segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Tema da semana: Sexo e Comida

Sexo, comida e acetato


Convenhamos, independentemente de se apreciar a mistura de uma coisa com a outra, sexo e comida sempre estiveram intimamente ligados. E isso é muito fácil de se constatar, vai desde os banquetes anababescos e orgiásticos da Roma antiga até os verbos que fazem coincidir o ato de se alimentar com o de copular: comer, chupar, lamber, morder, abocanhar, etc.

A história está repleta de episódios que confirmam a convergência natural entre os dois prazeres: Cleópatra passava, em suas partes íntimas, uma delicada pasta de mel e amêndoas para deliciar seus amantes; para a escritora Isabel Allende (sobrinha do ex-presidente chileno Salvador Allende e autora do livro que originou o filme “A Casa Dos Espíritos”), o prazer carnal mais intenso, “gozado sem pressa numa cama desarrumada e clandestina”, tem gosto de baguette, prosciutto, queijo francês e vinho do Reno; até o termo “prazeres da carne” vale tanto para um quanto para outro. E, de todas as artes, a que mais soube conciliar a gula com a luxúria foi certamente o cinema.

A profusão de imagens convergentes entre os dois pecados capitais pode ser apreciada tanto nos bacanais de “Calígula” quanto nas peripécias do inocente “Ratatouille” (não esqueçamos que o elo entre o par romântico desta animação é a comida). Sendo assim, aqui vai uma seleção de cenas de dez filmes marcantes que trabalharam a junção entre sex appeal e apetite appeal. É o dossiê Sexo, Comida e Acetato.

9 ½ Semanas De Amor
Não vamos contabilizar as bebidas utilizadas na famosa cena em que Mickey Rourke venda os olhos de Kim Basinger em frente ao refrigerador, mas listemos os alimentos utilizados para sensibilizar as papilas gustativas da moça (e algo mais): azeitona preta, cerejas em calda, tomate cereja, morangos, xarope Vicky, macarrão parafuso, gelatina, pimenta e mel. Listando assim parece meio indigesto, mas no filme funciona bem. E por quê? Porque foi uma brincadeira de contraste cromático, visualmente estimulante: a pimenta verde, a gelatina vermelha, o mel dourado, etc. Se a lambança fosse feita desta forma na vida real, privilegiando o senso estético em detrimento do gustativo, provavelmente iria exigir muito bom humor da “vítima”, exatamente como no comportamento apresentado aqui por Kim Basinger.






O Cozinheiro, O Ladrão, Sua mulher E O Amante
O diretor britânico Peter Greenaway se celebrizou por produzir imagens de plasticidade inquietante e vigorosa, herança do apurado gosto estético adquirido em sua carreira como pintor. Este filme é, muito provavelmente, seu mais opulento trabalho na conjunção entre comida e sexo. E ambos os assuntos já foram fartamente expostos em outros filmes seus, como “Afogando Em Números”, onde cópula e naturezas mortas quase que dividem os mesmos quadros. Nesta produção de tripla nacionalidade (Inglaterra, Holanda e França), o amor ente Georgine (a Mulher) e Michael (o Amante) é vivido na surdina da cozinha de um fausto restaurante, com a cumplicidade de uma figura-chave (o Cozinheiro) e a perigosa proximidade do marido (o Ladrão). Uma cena plasticamente rica e metaforicamente precisa é aquela em que o casal consome seus desejos na penumbra da dispensa enquanto os funcionários picam e preparam alimentos com notória habilidade. Aqui está um clip com alguns dos momentos mais apetitosos do filme, sendo que merece atenção o recurso usado para a divisão entre os cenários: o azul da parte externa, o verde da cozinha, o vermelho do restaurante e o branco asséptico do banheiro. Para quem pretende assistir ao filme, o detalhe é que ele não é tão palatável quanto se possa pensar, pelo contrário: o apetite e volúpia dos personagens chegam ao extremo, mais precisamente à antropofagia.






