segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Tema da semana: Carnaval ou Retiro Espiritual

A Máscara

O local escolhido para o baile de Carnaval daquele ano foi a mansão de um dos sócios da marina onde Luis ancorava sua lancha. A casa havia sido restaurada com o objetivo de virar um cassino e uma casa de shows, mas o projeto foi embargado pelos moradores locais. Numa tentativa de aproximar-se dos vizinhos, o sujeito resolveu promover, na terça-feira de carnaval, um grande baile de máscaras open bar e todos estavam convidados.
Luís agradeceu o convite ao vizinho, com um aperto de mão quando encontrou-o no domingo à tarde na marina: ele e Ana até já haviam providenciado as máscaras, porém, envolvidos com os preparativos do casamento, estavam com a adrenalina a mil, muito cansados e decidiram que ficariam sozinhos em casa, para descansar.
Na terça-feira de Carnaval Ana preparou um jantar para Luis, caprichou na apresentação dos pratos, na decoração do ambiente e na escolha do espumante, mas lá no fundo, bem intimamente, o sentimento estava mais para marcha fúnebre do para marchinha carnavalesca.
Nos últimos tempos Ana já não tinha mais certeza se queria casar-se; nem com Luis, nem com ninguém. A data do casamento estava se aproximando e esse sentimento que apertava o peito, aumentava a cada dia que passava e ela não sabia como lidar com a dúvida e a angústia. O jantar daquela noite era uma tentativa de alguma coisa que ela não sabia exatamente o que era, mas ela precisava tentar.
A discussão começou quando estavam decidindo o menu do casamento; foi aumentando e trazendo à tona sentimentos de raiva e mágoa originados na época em que passaram seis meses separados, quando Ana descobriu que Luis estava de casinho virtual com a colega de trabalho. Até aquela noite não lembravam mais que estes sentimentos existiam e agora um jogava na cara do outro as falhas, a negligência com a relação, as mentiras e a traição.
Em um segundo, com um grito de “Para mim, chega!”, Ana arrancou a aliança do dedo e atirou-a no chão. Surpreso e sem saber muito bem como reagir diante da agressividade da noiva, Luis passou a mão nas chaves do carro e saiu em direção a cidade. Precisava esfriar a cabeça para não fazer bobagem.
Ana achou que um banho a acalmaria e foi até o quarto para escolher uma roupa leve e confortável, quando viu no canto da cômoda do quarto, as duas máscaras escolhidas para a festa na casa do vizinho da marina.
Pegou sua máscara, encaixou-a no rosto e olhou-se no espelho: não sabia mais quem era e precisava descobrir. Num impulso, pegou a roupa escolhida para o baile no armário, trocou-se e saiu. A festa era próxima dali, as ruas do condomínio da marina eram bem iluminadas e ela poderia ir caminhando.
A mansão estava toda iluminada e colorida, a festa estava linda, todos os convidados usavam suas máscaras e dançavam alegres as marchinhas tradicionais de Carnaval. Garçons serviam bebida e canapés à vontade na beira da piscina e uma bateria de escola de samba animava o resto do evento.
Ana logo entrou no clima e misturou-se à multidão para beber e divertir-se com os amigos. Dançou até seu corpo cansar e pulou na piscina com o restante do pessoal para refrescar-se.
Quando saiu e dirigiu-se ao balcão para pegar uma toalha para secar-se, sentiu que alguém a pegava pela mão. Não podia identificá-lo, pois ele também estava usando máscara, mas deixou que ele a guiasse, sem importar-se aonde iriam.
Entraram de mãos dadas na casa, subiram as escadas que levavam para o segundo andar e o mascarado levou-a para o que parecia ser uma sala de estar, pois estava escura e não conseguiam enxergar um o rosto do outro. Ali, passaram algumas horas transando, envolvidos pelo clima, sem tirar as máscaras, deixando de lado a festa que continuava lá fora.
Ana decidiu voltar, vestiu-se e desceu para a festa. O relógio de parede marcava 3 horas da manhã e a animação com certeza iria até o amanhecer. Ana estava com vontade de ficar até o fim da festa e assistir ao amanhecer na beira do Guaíba, mas decidiu retornar para casa.
Chegando, viu que o carro de Luis já estava na garagem. Silenciosamente, entrou em casa, subiu ao quarto e despiu-se lentamente, para não acordar o noivo.
Olhou-se novamente no espelho, o mesmo espelho que antes refletira sua dúvida em estar tomando a decisão certa, tirou a máscara, colocando-a no mesmo lugar de onde a tirara e deitou-se ao lado de Luis. No criado mudo, ao lado de sua cama, estava sua aliança, colocada cuidadosamente por Luis quando chegou em casa.
Sorriu e adormeceu com a certeza de que amanhã seria outro dia.


Karime Abrão

3 comentários:

Anônimo disse...

A certeza de outro dia é tudo o que importa... beijos

ps. to amando estar aqui.

angelica

Anônimo disse...

Como é louca esta vida... concordo com a Ange a certeza de outro dia, outra chance... é tudo que importa. Adorei o texto. Bjs. Katia

Anônimo disse...

Ui que delicia...bem queria fazer uma aventura destas....