sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011



Feito e Pago






O que lhe deu o direito de agir assim? Como ele pode ter a audácia de me tratar dessa maneira tão animalesca e imoral? Que tipo de ser humano é esse, senão um cachorro irracional e sem sentimentos que seria capaz de matar a própria mãe se lhe conviesse?

Um homem de verdade nunca teria feito isso, e mesmo que o tivesse feito, se tivesse pelo menos o mínimo do discernimento que lhe é intrínseco, teria se perdoado perante mim e perante o mundo, pois tal crime é inconcebível em qualquer nação ou cultura, seja ela até a mais das excêntricas possível. Arrancando de mim meu direito fundamental, seria como se tivesse assinado a própria morte, pois não lhe seria possível permanecer de consciência sã.

O fato é que ele nunca pareceu se importar. Nem comigo ou com minha meia irmã. Aliás, ainda levei sorte de ter nascido alguns anos depois, e talvez o que eu tinha até o instante dele insandecer não lhe agradava para satisfazer suas necessidades. Era ainda tão crua, macia e rosada. Me faltava às imperfeições e marcas que identificavam uma mulher de verdade.

Já minha meia irmã, na mesma época, florescia como um roseiral, e a cada dia, ficava mais e mais bela. Ao contrário do que possa parecer, essa foi a sua ruína. Parecia que ele, desde que notara o quanto sua enteada estava sendo belamente moldada pela natureza, mais ele se enfeitiçava por ela. Eram os olhos, os cabelos, o colo, o tom e o toque da pele, os dedos longos e finos, os lábios pequenos e delicados, as pernas magrinhas. Tudo nela lhe atraía a atenção, e lhe atiçava o apetite.

Sua natureza egoísta e prepotente não o deixou esperar, muito menos resistir, e ele se entregou aos seus desejos sombrios sem pensar nas conseqüências. Minha irmã, ameaçada e já sem um pingo de dignidade, ficou sem forças de reclamar e aceitou a violência até o sétimo filho. Tinha 28 anos, e já havia passado por mais de meia dúzia de partos.

Deus havia me preservado por longos anos, mas eu sabia que minha hora ia chegar. E chegou.

Aguentei firme uma primeira e única vez. Não abri a boca, não reclamei, não gritei. Apenas não tentei lutar, e durante aquela meia hora da qual nunca me esquecerei, a única coisa em que eu conseguia pensar era em minha irmã. A juventude havia sido tirada dela aos poucos, junto com cada filho que ela ia dando a luz.

Não senti medo ou raiva. No outro dia, apenas peguei a mão de minha irmã, e arrastei-a para fora de casa.

Luto pelo meus direitos e o dela, e de todas as outras mulheres, que com seu silêncio, apenas permitem que crimes sexuais continuem a ocorrer.

Meu pai Detlef hoje provavelmente deve sofrer dos mesmo abusos que acometia à minha irmã e a mim.

E eu garanto que não sinto nem um pouco de pena.






Leticia Mueller






Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/mundo/conteudo.phtml?tl=1&id=1095456&tit=Alemao-e-acusado-de-ter-7-filhos-com-a-enteada


Foto: Divulgação http://www.dme-pc.com.br/

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu fico pensando no que deve passar pela cabeça de uma mulher que sofre isso: medo!É por isso que esse tipo de crime continua, as mulheres tem verdadeiro medo da polícia demorar a agir e enquanto isso ela sofram ameaças e agressões e mesmo que são presos, elas tem medo de sofrer as consequencias de outras formas, ou mesmo quando eles sairem da cadeia. É complicado porque não podemos culpar o medo delas, não podemos impedir eles e com isso, muitas ainda sofrem caladas. E é nesse silência que o louco atua. Que Deus dê mais coragem a essas mulheres, tirem seus medos e que esses homens sejam presos e apodreçam sendo estuprados!

Bianca Nascimento

Anônimo disse...

A justiça tarda mas não falha... mas nesse caso poderia ter chegado antes, se tivesse sido feita a denúncia contra este monstro (nunca pode ser chamado de animal, pois seria um elogio).Mulheres nunca aceitem este tipo de violência, não tenham medo. Parabéns amiga pela coragem!!! Deus abençõe as duas e ajudem a superar os traumas.