Como Água Para Chocolate
O estado de humor do cozinheiro passa de suas mãos para o alimento e contamina quem o ingere. Eis o raciocínio básico deste filme que faz ponte entre o estômago e o coração. Já de imediato é possível se prever a sina da protagonista, Tita (Lumi Cavazos), nascendo na cozinha do rancho de sua família, justamente quando sua mãe (Regina Torné) corta cebolas. Ela cresce entre talheres, panelas e outros apetrechos, acabando por descobrir segredos culinários que exercem magia sobre seu universo tão limitado. Já adulta, usa a comida para acender a libido de sua irmã, Gertrudis. E o faz sacrificando frágeis codorninhas, assando-as com pétalas de rosas. O efeito pode ser visto na sequência abaixo. Repare na fisionomia de prazer sexual da família ao degustar a especialidade afrodisíaca de Tita.






O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes
Cora (Jessica Lange) é uma bela mulher que cozinha em um restaurante isolado do mundo no início dos anos 30, atravessando uma vida pacata até que o marido contrata um desocupado chamado Frank (Jack Nicholson): é o fim da tranqüilidade do estabelecimento e da história de ambos. Este casal de excepcionais atores faz aqui um jogo inquietante entre compulsão e resistência, com um grau de realismo no confronto físico que pode causar hematomas em quem o assiste. Entre pães e farinha, a mesa se faz leito para a sanha de desejo e perdição desses amantes vitimizados por um impulso irrefreável.






A Comilança
Quatro amigos decidem acabar com o tédio de um jeito diferente: trancam-se num casarão para comer até morrer (no sentido literal e no figurado). Trazendo mulheres para seus aposentos e lotando de comida a dispensa, eles abusam na variedade do cardápio, mas acabar com a própria vida enchendo o bucho e esvaziando os escrotos não se mostra uma tarefa tão fácil ou deliciosa quanto poderiam crer. O diretor Marco Ferreri vai do grotesco à escatologia, em cenas às vezes fellinianas pelo exagero e em outras godardianas pela crueza (termo, aliás, bem apropriado neste caso). O resultado acaba sendo um tanto indigesto para os inimigos do excesso.






Fome De Viver
Um clássico absoluto do vampirismo e da estética gótica. Tony Scott (irmão de Ridley Scott, o brilhante diretor de Blade Runner) conduz David Bowie, Catherine Bisset e Susan Sarandon em uma soturna fábula contemporânea sobre príncipes das trevas e amantes que se devoram mutuamente. A cena a seguir aglutina sedução e apetite em torno do alimento da vida: sangue. O take final resume nossa própria condição como humanos, feito para fazer gancho com a próxima cena, mas também servindo para alimentar nossa reflexão sobre quem somos nós para atirar a primeira estaca.






Naked Lunch
É possível se afirmar, com muito pouca chance de cometer alguma injustiça, que este é o filme que tem a cena mais bizarra envolvendo prazeres da boca e da pélvis. O alimento? Veneno para matar baratas. E isso dado sensualmente, com o dedo besuntado pela insólita iguaria, chupado com avidez pela parceira e culminando com um ménage à trois grotesco. Bill e Joan (respectivamente Peter Weller e Judy Davis) são o Romeu e Julieta da geração beatnik, fazendo aqui uma parceria literária a quatro mãos bem ao gosto do lisérgico autor da trama, William Burroughs.






O Declínio Do Império Americano
Um grupo de homens prepara o jantar, que será servido a mulheres modernas e bem resolvidas, enquanto falam sobre sexo da forma mais aberta, desinibida e liberal possível. O filme não é todo verborragia, pois os relatos são intercalados por cenas que reproduzem os diversos momentos citados pelo quarteto, que é dirigido pela mão precisa do canadense Denys Arcand. Uma obra para quem gosta de sexo verbal e encontra na inteligência uma fonte de excitação. Aqui vai um trecho legendado, tendo no diálogo algumas revelações das agruras pelas quais passam os homens para tentar levar uma mulher para a gama. Compadeçam-se, garotas. O filme todo se passa com o preparo da refeição, as conversas picantes, o jantar propriamente dito e uma sobremesa pouco doce para alguns dos personagens.






