sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Nosso Bendito Carnaval


- Ah amor, mas essas viagens têm todo mês! Vai me deixar sozinho aqui justo no carnaval?
- AI Durval, deixa de ser dramático. Se eu não fosse viajar, quem ia ficar sozinha o carnaval inteiro era eu.
- Mas eu não tenho culpa de ter que ir trabalhar.
- Não tem, mas isso não muda nada. E tem outra Durval, eu estou pra fazer esse retiro há muito tempo, e não vou desperdiçar a primeira oportunidade que tenho para ficar presa em casa, esperando você chegar, por 5 dias seguidos. Já tá resolvido, eu vou e pronto.
Durval não tentou relutar. Já conhecia a mulher que tinha, e sabia que com ela, não havia discussão. Só o que lhe restou foi baixar a cabeça e acatar com o que não concordava. Não que ele quisesse que Fátima ficasse trancafiada em casa durante o carnaval, mas que pelo menos aparecesse um dia ou outro para o jantar. Mas já não fazia diferença, estava resolvido e pronto.
No outro dia, no início da manhã, o casal despediu-se em frente de casa. Um amigo viera buscar Fátima para irem juntos ao retiro, e espera dentro do carro, parado na rua.
- Fátima, quem é esse cara hem?
- Que cara Durval? Ele é um pastor, não um cara. Aliás, você devia ir ali agradecer por ele estar me dando carona.
Fátima cruza os braços, impositória.
- Ah faça-me o favor. Ou você acha que eu vou agradecer o homem que tira minha mulher de mim por 5 dias, em pleno carnaval? Nem ele sendo pastor.
- Meu deus que sacrilégio! Durval... as vezes sinto que não te conheço.
Ela pega as malas no chão, com dificuldade, e carrega-as cambaleando para o carro. O pastor, sentado em frente ao volante, observa com tranqüilidade Fátima tropeçando por entre as pernas, e assim que Durval entra em casa e fecha a porta, depois de uma caminhada sem nenhuma olhada para trás, ele acende um cigarro.
- Você é louco Rubinho? A onde já se viu um pastor que fuma? O Durval é trouxa, mas nem tanto.
- Ah baby, o que a gente menos conhece nesse mundo é pastor. Aliás, falando nessa gente, já dá pra eu tirar essa roupinha ridícula, não dá?
Mal Fátima lhe responde, Rubinho freia bruscamente e faz uma manobra perigosa para parar o carro e tirar a camisa e o paletó. Fátima responde, meio sem jeito:- Tá, mas você fica muito gato com esse terninho.
-Que é isso baby, gato eu fico assim ó, sem camisa.
Fátima sente um calor subir-lhe pelas pernas. A viagem começou.
Depois de algumas horas de engarrafamento, afobamento, entrosamento e afins, o recém casal chega ao seu destino e saem do carro. Fátima ergue as mãos para o céu e sente seus cabelos sendo jogados por uma leve brisa.
- Nossa, que delícia isso daqui. Olha que paz, que tranqüilidade.
Rubinho dá uma leve risada e responde, sacudindo o cabelo para trás.
- Baby, paz pra mim é vodka com limão. Vamo atrás de umas birita.
Fátima sai correndo, tentando alcançar Rubinho, deixando tudo dentro do carro.
Algumas horas depois, em frente à casa onde estavam hospedados, o casal chega cambaleando. Rubinho fala com a língua enrolada, tropeçando e girando sobre os próprios pés, enquanto tenta segurar uma garrafa de cachaça em suas mãos:
- Viu Fafá, que deliciaaaaa! Isso sim é paz, é tranqüilidade. Agora, só falta uma coisa. Uma coisa pra tudo ficar perfeito.
Fátima, apesar de estar também muito alterada, sorri ao pensar nos músculos vibrantes de Rubinho tocando-a ensandecida.
- Sei sim RuRu, pode vir quente, que eu tô fervendo.
Ela sai correndo para dentro de casa, aos berros e risadas, e joga-se na cama, quando nota que Rubinho não a estava seguindo. Espera um pouco, até achando um pouco de graça pela brincadeira, mas ao perceber a demora, irrita-se e vai atrás dele. Ao chegar em frente a casa, Fátima vê primeiro a camisa de Rubinho, depois, um pouco adiante, o cinto de Rubinho. Ela sai correndo, seguindo os rastros vestuários deixados, temendo o que encontraria quando não restasse mais nada que pudesse ter sido tirado do corpo do “pastor”.
Afinal, lá estava ele, molhando os pés na beira do mar, nu em pêlo, rindo para quem quisesse e deixando as mulheres loucas com tanta protuberância.
Fátima, cheia de cólera, volta para casa para planejar uma grande vingança, mas esquece de tudo e capota na cama assim que entra no quarto.
Acorda no outro dia pela manhã bem cedo, assustada. Percebe que seu celular está tocando e treme só de pensar em quem seria ligando a essa hora. Depois de criar coragem, atende.
- Alô?
A voz de Durval faz Fátima estremecer.
- Oi Durval. Porque ligar tão cedo, aconteceu alguma coisa?
- Eu só queria saber como você está. E aí, que que aprontou ontem?
- Bem, eu... Ai Durval, eu passei o dia orando. Esqueceu que eu estou no retiro?
Ao lado de Fátima, Rubinho boceja e murmura algo inaudível.
- É aquele retiro na praia né?
Fátima respira aliviada, pensando que estava a salva.
- Isso Durvalzinho, na praia. Você devia experimentar um dia.
- Pois é. Sabe, eu estava vendo TV ontem de madrugada, e vi aquele pastor que te deu uma carona.
- Ah é? Em algum programa, documentário, em uma entrevista... sei lá?
- Não não, aí na praia mesmo. Ele tava tomando banho de mar, pelado.
- Credo Durval, você tá ficando maluco. Aonde já se viu pastor aparecendo nú em público? É lógico que não era ele.
Fátima transpira de nervosismo.
- É né... mas então quem é esse deitado do seu lado?
Durval, em frente a janela do quarto da casa, olha impassível para Fátima, estática com o celular na mão.
Vira as costas e pensa: "Bendito Carnaval".


Letícia Mueller

2 comentários:

absolutsubzero disse...

nossa lê

por essa eu não espera mesmo. que mulher safadinha hein? tá certa ela, carnaval é diversão. e o texto foi muito divertido, me lembra os velhos tempos dos loucos na praia caindo na água pelados.

adorei
beijão
daniela

Karime disse...

Le, depois que ouvi da minha manicure que ela só é feliz no casamento porque trai o marido.... eu não duvido de mais nada.
É.
Adorei a pimenta!
Beijos