sexta-feira, 18 de março de 2011


Com que rosto ela virá







Sempre nos dizem que devemos estar preparados para a morte, que é a única certeza que devemos ter é de que um dia partiremos e de que tudo isso faz parte da vida e nós devemos aceitar.

Enquanto se é novo, e você não conhece a face da morte, é fácil continuar repetindo esses dizeres. Eis que, quando você menos espera, ela vem e tira de você e de todo o resto do mundo uma pessoa amada.

Meu avô faleceu três dias atrás, e estou sem saber o que falar. Ele já estava com seus 88 invernos muito bem vividos, mas as rugas espessas nunca foram capazes de tirar-lhe o estilo jovial. Foi um homem que sempre se impôs. Beirando os 90, ele ainda fazia questão de dirigir sozinho os 500 km que o separavam da fazenda de sua falecida mãe, minha bisavó. Nem mesmo deixou-se levar pela natureza, e manteve seus austeros 1,91 até seu último suspiro, sem ter encolhido nenhum centimetrozinho. Ele foi forte.

Por essas e outras e pela vitalidade de meu avô que não acredito em haver um preparo para a morte. Não o há, e se alguém falar que sabe ou conhece algum, desconfie: essa pessoa definitivamente nunca amou na vida.

Sabemos que um dia teremos que ir, mas porque tão cedo como no caso da aluna Fabiola? E em plena sala de aula? A morte não tem lugar nem data marcada para chegar. Alguns, como meu avô, tiveram a sorte de ir tranqüilos e com a família por perto, enquanto outros se vão solitários e não podem nem dizer adeus.

A morte faz parte da vida, mas eu , viva que sou, não faço parte da morte e nem o quero.



Leticia Mueller




Fonte:http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/03/noticias/minuto_a_minuto/nacional/800203-universitaria-tem-avc-e-morre-na-sala-de-aula-no-pr.html

Foto: http://www.blogdovalente.com.br/vs3/wp-content/uploads/2010/11/saudade.jpg

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