Tampopo
Aqui, sexo e comida se juntam a outro ingrediente: a comédia. É considerado por muitos o primeiro western japonês, embora Akira Kurosawa já tenha bebido do gênero em seu “Os Sete Samurais”. O filme mostra a busca da perfeita receita da sopa de macarrão. Mas está longe de ser um besteirol, ele discorre, em pequenas narrativas paralelas, sobre a importância da comida na cultura e na sociedade japonesas. A cena a seguir mostra uma brincadeira oral em que se passa uma gema de ovo entre uma boca e outra sem estourá-la. Logo em seguida, vamos para outro jogo de sedução, desta vez com as insinuantes formas de um marisco recém aberto da cocha, o sangue nos lábios, o fio da saliva e um sugestivo trem entrando no túnel para fechar a sequência...






Invasão De Privacidade
O casal interpretado por William Baldwin e Sharon Stone protagoniza a mais febril e inconsequente cena de restaurante do cinema. Como num jogo, ele vai apostando nas ousadias da moça, que sabe brincar muito bem, surpreendendo a platéia das mesas ao lado, tendo garçons e gerência assistindo a tudo com indisfarçável indignação. A calcinha é jogada sobre o prato do parceiro sedutor como um banquete de última hora. Mais adiante, voltam para o prédio onde moram e cada um entra em seu apartamento. Fica por isso mesmo? Claro que não. A cena que vem depois é de um sexo de urgência em que fica claro ser impossível para ambos dormir sem apreciar a sobremesa. Foi filmado inclusive um nu frontal de Baldwin, que depois pediu para ser retirado da edição do filme.






Outro filme que chama a atenção na mesma levada de “Invasão De Privacidade”, ou seja, que tem uma preliminar em restaurante seguida por atração quase incontrolável entre vizinhos, é “Muito Perto Do Paraíso”, em que Catherine Deneuve tenta controlar seu apetite por William Hurt, chegando a tal grau de desejo que começa a imaginá-lo em todos os lugares por onde passa. Mas a mais contundente cena de sexo pós-restaurante é, sem dúvida nenhuma, a exibida em “Era Uma Vez Na América”, na qual o mafioso vivido por Robert De Niro estupra sua musa dos tempos de infância em seu próprio carro, sem ao menos se importar com a presença do chofer. Isso depois de uma noite de sonhos, num luxuoso restaurante fechado especialmente para os dois, além de um pelotão de violinistas e toda a pompa e circunstância exigidas por um ambiente romanticamente anababesco.

Era Uma Vez Na América: Jennifer Connely como Deborah, a musa de infância devorada na idade adulta

Há filmes que não tem propriamente cenas que conjuguem diretamente sexo e comida mas que mesmo assim merecem menção. Entre estas obras, está um dos maiores cult movies de todos os tempos: “Betty Blue”. Comida pode ser mero adereço, complemento, pano de fundo e, mesmo assim, estabelecer com a cena e a dramaturgia uma relação complementar essencial, e é o que se observa neste filme. Durante o decorrer da trama, a presença de alimentos é apenas coadjuvante, mas não têm a função de apenas encher o campo do vídeo ou dar algo para os atores se ocuparem enquanto dialogam. Quando a “quente” Betty vai até Zorg pedir para que ele a aceite em sua casa, o personagem de Jean-Hugues Anglade está comendo chilli; intercalam goles de café e shots de tequila entre os momentos tensos e os de descontração; mudam-se para a cidade na casa de um amigo culinarista, passam a trabalhar em um restaurante, e por aí vai. Até no momento em que o amante de Betty é atacado por uma amiga ninfomaníaca ele está em uma mercearia comprando comida. Há ainda nas composições cênicas objetos insuflando apetite, sejam as maçãs na mesa da casa de Zorg ou as laranjas na do casal de vizinhos (cuja esposa surge amamentando seu bebê). Até o bolo de aniversário é sugestivo. Importante lembrar que o principal apetite saciado neste filme é o estético: seja pela fotografia poética ou pela eclética trilha sonora de Gabriel Yared.

Betty Blue: Béatrice Dalle devorando tudo, até a si mesma

E existem filmes que não versam sobre sexo e comida mas se notabilizam por uma única situação convergindo os temas. Certamente está em “O Último Tango Em Paris” o ingrediente culinário mais polêmico da sétima arte. E ele não foi usado em nenhuma refeição. O motivo da celeuma está em uma cena na qual Marlon Brando interpreta um americano de 45 anos que sodomiza uma francesa de 20, Maria Schneider, no papel de uma jovem noiva, que é iniciada com o uso de um “segredo de família”: manteiga. A cena foi proibida em diversos países, dentre eles o Brasil. E realmente ela é bastante audaciosa, tanto que talvez seja inadequada para ser exibida “neste horário”. Sendo assim, para evitar o choque de pudicos e veganos, fica a dica para que os interessados a procurem no Youtube.

