sábado, 16 de janeiro de 2010

Hoje é dia de estreia de Desaforada X. Andréia Kaláboa é produtora e diretora de cinema. Administra a GP7, uma das melhores agências de atores de Curitiba. Seu mais recente trabalho é o filme "O Casamento De Dalila" - último filme da Revista RPC em 2009 (programa exibido depois do Fantástico e que já tem outros trabalhos de Andréia programados para os próximos meses). Orgulhosa de suas raízes, essa descendente de ucranianos tem em seus olhos verdes uma percepção sagaz da realidade e da poesia que a rodeia, aliás, percepção essa que a acompanha o tempo todo, até debaixo do chuveiro como bem poderá ser percebido no texto abaixo. A propósito, ele traz uma feliz coincidência com o post de ontem, leia e entenda. Há aqui também uma co-estréia, a da atriz Juliana Biancato, responsável pela revisão do texto de Andréia.


Sobre Xampu


Nunca compro um xampu pelo cheiro
Meu cabelo é liso
Nunca compro um xampu que dê maciez
Meu cabelo é oleoso
Nunca compro um xampu pela cor
Meus cabelos são loiros e brilham
E os meus olhos são claros e ardem.

Toda vez que vou ao mercado
Compro um xampu de flor
Que não tem o meu cheiro
Que não deixa o meu cabelo macio
Que não muda a minha cor
Mas é o que me foi recomendado

Saio de cabeça limpa
Meu cabelo não está oleoso
O liso não está escorrido
O loiro continua loiro
Você também é a mesma
Tudo ainda faz sentido
No vermelho do meu olho.

Tem um indicado para reparar as pontas duplas
Sempre quis comprar esse xampu de tampa verde
A moça sorridente jura que ele não é pro meu cabelo
Mas ele me deixa de madeixas molhadas. Quase um apelo.
Pelo cheiro bom de chuva e beijo de uva embalado na rede.

Este meu xampu tão recomendado
Para outros dá caspas
Para uns deixa o cabelo armado
Tem quem use até sabonete
Bem contente, entre aspas
Qualquer um, de 69 centavos

O banho alheio é tão estranho,
A modelo dizendo de cabelo molhado:
Olha, meu xampu é o melhor do mercado
Deixa o meu cabelo macio e cheiroso.
Fala até da fórmula que muda o tom
E o tom da voz também fica sedoso.

Porque eu não posso usar o xampu de tampa verde?
Não é a fórmula que foi estudada para o meu tipo de cabelo?
Mas também não é minha cor, não é meu cheiro.
Que já estou quase esquecendo, quase perdendo.
Mesmo que deixe meu cabelo melhor.
Que seja uma fórmula mágica
De contos de fadas que Rapunzel usava
Não quero seguir um rótulo qualquer nenhum

Eu quero uma fórmula para meu tipo, meu estilo, minha vida.
Então o meu xampu se torna alheio, vulgar, comum...
A autenticidade então me foi roubada!
A autenticidade minha foi vendida!
A minha autenticidade foi criada!
E eu com isso não ganho nada e ainda me dou por vencida
Comprando a autenticidade que me foi roubada, criada e vendida.

Texto de Andreia Kaláboa
Revisão e formatação poética: Juliana Biancato

Um comentário:

Anônimo disse...

Talentosa até debaixo d'água, hein, Andéia. :-)
Parabéns a você. E à Juliana também. Sejam muito bem-vindas.
Beijo.

Mario