terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cuspindo Na Própria Língua



Esses dias um senhor no ponto de ônibus, daqueles que gostam de falar sobre política, religião, cultura e problemas sociais, começou a conversar com a “jovem”, como ele mesmo me chamou. Ele tinha opinião prá tudo : odiava os políticos, tinha pavor de religiosos, principalmente “aqueles pastores fanáticos com a bíblia de baixo dos braços” como dizia. Artista mesmo então para ele eram aqueles que prezavam um material mais popular, como teatros que debatessem nosso espaço social e as diferentes culturas. Adorava a socialização entre os povos, a mistura de cores e etnias diferentes.

Três ônibus se passaram, e ele apontava cada defeito e problema das linhas de ônibus, preço das passagens, o desemprego, a fome, os coitados e pobres que passavam na rua sem ter onde trabalhar. De repente, uma mulher meio “louca” vinha passando e gritando, com os dedos nos

ouvidos, como se não quisesse ouvir o que a sociedade queria lhe dizer e sim, só falar. Gritava, dizendo entre os gritos que nós eramos culpados por tudo, que odiava os cidadãos, que ninguém dava atenção para pessoas como ela, pobre e sem emprego.“Tá vendo?A pessoa passa tanta prova que fica assim! Tá certa ela, tem mesmo que reivindicar com a população!”, disse aquele senhor . “Grita mesmo senhora”, falou quase gritando também do seu lugar.

Neste exato momento, ela começou literalmente a cuspir nos carros que passavam e nas pessoas ao redor. É claro que aquilo era injusto, mesmo diante de sua injustiça. Ninguém tinha culpa. A expressão daquele senhor então mudara, de alguém que entendia a situação para alguém que agora repugnava a mulher. E num momento súbito de raiva, ele disse: “Acho uma pouca vergonha essas pessoas que saem na rua reivindicando seus direitos quando não respeita os dos outros. Como pode isso?Por isso estão aí, desempregados. Bando de mal educados!Vai limpar banheiro, encerar chão. Ah, se fosse comigo a história seria diferente!”.”




Bianca Nascimento

3 comentários:

Anônimo disse...

uauu...uma coisa é comentar de nossos problemas sociais, mas agora agir como um "louco" já é demais...ninguem merece e não tem nada a ver para receber um cuspo em seu carro...huhuahuhuahu...véia loka...

Anônimo disse...

O problema são as pessoas que tem opinião pra tudo, mas quando é no seu próprio rabo, acabam justificam porque a sociedade anda assim.

Karime disse...

Bah, Bia... o assunto é complicado. Ao mesmo tempo que há injustiça social, há também pessoas que acham que os outros tem a obrigação de ajudá-las. Oferece emprego, trabalho, qualquer "serviço" prá um mendigo de rua... De dez, me diz quantos vão aceitar trabalhar para comer...
Complicado.
Beijão