O Último Tango Em Paris: na casa de Marlon Brando era perigoso chegar perto da geladeira

Em “Psicopata Americano” ocorre outra situação em que a coadjuvância de um alimento acaba ganhando significado e relevo: para distrair uma vítima enquanto escolhe qual arma fará o serviço, o serial killer lhe serve um pote de sorvete, que a pobre garota saboreia enquanto conversa inocentemente sobre o fato de não ter namorado e outras trivialidades de alguém que está aguardando por uma noite sob os lençóis do elegante anfitrião. Uma versão contemporânea e nada infantil de lobo mau e chapeuzinho vermelho.

Psicopata Americano: adivinha qual é a cobertura do sorvete

Ao contrário do terror, o humor é um tempero que pode trazer muita leveza a uma sequência envolvendo sexo e culinária, e isso se prova em uma das melhores cenas de “Sex And The City”, o longa-metragem do famoso seriado americano. A inquieta Samantha, personagem de Kim Cattrall, tenta fazer uma surpresa para o namorado, deitando-se sobre uma mesa e ficando devidamente preparada como sushi woman. Porém, situações imprevistas acontecem e a espera se alonga além do previsto, para desespero da fogosa personagem.

Sex And The City: Samantha ao molho shoyu

Ainda na linha do humor, só que com mais poesia e profundidade, “O Fabuloso Destino De Amélie Poulin” traz uma situação bastante divertida: a personagem-título obtém êxito ao fazer papel de Cupido entre um rabugento cliente e a caixa hipocondríaca no café onde trabalha, porém os dois resolvem aplacar seus desejos nos fundos do estabelecimento, com seus gritos e gemidos disparados sem o menor pudor, só vindo a ser abafados quando Amélie providencialmente aciona o apito da máquina de café (o que na verdade só acentua o clímax atingido na relação). Anos antes, Jean Pierre Jeunet dirigiu “Delicatessen”, no qual há uma antológica cena de sexo sobre um barulhento colchão de molas, sendo que o filme se passa em um prédio localizado sobre um açougue, provando seu apreço por ambientes em que as fomes se conjugam.

O Fabuloso Destino De Amélie Poulain: meter a colher na vida alheia

Em certos filmes, revela-se que o alimento vem do próprio amado, e não se trata de produções sobre vampirismo. Em “Vanila Sky”, Cameron Diaz sinaliza que seu amor por Tom Cruise foi muito significativo ao relembrá-lo que engoliu seu esperma. Antes que você torça o nariz, é bom darmos palavra à ciência: estudos sérios mostram que, na composição do sêmen, não há germes, ele é rico em proteínas e possui cálcio, magnésio, potássio, fosfatos e apenas 35 calorias por porção. Mas, como estamos tratando de ficção e não de documentário sobre nutrição da National Geographic, voltemos a nosso assunto.

Vanila Sky: além de beber, Cameron Diaz usava de gel para cabelo em "Quem Vai Ficar Com Mary" (foto)

Os alimentos podem surgir nos filmes como componentes da relação sexual ou como afrodisíacos. É o caso de “Chocolate”, um folhetim com pouco mais de uma hora e meia, tendo Juilette Binoche no papel de uma maga dos doces que muda toda a vida de um vilarejo com sua boutique de delícias. Uma de suas clientes, que reclama da baixa libido do marido, recebe da sábia proprietária uma porção de chocolate que inflama seu desejo na primeira oportunidade em que a esposa limpa o chão de quatro. No mais, o filme fica patinando no antigo clichê do embate entre a novidade e a tradição, sendo o chocolate (uma materialização adocicada do desejo) o grande bode expiatório.

Chocolate: Juliette Binoche e seus doces para comer a dois

Na lista ainda podem ser adicionados representantes mais recentes, como “Sem Reservas”, protagonizado por Catherine-Zeta Jones e carente de condimentos. Mas, mesmo com as comédias românticas pululando pelas telas do cinema, o que se observa é que não se faz mais cenas de sexo e comida como antigamente. Baixíssimo grau de inventividade e quase nenhum jogo de sutilezas.

