompanhe comigo:

Consegui mais um espaço em um programa de TV local em Curitiba, de variedades que passava a tarde para um novo cliente. 80% de audiência feminina. A apresentadora era super badalada, uma piruá com P maiúsculo. Piruá no bom sentido, hein gente. Admiro muito quem saiba se vestir e tenha vaidade para isso. Quando eu crescer, quem sabe chego lá. Pessoa elegante e mais velha, cheia de nove horas. Sempre aceitava minhas sugestões de pautas. Eu tinha um ótimo relacionamento com a pauteira dela e com ela. Vivia na TV, cada dia com um cliente diferente. Até que assinei contrato com uma empresa de design. Um casal que desenhava de tudo, de gibi a sites. (O cara era bom mesmo!!)
A pauteria me pediu que a fonte desenhasse algo ao vivo no programa. Em média 20 minutos de entrevista, um bloco todo. Dos quais, uns oito, ele teria para desenhar, no máximo.
Lá fui eu ligar para o cliente para perguntar se ele topava desenhar ao vivo, já que agora era condição sinequanon para a aprovação da pauta. Como eu já conhecia seu trabalho sabia que isso seria tranqüilo para ele. (Doce ilusão...)
Primeiro tive que gastar muita saliva mostrando para o clinete que ele era capaz, já que sua esposa tinha outro compromisso importante e não poderia ir. Falei que ele era um excelente profissional (e era) e que ele deveria esquecer das câmeras (pensar que estava na sala de estar de um amigo apenas). E no vácuo fiz o mídia training, ou seja, treinamento de postura na frente das câmeras, como de costume.
Mas ele não queria desenhar tinha medo, pelo fato do programa ser ao vivo e poder dar alguma zica na hora, sei lá um branco, uma tremedeira qualquer. Assim para dar o “cheque mate” e convencê-lo de uma vez, disse para ele treinar um desenho qualquer em casa e quando ele fosse solicitado, já teria pensado e treinado e que assim não haveria problema algum. (E este foi meu erro... )
A apresentadora perua da nhanha pede que ele faça um desenho. Olhos na prancheta e provavelmente ouvidos mudos e neurônios dormindo.
- Não, melhor. Faça uma nova logo para o nosso programa. Pede novamente a apresentadora.
(...) Os oito minutos se passam e pasmem, ele desenhou uma PORQUINHA BAILARINA. É acho que o pânico de ter que desenhar ao vivo, de fazer isso pela primeira vez, fez com que meu cliente perdesse o bom senso. Imagine a minha cara. Se o programa não fosse ao vivo eu pulava no pescoço dele.
Segundos ficaram no ar e claro a apresentadora se fez de “João Bobo” e acabou logo com a entrevista, achando lindo o tal do desenho da porquinha bailarina. Jogo de cintura para quem trabalha todo dia ao vivo é outra coisa não é? Já ele poderia ter saído desta saia justa na classe, caso o pânico não tivesse se instaurado por todo lado, dizendo que para a construção de uma marca não é assim. Tem que ter pesquisa, estudo, blá blá, blá e que no momento ele iria fazer um desenho qualquer.
Agora me pergunte se levei mais algum cliente lá? E se esta criatura continua sendo meu cliente?

Verônica Pacheco

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Confissões de uma fiasquenta...


Pois bem, eu sou a rainha do bola fora. Desde criança me meto em confusões devido à minha mania de agir antes de pensar. Lembro uma vez, eu devia ter uns quatro ou cinco anos, época em que minha mãe trabalhava ao lado da casa da minha avó, onde eu ficava todos os dias a esperar depois da escola. Ela sempre saía às 18h. Um belo dia eu resolvi recepcioná-la no meio do caminho, saí feliz e contente, avistei uma mulher, mirei um ponto do infinito e fui correndo, toda faceira, me agarrei nas pernas dela e fui subindo o olhar, Jesus amado, quando cheguei no rosto da criatura, comecei chorar desesperadamente, de vergonha, é claro! Não era a minha mãe, sabe Deus quem era a mulher, mas era impossível não confundir, ela tinha a mesma altura, cabelos idênticos, vestido parecido com os dela, tudo igual, ela me olhou sorriu e me pediu para parar de chorar, mas a vergonha era tanta que nem falei com ela, corri para a casa da minha avó e só saí de lá quando a minha mãe de verdade chegou. Tadinha de mim. E o pior é que depois dessa, nunca mais parei de cometer esses tipos de gafes.
Passo por cada uma que se eu fosse minha amiga morreria de vergonha de andar comigo. Certa vez no cursinho, Positivo da Sete, mais cocota impossível, na hora do intervalo a criatura que sentava na minha frente resolveu dar um passeio, eu e minha cúmplice, mortas de vontade de comer um doce e morrendo de preguiça de descer na cantina, ficamos pensando no que fazer, ou melhor, no que comer, foi quando olhei pra frente, dei de cara com uma caixa maravilhosa de merengue “piscando” pra mim, ahh mas na hora me veio à cabeça, hummm é esse mesmo que vai pra “fita”, não pensei duas vezes, pulei na mesa dele e ataquei o doce, só não contava com a velocidade do retorno do cidadão, que na velocidade da luz, sentou-se, me olhou e disse “está gostoso o meu merengue?”, socorro, queria abrir um buraco no chão e me jogar, mas respirei fundo e respondi, me achando a tal, “está sim, uma delícia”, e ele mais malandro ainda me disse com toda classe, “pois é, mas você podia ter me pedido”. Imaginem a minha cara de caneca.... Também, não se pode esperar muito de uma pessoa que confunde a mãe né?
Mas se vocês pensam que acabou, afff, nada disso. Eu não entendia muito bem o que queriam dizer com a frase “se você acha que as coisas estão ruins, não se preocupe, elas podem piorar”, pois bem, agora entendo perfeitamente o que queriam me dizer.
Toda mulher vai concordar comigo, não existe nada pior do que passar carão na rua, principalmente quando se está virada numa cocota. Pois é, comigo aconteceu.
Um belo dia, estava eu Luluzinha, toda metidinha montada no meu scarpin lindo, rosa e preto, me achando a tal, indo comprar cerveja pra uma festinha, desci do carro toda feliz, pensando “é hoje que me dou bem”, afinal estava linda, toda arrumadinha. Eis que chego na porta da porra do mercado, nem me liguei, entrei, entrando, só que esqueci de olhar para o chão, maldita hora que fui esquecer justo do principal, não é que tinha um infortúnio de uma grade toda furadinha que simplesmente me fez entrar descalça de um pé no mercado. A porcaria do salto prendeu na grade e eu dei uns três passos com um pé de sapato e outro descalça, bem do estilinho “tá fundo, tá raso, tá fundo, tá raso”, conseguem visualizar a cena né. Pois bem, até aí dava para disfarçar, mas quando olhei ao redor, bah, tinha uma galera chegando pra fazer a mesma coisa que eu, comprar cerveja. Calculem minha cara de tacho voltando toda cocotinha pra buscar o sapato que estava enterrado na porta do mercado, aff queria morrer. Foi uma cena patética, e pior, não tinha nem com quem comentar, eu estava sozinha, tipo louca rindo e querendo chorar ao mesmo tempo. Maldito mercado, devia ter entrado com uma ação por danos morais. Até agora não entendo, porque colocar uma grade cheia de buraquinhos, que domina a porta inteira do mercado, sendo que 80% dos freqüentadores são mulheres e que muitas usam este lindo adereço. É pessoal, essa foi literalmente uma descida do salto.


É claro que os fiascos não param por aí, mas também não vou ficar me entregando pra todo mundo né? Tá certo que quero ser uma Desaforada, mas daí, a virar motivo de piada, já é um pouquinho demais.

E se vocês querem saber, eu adoro ser assim, estabanada, fiasquenta cheia de saia justa pra contar, pois, se não fosse assim, com certeza não saberia escrever hoje para vocês.

Bjks pra todo mundo.

Lu Oliveira
Os micos das amigas

Após um relacionamento de paixão avassaladora e doentia pelo “falecido” durante sua estadia em São Paulo, minha amiga “She” vira e mexe ainda insistia em ressuscitá-lo, mesmo ela já morando no Rio de Janeiro. Até que a apresentei pra meu amigo “He” e eles começaram a namorar, abusando da ponte aérea. Nada como um novo amor pra esquecer o anterior, certo?!?
Uma noite, saí com o casal num restaurante novo. Chegamos e fui direto pra mesa vazia, vi que minha amiga ficou um tempo parada na porta e quando ela finalmente veio sentar-se conosco estava meio aérea. Perguntou se não teria um outro restaurante por ali, mas achamos melhor ficar. Ao pedirmos as bebidas, estranhei ela de caras pedir um uísque, He como um bom companheiro pediu outro para acompanhá-la, embora não seja fã de qualquer tipo de álcool. Quando He foi até o banheiro, ela desenrola um cochicho interminável:

- Eu não acredito, o falecido ta sentado ali atrás com aquela vaca que ele está namorando agora. Comigo ele não assumia. Olha lá. Ela é muito sem graça, eu sou muito mais bonita que ela, né? E o pior é que ela já tem um filho. Eu não sei o que ele vê nela. Ai, pelo menos ele ta me vendo bem mais magra e bem acompanhada. Vou agarrar muito o He pra ele ficar com ciúmes.
Nisso pediu ao garçom outro copo de uísque. She começou a falar e rir cada vez mais alto, abraçando e beijando He. Sem tirar o olho do falecido, ela destilava seus comentários ácidos em meu ouvido sobre o comportamento do casal visado. He começou a estranhar o comportamento de She, mas como um bom gentleman (ou era bobo mesmo) se manteve quieto.
Até que She se levanta e diz que vai ao banheiro. Segurei-a e perguntei se ela estava bem, até porque a mesa do casal era bem próxima do toalete. Ela afirma que sim e que a maior vingança era se mostrar ótima e indiferente. He me pergunta então o que acontecia com ela, achei melhor explicar que o ex por quem ela tinha sofrido tanto, estava sentado no restaurante.
De repente só ouço um grito: She ao passar pela mesa do falecido jogou um copo de vinho no colo da acompanhante e vinha tranquilamente sentar-se à mesa como se nada tivesse acontecido.
Ficamos todos estupefatos. Prontamente He pediu a conta, She ficou ali sentada na mesa com um sorriso na boca como se nada tivesse acontecido, o Falecido após um insulto em alto e bom som pedia desculpas à namorada que só nos olhava com uma cara feia.
Eu fiquei sem saber o que fazer, porque pra piorar, a tal da namorada era a produtora de uma companhia que eu estava louca pra trabalhar e tinha agendado uma entrevista na semana seguinte. Pensei em ir à mesa pedir desculpas, mas achei melhor esconder a cara e sair de fininho rezando pra que ela não me reconhecer.
No dia seguinte ainda tive de tentar fazer He entender que She era legal e que aquilo foi apenas um lapso de insanidade graças à bebida, mas que ela o amava, blábláblá.
Enfm, o que a gente não faz por uma amiga, né? Mas ela está me devendo essa até hoje.


