segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Tema da semana: Só uma vezinha

Só Mais Uma Vez Novamente


Enquanto Maria Eduarda escolhia a roupa que ia vestir naquela noite lembrava do tempo em que ela e Marcos eram Marquinhos e Duda, ou, Duda e Marquinhos.
Viviam no mesmo prédio, estudavam na mesma escola, os pais eram amigos e, por isso, cresceram juntos.
Duda era extrovertida e adorava brincar com os coleguinhas, era democrática e liderava os amigos. Marquinhos era mais introspectivo, inteligente e educado, nunca saía de perto de Duda e a defendia quando ela corria algum tipo de “perigo”.
Brincavam juntos nos finais de semana e algumas pessoas achavam que eram irmãos, tamanha a semelhança física.
Nunca houve entre eles aquela diferença entre meninos e meninas, bem como as brincadeiras grosseiras, típicas da adolescência. Adoravam-se e respeitavam-se muito.
Na adolescência, foi Duda quem tomou a iniciativa e roubou o primeiro beijo de Marquinhos durante a festa de aniversário da melhor amiga de ambos. Ele, muito timidamente, retribuiu.
Tinham 17 anos quando começaram a namorar e estudavam juntos para o vestibular.
Marquinhos queria passar em medicina e planejava fazer vestibular em várias universidades do país. Duda queria ser juíza e, para tanto, passava horas lendo ao lado do namorado.
O vestibular chegou e Marquinhos passou em uma universidade em outro estado, distante 1.000 km da cidade onde moravam.
Quando contou a novidade para Duda, ela chorou. Derramou lágrimas de alegria e tristeza simultaneamente. Estava feliz porque o namorado tinha realizado seu sonho, mas doía-lhe o peito ao imaginar que ele estaria muito longe e que a frequência dos encontros diminuiria significativamente.
No dia em que Marquinhos foi embora, abraçaram-se e ficaram colados um no outro, por muito tempo, em silêncio. Quando Marquinhos entrou no carro dos pais para ir ao aeroporto, Duda não derramou uma lágrima.
Nos primeiros tempos, mantiveram contato através de cartas durante todos os dias, como um diário. Aos poucos, as cartas que eram diárias, passaram a ser semanais e, logo em seguida, mensais. Até que, depois de um verão, quando Marquinhos foi passar um mês com amigos na praia e Duda viajou para os Estados Unidos com as amigas, elas cessaram.
Não cobraram um do outro porque não se falaram mais. Estavam quase adultos, já tinham outros amigos, outro ritmo de vida e entendiam que esse era o curso natural das coisas.
Dezoito anos depois, Duda já Maria Eduarda, depois de alguns relacionamentos mal sucedidos, ainda estava solteira e era uma juíza respeitada na cidade.
Naquele mês, justamente naquele mês, em que ela estava toda atrapalhada com o ritmo de final de ano no fórum, Marquinhos, agora Dr. Marcos, a procurou quando ela saía do trabalho.
Estava cansada, carregava mil coisas, levava trabalho para casa, quando o celular tocou. Os livros que tinha nos braços caíram no chão, a bolsa abriu e o celular rolou pela calçada.
Correu atrás do telefone, apanhou-o do chão e atendeu o número desconhecido, sem nunca imaginar quem poderia ser. Quando ouviu a voz de Marcos, congelou. Congelou inteira, desde o fio de cabelo, até o pé. Congelou por dentro e por fora. Não conseguia falar. Lembrou-se da brincadeira de “estátua” que adoravam brincar, quando crianças.
- Oi, Duda. É o Marcos.
- O-o-i M-m-a-r-q-u-i-n-h-o-s. Tudo bem contigo ?
- Sim, tudo bem. Estou na cidade e gostaria de saber se podemos nos ver, tomar um café.
Maria Eduarda queria conseguir dizer: “Não, não podemos nos ver”. Mas não foi forte o suficiente para isso. Dezoito anos se passaram e ela ainda gostava muito dele.
O encontro seria na casa dos pais de Marcos, que estavam na praia.
Agora, já vestida, Maria Eduarda olhava-se insegura na frente do espelho. A imagem da adolescente descolada havia dado lugar à imagem de uma mulher madura e clássica, séria demais, por vezes. Não tinha certeza se a roupa escolhida era a mais adequada, mas tentou ser o mais despojada possível. Maquiou-se de forma discreta, colocou um perfume suave e dirigiu-se à garagem para pegar o carro.
Quando Marcos abriu a porta para recebê-la, uma vontade de sair correndo dali tomou conta de seu corpo, mas ele deu um sorriso lindo e sincero, convidou-a para entrar, e então ela não resistiu.
Eram estranhos um ao outro, não tinham mais absolutamente nada em comum.
Ao mesmo tempo em que conversavam constrangidos, um clima de sedução começava a surgir entre os dois. Dezoito anos se passaram e hoje não eram mais dois adolescentes magrinhos com espinhas na cara e corpo desproporcional. Marcos era um homem moreno e charmoso, de voz firme e, por onde passava, marcava presença. Maria Eduarda tinha cabelos longos e lisos, corpo bonito, embora escondido pelas roupas de linhas clássicas exigidas pela magistratura, e aquela beleza discreta que dispensa maquiagens e roupas insinuantes.
Marcos ainda era um homem introspectivo e discreto, mas a maturidade trouxe a ele a ousadia e, hoje, era um homem que sabia o que queria, e não mais o menino inseguro de anos atrás.
Quando Maria Eduarda pediu a ele que a servisse de um pouco mais de vinho, Marcos viu que ali estaria a chance que ele tanto queria. Alcançou o copo de vinho para Maria Eduarda e, quando ela foi pegá-lo, ele recuou, pegou sua mão, puxou-a contra seu corpo e beijou-a. Desejavam aquele momento, precisavam dele.
Transaram ali mesmo, na sala da casa dos pais de Marquinhos, onde muitas vezes haviam estudado, ouvido música e assistido a filmes teenagers.
Marcos explorou cada milímetro do corpo de Maria Eduarda, lentamente, beijando-a, acariciando-a, sentindo-a. Maria Eduarda retribuiu com o mesmo desejo, com a mesma atenção, com o mesmo tesão. A noite de sexo seguiu-se por horas, não queriam que aquele momento acabasse na explosão de um gozo só.
Mas foi impossível conter o que tanto desejavam...
Quando acabaram, Maria Eduarda estava zonza, as pernas bambas, confusa.
Marcos, que minutos antes havia se mostrado atencioso e sedutor, tornou-se frio e objetivo, sutilmente insensível. Levantou-se, vestiu-se e deixou a sala. Quando voltou, poucos minutos depois, Maria Eduarda perguntou a ele o que havia acontecido para que ele tivesse mudado de atitude de um minuto para o outro.
Ah, como ela arrependeu-se da pergunta. Bastava ter ido embora, sem maiores perguntas. Mas não resistiu e perguntou.
Marcos, então, revelou que durante anos pensou em Maria Eduarda, sonhou com ela, desejou-a. Agora que tinha voltado para a cidade onde tinha vivido durante a infância, queria vê-la uma vez mais. Queria tocá-la e senti-la somente uma vez mais, antes do casamento, que aconteceria em 15 dias com uma médica cardiologista, que trabalhava no mesmo hospital que ele.


