quarta-feira, 30 de junho de 2010

Abstinência



Ela se induz ao erro

Talvez a solução vinda dos opostos



Já que o certo tem sido tão precipitado

E a tentativa sempre em vão



Ela não o ama

Ama a si própria na representação que projeta da existência dele



Um clareamento dos diálogos rotineiros de abstinência

Na medida em que ela aceita o fascínio pela idéia

De não ter

De nem ser

Nunca matéria

Nunca perto o suficiente pra tornar-se físico

Nunca físico o bastante para tocar o real

Nunca real o suficiente para deixar de relembrar o que não foi

Mastigar, engolir, deglutir

Encontrar a substância podre

Defecá-la

Lavar o íntimo, revelar um pouco da alma

Fechar um ciclo

Comer a semente

Eu não pretendo te roubar pra mim

Te quero pra matar a ânsia

Enforcar a falta

E depois disso tornar-te efêmero

Fazendo-me normal

Sem coisas, sem desejos, sem rabiscos


Eu quero recomeçar sem seguir teu molde

Sem pintar tuas cores

Sem gravar teus sons


O problema é sua presença não anunciada em todas as frases

É o meu querer nas estrelinhas

Ou em qualquer linha das tuas mãos,

Que eu toco fingindo esbarrar.


Só mais uma dose de você

E eu prometo me abster.





Jéssica Ferreira

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