By Mazé Portugal

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Tema da semana: Saia Justa

Infelizmente, a Aletéia, Desaforada das segundas-feiras, está mega-atribulada viajando pelo nordeste do país para fazer todo o agreste cheirar a O Boticário. Por conta disso, esta segunda-feira deveria ser coberta por uma Desaforada X. Só que, infelizmente de novo, a garota escalada para redigir o post de hoje acabou furando. Nada mais adequado para o blog, afinal o tema da semana é saia justa. O resultado é que tivemos de, no meio da madrugada, realizar uma operação de emergência, mas ainda assim procurando gerar um texto relevante e bem cuidado. A idéia de última hora foi dar continuidade ao post que provavelmente foi o de maior repercussão na semana passada. A Desaforada X Luciane Fernandez revelou sua paixão por uma garota em um relato tão sincero quanto tocante. Nos comentários, surgiram manifestações de apoio e apreço à corajosa iniciativa. Mas, o que ninguém sabe é que o passo dado pela Lu foi mais audacioso do que se pode supor: há poucos meses, ela era quase noiva de um rapaz religioso fundamentalista e que nem imaginava ser sua namorada apaixonada por outra garota. Convidada a relatar o caso (que é uma saia justíssima), a Lu acabou declinando da idéia pelo pouco tempo que teria para a tarefa. Então, a proposta tomou corpo na forma de entrevista, como pode ser conferida a seguir.

Eu, ela e ele



Mario:
Lu, você revelou, no post da semana passada, que gosta de uma garota. O texto foi um dos mais comentados do blog nos últimos tempos. Mas esse affair já não é de hoje e, em um passado recente, você namorava um rapaz religioso e celibatário. Como foi a saia justa de manter esse segredo, já que para ele esse outro amor seria considerado uma aberração?
Lu:
Na verdade foi algo muito difícil. No começo aceitei passivamente a situação, já que, na época que comecei esse namoro, eu tinha uma outra cabeça e achava que o sentimento que eu tinha pela Cami era, de fato, uma “aberração”. Só que, com o tempo, foi ficando cada vez mais difícil manter esse segredo, porque de um lado tinha toda uma concepção religiosa, seguia à risca as regras da igreja, mas, por outro lado, isso conflitava com o meu desejo de liberdade, que sentia muita falta.
Mario:
Como você fazia para esconder sua paixão paralela?
Lu:
Simplesmente não falava pra ninguém a respeito. Agia como as pessoas queriam que eu agisse. Era assim pra minha família, amigos, igreja, pro meu ex e até mesmo pra ela.
Mario:
Com a convivência com ele, você chegou a achar que gostar de uma garota era errado?
Lu:
Sempre achei. Aliás, achei que namorando com ele, eu poderia “apagar” esse sentimento. mas não deu certo. Outros fatores que me ajudavam a pensar assim eram a minha família e, principalmente, as pessoas da igreja que eu frequentava na época. Já que diziam que sexo só era permitido depois de casar, que sentir desejo por outra mulher era errado...
Mario:
Houve algum momento em que você pensou em revelar tudo?
Lu:
Pra quem, Mario?
Mario:
Pra ele.
Lu:
Nossa, várias vezes! Mas também sabia que, se eu contasse, o término do namoro seria certo. E nossos planos de casamento também. Ele jamais ia aceitar uma situação dessas, e realmente, quando descobriu a verdade não aceitou.
Mario:
E como você acha que seria se tivesse realmente casado com ele?
Lu:
Não sei. Na verdade nem gosto de pensar muito nisso. Provavelmente ia ser um casamento fracassado e infeliz pros dois. Ia ter que continuar a ser a menina certinha que interpretei por dois longos anos. Mas só percebi isso depois de muitos toques de amigos meus.
Mario:
Mas você não havia dito que não conversava com ninguém a respeito da situação?
Lu:
De fato, não. Só falei pra você, depois que ela me apresentou você (risos).
Mario:
OK. Você tem a libido à flor da pele, como conseguia controlar seu tesão estando com um namorado que, no máximo, te beijava?
Lu:
Fazia qualquer coisa que pudesse desviar a minha atenção, vivia pendurada na igreja, participava do grupo de jovens, ia aos cultos de domingo a domingo, orava... Ou mesmo sair, caminhar, ler, estudar... qualquer coisa que pudesse mudar a minha atenção pra outra coisa. Aliás, eu sentia desejo pelo meu namorado também. Mas também sentia pela Cami. E é complicado sentir tesão por duas pessoas assim tão... diferentes.
Mario:
Por quem sentia mais desejo?
Lu:
Algumas vezes mais por ele, outras por ela... Mas dominava o desejo por ela... Acho que pela afinidade, a nossa história, a forma que nos conhecemos, as experiências que tivemos.
Mas também durante esse tempo desejei muito um outro homem, mas esse nunca nem desconfiou.... esse superava o desejo que eu tinha pela Cami.
Mario:
Você chegou a trair seu namorado?
Lu:
Não, nunca. Apesar do dilema, sempre respeitei. Sou radicalmente contra traição.
Mario:
Como ele descobriu sobre o seu amor por outra garota?
Lu:
Da pior forma possível. Ele soube através das conversas que eu tinha com ela no msn. Há poucos meses ele foi me visitar, pediu para ver uns e-mails no meu computador... Deixei, ele acabou mexendo nos meus arquivos e leu o histórico. Eu disse “da pior forma possível” porque logo depois discutimos, ele me agrediu, me humilhou de todas as formas. Se bem que se eu tivesse falado, ia ser a mesma coisa. Ele não tem tolerância pra essas coisas.
Mario:
E o que aconteceu em seguida?
Lu:
Depois disso, da decepção inicial ele ainda quis reatar... Eu achei que ele pudesse mudar a forma de pensar... E como sabia que com ele poderia ter uma relação sólida, estável, e ter uma segurança que nunca tive, aceitei voltar, depois de muita insistência dele. Não durou uma semana, discutíamos direto, ele sempre jogava na minha cara... Me proibiu de ver a Cami, aliás, me proibiu de um monte de coisas. Até ir pra cama com ele foi uma merda. chorei muito. Foi horrivel
Mario:
Por quê?
Lu:
Porque não houve afinidade nenhuma, nenhum entrosamento, não senti prazer , ele não foi carinhoso comigo (e eu sempre imaginei o contrário), deixou a desejar nas preliminares... daí inclusive percebi que além de um casamento infeliz, eu ia ser frustrada sexualmente. Na hora senti, bateu um desespero e daí consegui ter coragem suficiente pra sair fora de vez... Chegou uma hora que eu cansei, não ligava mais pras ameaças que ele fazia de contar o que sabia pra minha família. Até porque ele também não tinha como provar nada. Eu estava sufocada.
Mario:
Mas sendo ele celibatário, como acabou indo para a cama com você? Você o seduziu?
Lu:
Não, não fiz nada. Até porque não me considero sedutora. Até hoje não entendo como aconteceu. E nem fico pensando no por que. Acredito eu que tenha acontecido devido à mistura de desejo reprimido, da parte dele, e à esperança de que talvez a situação pudesse mudar, da minha parte.
Mario:
Depois disso, como você acabou o relacionamento e qual foi a reação dele?
Lu:
Conversamos, quer dizer, tentei conversar. Falei tudo o que pensava e que mantive em segredo por um tempão. Ele não teve escolha senão aceitar. Isso foi há mais ou menos uns dois meses atrás. Depois disso, perdemos contato e não me procurou nunca mais.
Mario:
Você amaria uma garota e um garoto ao mesmo tempo? Acha que seria possível uma relação (ou até um casamento) assim?
Lu:
Acredito que sim, aliás eu até gostaria que acontecesse comigo. Quanto a ter uma relação a três, digamos assim, depende, acho que pode ser possível, mas depende muito das partes. Tem que haver uma boa dose de equilíbrio, de maturidade... amor e respeito, além do desejo mútuo. É difícil mas acredito ser possível sim. Só que os três têm que querer a mesma coisa também.
Mario:
E o que seria "a mesma coisa"?
Lu:
Os três têm que estar dispostos, oras. Os três devem querer os outros dois (risos). Desculpa, Mario, dessa vez não tive como conter o riso.
Mario:
Tudo bem, pode rir à vontade, engraçadinha. Para encerrar, é verdade que você se inspirou no post deste domingo para, ontem mesmo, realizar uma experiência envolvendo beijos e chocolate? Lu:
Por que engraçadinha?
Mario:
Irrelevante para a entrevista. Responda à pergunta.
Lu:
Sim. Já que não tinha nenhuma bebida daqueles tipos que foram citados no post, resolvi improvisar... (risos) Bom, pelo menos deu certo e acredito que tenha sido ótimo pra nós duas... E estou confiante de que daqui a um tempo eu possa dar boas notícias... Acho que dessa vez conquisto meu amor.



Mario Lopes em entrevista com Luciane Fernandez, assistente administrativa e Desaforada X

domingo, 26 de outubro de 2008

Água, boca e acetato



As telas do cinema já estamparam diversas cenas em que amantes saciam suas sedes (de líquidos e de carne) com bebidas diversas. Nos filmes, elas se consagraram em imagens clássicas de lascívia desmedida, juntando água na boca da audiência. Mas e na realidade, quais das bebidas realmente passariam num test-drive como aditivos para um beijo? Pois foi com esta preocupação, e pelo bem da ciência, que realizamos um laboratório com algumas das combinações mais emblemáticas de bocas e líquidos já ostentadas pela sétima arte. Não foram colocados na lista os semi-líquidos, como mel e manteiga (clássico ingrediente do filme “O Último Tango Em Paris”) porque ficarão reservados para uma próxima ocasião. As experiências exibidas a seguir contaram com a colaboração de uma convidada especial, que fez seus comentários após cada degustação. Ela está assinando com o pseudônimo de Fernanda Rossi e, embora sua identidade seja mantida em sigilo, o que se pode revelar a seu respeito é que ela é modelo e trabalha com artes cênicas, tendo, portanto, experiência tanto com o chamado “beijo cênico” quanto com o real (desejado, sem técnica que apenas aparente ser verdadeiro), o que tornou sua avaliação menos influenciada pelo estado emocional e mais fiel à química proporcionada por cada bebida. E, claro, numa pesquisa que envolve o cinema como tema, nada mais adequado do que ter uma atriz como colaboradora. Algumas condicionantes que devem ser mencionadas:

* A pesquisa não teve como foco principal identificar as mais adequadas marcas e variedades de bebidas, visto que há uma infinidade de especificidades (só em vinhos, são milhares de combinações entre procedências, safras, castas, etc), mas sim o que seu gênero de produto e suas características gustativas colaboram ou dificultam no ato de beijar.