Karime Abrão

7 comentários:

Anônimo disse...

Tirem os objetos ponteagudos da sala! rsrs A cafajestagem do cara não reside no que ele fez, mas sim em não ter explicado antes sua situação e intenção. E, claro, canalhice dupla, já que traiu a noiva. Aliás, sua personagem tinha mais é de estar feliz porque não é ela quem vai casar com o traste.
Beijo, Ka.

Mario

Karime disse...

Quem disse que ela queria casar com ele ? rsrsrsrs

Luciane Portolan disse...

Ahhhh que triste este final......ninguem merece...voltei a ficar deprê, rsss.
Mas, mais uma vez, vi que realmente os homens não prestam..Mas não vivemos sem eles :S
Bjus Ka

Ana C. disse...

Pior que ficar 18 anos sonhando e pensando em uma pessoa não deve ser nada saudável... Será que se ela tivesse perguntado logo no começo o que o fez procurá-la ele contaria?

Leticia Mueller disse...

Ai que fdp!
Quem é esse na vida real ká?
haushauhsua.
Beijos,Adorei o texto.

Leticia

Anônimo disse...

Ué, Karime, mas e quem disse que eu disse que ela queria casar com ele?! Leia direitinho o comentário: "sua personagem tinha mais é de estar feliz porque não é ela quem vai casar com o traste".
A única pessoa do mundo que poderia saber se ela queria ou não casar com ele ééééé... você! :-0
Ato falho, hein, Ka. hehehe
Beijo.

Mario

Karime disse...

hahahaha
Por partes:
1) Le...desta vez não existe personagem na vida real. Prá escrever, peguei um pouquinho de cada idéia idiota e deu nisso.
2) Mario, tua observação insinua q a personagem tinha esperança de casar com ele. Tá certo q ela balançou, mas casar, não queria, não.