quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Carnaval Que Virou Velório


Taí era uma jovem que adorava Carnaval, inclusive ela nasceu no mês de fevereiro e sua mãe colocou-lhe este nome para homenagear uma marchinha carnavalesca homônima. Na sua época de bebê, em vez de escutar canções de ninar sua mãe cantava músicas de Carnaval para embalar o seu sono. Taí freqüentava os bailes carnavalescos da cidade desde os três anos de idade junto com suas amiguinhas e parentes. Ao completar dezoito anos, ela conseguiu a permissão dos seus pais para ir às festas sozinha. Naquele mesmo ano, Taí convidou suas amigas para participarem do carnaval do clube mais requintado da cidade e elas aceitaram. Como algumas meninas moravam longe, Taí combinou de busca-las na porta de casa.O tempo passou e o tão esperado dia chegou. Então a moça chamou algumas colegas para vestirem as fantasias na sua casa. Cristina vestiu-se de Fada Azul, Soraia colocou uma roupa de cigana e Taí ficou linda numa vestimenta de Carmem Miranda com direito à fruteira na cabeça. Assim as três pegaram uma “Kombi” e foram em direção à residência de sua amiga Sabrina, que também pegaria uma carona para o baile. Ao chegarem no local as garotas desceram do veículo e bateram palmas. A colega saiu da casa toda vestida de preto acompanhada de outras damas com roupas da mesma cor. Desta forma Taí exclamou:

- Toda coberta de preto?! Até parece que morreu alguém aqui.

Sabrina explicou:

- Pois, é... A minha avó faleceu hoje pela manhã. Por favor, eu ficaria feliz se vocês participassem deste velório.

Desta maneira as jovens entraram no local vestidas com fantasias de Carnaval. Assim todos olharam com cara de reprovação para as garotas. Deste jeito a anfitriã comentou:

-Amigas, tenho roupas pretas no meu armário. Por isto é melhor vocês tirarem os trajes carnavalescos e vestirem os meus vestidos.Bem, foi exatamente isto o que aconteceu. As colegas cobriram-se de negro e foram rezar ao lado do caixão com as outras mulheres.

De repente uma “van” chegou e desceram deste veículo cinco jovens com roupas diferentes: vestidos brancos compridos, fitas verdes com a imagem de Nossa Senhora no pescoço e véus de renda que cobriam os rostos. Estas moças agruparam-se junto ao caixão e começaram a cantar músicas sacras.Taí ficou encantada e disse para Sabrina:

- Que meninas maravilhosas! Quem são elas?

A amiga respondeu:

- Elas fazem parte de um grupo religioso chamado Filhas de Maria.

Taí, curiosa, indagou novamente:

- Elas são freiras?

A colega explicou:

- Não. Porém é como se fossem porque elas não podem namorar, nem freqüentar festas, devem aprender um instrumento musical junto com canto e precisam arrumar a igreja todos os dias.

Após a apresentação das Filhas de Maria, Taí aproximou-se da líder e manifestou seu interesse. No dia seguinte, esta carnavalesca não quis mais saber de festa nenhuma, pois estava disposta a entrar no novo grupo religioso que havia descoberto e foi isto mesmo que ela fez. Depois de um ano esta moça percebeu que fazer parte daquela equipe espiritual não era o suficiente para a sua alma e decidiu ir para o convento.Quarenta anos se passaram, Taí faleceu dentro da casa de freiras por causa de pneumonia, numa terça de Carnaval e deixou o seu diário para a amiga Sabrina, que não quis ir ao velório da colega. Pois preferiu ir a um baile carnavalesco. Naquele mesmo dia uma mensageira do convento entregou o diário de Taí para Sabrina. Então a mulher pegou o caderno nas mãos, abriu uma página aleatoriamente e lá estava escrito:

“-Tem pessoas que fazem da vida um eterno Carnaval adiando responsabilidades e vivendo no mundo da fantasia. Outras fazem da vida um eterno retiro, escondendo-se dentro de si mesmas. Eu, por exemplo, vivi o melhor Carnaval dentro de um retiro. Pois, no convento, ajudei pessoas a realizarem suas fantasias através das minhas orações e sempre quando cantava sentia que confetes de luzes caíam sob o meu espírito.”

Após ler estas palavras Sabrina foi a festa de Carnaval. Quando o relógio soou meia-noite ela viu numa mesa Taí fantasiada de Carmem Miranda sentada com sua falecida mãe vestida de preto. Deste jeito quando a moça aproximou-se destas criaturas, elas evaporaram-se. Mas em cima daquela mesa ela achou o seguinte bilhete:

“ Que na sua vida exista o Carnaval das alegrias. Porém que, também, viva os retiros das reflexões.”



Luciana do Rocio Mallon

2 comentários:

Anônimo disse...

Equilíbrio é a chave para tudo nessa vida... creio nisso.

beijos Angelica

Karime disse...

Com certeza: momentos de reflexão e alegria exacerbada na dose certa, são essenciais.

Beijos