* Buscou-se o uso de três produtos para cada situação: um de preço considerado mais oneroso, outro médio e um terceiro mais modesto, para facilitar o acesso e experimentação de quem mais tiver interesse em reproduzir as experiências. Eles surgirão designados a seguir, respectivamente, com a numeração 1, 2 e 3. A diferença de valores, porém, não passou de 25% em média, para não criar uma grande disparidade entre um produto e outro.

* As variações técnicas do beijo (tempo, intensidade, uso da língua, etc) e o estado emocional dos integrantes da experiência foram desconsiderados. Não por serem irrelevantes, mas sim pelo fato de se buscar atenção mais focada nas bebidas em si e no resultado quando misturadas a fluidos naturais e mucosas.

* Apesar de os apreciadores do vinho serem rígidos quanto à temperatura da bebida quando servida, este pré-requisito de degustação foi aqui negligenciado. Isso porque vinhos e champanhes servidos em temperatura próxima à ambiente são pouco refrescantes e deixam um gosto residual muito marcante na boca. Como o prazer principal pretendido não era propriamente o gustativo, todas as bebidas foram retiradas do refrigerador com poucos minutos de antedecedência ao início do laboratório, pois, apesar de o frio poder afetar na sensibilidade das papilas gustativas, a sensação de tênue amortecimento no interior da boca oferece uma possibilidade interessante de estímulos entre o gelado do líquido e o calor natural do corpo. Até porque, convenhamos, ninguém nessas horas vai ficar reparando nos taninos, no remate, no equilíbrio e em outros itens típicos de um check-list de enólogo.

* No intervalo de cada degustação foi servido um gole de água com um pequeno pedaço de biscoito água e sal, a fim de neutralizar os sabores e partir para a próxima bebida. Esta metodologia segue o procedimento adotado pela Brahma em seus testes gustativos de pesquisas qualitativas. Fernanda Rossi também atende aos pré-requisitos de uma degustadora padrão: não fuma, bebe apenas socialmente e possui olfato aguçadíssimo.

* A experiência foi feita com uso de copinhos descartáveis de 50 ml cada, o que é quantidade mais que suficiente para cada degustação. Isso evitou que se necessitasse disponibilizar na mesa de uma grande quantidade de copos (já que um recipiente não poderia ser utilizado mais de uma vez devido à mistura de sabores) ou que se tivesse de lavar um mesmo copo o tempo todo. Também ajudou a evitar interferências de eventuais aromas ou texturas de diferentes copos.

Este é o dossiê “Água, Boca e Acetato”. Acompanhe os testes com avaliações bebida a bebida, concluindo com uma análise final. Você vai se surpreender.


Champanhe



Na gulosérrima cena da geladeira no filme “9 ½ Semanas De Amor”, Mickey Rourke ensopa Kim Bassinger com diversas bebidas, dando-lhe na boca uma taça de champanhe, que a personagem aprecia de olhos fechados, para depois os dois saciarem suas sedes um na boca do outro. Na vida real, há relatos míticos sobre o uso desta festiva bebida, sendo que o mais inusitado ocorreu há cerca de quatro décadas, com a atriz Natalie Wood, famosa por sua interpretação no filme “Juventude Transviada”: reza a lenda hollywoodiana que a moça quis tomar um banho de imersão enchendo sua banheira com champanhe. O resultado foi a estrela ter de ser levada às pressas para um hospital, com a vagina em chamas. Mas e se for ingerido por vias normais (pela boca), o champanhe pode inflamar um beijo (no bom sentido)? A experiência não foi realizada com o legítimo champanhe, visto que o próprio só é produzido em uma região específica, e homônima, ao norte da França, mas sim com um frisante, um prosecco e um espumante.

Bebida 1: Lambrusco Bianco Donelli Italiano
Opinião da degustadora:
“Ah, foi bom. Champanhe sempre acrescenta um sabor diferente ao beijo, principalmente pela textura. Esta, especificamente, teria sido melhor se fosse menos doce. O fato de ser uma bebida importada não interferiu em nada”.

Bebida 2: Prosecco Doce Branco Alliança
Opinião da degustadora:
“Tinha gás mas eu não consegui sentir direito. Essa bebida ajudou a aumentar a intensidade do beijo. Você fica mais solta. Só que achei o gosto um pouquinho enjoativo. Prefiro sabores mais cítricos. Na verdade, não sou uma apreciadora de proseccos, o que pode ter influenciado negativamente na minha avaliação”.

Bebida 3: Espumante Michelon Tinto Piagentini
Opinião da degustadora:
“Achei horrível. Sei lá. Não agregou nada no beijo, pelo contrário, deixou o beijo enjoativo, nem parecia que (a bebida) estava gelada. Achei doce demais, e não tinha gás. Não dá para sentir o gosto da outra língua”.

Dica: O simples ato de abrir uma garrafa de champanhe já lembra celebração. O estouro, o líquido borbulhando assanhado para sair da garrafa, e tudo mais que a bebida estimula no inconsciente coletivo, geram espontaneamente um clima de excitamento. Beijo com champanhe é uma festa na boca. Então, escolha uma marca de mediana a nobre e divirta-se. Só permanece o alerta para cuidados com peripécias sexuais envolvendo a bebida (vide o caso da Natalie Wood).


Whisky



“Despedida em Las Vegas” é um filme tão corrosivo que mesmo o charme encantador de Elisabeth Sue passa batido, tamanho o grau deprê das circunstâncias que envolvem a trama. Mas há espaço sim para uma cena do tipo caliente: nossa heroína, na beira de uma piscina, já farta de tentar convencer seu namorado/amigo Nicolas Cage a fazer amor, resolve tomar uma atitude drástica: despeja o conteúdo de uma garrafa de whisky sobre seu corpo para fazer o amado alcoólatra sorver a bebida com a boca por sobre sua pele. O truque até que dá certo, e o ator foi tão convincente em sua sede que ganhou um prêmio da Academia pelo papel. Mas e na vida real, um beijo com whisky pode mesmo render um Oscar? A pesquisa buscou variação com outros destilados de teor alcoólico similar ao do whisky, a fim de ampliar um pouco mais o leque de possibilidades. Além do que, só um perfeito bebum iria conseguir distinguir as diferenças entre um Chivas Regal e um Ballantines, por exemplo. Acompanhe os resultados.

Bebida 1: Johnny Walker Black Label
Opinião da degustadora:
“Não gosto de whisky, então não curti a experiência. Não chegou a embrulhar o estômago porque foi uma dose pequena. Para ser franca, não gostei mesmo. A sensação nem foi tão quente e não amorteceu a língua como outras bebidas fortes fazem. O impacto sensorial foi pequeno, não chegou a ser relaxante”.

Bebida 2: Gin Rock’s Seco
Opinião da degustadora:
“Foi quente. (ri sem parar) Provoca um pouco de tosse depois. Acho que tem um gostinho de aniz. É uma sensação mais forte, apesar de o álcool ser agressivo é bom. O aroma da bebida é agradável, não sei, parece que tem algo de cítrico. Mas o cuidado é que ela tem de ser provada com parcimônia, só para dar ‘um toque’”.

Bebida 3: Rum Carta Cristal Montilla
Opinião da degustadora:
“Se não tiver de engolir, é bom. Você sente um ardidinho. O gostoso é deixar o sabor na boca e ter o contato forte no beijo, daí é legal. Torna mais picante o beijo. Claro que isso não aconteceria com outras bebidas alcoólicas, como a cerveja”.

Dica: Como estas bebidas são muito fortes, cuidado, pois pode rolar babação (foi o que aconteceu na experiência com o rum, molhando roupas e, por pouco, não encharcando o sofá). É difícil, em especial para as mulheres, engolir bebidas de teor alcoólico tão elevado durante o beijo. A impressão é que a combinação é mais indicada para casais acostumados com destilados de alta graduação.


Leite



Em “Lua De Fel”, Emmanuelle Seigner enlouquece a vida de Peter Coyote e de Hugh Grant com um sex appeal avassalador neste que deve ser um dos filmes mais febris de Roman Polanski. As variações sexuais vão desde fantasias de fornicação na fazenda (com o Coyote em pele de porquinho) até situações escatológicas. Mas uma cena arrasadora é a de um café-da-manhã em que Emmanuelle despeja leite puro em si mesma para que seu amante aspirante a escritor venha mamar sobre ela, que se insinua, dança sobre seu corpo e conclui a performance abaixando-se para um sexo oral que culmina com os pães sugestivamente pulando para fora da torradeira. É o Coyote passando de porco a bezerro. Mas leite e beijo combinam mesmo? Fizemos aqui uma variação com leite comum, leite de soja e iogurte, mesmo porque, admitamos, a consistência da bebida, no filme, está mais para este tipo de alimento. A opção pelo leite também residiu no fato de a bebida ser usada na já citada cena da geladeira em "9 ½ Semanas De Amor". Então, confira os resultados.

Bebida 1: Leite Semi-Desnatado Frimesa
Opinião da degustadora:
“Não, acho que não rolou. Leite em si não combina com beijo, porque amarra a boca. Não acrescenta nada ao beijo, fica indiferente. Ah, e a questão de relacionar leite com maternidade me parece algo mais para o homem, e não para a mulher”.

Bebida 2: Leite de Soja Purity
Opinião da degustadora:
“Eu amo leite de soja, então sou suspeita. Mas achei que não combinou muito com o objetivo do beijo, porque eu fiquei mais prestando atenção no sabor do leite do que na língua e lábios me beijando”.

Bebida 3: Iogurte Batavo Naturis Morango
Opinião da degustadora:
“A acidez foi boa e ajudou na sensibilidade, mas o que não ajudou muito foi a textura pastosa. A consistência do iogurte não colabora, acaba não sendo muito agradável, melhor mesmo é algo líquido, apesar de o gosto ser bom. O ácido me parece bom para o beijo, o doce nem tanto”.

