quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mais Fácil Sair Do Que Entrar



Quando escolhi minha vocação eu tinha uns 6 anos. Brincava com minha prima, que sempre era dentista (minha heroína) e com minha irmã que sempre era a paciente (nossa cobaia). Eu era a secretária. Vivia no meio de papéis (muitos papéis) e telefonemas e auxílio à “doutora”. Mais tarde, num teste vocacional na escola, descobri afinidade para biológicas e humanas e pensei: “É, tá dentro, eu acho!”
Então chegou o ano do vestibular. Eu, com 16 anos, tinha que escolher um curso. E já no início do ano porque o simulados eram direcionados às áreas. Mas, e como eu ia escolher o que ser pro resto da vida se eu não sabia nem quem eu era até então? Ah, eu sabia de uma coisa. Adorava o Guns n Roses (meus heróis) e antes de pensar em começar a ir pro cursinho me joguei no Rock in Rio II pra ver os caras. Bom, mas isso é outra história.
Escolhi Medicina Veterinária. Ah, eu gostava de bicho e parecia uma profissão... interessante, afinal eu tinha uma amiga que cursava e ela era minha heroína, atual. Mas isso na Federal, porque na PUC eu queria mesmo era Engenharia Civil, porque eu gostava de um garoto que ia tentar também, meu segundo herói. Então fui perguntando pros meus amigos o que eles queriam “ser quando crescessem” e fui fazendo minhas opções mais ou menos de acordo com a opinião deles. Não é muito digno, mas é sincero, pra uma menina de 16 anos.
Enfim que, no primeiro vestibular não passei, o que foi ótimo, me tirou um peso das costas sobre o que eu seria na vida e que tipo de ídolo me tornaria pros meus filhos um dia. Então me decidi. No ano seguinte tentei Publicidade na PUC e passei. Nossa, foi demais. Quem esperaria passar já na primeira chamada. Eu contei que, na época namorava um menino, e que ele tentou e não passou? Ele ficou indignado por eu ter passado e ele não.
Primeiro dia de aula, uma moçada na sala, gente alternativa, a gente se misturava nos corredores, meio perdidos e sabendo que poderíamos levar trote a qualquer momento. E por incrível que parecesse, primeira semana de aula já tinha matéria de verdade. Os professores entravam em sala, se apresentavam rapidamente e enquanto desconfiávamos dos seus comportamentos, eles já estavam passando a listinha de livros pro ano. Acho que porque pareciam muito novos pra profissão de professor de faculdade, sei lá. E tudo a gente tinha que ir atrás, né. “Virem-se”. Acabou a festa de comidinha na boca e mamãe deixando na escola. “A vez é de vocês garotada, vão atrás”. Foi em 1991, quando entrei na PUC-PR e a biblioteca estava em fase de acabamento. Mas lembro que era enorme, eu me sentia bem em estar lá dentro, uma universidade particular, com uma estrutura decente. Lembro que tínhamos aulas de datilografia, porque computadores eram raríssimos. A aula que eu mais gostava era Filosofia porque o professor era maravilhoso, sabia muito sobre o que estava falando e ele se tornou meu herói em meio a tantos outros que eu achava que sabiam menos que eu. Só que minha vida lá dentro, neste ano, não durou muito. A mensalidade ficou caríssima, houve uma greve de dois meses que não resultou em muita coisa e eu resolvi parar. Depois de oito meses de curso e já estagiando em uma agência em Curitiba, achei que era despesa demais e desisti, influenciada por eu namorado, aquele, que não tinha passado. Não durou muito mais o namoro.
No tempo em que eu estava com a faculdade trancada, tentei outras opções, trabalhei e passei em Informática na FESP-PR. Descobri que números realmente não eram a minha vida, o que foi a primeira escolha feita unicamente por mim. E depois de dois anos e meio voltei ao curso de Publicidade. E eu era meu orgulho.
Enfim voltei, com uma visão um pouco mais experiente, conhecendo pessoas novas, professores novos, revendo alguns antigos e me posicionando melhor sobre carreira e futuro. Descobri a vocação para escrever, Redação Publicitária tornou-se meu forte, seguido de Cinema e TV. Nos dois primeiros anos aprendi muito, apesar de não ter aproveitado nem metade do que eu aproveitaria hoje da estrutura que a PUC oferece. Muitos estágios eram divulgados, mas como eu trabalhava com teatro, não queria me enfiar em uma agência tão cedo, porque achava que era um ambiente de muita correria para uma grávida pesando 20 quilos a mais. No terceiro ano, engravidei do meu primeiro filho e então a faculdade tornou-se a segunda opção. Sempre tirei boas notas e para compensar a licença maternidade fazia muitos trabalhos escritos, o que intensificou ainda mais o apreço por estudar e manter-me conectada ao que estava acontecendo. Nesses 4 anos, muita gente saiu, desistiu, passou em outros vestibulares, voltou. O que de certa forma foi um alívio, afinal eu sabia então que a indecisão e pressão por que passam os adolescentes de 16 anos não era privativo a mim.
Me formei em 1998, com mais ou menos metade da turma que havia iniciado em 1994. Morei um ano em São Paulo, trabalhei com algumas peças, mas nunca fui adiante realmente na profissão, até porque engravidei da minha segunda filha. Em 2007, passei no concurso do Banco do Brasil o que me proporcionou iniciar uma pós-graduação em Engenharia Financeira. Hoje, eu trabalho com Licitações (muitos papéis), faço parte de um grupo de comunicação interna do Banco, sou pós-graduada com nota máxima no artigo de conclusão do curso. Ainda tenho muito a aprender, a desenvolver, a criar. Hoje sei que tem tempo pra tudo nesta vida.
Duas conclusões até aqui: primeiro, heróis servem para te determinar ao que NÃO fazer. Segundo, entre a sala e o boteco, fique com o boteco, mas só no primeiro ano.




Angelica Carvalho

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