quinta-feira, 31 de março de 2011

Festa Americana






Eu tive um caso. Ao acaso, eu mantive uma relação. E dessa relação nasceu Samuel. Eu só pensava que não daria conta, que seria o fim da minha vida ter que cuidar de um bebê, que sacrificaria os melhores momentos da minha vida levando o sustento a um pedaço de carne pequeno e chorão. Eu teria que passar o resto da minha vida agarrada a uma conseqüência dos meus trinta minutos de... sei lá o que. Naquela noite, eu me arrumei com as melhores roupas, maquiada como uma adulta, consegui a permissão do meu pai para sair com minhas amigas da escola para uma festa. Muito cuidadoso, ele fez questão de conversar com a mãe da Sara e certificar-se de que a festa era de amigos conhecidos, pessoas próximas e que estaríamos em plena segurança, vez que a aconteceria no salão de festas do prédio.



Eu tinha 13 anos e tinha certeza de quem eu era e do que queria: liberdade. O tão sonhado alvará para estar em um vento social sem a supervisão cerrada dos pais, afinal dava para identificar por aí quem não iria se tornar popular na turma. Meu pai me deixou na hora marcada em frente ao edifício. Sara veio me recepcionar, cumprimentou meu pai e disse: “ Oi tio. Que bom que trouxe a Marina. Pode deixar que vou cuidar dela”. Meu pai sorriu e despediu-se com um aceno, confirmando sua confiança em mim. Entrei um pouco nervosa, estava insegura quanto à escolha da roupa. Expansiva ao conversar, porém tímida nas atitudes, pouco olhava as pessoas. Sorria com educação e logo desviava o olhar. Naquele tempo, bebidas alcoólicas não eram permitidas pelos nossos pais, então nosso prazer era comer bolo com salgadinhos e tomar refrigerante. Dançávamos em rodinhas, as meninas de um lado, os meninos encostados nas paredes conversando. Então começaram as músicas lentas.



Os meninos procuravam suas escolhidas e as puxavam até o centro do salão, quando não eram recusados em suas investidas. Só que se você recusasse um convite, arriscaria passar a noite encostada num canto e eu queria estar em voga, queria ser como as meninas desejadas. Normando se aproximou de mim, perguntou-me meu nome e disse que sempre quis me conhecer, que já me olhava na escola. Fiquei encantada, ele era lindo e jamais imaginei que iria me escolher para dançar. Aceitei ao convite, toda garbosa, dona de mim. Ele era suave, passava as mãos nos meus cabelos carinhosamente, beijava meu pescoço e sorria como se seu maior desejo fosse estar exatamente ali. Passou-me confiança suficiente para me sugerir sair dali por uns minutos à procura de ar puro. Nos dirigimos até o jardim e entre doces palavras e um olhar cativante, Normando confessou-me estar apaixonado e certo de que gostaria de passar mais tempo comigo.



Me derreti com sua investida, encarei seus olhos com paixão e lhe respondi que nada igual havia ouvido na vida. Normando sorriu. Me pediu que confiasse nele e que cedesse a um pedido seu. Queria se unir a mim em corpo, fazer amor, para selar o compromisso e assumir um amor que estaria por nascer. Eu, não me achava ingênua nem nada, sabia exatamente o que sexo significava e, guardada até aquele momento, tive uma certeza insana de que deveria me entregar. E o fiz. Samuel tem dois anos. É lindo, tem o sorriso do pai. Gostaria de passar mais tempo com ele, mas meu trabalho me consome e tenho que terminar meus estudos já atrasados pelo tempo que tive que me ausentar por causa da gravidez. Minha mãe disse que essa semana ele largou a chupeta. Entendi como sua primeira decisão na vida, sua primeira escolha, tão bonitinho . Não... nunca mais vi Normando depois daquele dia. Minhas prioridades mudaram, minhas escolhas mudaram, meu pai mudou.



Angelica Carvalho




Fonte: http://gballone.sites.uol.com.br/infantil/adolesc3.html



Foto: Divulgação

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