Dica: Leite lembra maternidade (em especial para os homens, segundo a degustadora) e, talvez por isso, quando misturada ao calor da boca acabe dando uma sensação boa e familiar, chega até a gerar um certo aconchego, quase um flash-back, só que com a libido à flor da pele (afinal somos adultos, oras). Mas dá para fazer variações que driblem o leite puro, como, por exemplo, misturando com achocolatados, já que o alimento é considerado aliado na saciedade da mesma química cerebral responsável pelos prazeres do sexo. Há outras possibilidades, como os envelopinhos de Tang feitos especialmente para se misturar no leite, e com sabores de frutas diversas. Só não vá exagerar, preparando uma vitamina com frutas, porque a consistência vai acabar dificultando o beijo. Outra variação interessante é o leite condensado, só que é mais apropriado para outras modalidades que não propriamente o beijo. Enfim, as variantes estão aí, é só ficar de olho nas prateleiras dos supermercados. E em alguém com disposição para experimentar.


Vinho



Já virou clichê: dividir um gole de vinho entre duas bocas é tão comum nas novelas quanto no cinema, podendo até servir de metáfora para sangue humano, como no caso de “Drácula de Bram Stocker”, ou de combustível para orgias, como no megacensurado “Calígula”. Talvez nenhuma outra bebida aflore tanto os sentidos, por isso mesmo ela pede para ser vista, cheirada e degustada com apreciação quase religiosa (aliás, por vezes religiosa mesmo). Todos os pontos da boca são sensibilizados, gerando estímulos que podem tanto remeter a um campo de flores silvestres quanto ao vapor quente e úmido que emana do chão encharcado por uma chuva de verão. Na verdade, o vinho já é considerado por si só a mais sensual das bebidas, pois tem personalidade, sabor insinuante e algumas variedades podem realmente provocar a libido. “Wine is like people” já dizia o personagem de Kevin Kline ao de Meg Ryan no açucarado “Surpresas Do Coração” (“French Kiss”, no original). Porém, uma coisa é degustar o vinho do modo tradicional, outra é sorver a bebida junto à boca de um certo alguém. Funciona ou é preciso ser enólogo para saber apreciar? Como dizia o premiadíssimo sommelier Andrew Jefford: "você pode obter o máximo dos vinhos mantendo-se aberto a experiências incomuns". Se um artista na arte da degustação afirma isso, quem somos nós para duvidar? Sendo assim, realizamos esta experiência incomum com três varietais que não estão entre os sofisticados exemplares que chegam a custar mais de R$ 400,00 a garrafa (ou mais de R$ 2.000,00, no caso das predileções de gente do povo como o José Dirceu), portanto os indicados são plenamente acessíveis a quem deseja brincar de sommelier e estrela de filme sensual simultaneamente.

Bebida 1: Château Lacave Cabernet Franc
Opinião da degustadora:
“Não é um vinho muito forte, não me afetou. O gosto nem é suave, só que ele deixa de ter aquela pegada mais agressiva, entende. É um vinho em que se sente muito mais o gosto da uva do que do álcool. Fica um beijo mais excitante, mas acho que a diferença do vinho, da safra, etc, não interfere muito, a não ser que a bebida seja muito ‘simples’ (citou o Vinho do Avô como exemplo de bebida "simples", não do avô dela, que fique claro: para que não conhece, Vinho do Avô é uma marca popular da Vinícola Campo Largo)”.

Bebida 2: Maison de Ville Cabernet Merlot
Opinião da degustadora:
“O sabor não é tão forte, e na hora deixei de beijar para começar a morder, apesar de que isso não teve nada a ver com o gosto, foi mais por medo de a bebida vazar da boca. O legal desse vinho é que ele deixa você mais solto, só não sei se no primeiro gole. Para dar eficácia maior, tem de tomar mais”.

Bebida 3: Salton Classic Cabernet Sauvignon
Opinião da degustadora:
“Achei o vinho saboroso. A acidez foi estimulante, o álcool aquece, dá uma reação, uma certa energia no gosto, e é instantânea. Na verdade, dei um golão muito grande e quase me engasguei. Mesmo assim foi bom”.

Dica: ao final dessa sessão, foi definido que o Château Lacave Cabernet Franc foi mesmo o vinho de melhor performance para o beijo. Mas talvez tenha ocorrido aqui um erro na pesquisa. O equívoco residiu em se buscar vinhos de linhas varietais: tintos secos que são verdadeiramente apreciados por enólogos e enófilos. Provavelmente um tinto suave cairia melhor pelo sabor adocicado, mesmo sendo a adição de açúcar uma heresia para os amantes do vinho.


Água



Sim, a boa e velha H2O também pode ser usada durante a troca de sabores de uma boca com outra. No filme “Grandes Expectativas” há uma cena relâmpago que é tão sutil ao ponto de soar ingênua e, ao mesmo tempo, tão picante que beira o pornográfico: Gwineth Paltrow, em um bebedouro público, surge com sua boca junto à do surpreso Ethan Hawke, num momento em que o pobre e apaixonado rapaz queria apenas matar a sede. Aliás, água é o ambiente propício para romances cenograficamente estimulantes. Leonardo Di Caprio, por exemplo, tem no currículo duas cenas soberbas em meio líquido: no magnífico mar de “A Praia” e na piscina de “Romeu + Julieta”, ele vive espetaculares e torrenciais beijos encharcados de desejo. Mas e você, acha que abrir a torneira pode ser uma experiência excitante? Claro que só água pura seria uma experiência muito inodora, incolor e insípida, portanto, em nosso laboratório, foram inclusas uma água flavorizada e uma marca de água de coco em embalagem longa vida.

Bebida 1: Água sabor Maçã e Limão H2O!
Opinião da degustadora:
“Certamente melhor que água de coco e pior que água normal. Deu para sentir o gás, é bom, faz bolhinhas na boca. Senti o sabor da maçã, mas acho que às vezes, digamos assim, o gosto não é algo tão bom quanto as diferenças que a água comum dá nas trocas de temperatura dentro da boca”.

Bebida 2: Água de coco Trop Coco
Opinião da degustadora:
“O gosto não teve tantas nuances (achou que água pura teve mais, ela foi provada antes). Fixei mais minha atenção no gosto e não é tão neutro quanto a água mineral. Não gostei porque achei muito doce, o beijo ficou enjoativo”.

Bebida 3: Água Mineral Ouro Fino
Opinião da degustadora:
“Não sei descrever. Diferencia do normal porque você não sente nenhum gosto da boca da outra pessoa. É geladinha. É contrastante, com um pulo da sensação quente para a gelada, isso é que foi marcante. Surpreendeu”.

Dica: talvez o fato de nosso corpo ser composto em sua maioria por água gere uma afinidade natural nossa com a bebida. E isso se reflete em reações corporais, haja vista a lubrificação íntima e a famigerada água na boca. No final das contas, o uso de água para aditivar um beijo é também um tipo de lubrificação. E quanto ao gosto, também há uma infinidade de possibilidades interessantes: só de águas flavorizadas se pode encontrar com sabores de limão, tangerina, guaraná e o de maçã utilizado na experiência. É matar duas sedes de uma vez só.


Saldo final: pasmem, a bebida que mais surpreendeu foi... a água. A mais modesta e democrática acabou se destacando. Fernanda não tinha expectativas, achava que iria ser sem graça, mas “uau, sem comentários”, resumiu. Das bebidas alcoólicas, a preferida foi o gin: “eu não gosto de beber puro, mas no beijo ficou perfeito”, afirmou. Aliás, ela considerou que as bebidas mais fortes são as que deixam o beijo mais “picante”, sem negligenciar o valor dos vinhos e champanhes, lógico. Já o leite ficou como o aditivo mais tanto-fez-tanto-faz da rodada. O termo "enjoativo" se repetiu quando as degustações partiram para bebidas mais doces, portanto cuidado com o equívoco de achar que um licor de chocolate vai fazer sucesso no beijo, aqui não vale criar uma regra do "é gostoso de beber, então é gostoso de beijar". O ponto divertido é que isso leva a uma certa necessidade de se experimentar mais e mais bebidas até achar as que mais agradam. Um processo que, aliás, pode ser infinito. Oba!

Para encerrar, e em homenagem à bebida campeã, aqui vai uma verdadeira relíquia. Rita Lee compôs aquela que é, incontestavelmente, a canção de MPB mais água-na-boca de todos os tempos: “Mania De Você”. Agora, imagine um clip com este clássico fazendo fundo para um casal que invade uma piscina e obedece rigidamente a letra, “tirando a ro-oooupa-aa”. Pois foi isso o que a Ellus Jeans fez nos anos 70, criando a maior celeuma entre as famílias de norte a sul do país e deixando o governo militar com os cabelos brancos arrepiados por baixo dos quepes. Provavelmente o mais sensual e ousado comercial já exibido na TV brasileira. São 45 segundos que valem mais que muito longa metragem por aí.




A pesquisa se encerra aqui, mas deixe nos comentários as suas próprias constatações, caso tenha também praticado beijos molhados como os que foram citados. Se não o fez, pratique e comente, pois é altamente recomendável. É claro que, apesar de ser tratada com certo grau de cientificismo, esta é uma experiência muito pessoal, daí o motivo de você dever tirar à prova as constatações passadas aqui.

Últimas colocações:

* A ordem da degustação foi a seguinte: água, leite, vinho, whisky e champanhe - claro, para brindar o fechamento em grande estilo, até porque é muito legal chegar ao clímax estourando as garrafas. Poc!

* Em cada linha de bebida degustada, foi-se da mais modesta para a mais sofisticada.

* Se for repetir a experiência, procure usar guardanapos e até babadores nos primeiros goles, porque uma eventual estranheza inicial pode render algumas risadas. E, consequentes, babadas.

* Essa experiência não é nenhum estímulo ao consumo de álcool, pois a quantidade de bebida ingerida é mínima, o estritamente essencial para aquecer ou gelar a boca e amortecer a consciência. Mesmo porque o álcool em excesso acaba cortando a excitação.

* O ponto complicado da experiência é que, se for executada com uma diversidade de bebidas como a relatada aqui, resultará em uma despesa considerável e em um certo desperdício, visto que acaba se abrindo cada garrafa para um consumo extremamente modesto. O problema se agrava no caso dos vinhos e champanhes, pois, ao contrário dos destilados e águas, são perecíveis. Já os leites podem ser consumidos nos dias seguintes, sem maiores problemas. Portanto, se for também optar por uma grande variedade de bebidas, planeje algo para consumi-las logo em seguida: uma festa, um megaponche ou alguma outra solução. Consumir tudo a dois e de uma só vez será uma experiência com efeitos colaterais evidentes.