Sem Reservas: sem sal e sem açúcar

Para quem acha uma sandice misturar sexo e comida, refutando inclusive a apologia feita pelo cinema a esta combinação, vale informar que a simbiose é defendida pela própria psicanálise. Freud já comentava, em seus estudos sobre a chamada fase oral, que os prazeres da boca e da região pélvica têm grande similaridade. Além do que, nossas primeiras pulsões de excitação ocorreram na zona bucal. O cinema não deve se limitar ao ver e ao ouvir, ele pode sim transmitir sabores para a audiência, como também aromas e até sensações táteis.

Freud: um charuto antes, um cigarro depois, um petisco durante

Já para quem acha vulgar, é bom lembrar que até mesmo Shakespeare fazia a associação entre alimentos suculentos e o ato de fazer amor: Mercurio comenta com Romeu que ele é uma pêra madura e sua amada Julieta uma nêspera macia, fruto que, quando cortado ao meio, lembra uma vulva. Se o maior dramaturgo de todos os tempos dá sua bênção, não há motivos para o cinema não absorver a sensorialidade dessa soma de prazeres.

Shakespeare: por isso ele usava babador

Mas é claro que não dá para fechar o assunto sem falar do cinema brasileiro. Três filmes podem representar com enorme orgulho essa categoria, e, ironicamente, não pelo grau de malícia tão característico em nossa personalidade de povo quente e sedutor.

O primeiro deles é “Pixote”, que arrebata qualquer coração com a cena mais cortante já criada sobre infância perdida: o menor de rua sendo amamentado no seio pela meretriz. O impressionante aqui é não haver qualquer conotação sexual nesta situação, mesmo em se tratando de uma mulher da vida e um menino na faixa etária em que normalmente os hormônios encontram-se em ebulição. O alimento (leite) é imaginário, mas o significado e peso desta imagem são muito reais.

Pixote: a falta de tudo, exceto da compaixão.

Outro filme que ocupa lugar de honra nesta galeria é “O Cheiro Do Ralo”, onde ocorre a última aparição no cinema do excepcional ator paranaense Mario Schoemberger, falecido em 14 de maio do presente ano. Nesta produção, Selton Mello é um personagem perturbado e perturbador, acostumado a “coisificar” e precificar tudo, inclusive as relações humanas. Na lanchonete onde costuma fazer suas refeições diárias, o real alvo de seu apetite é a bunda de uma balconista de nome impronunciável. A história é baseada no livro de Lourenço Mutarelli, adaptada para as telas com a mão talentosíssima do roteirista Marçal Aquino.

O Cheiro Do Ralo: Selton Mello querendo fazer um pedido fora do cardápio

E, completando a lista, temos um representante local ilustríssimo: “Estômago”, dirigido por Marcos Jorge e ganhador de uma enormidade de prêmios nacionais e internacionais. Aliás, o próprio Marcos Jorge (admirador de Peter Greenaway) revelou ser seu filme uma homenagem às produções cinematográficas que incursionaram no tema da gastronomia. O filme conta a história de Raimundo Nonato (João Miguel), um migrante que vai para a cidade grande na esperança de ter uma vida melhor, descobrindo nela seus dotes para a culinária e apaixonando-se pela prostituta Iria (Fabiula Nascimento, em performance exacerbadamente elogiada pela crítica). Então, para fechar este texto, e em homenagem ao casal formado pelo profissional da mesa e pela profissional da cama, eis o trailler de “Estômago”.




Sexo, comida e uma sala escura não são sinônimo de pipoca em cinema pornô. Há um vasto número de filmes de bom gosto que exploram a combinação e que, muitas vezes, acabam servindo de inspiração para amantes que apreciam novidades e querem aditivar o sexo oral. É a melhor forma de unir a lista de DVDs com a do supermercado. A propósito, existe aquele velho ditado de que se conquista um homem pelo estômago, apesar de muito marmanjo garantir que não é bem este o órgão que deve ser mimado. Na dúvida, fique com os dois.



Mario Lopes

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