* Claro que todo esse ritual ficará muito mais agradável se você preparar o ambiente de forma adequada. Aromas, músicas insinuantes e uma venda nos olhos podem transformar os prazeres do paladar e da pele muito mais aguçados.

* Sugestão: a pesquisa aqui seguiu uma ordem de degustação em que reuniu os produtos em grupos, mas o mais recomendável é intercalar tipos diferentes de bebidas, por exemplo, uma quente seguida de uma fria, uma doce seguida de uma seca, e assim por diante, pois esse padrão imprevisível oferece mais surpresas e sensações. E as bebidas não precisam ser apenas apreciadas entre lábios e línguas, fazer o lóbulo da orelha ficar imerso numa boca preenchida com chá morno é um tipo de experiência muito excitante. A partir daí, você já pode deduzir outras possibilidades...

* É até dispensável dizer, mas lá vai: respeite a lei seca e a vida, se fizer uma experiência similar, não dirija. Ou dê um prazinho a dois até o álcool baixar, aliás idéias é que não faltarão para passar o tempo. Afinal, você não vai ficar só nos beijos, vai?


Agora, é aguardar, porque no dia 23 de novembro será a vez do dossiê “Sexo, Comida e Acetato”, ou seja, um relatório sobre o quanto o cardápio cinematográfico aditiva ou não uma relação. Hmmmmmm...




Mario Lopes

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O desejo da espera

Muitas coisas que vejo me dão água na boca, algumas vezes apenas pensar já é o suficiente, especialmente quando pensamentos e conversas insistem em cruzar os caminhos da libido. Não adianta, quando duas pessoas se curtem e têm a oportunidade de expor seus pensamentos, é inevitável não chegar a determinados assuntos. Principalmente quando existe uma distância entre os personagens, a expectativa de um reencontro vai crescendo e fazendo com que a imaginação trabalhe na “velocidade da luz”, a cada conversa idéias vão se formando, com o tempo elas amadurecem, surge uma intimidade, daquelas que nos permite falar de qualquer assunto com uma liberdade jamais percebida, sentimentos vão sendo descobertos, sensações vão cada vez mais aflorando, tudo isso somado ao desejo. Ahhhh o desejo, é ele que nos enlouquece, ele que nos faz perder o juízo, o tal do desejo é que nos dá água na boca. Por causa do desejo, cogitamos coisas normalmente inimagináveis quando não estamos sob seus efeitos. O desejo desperta fantasias, alimenta a coragem, nos revela necessidades. Quem nunca sentiu aquele friozinho na espinha, pelo simples fato de pensar em alguém? E tem sensação melhor que essa? Imaginar como será quando puder tocar a pessoa desejada, como será o toque dessa pessoa, o beijo, enfim, tudo. Hummm isso sim dá água na boca e é essa sensação que faz valer a pena, quando as coisas são muito fáceis, se tornam sem graça, não existe a espera, a imaginação perde o seu lugar para o sentimento do “tá, e daí, já consegui mesmo, agora nem sei se quero mais, foi tão fácil”.
Às vezes nos perguntamos “Por que gostamos ou queremos o que é mais complexo?”, a resposta é simples, porque precisamos lutar pelo que queremos e quando lutamos, valorizamos muito mais, o ser humano tem a necessidade de querer o que lhe é distante, de cobiçar o impossível e isso faz parte da nossa essência. Não que isso seja ruim, muito pelo contrario, é ótimo, pois o objetivo atingido, sempre terá um sabor especial, sempre nos dará a maravilhosa sensação de água na boca.
É isso aí pessoal, vamos colocar a imaginação para funcionar, pensar em tudo que nos dê água na boca, hoje é sábado, dia de sentir muita água na boca e matar a sede, não que haja dia certo, mas sábado é sábado né?

Bom sábado pra vocês, até a próxima e desejo que todos sintam muuuuuita água na boca...

Bjks a todos e todas...

Lu Oliveira é assistente de marketing e Desaforada X
Sede de chá


Medicinais ou degustativos eles estão em todo lugar. São super acessíveis, dos mais refinados chás de especiarias da Índia, nas prateleiras dos supermercados, até as folhinhas que, muitas vezes, conseguimos do nosso próprio quintal, ou da vizinha. (rss) É lógico que não podemos sair pegando um punhado de qualquer matinho por aí e jogar água fervendo em cima.
Os chás são ervas, dádivas de Deus, que foram estudadas por profissionais ou mesmo pelos antigos que, pelo uso prático, puderam reconhecer suas propriedades benéficas (ESTE TEXTO NÃO INCENTIVA O ESTUDO E/OU PESQUISA QUE NÃO SEJAM AUTORIZADOS POR LABORATORIOS ESPECIALIZADOS).
Os chás, na realidade, são a forma não industrializada de muitos comprimidinhos que compramos nas mega farmácias. E, por isso, merecem respeito. Há aqueles que tomam chá de ervas ou fumam, mas isso é outra história.
Chá, ao contrário do que muitos acham, não é apenas uma água suja com um gostinho. Os chás são muito mais do que isso, aliás, não são isso. Eles são águas aromatizadas delicadamente que trazem aconchego, toda uma atmosfera com eles, exatamente aquela que precisamos em certas circunstâncias da vida. Como aquele chazinho de camomila que fazemos depois de um dia daqueles de stress no trabalho, quando o pneu furou na rápida, o chefe chegou mais cedo, o ex apareceu com namorada nova e a menstruação desceu. Ou aquele chá de folha de alcachofra que só de falar dá arrepios, mas que tomamos aos goles, forçando-nos e pensando no corpão que poderemos ter para entrar naquele vestido a fim de deixar o namorado boquiaberto. Ou, então, aquele chazinho de canela, para aquela noite fria e chuvosa, dividido em canecas da coleção, com a companhia certa dos sonhos em casa, do nosso ladinho.
Os chás são cúmplices dos sussurros de nossos lábios, quando os assopramos para esfriar pensando no que aconteceu e no que pode acontecer, ou ainda quando ganham uma dose extra das lágrimas que deixamos cair naquelas canecas com toda informação de dor e decepção no coração.
Mas, sabe o quê? Para essas situações também existe um chazinho.
O chá que costumo tomar. Aquele melhor do que chá “20 ervas”, é o chá de força e coragem para mais uma tentativa para vida, para você mesma. Chá de confiança e esperança para coisas melhores. Nada de chá levanta defunto.
Chá de “toda experiência é válida e um ótimo futuro te espera”.



Danielle Baliero é Relações Públicas e Desaforada X

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Vai que a moda pega



Tudo no mundo é relativo. O que para mim pode dar água na boca para você não e vice versa. Um bom exemplo disso é a nossa cultura popular, que às vezes me parece, um tanto quanto, bizarra. Aqui no Brasil com esta imensidão toda vemos cada coisa. Se percorrermos de norte a sul muitas vezes teremos a impressão de estar em um país diferente. Mas pasmem é o mesmo Brasilzão, velho de guerra. A televisão acredito ser uma forte unificadora destes costumes. E infelizmente o que mais vemos são as modinhas não muito aproveitáveis que a TV prolifera.
Ultimamente a mais absurda de todas foi uma mulher avantajada de mais, se transformar em símbolo sexual como Mulher Melancia. No vácuo, pra piorar, muitos estilos de Mulheres vieram à tona. Mulher Moranguinho, Mulher Melão, Mulher Filé, Mulher isso e aquilo.
Já que não se pode vencê-los a idéia é unir-se a eles. rsrsrs
Na onda da brincadeira... Agora que virei carioca e somado a isso, o fato de ter me casado com um personal training, que esta me dando altas dicas para fisicamente também virar uma cidadã carioca da gema. Com esta minha cor branquinha, como farinha, e meu sotaque regado a leitE quentE, já estão querendo me lançar como Mulher Barreado. Pode?

Verônica Pacheco

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Ragazzo per mangiare



Uma mulher comprando camisinha num sábado `a meia noite em uma farmácia numa cidade pequena...
Quem já passou por esta situação sabe como é embaraçosa... Mesmo nos dias modernos de hoje.
Conheci um italiano maravilhoso na balada, ele está a trabalho no Brasil e nunca havia ficado com uma brasileira (nem eu com um italiano...).
A balada acaba, trocamos telefones internacionais, eu o deixo no hotel e “ciao”. Durante a semana que se segue, recebo mil e uma mensagens da pessoa querendo me encontrar e sair pra tomar uma “caipirinha”.
Após dar uma de difícil, topo. Saímos uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito vezes!
Nada de sexo. Tomamos caipirinhas, vinhos, cervejas, fomos aos shoppings da cidade, paramos no acostamento e nos beijamos por meia hora, passeamos de mãos dadas, nos beijamos e nos agarramos no quarto do hotel, ele me disse em italiano e exemplificou com o corpo (de roupa!) tudo o que ele ainda ia fazer comigo, trocamos carícias indecentes no elevador, fizemos massagem um no outro com creminho de morango e champagne, assistimos o canal italiano da tv a cabo deitados na cama comendo m&ms... Bebemos todo o frigobar.
Faltavam cinco dias para ele partir e resolvi convidá –lo para passar o final de semana (último) na minha casa uma vez que estava sozinha em casa.
Tudo perfeito. Além de ser italiano, gostoso, gentil e romântico, ele ainda tinha curso de chef de cozinha... Não preciso dizer que ele fez o jantar, comprou o vinho que combinava com a comida, botou defeito em todos os utensílios da minha cozinha porque tudo era de plástico... E as panelas, ah, que vergonha das minhas panelas...
Mas tudo isso criou um clima ainda mais emocionante, no fundo da minha embriaguez eu, mera aprendiz, observava com desejo infinito aquele homem de avental, cozinhando e fumando ao mesmo tempo... Me ensinando tudo sobre gastronomia, facas, azeites...
Minha mente já ia além, imaginava a noite de amor que teríamos...
Jantamos e descaradamente saímos da mesa para o quarto sem maiores pudores... Chegando na cama, ele me dá boa noite e um beijinho... Eu apago a luz.
Quando as pernas se encontram debaixo do cobertor, o fogo sobe e nos enlaçamos de tal forma... Éramos a sobremesa um do outro... Naquele instante senti que poderia casar com ele...
Me agarrou com força, e olhando nos meus olhos disse: “Eu te quero minha, mas não tenho...” CAMISINHA!! AAAAAAAHHHHHHHHHHH!!!!
Não quis acreditar. Fiquei imóvel. E com o corpo ardente pensei como poderia resolver aquela situação... Primeiro perguntei a ele porque ele não tinha, a resposta, decentíssima foi: “Não queria que você achasse que eu só vim pensando nisso, não queria te desrespeitar...”
Oh meu Deus! Ainda existe um homem assim? Me apaixonei mais ainda...
Agora, tinha 3 opções: 1) ligar para o meu irmão que é meu vizinho e pedir camisinha; 2) ligar para a tele entrega; 3) vestir a roupa, pegar o carro e ir até a farmácia.
Achei melhor não envolver meu irmão nisso, afinal, o que ele iria ficar pensando. Depois, uma só camisinha não ia adiantar. E ele não ia me dar um pacote inteiro. Ligar para a tele entrega ia ser super vergonhoso, ainda mais que eles iam sempre saber meu telefone e endereço e toda vez que eu pedisse um remedinho para o meu filho iam dar risada da minha cara... (“Ah, leva lá na casa da louca da camisinha...”hahahahahahah).
A situação indicava que eu teria mesmo que me vestir e me despir de toda a timidez para chegar na farmácia e pedir por preservativos. Sim, nem tudo é perfeito, ele não quis ir comigo para comprar: “No parlo portuguese...”.
Caramba, eu nunca fiz isso na vida! Sempre teve algum amigo gay que comprou pra mim.
Região metropolitana, eu, figura conhecida na cidade, diretora de uma escola cheia de criancinhas... Chego à meia–noite na farmácia, quase de pijama, com um jaquetão por cima, descabelada, com a maior cara de louca e tarada. Depois de 40 minutos de preliminares calorosas e saborosas (com direito a chantilly e tudo...).
O segurança já me olha com cara de desconfiança. O farmaceuticuzinho vem todo sorridente perguntando se pode ajudar. Eu, quase que desistindo da missão, pergunto: “Onde está o cotonete?” A doce criatura, me indica a prateleira, e me entrega uma cestinha dizendo a trivial frase: “Pode ficar à vontade, senhora.” Ficar à vontade? Como alguém pode ficar à vontade numa situação dessas?
Ainda mais que os meus olhos não cruzavam com o diabo da camisinha! Aonde mesmo que colocam as camisinhas pra vender?
Num impulso, saí colocando várias coisas na “cestinha” e, quando pensava em desistir, com a farmácia inteira me olhando (pensava no corpo daquele homem, na minha cama e em todas as promessas depravadas que ele havia me feito e que finalmente ia por em prática) me veio à cabeça a indagação de quantas camisinhas seriam necessárias.
Bingo! Lá estavam elas, junto com as gilettes. Nunca mais esqueço o lugar. No auge da minha loucura agarrei cinco pacotes. Pronto, agora podia ir para o caixa e rezar para que uma mulher registrasse minhas compras.
Uma polaquinha simpática com as bochechas avermelhadas registra tudo com naturalidade, eu pago, ela sorri enquanto embala tudo e me pergunta: “A senhora está de carro?”
Hum? Na hora não entendi a perguntinha. Respondi que sim. Depois fiquei pensando que se eu respondesse que estava a pé, talvez ela embrulhasse os pacotinhos cinzas em duas ou três sacolas pra disfarçar.
A noite foi inesquecível, maravilhosa, interminável, fantasticamente deliciosa...
As camisinhas, é claro, ainda renderam no domingo e na segunda, quando com lágrimas nos olhos tivemos que nos despedir.
No chão do quarto restaram os cotonetes, o sabonete líquido, o desodorante, os chocolates, a bolacha recheada, as gilettes, os esmaltes, minhas outras compras... Que pouco importaram.
É isso aí amigas, sexo só com camisinha.
Nem que para isso, você tenha que pagar o maior mico na farmácia. À meia–noite...

Fabíola Flores é diretora de uma escola de inglês e Desaforada X

terça-feira, 21 de outubro de 2008

HUMMM...ISSO ME DÁ ÁGUA NA BOCA...









Mazé Portugal

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Tema da semana: Água na Boca


Minha amiga é de babar


Sou garota. E gosto de outra garota. Minha melhor amiga. Como descobri isso? Nem eu mesma sei.
Eu a conheci há dois anos, em uma viagem com nossos respectivos "amigos coloridos" para Santos. O meu namorado convidou o melhor amigo dele e a minha amiga pra passarmos o final de semana na casa de praia dele. Então, nos encontramos em um supermercado na Anchieta. Quando eu a vi, mesmo de longe, senti um arrepio. Quando ela se aproximou e se apresentou, já estava excitada. Percorri com os olhos seu corpo. Magrinha, usava um vestidinho longo, azul escuro. Lembro como se fosse ontem. Mas o que mais me chamou a atenção foi a sua boca. Lábios carnudos, com um leve tom de vermelho e um sorrisão estampado no rosto. O aparelho com borrachinhas rosa e verdes, claro, lhe davam um ar infantil. Cabelos soltos e praticamente sem nenhuma maquiagem.
Fiquei muito confusa. Sempre gostei de homens e do nada fiquei excitada por uma garota. Como pode isso?
Tentei afastar estes pensamentos, mas acho que pressenti que rolaria alguma coisa. O clima estava pesado, parecia que havia algo "no ar".
Então, pensei: "Eu não quero nada com ela, mas seria interessante experimentar só um beijo pra ver como seria...”.
Só que aconteceu muito mais do que um beijo. Ficamos juntas. Senti a pele dela, suave, lisa e macia. A respiração entrecortada e ofegante. Os gemidos baixinhos. O calor, o cheiro, o sabor... foi maravilhoso fazer amor com ela - isso mesmo, não digo fazer sexo, mas fazer amor mesmo. Porque com ela foi muito mais do que uma simples transa. Não consigo descrever o que senti, mas foi mágico.
Depois disso, não tocamos mais no assunto. O tempo passou e a amizade entre nós duas cresceu. Trocamos confidências de todos os tipos, mas nunca mais falamos sobre aquele dia na praia. Talvez por vergonha, não sei. Mas a atração continuava lá, e eu já não sabia mais o que fazer. Não tinha com quem falar ou pedir ajuda.
Escondi isso até ela me apresentar a um amigo. De imediato gostei dele. Inteligente e objetivo, assim como ela. Conversamos muitas vezes pelo MSN e a partir destas conversas consegui juntar coragem e colocar pra fora o que fiquei represando por tanto tempo. No começo fiquei com muito medo de que esta "revelação" estragasse a nossa amizade, o que não aconteceu. Sei que ela corresponde aos meus desejos, embora não da mesma forma, mas isso não importa.
Não me considero bi porque só tive esta experiência com ela e até hoje não senti algo parecido por outra garota. Nunca me interessei.
Infelizmente ainda sou obrigada a esconder este sentimento porque o preconceito ainda é muito grande. As pessoas criam uma expectativa imensa em cima de você e a decepção é grande demais quando você não corresponde a elas.
Mesmo assim, por mais que eu esconda (principalmente por conta da minha família), o mais importante eu já consegui. Libertar a minha alma. A sensação de liberdade, mesmo que apenas dentro do meu espírito, por enquanto já me é suficiente.
Este relato é real. E eu continuo babando por ela. Todos os dias.



Luciane Fernandez é auxiliar administrativa e Desaforada X

sábado, 18 de outubro de 2008

O diabo a três



Mais um feriado para reunir as três meninas. Agora estavam voltando em definitivo para a cidade pequena. Cada qual com seu diploma, mas dificilmente podendo exercer, em um lugarejo tão medíocre em oportunidades, a profissão na qual se formaram. Como eram muito unidas, faziam o que podiam para não se entediar, e aquela tarde na fazenda era mais uma ocasião para bom almoço, passeio a cavalo e conversas debaixo das árvores do pomar. Velouria, Tasha e Dishka acabaram mudando os planos no meio da tarde por ocasião de uma chuva torrencial que, de tão forte, agitou os cavalos e destelhou parte do estábulo. Enquanto o caseiro corria para providenciar lonas e escadas, o trio se abrigou na ampla varanda, dividindo espaço nas redes penduradas entre as pilastras e a parede que ainda conservava os pequenos desenhos a lápis feitos quando eram crianças. Os pais foram para a cidade averiguar se os estragos não se estenderam ao casario que a zelosa Dona Ana transformara em boutique. Certas de estarem sozinhas, adentraram em assuntos proibidos que nem se esforçaram em falar a voz baixa. Mas o filho do caseiro Jair, um rapaz tímido e solitário de nome Laio, juntava a louça suja na mesa da sala de jantar, contígua à varanda, quando atentou a termos pouco adequados para três moças de boa educação. Resolveu acompanhar a conversa na surdina, prostrando-se agachado ao lado do sofá, próximo à janela aberta que deixava adentrar o som das maliciosas conversas.
Em meio a relatos de aventuras até então por ele inimaginadas, as três entraram em uma revelação perturbadora e curiosa: Velouria mostrou-se preocupada com as “cápsulas do tempo”: se elas não poderiam vir a ser desenterradas com tamanha chuva que caía daquele céu cor de chumbo. As duas irmãs garantiram que não, que todas haviam cavado buracos fundos demais e em lugares que não tinham qualquer declive para a terra se desmanchar com a água.
Nas semanas que se seguiram, Laio procurou intrigado por informações sobre o que viria a ser uma cápsula do tempo. Em uma de suas idas para a cidade, foi até a biblioteca pública, mas não encontrou nada nos arquivos que pudesse lhe dar qualquer luz sobre o tema. Ao indagar a bibliotecária, que passava o dia lendo para espantar o marasmo e a solidão, chegou até um livro sobre a vida de Andy Warhol. Conheceu o papa da arte pop e também uma proposta que Laio considerou sem sentido: a de se guardar em uma caixa ou baú diversos artigos pessoais importantes de sua vida num dado momento, só abrindo o recipiente num futuro distante para poder reviver aquele período com nitidez. Assim, aromas, imagens e objetos saltariam para fora de suas urnas como verdadeiros mensageiros de uma época distante, reacendendo-a na memória. Laio deduziu que as três herdeiras da fazenda haviam feito isso, só que enterraram suas cápsulas do tempo. E, deduziu de novo, se enterraram é porque ali escondiam seus segredos do tempo presente.
Poucos dias depois, as três irmãs chegaram na fazenda para passar por lá uma pequena temporada: talvez sete dias, não mais que isso. Laio atravessou aquele período observando cuidadosamente os passeios do trio, encilhando seus cavalos logo cedo, mesmo quando elas nem lhe pediam a montaria. A única coisa que lhe fazia lamentar as cavalgadas era o fato de Velouria ter de trocar de roupa, tirando seu vestido de estilo hippie para calçar botas e exibir sua calça jeans de rasgos estrategicamente fashion na altura dos joelhos. Velouria era sua favorita, não que deixasse de se sentir atraído por Tasha e Dishka, mas a altivez da mais velha e sua segurança rebelde faziam a imaginação de Laio pulular em noites de prazer solitário. Ela era ao mesmo tempo o orgulho e o temor do pai, Alziro, que precisava de uma das três para encabeçar a continuidade dos negócios, mas temia por Velouria vender tudo em troca de uma vida de hedonismos no exterior.
Embora nenhuma das três se demorasse muito em qualquer lugar pelo qual cavalgasse, Laio conseguiu com o tempo investigar melhor onde haviam escondido suas relíquias proibidas. Tasha deliciava-se à sombra do mais frondoso pessegueiro do pomar todas as tardes, o mesmo em que ainda restava pendurado seu balanço de infância. Muito provavelmente, seu chão é que confinava os segredos da mais jovem filha do velho e robusto Alziro. Dishka gostava de saborear o chá de carqueja de Dona Evelina, mãe de Laio, e também de passear no pequeno jardim onde plantava-se hortaliças e ervas. Por fim, Velouria ficava sentada ao lado do grande cactus ao alto de uma colina, já nos limites da propriedade, alegando de lá poder ver toda a paisagem, as copas das árvores e até a cidade mais ao fundo.
Segurou sua curiosidade até o dia em que as três voltaram para a casa da família, pois o pai lhes ligava insistentemente querendo dar alguma ocupação para as ociosas irmãs. Munido de uma pá e lanterna, Laio decidiu que sairia nas noites seguintes para cavar nos locais suspeitos. Abriu covas profundas próximas ao pessegueiro, mas entrou em processo de exaustão quando completou o contorno ao redor da árvore. Seu esforço foi recompensado já em alta madrugada, quando sentiu a ponta de metal de sua ferramenta desferir um som oco no meio da terra. Levou para casa um pequeno baú de madeira, entrando sorrateiro pela humilde sala e tirando as roupas marrons de terra ao chegar em seu quarto pequeno e de teto carcomido por cupins. Abriu o baú e tirou de dentro dele laudas pautadas em diversas cores e com letra de capricho típico de uma mulher, com “a” e “o” que pareciam ter sido desenhados a compasso. Mas o conteúdo daquelas missivas, que Tasha certamente escrevera para si mesma, contrastavam com a pureza e esmero da letra. Eram relatos minuciosos de todo sexo vadio, sujo, perverso e inconfessável que ela havia praticado em sua vida, a qual ainda estava no frescor da alvorada. Nomes, datas e até locais estavam lá demarcados. Posições, predileções e minúcias de cada sensação de prazer e dor narradas em pormenores tão realistas que ficava claro não terem sido fruto da fantasia de uma jovem recém-formada. Laio leu e se excitou a tal ponto que não tardou a sujar aquelas folhas até então preservadas por madeira, terra e silêncio.
Na noite seguinte invadiu o terreiro de hortaliças, cavando logo ao lado dos pequenos ramos de carqueja. A tarefa agora parecia mais fácil que na noite anterior, talvez por já ter pego maior prática em cavar ou por ter trazido uma lanterna menor, que pode ablacar entre os dentes enquanto cavava. Desta vez não era um baú, mas sim uma caixa de madeira, contendo em seu interior uma outra, feita de isopor. Não quis continuar a abrir os recipientes ali na escuridão, correndo novamente para casa e se abrigando no silêncio de seu pequeno quarto. Percebeu que mal sujou a roupa, apenas estava com dor no maxilar e nos ombros. Na segurança de seu modesto aposento, abriu o isopor de Dishka e viu uma enormidade de pequenas bolas de isopor, leves e brancas, cobrindo algo que ainda não sabia o que era. Virou a caixa de lado, deixando aquela cobertura alva ser despejada sobre sua cama. Viu então diversos recipientes plásticos transparentes, contendo em seu interior pequenos tijolos de uma erva que deduziu ser maconha. Havia uma grande variedade da droga, algumas mais compactas, outras esfareladas e de um verde mais vivo. Também encontrou pequenas bolotas de cor negra e âmbar, talvez haxixe, pensou. Vasculhando melhor a caixa achou maricas de todos os tipos: artefatos para se fumar o cigarro de maconha quando este chega próximo ao fim e queima a boca. Eram pequenos cachimbos adornados por desenhos de duendes ou mini-esculturas de fadas feitas de Durepox. Papéis de cigarro de maconha com envelopes em língua estrangeira também estavam ali disponíveis. Laio não sabia como se fumava maconha, mas tirou um pequeno tijolo da droga de um dos sacos plásticos, raspou com a unha uma porção minúscula da droga, colocou-a sobre um pires que restava esquecido sobre a cômoda e foi e voltou da cozinha com uma caixa de fósforos. Ateou fogo e tentou sentir o cheiro, mas suas narinas foram impregnadas da pólvora do fósforo, fazendo-o tossir. Temendo ser flagrado, abanou com a mão a fumaça, que lhe pareceu semelhante ao aroma da carqueja. Acomodou todo o conteúdo novamente dentro da caixa, lamentando ter esparramado as bolinhas de isopor sobre a cama, pois teve dificuldade em juntá-las novamente. Guardou a caixa ao lado da outra, embaixo da cama, e tentou dormir, mesmo com a dificuldade oferecida por sua curiosidade quanto à terceira "cápsula" e à irritação trazida às suas narinas pela fumaça de pólvora e maconha.
A terceira noite foi a mais difícil de todas, isso porque o cactus parceiro de Velouria quando ela contemplava o horizonte vasto da região ficava a uma distância considerável, e a caminhada exigiu fôlego e paciência. Laio pensou em ir a cavalo, mas a montaria certamente iria fazer barulho e chamar a atenção de seus pais no meio da noite. Caminhou de lanterna em punho e botas de borracha pisoteando o encharcado solo da pastagem molhada pela chuva que caíra durante o dia. Do alto da colina é que foi perceber outra dificuldade irritante: o chão não era fofo como o que ficava ao redor do pessegueiro, nem seco como o das hortaliças, mas sim pedregoso e duro. Chegou em certo momento a duvidar que era aquele o lugar escolhido por Velouria, mas sabia que, pelo estilo determinado de sua musa, essas características pouco favoráveis tornavam o local muito propício a um esconderijo e, por isso mesmo, se mostravam determinantes em sua decisão, por mais trabalho que lhe dessem. Laio cavou até molhar o chão arenoso com seu suor, e quando já se aproximava a alvorada sentiu o regozijo de atingir o tão sonhado baú dos segredos. Era a caixa mais pesada de todas. Carregou-a com dificuldade, chegando a deixar a pá no meio do caminho para resgatá-la no dia seguinte. Entrou em seu quarto com os braços amortecidos pelo esforço. Depositou a caixa no chão e fez posição de afronta perante o peso de seu objeto do desejo, colocando as mãos na cintura e soltando a respiração ofegante como que subjugando alguém que lhe desafiou. Sujo dos pés à cabeça, ajoelhou-se perante a caixa e a abriu cuidadosamente apesar da pressa, curioso que estava de conhecer seu conteúdo. No entanto, a frustração veio na mesma proporção de sua gana por desvendar aquele mistério. Só havia uma coleção de discos de vinil. Percebeu então que o peso maior era da caixa em si, talvez feita de maçaranduba pelo tom negro que lhe é peculiar. Correu os dedos pelos discos e percebeu que todos eram de um mesmo artista: Pixies. Não entendeu o que poderia haver de segredo ali, e deduziu que Velouria era tão esperta que jamais deixaria alguém desvendá-la, mesmo que enterrando seus segredos em local ermo. Dormiu com a dor do cansaço e da frustração.
Os dias seguintes foram de expectativa, pois não sabia o que fazer com seu segredo. Também não sabia se devolveria as caixas a seus respectivos esconderijos. O que mais lamentava era o fato de não ter desvendado nenhum mistério de Velouria, a mais bela, enigmática e orgulhosa das três irmãs. A história de Velouria, porém, envolvia muita dor e superação, talvez daí tenha sido lapidado um gênio difícil de domar e cheio de si em seus orgulhos e desejos. Embriagada, ainda adolescente, colidiu com o carro de seu pai em um caminhão na rodovia que ligava a cidade à capital. Foram meses de recuperação, viagens para cidades com mais recursos e, segundo consta, diversas cirurgias plásticas. A Velouria que retornou era ainda mais bela do que a adolescente problemática que a cidade conhecia. Como um mero filho de caseiro, Laio sempre a observava com distanciada e respeitosa admiração. Pouco conversavam. Embora tivessem a mesma idade, os assuntos eram muito diferentes e o contraste de personalidade e erudição se agravou quando Velouria foi para a capital, levando consigo as outras duas irmãs em seguida. Ficaram esquecidos até mesmo os momentos de infância em que brincavam juntos de descer os declives do pasto sentados em cima de pedaços de lona.
Certo dia, as três moças chegaram na fazenda de surpresa. Laio se assustou com o ocorrido, pensando que então teria de tomar alguma decisão de improviso. Muito provavelmente elas iriam até os locais onde enterraram seus segredos, percebendo que a terra fora revolvida, chegando assim à conclusão de que alguém sequestrou seus mistérios. Laio poderia ficar calado, mas seria para as três muito fácil deduzir que foi ele o autor da proeza, já que seus pais ou os demais trabalhadores seriam muito pouco suspeitos.
Quando chegou o final do dia, Laio sentiu que a tensão havia se estabelecido no casarão da fazenda. As três moças mal conversavam entre si e também não dirigiam a palavra a ele. Comiam com dificuldade para engolir e falavam aos cochichos. Quando foram embora, no dia seguinte, deixaram no olhar uma faísca de afronta, entrando no carro pensativas em como resgatar o passado que as condenava.
Na semana seguinte, Dishka veio sozinha para a fazenda. Cavalgou a tarde toda e, já no final do dia, chamou Laio para lhe fazer companhia. Ele sabia qual a intenção do passeio, mesmo assim encilhou seu animal e trotearam por um bom trecho sem dirigir palavra um ao outro, até que Dishka resolveu se manifestar, indagando onde estavam as suas cápsulas do tempo. Laio não tentou se defender ou se dar por desentendido. Falou que estavam em seu poder e muito bem cuidadas, que ninguém poderia chegar até elas que não ele. Mais aliviada, Dishka perguntou quando ele as devolveria. Laio nada respondeu, apenas disse que queria aprender a fumar maconha. Desceram de suas montarias, sentaram-se no pasto, cuidando para evitar um eventual monte de esterco. Dishka tirou do bolso da calça um pequeno embrulho plástico. Abriu-o e mandou que Laio esticasse a palma da mão. Sobre ela, passou a esfarelar a droga, explicando que aquela operação se chamava “dechavar”. Tirou de outro bolso um papel de seda para fumar a maconha, enrolando-o cuidadosamente e pedindo a Laio para que prestasse atenção na forma de salivar as beiradas, de maneira a não abrir o cigarro ao ser tragado. Fumaram, com Laio tossindo fortemente, mas depois entrando no estágio de letargia misturada a profusão de pensamentos e sensações, levando-o para outro campo muito longe daquele. Ao ser trazido novamente para casa, Dishka percebeu que o rapaz não estava em condições de pensar ou agir, dando-lhe apenas a recomendação de que cuidasse bem da caixa de isopor, deixando claro que ela voltaria outro dia para resgatá-la. Trancado em seu quarto, Laio adormeceu enquanto via o teto se abrir sobre sua cabeça.
Não tardou à outra irmã, Tasha, vir reivindicar também sua caixa. Caminhando com Laio pela plantação disse que iria levar seu baú e o das duas irmãs. Laio afirmou que os devolveria, mas que queria ouvir da própria Tasha alguma das histórias relatadas por ela na cápsula do tempo. Tasha hesitou, mas acabou aceitando a proposta. Ficou, porém, sentada de costas para Laio, a fim de não encará-lo nos olhos enquanto contava um episódio de aventura com um primo no parque de diversões que se instalou na cidade há alguns anos. Sem poder ser visto por sua interlocutora, Laio se acariciou por sobre a calça.
Ao final do dia, Laio reconsiderou sua proposta, reafirmando que devolveria as caixas, era promessa, mas que ainda iria querer ouvir outras histórias e fumar mais antes de cumprir com sua parte no trato. Não adiantou Tasha tentar negociar, mesmo porque ela sabia estar nas mãos de Laio: ele tinha as provas e poderia fazer com elas o que bem entendesse. Assim, outras sessões de maconha e relatos de picardia sexual se seguiram com as irmãs, às vezes até com as duas juntas. A grande frustração de Laio estava no fato de Velouria não se unir ao grupo, e de ele nada poder fazer para reverter sua desvantagem, já que não encontrara nenhum segredo em sua cápsula do tempo. Passou então a ouvir todos os dias os discos de vinil na vitrola antiga de seus pais. A princípio, não gostava do som do Pixies, mas acabou se acostumando, e chegou a um momento até em que passou a sentir falta de ouvir as músicas. Sua canção favorita tinha o mesmo nome de sua amada, e Laio então descobriu por que Veroushka escolheu o apelido de Velouria.
As frequentes sessões de maconha e relatos picantes no campo não tardaram a motivar iniciativas mais ousadas de Laio, que passou a tentar beijar as duas irmãs naqueles encontros. Conseguiu avanços com cada uma e em pouco tempo já trocavam carícias, com as duas moças tornando-se ao mesmo tempo amantes e reféns. Laio tentava agradá-las com presentes, como dois gatinhos nascidos há pouco tempo no celeiro da fazenda. Buscava criar um vínculo e já se irritava com as pressões pela devolução das cápsulas do tempo. Seu plano era o de conquistá-las a tal ponto que lhe deixassem ficar com as cápsulas e se entregassem a seus delírios de tê-las como fornecedoras de prazeres mentais e carnais. Foi quando Velouria sentiu a necessidade de intervir. Certo dia, desembarcou na fazenda sozinha, a bordo do utilitário do pai, e intimando Laio, com olhar severo, a devolver de uma vez as caixas para suas irmãs. Desta vez, foi Laio quem pediu um passeio pelo campo para conversarem. Fez então uma proposta: queria ter Velouria uma única vez e então, jurava, iria devolver as caixas. No mesmo dia, inclusive. Velouria aceitou. Combinaram então o local: ao lado do cactus, no alto da colina, onde poderiam ver tudo e não ser vistos por ninguém.
No dia, Laio levou uma mochila com um lençol e um colchonete dobrável para minimizar o desconforto do chão árido que rodeava o vegetal agreste. Velouria cumpriu com sua parte do acordo, estando lá no exato horário combinado. Laio levou a caixa de Dishka e o baú de Tasha. Velouria disse que ele poderia ficar com seus discos, dando-lhe alívio, já que dificilmente iria conseguir novamente transportar aquela caixa tão pesada. Velouria estava com seu vestido hippie, que tremulava com o vento que chicoteava a colina em lufadas agressivas. Ela despiu-se e fizeram amor até se ferir com seus corpos rolando sobre as gramíneas e pedras. Quando Laio acordou, Velouria já havia ido embora com as cápsulas do tempo das irmãs. Levantou-se e voltou para sua casa, ainda entorpecido por haver consumido um ato até então para ele considerado inalcansável.
Os dias se passaram e Laio soube que Velouria estava se mudando para Memphis, nos Estados Unidos. Ninguém sabia por quanto tempo essa mudança iria durar, talvez por toda a vida. Acabaram-se as oportunidades dos feriados, em que ela com as duas irmãs vinham para a fazenda cavalgar e dar risada à sombra das árvores do pomar. Eram garotas do mundo nascidas por acaso numa cidade do interior. Logo, certamente Tasha e Dishka também iriam para a América com Velouria. Laio preferia não pensar nas possibilidades, apenas lamentava não descobrir novas cápsulas do tempo.
Certa manhã, Laio recebeu um pacote vindo do correio. Não havia nenhuma assinatura na caixa, e ele ficou com receio de abri-la dentro de casa. Laio caminhou pelo campo com o pacote embaixo do braço. Resolveu abri-lo quando já estava a uma distância considerável. De dentro da caixa tirou o vestido hippie de Velouria. Abraçou-o surpreso, tentando sorver o aroma do corpo outrora ali abrigado e que ele teve a oportunidade de tocar por uma tarde. Porém, percebeu no meio do vestido uma mancha vermelha. Sangue? Laio temeu por Velouria ter se matado e lhe enviado o vestido como vingança. Neste instante, relembrou dos encartes dos discos do Pixies deixados por Velouria, com a tradução escrita ao lado das letras pelas mãos dela própria. Havia uma música chamada “Cactus”, e Laio recordava bem de um trecho:
“Fure suas mãos num cactus
Limpe o sangue no vestido
E mande-o pra mim”
Laio então se deu conta de que Velouria tinha furado a mão no cactus, intencionalmente, logo após terem se consumido no alto da colina. Obedecera o ordenado pela letra e lhe enviou o presente. Laio então tirou do bolso um cigarro de haxixe que fez com a droga antes de devolver a caixa de Dishka para Velouria. Ficou fumando e apreciando o vestido, acariciando o tecido e esfregando-o suavemente em sua face. Chegou a lamber a mancha vermelha em seu centro. Entre uma tragada e outra, Laio percebeu que talvez as letras das músicas trouxessem mais revelações, que este fosse o verdadeiro segredo enterrado por Velouria. Deixou o vestido discretamente pendurado em uma macieira, colocou a caixa vazia embaixo do braço e correu para sua casa.
Abriu os discos e leu as letras de forma aleatória. Algumas chamaram sua atenção:
“Enquanto estávamos dormindo
Eu tentei dizer
Mesmo em sonhos
Minhas palavras foram assopradas para longe”
Seria mais uma revelação de que Velouria queria dizer algo mesmo estando distante? Outras letras pareciam não fazer o menor sentido:
“Quero crescer
Até me tornar
Tornar um degenerador, degenerador”
O que seria um degenerador? Um trecho então chamou sua atenção de forma contundente:
“Bem, sente-se meu filho maligno
E deixe-me contar uma história
Sobre o garoto que caiu da glória
Ele tirou a sua irmã de sua cabeça
E a impregnou nos lençóis
E eles rolaram acima da grama e das árvores
Isso não é nenhum feriado
Mas sempre acaba desse jeito
Aqui estou eu com a minha mão”
Seria uma insinuação de que eles eram irmãos? Não podia ser, com certeza era o haxixe deturpando suas interpretações. Continuou lendo os encartes para tentar tirar aqueles pensamentos da cabeça e fazer outras descobertas.
“Eu tenho um rosto quebrado,
Eu tenho
Eu tenho um rosto quebrado
Eu não tenho lábios,
Eu não tenho língua
Onde havia olhos
Há apenas espaço”
A música parecia referência ao acidente sofrido por Velouria. Mas e se ela tivesse sido trocada por outra garota nesse tempo todo em que ficara distante em cirurgias diversas? Se Veroushka e Velouria fossem pessoas diferentes? Agora, Laio suava frio e suas deduções o perturbavam cada vez mais. Tremia e tinha a visão embaçada, mas continuava a passar os olhos pela letra da composição:
“Havia esse garoto que tinha dois filhos com suas irmãs
Que eram suas filhas,
Que eram suas amantes favoritas”.
Uma nova referência ao fato de terem o mesmo sangue nas veias? Ele não podia deixar de levar em conta que seu pai era um homem muito ingênuo, e que sua mãe nunca conseguiu disfarçar bem sua admiração por Alziro. E pior: Alziro era afamado por seus dotes de conquistador. Some-e a isso o fato de ser poderoso, influente e ter sua mãe trabalhado na casa da família como doméstica antes de se casar com seu pai... Já farto de raciocinar e chegar a conclusões tão ameaçadoras, Laio arremessou a caixa do vestido contra a parede, fazendo saltar de dentro dela algo que ele ainda não havia visto: um pendrive. Não sabia ao certo qual a função daquele pequeno objeto, mas tinha certeza que ele abrigava informações para serem vistas em um computador. Ali poderia estar alguma prova cabal de que ele era uma bastardo incestuoso, ou quem sabe gravações que mostrassem ter sido ele um chantagista das três irmãs, ou talvez até coisas piores (um vídeo de Velouria se matando e limpando o sangue com seu vestido?). Ele tinha ciência de que não adiantaria destruir o objeto, pois Velouria teria as mesmas informações em algum computador. O turbilhão de ameaças juntou-se ao fato de sua vida não ter mais sentido sem as três irmãs à disposição, fazendo Laio tomar uma atitude drástica. Foi até o celeiro, engoliu o pendrive e, com ele, uma quantidade altamente letal de herbicida. Morreu se propondo a ser ele próprio enterrado como uma cápsula do tempo, pronta para fazer surgir suas revelações num futuro distante.
No instituto médico legal, ninguém entendeu quando foi feita a incisão em seu abdômen e retirado de suas vísceras o pendrive, que, ao ser acessado, revelou haver em seu interior um único arquivo. Nele, contemplava-se um vídeo de despedida em que Velouria, já em Memphis, filmou suas duas irmãs.





Mario Lopes